segunda-feira, julho 10, 2006

Balanço da participação portuguesa no Mundial

A participação portuguesa no Mundial deve considerar-se muito, mas muito positiva.
Atingimos as meias-finais 40 anos depois.
Um feito, sem sombra de dúvidas.
Na fase de grupos, cumprimos a nossa obrigação.
Sem brilho exibicional, mas com uma eficácia tremenda.
3 jogos, 3 vitórias, 5 golos marcados e 1 sofrido.
Fizemos a nossa obrigação inseridos que estávamos num grupo assaz acessível.
Nos oitavos de final, defrontámos a Holanda e aí assim emprestámos brilho à nossa prestação.
Perante um árbitro desvairado e um adversário bem organizado, demonstrámos qualidade individual, organização defensiva e ofensiva e, acima de tudo, espírito de grupo e de conquista.
Vencemos e nos quartos de final encontrámos a "habitual" Inglaterra.
Mais uma vez, mandámos os ingleses para casa, num jogo em que nos podíamos ter poupado à lotaria dos penaltys.
Mas, nesta como noutras ocasiões, emergiu a nú um dos maiores pecadilhos do futebol nacional, a ausência de um ponta de lança de classe mundial.
Já o disse e repito-o, Pauleta sofre do complexo Mamede. Nas grandes competições, apaga-se.
A chamada de Nuno Gomes poderia ter servido de paliativo.
Todavia, o que se terá passado no balneário antes ou durante a partida com a Holanda permanece por esclarecer.
Tenho para mim que não terá sido a "azia" de Nuno Gomes no final do jogo com os holandeses a motivar a sua não inclusão no onze ou a sua não chamada a substituir Pauleta, mas sim precisamente as razões da "azia".
O que originou tamanha "azia" desconheço, mas penso que terá sido a razão próxima do ostracismo a que Scolari o votou.
Aliás, diga-se que os últimos minutos do jogo com a Alemanha demonstraram à saciedade a sua utilidade.
Vencida a Inglaterra nos penaltys, após uma soberba exibição de Ricardo, eis que nos surgia pela frente a por nós sempre temida França.
Mais uma vez, a história repetiu-se.
E, novamente, na sequência de um penalty, fomos eliminados.
Naquela que constituiu a nossa melhor exibição na competição, a par do último jogo com os alemães, Portugal mostrou-se incapaz de ultrapassar a teia defensiva francesa.
Perante um adversário que se remeteu aos seus últimos 30 metros, baqueámos.
É o nosso triste fado.
Perante adversários fechados, raras são as ocasiões em que logramos vencer.
No jogo que ninguém queria jogar, se bem que os alemães tudo tenham feito para sair do Mundial com uma vitória, fomos imensamente infelizes.
Exibimo-nos em grande plano, com muita posse de bola, transições rápidas e de qualidade, mas esbarrámos, uma vez mais, na incapacidade de penetrarmos na área germânica.
Neste jogo como no da França, regressámos aos velhos tempos das vitórias morais.
Fomos superiores aos alemães, mas estes foram muito mais eficazes do que nós.
Aliás, este Mundial pode definir-se como o da eficácia.
Não raro foi assistir às equipas que mais posse de bola alcançaram a perderam os seus desafios.
Os jogos de Portugal com França e Alemanha são exemplos fiéis de tal.
Mais ou menos posse de bola é dado irrelevante no futebol moderno, a qualidade da posse de bola esse sim é factor não despiciendo.
A materialização da posse de bola em golos fez toda a diferença.
Quem menos tempo de posse de bola necessitou para fazer golos, mais sucesso alcançou.
As equipas que mais longe chegaram na competição são espelho de tal paradigma.
França e Itália mais do que "resultadistas" foram selecções dotadas de uma eficácia extrema.
Os jogos em que Portugal apresentou indíces de eficácia mais reduzidos, foram aqueles que perdeu.
Numa análise individual, direi que o quarteto defensivo luso exibiu-se a grande altura.
Ricardo demonstrou, uma vez mais, que com confiança é o melhor keeper português.
Concentrado, seguro, ágil, hiper motivado e confiante, Ricardo alcançou a sua consagração Mundial.
Apenas Buffon o superou.
Miguel e Nuno Valente confirmaram o que deles se esperava.
De Miguel disponibilidade física para fazer todo o seu corredor, embora os cruzamentos continuem a ser a maior pecha do seu futebol.
De Nuno Valente cultura táctica e consistência defensiva, mormente a fechar dentro.
Meira e Ricardo Carvalho, após um arranque titubeante, constituíram, provavelmente, a melhor dupla de centrais da competição.
Ás dúvidas iniciais, respondeu Meira com exibições sucessivamente mais conseguidas.
Meira saiu deste Mundial com a sua cotação bem alta, sendo provável que abandone o Estugarda.
Carvalho esteve ao seu nível. Comandou como gosta a defensiva e com excepção do erro fatal no jogo com a França, esteve imaculado.
Paulo Ferreira manteve o seu registo habitual - consistência, mas pouca audácia.
Caneira esteve certinho, mas não foi o mesmo jogador que se exibiu em grande plano no Sporting. Talvez, por lhe ter sido concedido papel de menor relevo.
Ricardo Costa não esteve mal no jogo com a Alemanha, mas não tem a mesma qualidade de Meira e Carvalho.
Costinha não esteve no Mundial.
Sem ritmo de jogo e em condição física precária, foi uma sombra de si mesmo (o episódio da expulsão face aos holandeses foi, no mínimo, caricato).
Petit, ainda que as suas exibições não tenham atingido o fulgor de outras andanças, assumiu-se como um elemento consistente, que permitiu equilibrar o sector intermediário luso.
Tiago, foi o Tiago da selecção. Não o do Lyon.
Na selecção, Tiago inibe-se, não solta o seu futebol.
Excessivamente lento e preso de movimentos, foi muitas vezes opção para Scolari, mas a equipa raramente beneficiou da sua acção.
Maniche foi grande. Talvez, o melhor de todos quantos se exibiram neste Mundial.
Pouco utilizado ao longo da época, surgiu pujante, alcandorando-se à condição de figura maior desta selecção.
Hugo Viana entrou bem contra a Inglaterra, dando geometria ao futebol da selecção.
Vive fase de afirmação. Veremos se é capaz de emprestar maior nervo e velocidade ao seu futebol.
Figo, como muitos disseram, foi a grande revelação.
Não pelo potencial futebolístico demonstrado, que esse há muito é conhecido, mas pela disponibilidade física e mental que apresentou.
Foi um líder e a par de Maniche e Ronaldo, o desequilibrador mor da selecção.
Ronaldo, após uma fase inicial marcada pelo excessivo individualismo, atingiu momentos de grande brilhantismo.
Quando percebeu ser necessário dar dimensão colectiva ao seu futebol, exibiu-se ao nível dos predestinados.
Tivesse este selecção dois Ronaldos e os problemas vividos na frente de ataque não teriam, certamente, surgido.
Deco apresentou-se saturado, em deficit físico notório.
Não foi o Deco do Barcelona.
Tal como Ronaldinho Gaúcho, foi vítima do excesso de jogos a que foi sujeito ao longo da temporada.
Simão, ávido de se mostrar por forma a suscitar o interesse de grandes europeus, cumpriu com brilhantismo o seu papel de 12º jogador.
Emancipou-se finalmente, apagando de vez o fantasma do menor rendimento quando ao serviço da selecção.
Boa Morte, nos escassos minutos de utilização frente ao México, demonstrou o erro da sua convocação, em detrimento de Quaresma.
Diga-se que Quaresma tinha feito muito jeito nos jogos com a Inglaterra e França.
De Pauleta está tudo dito. Soçobrou à pressão.
Postiga foi igual si mesmo. Pouco agressivo, não apresenta características que lhe permitiam assumir sozinho a frente de ataque. A teimosia de Scolari na sua utilização foi um dos maiores erros do seleccionador.
A Nuno Gomes já supra me referi.
Scolari deu de si a imagem já conhecida.
Muito forte na agregação do grupo e nos "mind games", excessivamente rígido em termos tácticos.
Nalguns momentos pedia-se ousadia e Scolari foi muito conservador.
Em suma, atingimos um patamar classificativo inimaginado, que as últimas duas derrotas não podem, nem devem ensombrar.
Provámos a qualidade dos nossos executantes.
Esperemos que, em próximos eventos, possamos alcançar níveis ainda superiores.
Viva Portugal!

3 comentários:

VermelhoNunca disse...

Em relaão ao último jogo, a minha opinião é a de que deixámos um imagem positiva. Temi que fossemos humilhados, numa altura em que pura e simplesmente deixámos de defender. Aliás acho que nesse jogo o nosso meio campo defensivo esteve muito mal. Maniche fez o seu pior jogo do Campeonato, contra a Alemanha. Costinha, e estou de acordo com o administrador, fez uma muito má prova, sendo, a par de Pauleta, o pior jogador luso na competição. Figo despediu-se em grande, e deixa saudades. Ronaldo tem que crescer, Meira surpreendeu pela positiva. Os laterais estiveram bem. Avançados não temos, nenhum dos três é bom, embora ache que Nuno Penteado Gomes, em conjunto com outro avançado, pode render muito mais. Simão, neste último jogo, foi o pior em campo, a par de Pauleta e Costinha. Deco subiu de forma, mas está nitidamente cansado, o que é uma pena.
Espero que Scolari fique.

VermelhoNunca disse...

Fora da selecção aproveito para dizer que o benfica perdeu a corrida por Jardel para o Beira-Mar...

Mestrecavungi disse...

Como vi escrito num cartaz em Nyon: "Sou do Benfica e de todos os que joguem contra a França."