quarta-feira, março 31, 2010

Artigo de Opinião de João Gobern

Recordo uma noite de futebol televisivo, há um par de anos, com um jogo ainda de contornos clássicos: o Belenenses, outro que não este, recebia o Sporting. Com Paulo Bento no comando. A dado passo, vi um fogoso médio dos leões errar um passe, falhar um remate, chegar tarde a uma bola que era sua. De repente, percebeu-se que tinha perdido a cabeça, quando - em "contraciclo" e sem que nada o justificasse - se candidatou a ver pela primeira vez o cartão amarelo. Recordo uma certa agitação no banco do Sporting, como se Paulo Bento, investido no papel de adivinho, antecipasse o que veio logo de seguida. O mesmo homem, um minuto depois, repetia o cartão e "estreava" outro, bem vermelho, perante o desespero dos seus. Foi esse o momento em que Carlos Martins se condenou no Sporting. E, confesso, foi essa a ocasião em que pensei estar encerrado mais um capítulo da longa série "talento não chega".

Numa outra tarde de futebol, essa ao vivo e envolta em rivalidades locais, sentei-me no estádio da minha terra de adoção para ver como o Varzim (numa saudosa colocação de conforto, a meio da tabela) se bateria com o Rio Ave (candidato sério à subida, que haveria de falhar no fim da época). Tinha ido ver um jogo, acabei por ver um show particular - de um esquerdino, rápido e franzino, capaz de esfrangalhar os seus opositores diretos e os outros. Assinou os três únicos golos da sessão. Vaticinei-lhe um salto de gigante e acertei (era fácil): pareceu destinado ao Sporting, acabou por assinar com o Benfica. Mas aí começaram os "problemas de adaptação", potenciados por mentalidade e condutas pouco profissionais. Emprestado, recuperado e emprestado, quase sempre com notas a vermelho no capítulo disciplinar... fora dos relvados. Admito que me fez confusão estar a assistir à história de mais um protagonista capaz de, usando o bordão, "passar ao lado de uma grande carreira". Mas, tal como Martins, Fábio Coentrão acabaria por me obrigar a mudar de ideias.

Não pode ser coincidência o facto de ambos estarem a assinar as épocas mais notáveis dos respetivos percursos - aquelas em que juntam ao talento e à explosão, a consistência, a capacidade de sofrimento, as ações para o coletivo, a naturalidade com que aceitam deslocar-se e adaptar-se - às mãos de um mesmo técnico: Jorge Jesus, capaz de dar um novo significado à palavra "ressurreição". Com ele e com este Benfica que dá prazer ver jogar, tornaram-se já jogadores de seleção, embora possam não chegar lá. Somem-se a segurança acrescida de Ruben Amorim e a época ímpar de Quim (meio golo por jogo, rigorosamente) e ainda mais facilmente se perceberá a importância do técnico na "salvação" dos homens. E para alegria das almas.

segunda-feira, março 29, 2010

O SLBenfica no Wall Street Journal

SL Benfica centerback Luisão isn't a player who immediately comes to mind when one thinks of Portuguese football, in which panache is prized ahead of pace and power.

Fittingly, for a man whose name literally means "Big Luís," the Brazilian defender's 6-foot-4-inch frame is long and muscular and, while his main responsibility is taking opposing center-forwards out of the game, he has a knack for popping up with important goals.

Benfica's Javier Saviola, center, celebrates his goal against Belenenses with teammates Oscar Cardozo, right, and Pablo Aimar during a September match
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He did just that this past Saturday, giving Benfica, at the top of the Portuguese League, a 1-0 win over second-place Sporting Braga, which, in all likelihood, will seal the club's record 32nd domestic championship. Benfica boasts a six-point lead with six games to go, and it's hard to see it throwing away the title.

"Benfica is always considered a title challenger, and nothing is decided yet, but I think we have taken an important step toward" the title, Luisão told reporters after the win over Braga. "We are working toward that goal."

You can only imagine what the party will be like when the league crown does return to the club's Estadio do Luz for the first time since 2005. Benfica is far and away the country's best-supported club, and has more than 200,000 fans world-wide who pay around $34 a year for the privilege of calling themselves "socios" or club members.

According to club officials, no team in the world has more paid-up members. And, for a relatively small nation like Portugal, its fan diaspora stretches all over the world. "Casa do Benfica" ("House of Benfica") fan clubs can be found in places as diverse as Johannesburg, South Africa; San Jose, Calif.; Luanda, Angola; and Sydney, Australia.

Yet, Benfica has become something of a byword for underachievement. In the past 15 years, the club has won just one league title, watching helplessly as Porto—its bitter rival from the north of the country —established itself as a force, not just in Portugal, but also in Europe: witness the UEFA Cup and Champions League trophy it won under José Mourinho.

Last summer, Benfica rolled the dice and spent heavily to redress the imbalance. About $45 million was spent, with $7 million recouped in sales. In came, among others, Ramires—at 23 years old already a regular in midfield for Brazil—and Javi Garcia, a promising defensive midfielder from Real Madrid. One of the more interesting signings, however, was Argentine striker Javier Saviola, who rejoined playmaker Pablo Aimar a decade after the pair set South American soccer alight.

Back in the fall of 1999, Mr. Aimar and Mr. Saviola, aged 19 and 17, respectively, at the time, formed a devastating partnership for Argentina's River Plate, whom they led to the Apertura and Clausura championships. Their precocious success led to call-ups to the national team and big-money moves to top European sides. Mr. Aimar joined Valencia in January 2001 for a club-record $32 million and, six months later, Mr. Saviola transferred to Barcelona for $20 million.

Both hit the ground running. Mr. Aimar led Valencia to two Spanish titles and a UEFA Cup, while Mr. Saviola scored 60 goals in his first three seasons at Barcelona.

But then something unusual happened: Their performances dropped off severely.

Mr. Aimar remained at Valencia until 2006, though by the end, he was a shadow of his former self. Having scored eight goals in the 2002-03 season, the playmaker managed just 13 in the next three years amid a succession of injuries.

This was followed by two lackluster seasons at Zaragoza, the second blighted by relegation. Mr. Saviola was loaned out to Monaco and Seville, both times failing to make his mark. After another year as a bit-part player at Barcelona, he was picked up as a free agent by arch-rival Real Madrid, but, again he was a marginal figure, making just six league starts in two seasons.

But in the summer of 2008, Benfica took a gamble on Mr. Aimar and, after an injury-slowed first half of the campaign, he excelled toward the end of the 2008-09 season. So much so that the club decided to repeat the exercise with Mr. Saviola, whom Real Madrid was looking to off-load.

The pair have since enjoyed a renaissance—Mr. Saviola has scored 17 goals, and Mr. Aimar is back to his creative best—and, at 28 and 30 respectively, both have a number of good seasons left in them.

Together with countryman Ángel Di María—arguably Benfica's player of the season and, at 22, a likely target for Europe's top clubs this summer—the Argentinian trio have been the driving force behind Benfica's resurgence.

With the domestic league title all but wrapped up, Benfica can now focus on European competition: On Thursday it takes on Liverpool in the quarterfinals of the Europa League, the new name for the UEFA Cup.

Benfica's legion of fans are once again dreaming, harking back to the early 1960s and the days of Eusebio and Mario Coluna, when the club twice won the European Cup.

Artigo de Opinião de Pedro Vieira da Silva

Afinal, há muitos penetras no futebol!

«Entende-se por Agentes Desportivos os membros de órgãos sociais (…) massagistas, assistentes de campo, empregados e outros intervenientes no espectáculo desportivo», diz o regulamento desportivo da FPF. O CJ da FPF, que alterou as penas aplicadas a Hulk e Sapunaru (FC Porto), esqueceu-se de ler esta parte.
Face à decisão do CJ, que catalogou stewards como «público» (a CD da Liga equiparou-os a «agentes desportivos»), polícias, stewards, apanha-bolas, bombeiros e jornalistas são, mesmo estando no desempenho da sua actividade, intrusos e/ou penetras.
Entretanto, «o CJ negou provimento ao recurso do F.C. Porto», pode ler-se no Maisfutebol, afastando, assim, a pretensão dos dragões, que desejavam impugnar o campeonato, tendo ainda ficado provado que Hulk (duas vezes) e Sapunaru (uma) agrediram os stewards.
Em 1995, Cantona agrediu um adepto e foi o seu próprio clube, o Manchester United, que o suspendeu por quatro meses. Depois, a Federação Inglesa aumentou o período de suspensão para oito meses.
Em 1997, Fernando Mendes, do FC Porto, agrediu um bombeiro, no Estádio da Reboleira, num jogo com o Estrela da Amadora. O defesa foi punido com três meses de suspensão à luz da mesma norma que castigou Hulk e Sapunaru. Os dragões não contestaram a decisão. O soldado da Paz foi considerado, então, agente desportivo.
A decisão do CJ levou à demissão de Hermínio Loureiro da presidência da Liga e, segundo fontes próximas do presidente cessante, este considerou «uma barbaridade jurídica de calibre ainda superior ao que tinha acontecido nos idos do sistema».
O relator do acórdão do CJ foi Dionísio Alves Correia, o mesmo que não confirmou a sanção de quatro meses a Pinto da Costa e a subtracção de seis pontos ao FC Porto (aplicadas pela CD da Liga na sequência do Apito Dourado), permitindo ao FC Porto, que esteve em risco de suspensão da Champions, manter-se na prova europeia.
Entretanto, Jesualdo veio queixar-se da ausência de Hulk.
O professor esqueceu-se que, mesmo com o incrível no onze, o FC Porto perdeu em Braga, na Luz e na Madeira, com o Marítimo, e ainda… que goleou Sporting de Braga e Sporting sem Hulk que, por exemplo, jogou em Londres, onde o FC Porto perdeu por 5-0 com o Arsenal. Lembra-se professor? E, dizem as estatísticas, os dragões conseguiram melhores resultados… sem Hulk.
Incrível!

Artigo de Opinião de João Bonzinho

Lembras-te, Luisão?

ESTAVA-SE mais perto, bastante mais perto do final do campeonato de 2004/05. Era noite de 14 de Maio, já depois da procissão das velas, em Fátima, e o Benfica recebia o rival Sporting num Estádio da Luz igualmente a abarrotar pelas costuras. Jogo do título, dizia-se e escrevia-se, muito mais a propósito, aliás, do que ontem se disse do Benfica-Sp. Braga, porque então aquele encontro dos velhos vizinhos da Segunda Circular jogava-se na penúltima jornada da Liga, mesmo à beirinha da linha de meta.
Era velha a raposa que comandava o Benfica, dizia-se, porque assim era conhecido o italiano Giovanni Trapattoni, era jovem mas competente o infeliz condutor do Sporting, como se viu pela sina de José Peseiro.
O jogo, acreditem, foi tão nervoso como o de ontem, e tal como o de ontem foi concluído com um tangencial 1-0 favorável ao Benfica, que viria a ser campeão nacional mais de dez anos após o seu último título.
O golo, ao contrário do de ontem, foi então marcado de cabeça. Mas tal como o de ontem resultou de uma bola parada, tal como o de ontem foi marcado por um defesa, tal como o de ontem foi marcado por Luisão. Que desta vez não marcou de cabeça, antes com o pé que tinha mais à mão.
Se também foi ou não nesse jogo o capitão, não recordo, com franqueza, mas o que os benfiquistas esperam é que ele tenha voltado a ser o alquimista de um novo título.

domingo, março 28, 2010

Artigo de Opinião de Luís Avelãs

Com 6 pontos de vantagem a 6 jornadas do final da Liga, o Benfica ainda não é campeão nacional mas, naturalmente, está relativamente próximo de atingir o seu grande objectivo da temporada. Mesmo sabendo que terá de medir forças com os rivais de sempre - Sporting, na Luz, e FC Porto, no Dragão -, em partidas em que o grau de dificuldade é invariavelmente alto, a equipa de Jorge Jesus tem todas as condições para segurar o avanço que, diga-se em abono da verdade, foi bem difícil de conquistar, por mérito de uma época sensacional do Sporting de Braga.

Para não deixar escapar o título na ponta final, os encarnados terão, pelo menos enquanto precisarem de pontuar, de exibir a regularidade que tem sido a imagem de marca esta época. A manter um ataque que factura quase sempre e uma defesa que sofre poucos golos... o sucesso será uma questão de tempo.

O jogo com o Sporting de Braga, pese a incerteza no marcador até ao apito final e o empenho colocado em campo pelos futebolistas, esteve longe de ser um espectáculo de nível elevado. O Benfica entrou mais forte, mas abrandou com o golo (muito feliz) obtido em cima do intervalo. Já os minhotos, depois de uma primeira parte demasiado na expectativa, só despertaram na última meia-hora. Ainda assim, criaram uma única verdadeira ocasião de golo, quando Moisés cabeceou ligeiramente ao lado.

Sem beliscar o desempenho bracarense, creio que esta partida confirmou o que todos já sabíamos há muito: o Benfica possui mais e melhores soluções, algo que lhe permite vencer mesmo quando não está em jornada de franca inspiração e quando alguns elementos determinantes exibem um rendimento menos conseguido. O Sporting de Braga, com menor profundidade de plantel, precisa que as suas principais figuras não falhem nos momentos decisivos, sob pena de não surgirem outras para compensar.

De resto, neste duelo com cheirinho a final, saliência, pela negativa, para algumas declarações menos felizes de determinados elementos. Antes e depois do jogo. É preciso saber ganhar, da mesma forma que também tem de se saber perder. Jesus, mesmo elogiando o trabalho do técnico bracarense, foi deselegante ao dizer coisas que, verdade ou não, devia guardar para si ou, pelo menos, para outra ocasião. O mesmo fez Domingos Paciência, bem como outros elementos da estrutura bracarense.

Sou pela total liberdade de expressão dos membros das equipas de futebol (e de todas as pessoas, já agora) e aprecio, quase sempre, aqueles que não se refugiam no politicamente correcto. Contudo, há que perceber que, por vezes, bastam duas ou três palavras mal calculadas para incendiar aquilo que deveria ser sempre uma festa ou, pelo menos, para minorar o trabalho alheio. E isso, para mim, deve ser sempre evitado.

Espaço Prof. Karamba - Classificação Geral

1º Lugar: Jimmy Jump e Vermelho Sempre - 615 pontos

2º Lugar: Kaiserlicheagle - 575 pontos

3º Lugar: JC - 560 pontos

4º Lugar: Vermelho - 540 pontos

5º Lugar: Fura-Redes - 520 pontos

6º Lugar: J. Lobo - 490 pontos

7º Lugar: Sócio e Gui - 425 pontos

8º Lugar: Samsalameh - 405 pontos

9º Lugar: Cuto - 400 pontos

10º Lugar: Chico - 245 pontos

11º Lugar: Vermelho Nunca - 225 pontos

12º Lugar: Agarredinhos e Filipe - 70 pontos

13º Lugar: Luís Rosário - 55 pontos

14º Lugar: Lion Heart - 50 pontos

15º Lugar: Pachulico - 35 pontos

SLBenfica 1 Braga 0 Passo de Gigante!

sábado, março 27, 2010

Artigo de Opinião de Ricardo Araújo Pereira

Miguel Sousa Tavares

16 de Fevereiro de 2010
O Fernando Guerra pode, pois, tomar nota desde já: dificilmente os portistas e os bracarenses irão reconhecer o mérito de um campeonato ganho pelo Benfica nestas circunstâncias

Miguel Sousa Tavares

23 de Março de 2010
O que me incomoda, sim, é que os elogios aproveitem a tantos benfiquistas que os não merecem. Daqueles que, inversamente, nunca foram capazes de reconhecer mérito às vitórias portistas dos últimos anos


O novo clássico Benfica-Braguinha
O clube que é referido nas escutas pelo árbitro condenado por corrupção passiva como «o meu Braguinha» tem hoje o privilégio de visitar o estádio do primeiro classificado. Será uma oportunidade inédita para os jogadores do Braguinha de Augusto Duarte verem um estádio cheio de espectadores pagantes. Espero que tragam a máquina fotográfica. Confesso que não sei muito sobre a táctica do Braguinha de Augusto Duarte, mas creio que o Braguinha de Augusto Duarte vai tentar explorar as faixas laterais — e também as faixas laterais das faixas laterais, como no jogo em casa contra o Marítimo, em que a jogada do golo da vitória começou do lado de fora do campo. Não só os laterais do Benfica terão de estar atentos, como seria bom que Jorge Jesus ministrasse um treino táctico aos apanha-bolas. Sobre a equipa do Braguinha de Augusto Duarte, só tenho uma certeza: ao contrário do que aconteceu no jogo contra o Porto, Meyong vai certamente jogar de início. Julgo mesmo que o jogador terá sido poupado no Dragão para se apresentar hoje nas melhores condições. Será, creio, um jogo difícil, na medida em que o Braguinha de Augusto Duarte tem fama de oferecer um prémio de 50.000 euros aos capitães dos adversários do Benfica. Estarão motivadíssimos, os capitães do Braguinha de Augusto Duarte.

OBenfica, que nunca perdeu uma final com o Porto, venceu, sem surpresa, a Taça da Liga. É verdade que Nuno foi incapaz de segurar um remate relativamente fraco de Rúben Amorim, mas é provável que o guarda-redes do Porto estivesse a jogar lesionado por ter as falangetas doridas de redigir comunicados.

Não posso, claro, deixar de fazer uma alusão ao lamentável ambiente de violência que rodeou o jogo. Foi especialmente chocante a conduta daquele hooligan que joga no centro da defesa do Porto. Registo, apesar de tudo, a lucidez de Bruno Alves quando mostrou quatro dedos ao público. Mesmo naquela hora difícil, o central manteve a cabeça fria e foi capaz de calcular a média de golos sofridos pelo Porto nas goleadas contra Arsenal e Benfica: quatro. E fez questão de informar o público da conclusão a que tinha chegado.

Quanto à final propriamente dita, apesar de tudo foi um jogo à antiga: dantes, o árbitro perdoava a expulsão a dois jogadores do Porto e o Porto ganhava. Agora, o árbitro perdoa a expulsão a dois jogadores do Porto e o Porto perde por 3-0. Talvez tenha mudado qualquer coisa, mas o essencial manteve-se.

Tendo em conta a gravidade dos factos que foram ocorrendo fora do campo, é forçoso reconhecer que este campeonato ficará conhecido por causa de factores extra-futebol: para todos os efeitos, este será sempre o campeonato durante o qual foram publicadas as escutas do Apito Dourado no YouTube. Mas o túnel da Luz também teve algum protagonismo. Depois de a Comissão Disciplinar da Liga ter deliberado, de forma completamente absurda, que os stewards eram agentes desportivos, o Conselho de Justiça da Federação veio finalmente pôr ordem na demência e decidiu que os stewards são, na verdade, público. Como é óbvio, fez-se justiça. Parece evidente que os profissionais contratados para controlar o público são, também eles, público. Suponho que, quando um steward falta ao serviço, não seja punido: trata-se de um espectador a quem não apeteceu ir ao estádio nesse dia. E ficaria surpreendido se os stewards agredidos não fossem, eles sim, castigados: ao que pude apurar, nenhum daqueles membros do público agredidos por Hulk e Sapunaru tinha pago o respectivo bilhete. Uma vergonha que não deve passar sem punição.

Agora sim, o castigo de três jogos a Hulk parece adequado à infracção. Recordo que, em Braga, Cardozo foi castigado com dois jogos de suspensão por, como as imagens demonstraram, não ter agredido ninguém. Hulk levou mais um por espancar um segurança. É mais do que justo que as agressões efectivas sejam punidas com mais um jogo do que as imaginárias.

Há, no entanto, alguns pormenores inquietantes no acórdão do CJ da Federação. Os portistas sempre sustentaram que os castigos a Hulk e Vandinho eram igualmente injustos. Faziam parte da mesma sombria cabala que devia ser combatida à força de vigílias. Agora, contudo, dizem que foi feita justiça quando o CJ da Federação manteve o castigo de Vandinho (cuja equipa segue no campeonato à frente do Porto, a propósito). Mais: o Porto mantém que a deliberação da Liga é extremamente iníqua, profundamente injusta, manifestamente reles, deliberadamente maldosa, safadamente ruim. O acórdão do CJ, apesar de não concordar com ela, diz que é, e cito, «legítima». Quem toma decisões legítimas deve indemnizações a alguém? A justiça chega tarde mas chega confusa.

quinta-feira, março 25, 2010

O Incorruptível...

Benfica e Sporting têm já posições tomadas em relação às próximas eleições para a presidência da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. O clube da Luz não está está inclinado a apoiar publicamente qualquer das candidaturas já conhecidas, preferindo manter, pelo menos por ora, uma equidistância prudente tanto em relação a Fernando Gomes como ao presidente do Nacional, Rui Alves, ou mesmo a José Couceiro, caso o atual treinador do Gaziantepspor decida avançar.

Já os leões estão claramente inclinados a apoiar o antigo administrador da SAD do FC Porto, no que parece indicar uma clara aliança com o emblema de Jorge Nuno Pinto da Costa tendo em vista a presidência da Liga, ontem mesmo abandonada por Hermínio Loureiro no seguimento da bronca com os castigos de Hulk e Sapunaru.

O clube encarnado era um claro defensor do trabalho desempenhado pelo ex-presidente, tendo mesmo Luís Filipe Vieira elogiado publicamente o trabalho de Loureiro na recém-disputada final da Taça da Liga, no Algarve, quando alguns acreditavam que Hermínio poderia ainda reconsiderar.

Quanto ao Sporting, o apoio a Fernando Gomes - que não deverá ser ainda tornado público nos próximos tempos - prende-se com o entendimento de que o ex-administrador portista é um homem a quem o sistema nunca conseguiu corromper e um tecnocrata capaz de desempenhar um bom trabalho no desenvolvimento e renovação do futebol português.

Com o apoio já confirmado de 14 clubes da Liga Vitalis e com FC Porto e Sporting a sustentarem a candidatura à presidência, Fernando Gomes parece, de momento, o candidato melhor colocado para suceder a Hermínio Loureiro, até porque as águias terão perdido algum terreno na tentativa de convencer o ex-presidente a avançar novamente e estão agora sem candidato visível.


Artigo de Opinião de Leonor Pinhão

Um árbitro na auto-estrada

O Benfica é um justo vencedor da Taça da Liga. Jogou razoavelmente bem ao longo dos 90 minutos, o que chegou e sobrou para vencer por margem expressiva o outro finalista. Objectivamente, e para além do sabor do triunfo, o Benfica jogou pior em Faro, no domingo, do que tinha jogado em Marselha, na quinta-feira passada. Em França, a exibição do Benfica teve momentos de grande brilhantismo. Em Faro, o Benfica só soube ser brilhante entre o minuto 43 e até ao fim do intervalo. E sem bola, como é óbvio. Mas, nesse período, deu enorme festival.

O programa do adversário para o intervalo era absolutamente previsível, estando a perder por 2-0 e pressentindo difícil a tarefa da recuperação. Trata-se de um reportório velho, bolorento, enfim, tristemente senil. Naquelas circunstâncias, o que melhor conviria aos interesses políticos e religiosos do adversário já não era sequer marcar dois ou três golos no segundo tempo. Era apenas incendiar os instantes finais da primeira parte com uma cena de desacatos físicos e verbais no campo que se arrastasse em cortejo demencial até às cabinas, a escondido do público, de modo a que os tristes serventuários do papado pudessem passar o resto da vida a falar sobre a Taça do Túnel.

Não tiveram sorte nenhuma. E isso é que foi brilhante, revelando uma incrível maturidade mental por parte dos jogadores do Benfica que, ainda num passado recente, tinham caído que nem patinhos em artimanhas semelhantes, quer no túnel de Braga, com o árbitro Jorge Sousa, do Porto, quer no relvado de Olhão, com o árbitro Artur Soares Dias, também do Porto, por inusitada coincidência.

Desta feita viajou o árbitro Jorge Sousa ao Algarve e, faça-se justiça, foi o único entre os que tiveram de percorrer 600 quilómetros para baixo e 600 quilómetros para cima, que não se queixou da distância!

Também Pablo Aimar, ao minuto 43, não se queixou da agressão que sofreu ali bem junto à linha. Melhor do que isso foi o facto de, ainda pelo chão, ter sorrido complacentemente para Bruno Alves e de ter ensaiado um gesto carinhoso, fazendo uma festinha repleta de bonomia na cabeça fervente do destrambelhado capitão do FC Porto. A reacção de Bruno Alves a este monumento de contenção e de espírito desportivo protagonizado por Pablo Aimar fica para a História. Enquanto os jogadores do Benfica se afastavam inteligentemente, e sem ter ninguém por perto a quem insultar ou atingir, Bruno Alves viu-se envolvido por responsáveis do seu próprio emblema que o recolheram com grande, mas com muito grande dificuldade.

Soou o apito para o intervalo e não se sabe o que terá acontecido no túnel entre Bruno Alves e a sua própria comitiva. Mas isso é lá com eles. Quanto aos jogadores do Benfica, esperaram tranquilamente no centro do relvado que os adversários desaparecessem de vista e só então, com o caminho livre, regressaram à cabina para um curto mas muito merecido descanso.

Temos gente crescida, finalmente.

A generalidade da crítica especializada concluiu que o árbitro Jorge Sousa, do Porto, esteve bem tirando aqueles pormenorzinhos de não ter expulso Bruno Alves pelo menos três vezes e de não ter expulso Raúl Meireles por ter agredido e pisado um adversário.

Permitam-me discordar. A arbitragem de Jorge Sousa é só comparável à actuação das forças policiais na A2. Ou seja, foi incapaz de controlar, identificar e afastar os descarados autores dos desacatos.

Se temos forças da ordem que vêem energúmenos a viajar numa auto-estrada sentados nos tejadilhos de autocarros e que sentem que cumpriram a sua missão por terem parado o desfile, obrigado os passageiros a entrar nas viaturas, dando ordem para continuar a marcha sem detenções, então que responsabilidades podemos pedir a árbitros de futebol por serem incapazes de agir conforma estipula a lei?

O nosso Ruben Amorim não se compara ao Ruben Micael deles. Nem a jogar e muito menos a falar. Jogaram os dois Rubens um contra o outro, no domingo, e foi o que se viu em termos de futebol. Na conversa, também o Ruben benfiquista leva grande vantagem. Em primeiro lugar porque não fala muito, enquanto o Ruben portista praticamente ainda não se calou desde que trocou a Choupana pelo Porto, como se tivesse que pagar em débito de improbidades contra o Benfica o grande favor de ter sido contratado pelo clube rival.

No entanto, muitas coisas mudaram. Os discursos de Ruben Micael contra o Benfica não só não nos chateiam como nos tranquilizam. São a evidência de que o FC Porto já não é o que era. Quando qualquer jogador recém-chegado, e sem currículo, se dá ares de ter 20 anos de casa e de falar, com grande e indisputada autoridade, em nome de todos os que já lá estavam antes de ele ter chegado, é um sinal de impensável rasganço no tecido da hierarquia do grupo.

E é por isso mesmo que, no Benfica, se gosta de ouvir Ruben Micael a falar de túneis, onde não aprendeu nada, e a falar da mística do FC Porto que apreendeu todinha em cerca de 23 minutos, o tempo que passou entre o sair do avião na pista do aeroporto e meter-se no carro da SAD que o levou de Pedras Rubras ao Estádio do Dragão.

O nosso Ruben Amorim é de outra laia. Apresenta-se sempre com o mesmo sorriso quer seja titular ou suplente e quando é titular joga à bola como os outros, constatação que é um grande e merecido elogio. A falar, também Ruben Amorim provém de um outro estrato social e cultural. Não provoca nem calunia os adversários, antes pelo contrário.

Como todos estarão recordados, foi ele o autor do primeiro golo do Benfica contra o FC Porto, no Algarve, e, se o seu pontapé foi certeiro, já o guarda-redes Nuno Espírito Santo, num segundo de aflição, não teve mérito no lance.

No final do jogo, Ruben Amorim falou assim: «A minha sorte vem de um azar de um adversário. O futebol é assim. Se falei com o Nuno? Não, nem o vou fazer. Não deve estar feliz e importa respeitar isso.»

Ruben Amorim é um campeão.

O presidente da Câmara Municipal de Braga, que é um ícone do poder autárquico em Portugal, multiplicou-se em declarações de índole futebolística, nesta semana que antecede o Benfica-Braga. Mesquita Machado diz que o «Braga será campeão se os homens de negro cumprirem o seu dever».

Ora aqui está uma coisa que dá que pensar. A que «homens de negro» se refere Mesquita Machado? Como os árbitros já raramente equipam de negro, o edil só pode estar a referir-se aos juízes dos tribunais civis que, esses sim, equipam-se de negro da cabeça aos pés. Pois que cumpram o seu dever!

PS — Por falar em juízes, esta decisão do CJ da FPF tem um não sei quê de estertor de regime. Lembra o preito de vassalagem da célebre Brigada do Reumático ao chefe máximo da Nação uns diazinhos antes do 25 de Abril. Pois que assim seja!

Espaço Prof. Karamba

U. Leiria - P. Ferreira
Belenenses - FC Porto
V. Setúbal - Nacional
Rio Ave - Olhanense
V. Guimarães - Académica
Marítimo - Sporting
Leixões - Naval
Benfica - Sp. Braga

quarta-feira, março 24, 2010

Artigo de Opinião de Vítor Serpa

Diferença entre céu e inferno

JESUALDO afirmou que nenhuma equipa se tinha superiorizado e que o equilíbrio fora a nota de uma final que o Benfica venceu por robustos 3-0. Acredito que o professor tenha visto o que, evidentemente, não aconteceu. É como aqueles pais que só vêem virtudes nos filhos.
Não se pode levar a mal, mas também não se pode, nem deve, incentivar a visão insensata do jogo.
É verdade que o Benfica teve, consigo, a sorte de um primeiro golo quase inexplicável. Pode ter sido esse o momento decisivo desta final.
Mas é indiscutível que, a partir daí, tudo o que de bom tem este Benfica se acentuou e tudo o que de mau tem este FC Porto se tornou por de mais evidente.
Frio, cerebral, talentoso e, acima de tudo, muito seguro das suas capacidades, o Benfica teve um domínio quase cruel sobre o jogo e sobre o adversário.
Pelo contrário, o FC Porto não conseguiu esconder que vive tempos de profunda ansiedade e de um destrutivo nervosismo que bloqueia os jogadores, tornando-os perdidos numa batalha de cegos.
Não se trata, pois, de falta de atitude, mas, acima de tudo, de uma questão de falta de concentração e de autodomínio, o que é próprio de quem vive sobre as brasas de um inferno.

Magnífico

Um Mergulho em Falso...

Um Enorme Equívoco

terça-feira, março 23, 2010

Artigo de Opinião de Luís Sobral

A identidade de um clube é feita a partir do que se ganha, mas sobretudo da forma como os que o representam sabem
estar. Nas vitórias, nas derrotas, em todos os momentos decisivos.

Na história do Benfica, por exemplo, a epopeia da construção do antigo Estádio da Luz é tão relevante para o benfiquismo como a conquista de duas taças dos campeões.

Nos últimos dias, dois jogadores do Benfica deram exemplos de saber estar que merecem ser elogiados.

Primeiro foi David Luiz, com palavras de incentivo e apoio para um colega-adversário do F.C. Porto (Varela), que acabava de sofrer uma lesão que o retirava da final da Taça da Liga e, mais importante, do sonho do Mundial.

Depois foi Ruben Amorim, honesto ao aceitar que o seu golo resultou tanto da sua felicidade como da infelicidade de um colega-adversário. Quando lhe perguntaram se tinha falado com Nuno, guarda-redes do F.C. Porto, a resposta foi exemplar: ««Não, não podia falar, ele não deve estar muito feliz e há que respeitar. Temos de saber ganhar e saber perder», disse o médio do Benfica.

Que os jogadores saibam estar é algo que nos deve reconfortar, numa época especialmente agressiva e num momento em que o futebol parece um lugar cuja frequência é perigosa.

Parabéns, pois, a David Luiz e Ruben Amorim.

P.S. : A emoção de Jorge Jesus ao dedicar a vitória na Taça da Liga ao pai foi também um dos momentos intensos dos últimos dias. O treinador do Benfica é o principal responsável pelo crescimento da equipa ao longo da temporada e tem sabido agarrar a oportunidade de uma vida. Mereceu, sem dúvida, a vitória sobre o campeão.

Artigo de Opinião de António Varela

O tempo voa. Há um mês, a discussão centrava-se na polémica ausência de Ruben Micael na convocatória da Seleção Nacional. Depois do futebol jogado nas últimas semanas, quem ousa defender que o médio do FC Porto deve fazer parte das opções de Carlos Queiroz? Pois...

Se o critério ainda for o de convocar os melhores jogadores em cada momento - embora não esteja para breve qualquer convocatória avulsa, para além da lista final a divulgar nas vésperas do Mundial - Ruben Micael está nesta altura muito longe de poder jogar por Portugal. Ao contrário de outros jogadores.

O caso de Carlos Martins, do Benfica, é flagrante. A beneficiar da correção feita por Jesus no casting para o meio-campo do Benfica, Martins é atualmente "o" ou um "dos" médios portugueses em melhor forma. Está melhor do que Moutinho, do que Meireles, do que Deco (que não joga sequer), não pode ser comparado com Tiago, Pedro Mendes ou Miguel Veloso, porque não desempenha as mesmas funções. Carlos Martins joga por estes dias ao nível de quem justifica ser internacional por Portugal, Ruben Micael não.

Mas o tempo voa, como bem se vê.

Que Grande Golo!

A Viagem de Regresso após a Conquista da Taça da Liga

segunda-feira, março 22, 2010

Artigo de Opinião de Luís Avelãs

Se no Benfica-FC Porto do Campeonato a superioridade encarnada foi evidente, na final da Taça da Liga foi... ainda mais.
Logo, ninguém que tenha assistido à partida pode ter ficado admirado com o desfecho. Admito que, em relação aos números, não se justificaria um terceiro golo dos benfiquistas ao cair do pano.
Mas, perante um opositor tão débil, incapaz de se defender em condições e muito menos de procurar levar perigo à baliza contrária (com excepção dos primeiros minutos), a única dúvida existente a partir do 2-0 era exactamente a que dizia respeito ao "score" final.

E sem pretender tirar mérito algum aos pupilos de Jorge Jesus, fiquei com a ideia que no Algarve houve "FC Porto a menos" e nem tanto "Benfica a mais".
É verdade que os portistas, devido a vários factores (castigos, lesões, quebra de confiança, etc, etc), apareceram num fraco momento de forma, enquanto as águias - moralizadas com o triunfo europeu em Marselha -, como diz o técnico, respiram confiança por todos os poros. Mas, para mim, o Benfica de França, por exemplo, foi de outra dimensão.

Acredito que o jogo podia ter sido diferente se, logo a abrir, Rodríguez tivesse conseguido bater Quim ou, ainda mais evidente, se Nuno não tivesse sofrido o primeiro golo na competição daquela forma inusitada.
Mas, naturalmente, essas (como todas as outras) incidências fazem parte do futebol. Por mais desequilibrada que seja uma partida é sempre possível levantar uma série de dúvidas se isto ou aquilo tivesse sucedido ou se, ao invés, não ocorresse determinada situação.
Mas, entrar por aí, é preferir o subjectivo ao factual. E objectivamente, repito, ganhou quem foi melhor. Muito melhor, mesmo em gestão dos recursos existentes.

Faço questão de destacar a prestação de três elementos na formação benfiquista. Ruben Amorim, Carlos Martins e Airton, pese não serem escolhas habituais no onze, formaram um núcleo fortíssimo no centro do campo. Os dois primeiros estiveram sempre muito bem a construir, enquanto o jovem brasileiro mostrou que, não sendo um tecnicista de encher o olho, sabe como travar o jogo contrário, recuperar a bola e iniciar as transições.

O bom desempenho de alguns habituais reservas encarnados, confirma também aquilo que sempre me pareceu claro: o Benfica tem uma profundidade de plantel como há muito não se via (algo que foi, durante anos, um dos trunfos mais evidentes da superioridade portista). Para conseguir competir, com propriedade, em várias frentes é preciso ter várias soluções. Difícil, claro, é ter olho (e dinheiro) para recrutar tanta gente com qualidade e, depois, conseguir ter os atletas motivados, nomeadamente os que, por opção do treinador, pouco jogam. E nesta final, saliento que as águias ainda tiveram como "excedentários" elementos como Sidnei, Javi Garcia, Nuno Gomes ou Éder Luís. Feliz do treinador que se pode dar a estes luxos...

Mas, se até à data o Benfica continua a "limpar" o mês de Março, o desafio mais importante ainda não está ultrapassado.
Bater o Sporting de Braga, no próximo sábado, na Luz, para ganhar 6 pontos de vantagem na liderança da Liga constitui, seguramente, o momento mais esperado pela equipa de Jesus.
Se tal for alcançado, as águias ficarão bem perto de cumprir o objectivo delineado. Contudo, um deslize (mesmo o empate) pode deitar tudo a perder.
Vamos esperar para ver...

Artigo de Opinião de Sandra Lucas Simões

Conhecia-se o estilo, a entrega, fazia-se elogios mas na hora em que se soube que Jorge Jesus era o sucessor de Quique Flores duvidou-se das suas capacidades para tão grande projeto.

Jorge Jesus entrou com um estatuto diferente do espanhol - que cativava pelo discurso - mas rapidamente ultrapassou o antecessor nos números e na empatia.

Independente do que possa vir acontecer, o Benfica ganhou muito com a escolha de Jesus. Terá sido, porventura, a decisão mais acertada de Luís Filipe Vieira desde que assumiu a presidência do Benfica. O técnico não marca golos mas cria condições para que a equipa funcione. E cumpre promessas. No pré-época, deixou claro que não abdicaria da exigência, que o trabalho estaria sempre em primeiro lugar. Esse discurso foi tão válido em julho como é agora.

Jorge Jesus devolveu genuidade ao futebol e isso também colhe frutos. Como se viu, após a final da Taça da Liga, fala ao coração. Poucos o conseguem fazer como ele. A recompensa, nestes casos, chega sempre.

Beckham...

Bruno Alves no Feminino

domingo, março 21, 2010

Artigo de Opinião de Sérgio Pereira

Mais do que as palavras, valem as imagens que o país inteiro acompanhou em directo. Ora por isso este desce é curto, serve apenas para assinalar a noite desequilibrada de Bruno Alves.

A humilhação suprema do campeão esteve naquele total descontrolo emocional. Mais do que na pesada derrota, aliás.

Percebeu-se nesse instante a incapacidade para contornar a superioridade adversária. O que sobrou foi penoso: perante um adversário que jogava à bola, cresciam patadas, cotoveladas e pontapés, embrulhadas em desespero.

Confrangedor, sem dúvida.

SLBenfica 3 Porto 0 Superioridade Avassaladora!




Crónica do Jogo - maisfutebol.iol.pt -

Aí está o primeiro troféu da era de Jesus, com o Benfica a bater o F.C. Porto por 3-0 num jogo que começou quentinho e chegou a ferver. Uma final que chegou a ter momentos muito feios, mas em que acabou por ganhar a equipa que jogou mais à bola e a que melhor se adaptou aos novos sistemas que os treinadores reservaram para esta noite. A primeira parte foi intensa, mas com pouco futebol, um frango de Nuno e um golaço de Carlos Martins. Os jogadores voltaram mais serenos para a segunda parte, mas o clube da Luz já tinha uma mão no troféu que acabou por reclamar com mais um golo de Cardozo.

Uma falta de Carlos Martins sobre Ruben Micael logo que a bola deixou o círculo central foi a primeira amostra da muita adrenalina que estava em campo. Os ânimos já tinham aquecido no exterior, mas lá fora havia um forte dispositivo policial para controlar a situação. Dentro do relvado havia apenas um muito compreensivo Jorge Sousa, armado com um apito, que foi procurando arrefecer a crescente onda de hostilidade.

O F.C. Porto entrava com tudo, o Benfica respondia na mesma moeda, com as duas equipas a exercer forte pressão sobre o detentor da bola, com entradas a roçar o limite da violência. Jorge Sousa ia apelando à calma, falando com os jogadores, mas cedo teve de começar a puxar pelos amarelos. Bruno Alves entrou a todo o gás e foi dos seus pés que surgiu a primeira oportunidade, com o central a surgir na direita para um cruzamento para Rodríguez colocar Quim à prova.

O Benfica, apesar de tudo, conseguia ter mais bola e, aos dez minutos, colocou-se de forma inesperada em vantagem, na sequência de um monumental frango de Nuno, a um remate inofensivo de Ruben Amorim. As bancadas vermelhas explodiam de alegria, mas a tensão subia em campo. O F.C. Porto aumentou a pressão, com um futebol mais directo, a chamar Quim a novo exame. O Benfica respondia, quase sempre pela esquerda, com Fábio Coentrão a colocar dificuldades a Miguel Lopes. A constante pressão sobre a bola obrigava a muitos erros de parte a parte e Kardec quase surpreendeu Quim com um remate disparatado do meio-campo do F.C. Porto.

Mas era o Benfica que tirava mais proveito das muitas faltas, com os habituais lances do laboratório de Jesus. Já perto do final, Raúl Meireles faz mais uma falta sobre Carlos Martins e, na passada, pisou as costas do adversário. O médio vingou-se com uma das suas «bombas» que só parou nas redes de Nuno. 2-0 para o Benfica. Antes do intervalo ainda houve tempo para mais um «sururu» depois de uma falta de Bruno Alves sobre Aimar. Jorge Sousa distribuiu mais dois amarelos e apitou para o intervalo, com o central do F.C. Porto de cabeça perdida.

Jesualdo Ferreira não esperou mais e o F.C. Porto entrou para a segunda parte com Fucile e Valeri em detrimento dos amarelados Miguel Lopes e Ruben Micael. O Dragão voltou a entrar de narinas fumegantes, mas pela frente encontrou um adversário mais sereno, já menos interessado em alimentar picardias, e com uma defesa, o único sector em que Jesus não tocou, inabalável. No meio-campo, Airton também se apresentou em bom plano, atrás de um quarteto preparado para a batalha, apenas com Kardec na frente.

Jesualdo apostou num sistema semelhante, com Fernando à frente da defesa, quatro peças no meio-campo e Falcao destacado na frente. Dois esquemas idênticos, mas com a versão vermelha a mostrar sempre melhor rendimento. O jogo parecia estar controlado, o F.C. Porto não conseguia fazer a bola chegar a Falcao e Jesus foi refrescando a equipa com as entradas sucessivas de Ramires, Saviola e Cardozo para deleite dos adeptos. E foi o paraguaio que deu a estocada final depois de Ruben Amorim ter destroçado o último reduto junto à baliza de Nuno.

David Luiz tinha avisado. Era um jogo sem favoritos, mas com muito sentimento. Quem estivesse melhor preparado psicologicamente tinha vantagem. Foi, sem sombras de dúvida, o Benfica.

Destaques

Carlos Martins
Marcou um golaço, aos 44 minutos. O seu remate forte é sobejamente conhecido e, na primeira parte, poderia ter feito dois golos de livre. Na primeira ocasião Rolando conseguiu fazer o corte, mas na segunda o médio encarnado não deu hipóteses a Nuno Espírito Santo. Fez uma boa exibição. Carlos Martins é um jogador lutador e hoje voltou a dar tudo o que pôde em campo.

David Luiz
Tem feito bons jogos. Voltou a fazer uma boa exibição, tanto a defender quanto a atacar. O central quase «enganou» Nuno, pelo menos, por duas vezes. O brasileiro fez uma prestação segura e está confiante. Para além disso, entende-se bem com Luisão, que lhe dá liberdade para subir. Não complica o que é simples e isso é meio caminho andado para o sucesso.

Quim
Evitou que Rodríguez, seu antigo companheiro de equipa, marcasse logo aos oito minutos. Sempre que teve de intervir esteve seguro e mostrou-se muito atento. Esforçou-se ao máximo e, em duas ocasiões, acabou mesmo por «esticar-se» ao ponto de apresentar queixas. Uma dessas situações aconteceu aos 25 minutos, altura em que Falcao criou perigo e, perante alguma confusão junto da sua baliza, o guarda-redes foi obrigado a superar-se.

Rolando
Negou o golo a Carlos Martins por duas ocasiões, na primeira parte, aos 36 e 42 minutos. O central realizou uma prestação segura, sem se deixar invadir pelo nervosismo. Trabalhou muito e evitou, sempre que pôde, que a bola se aproximasse demasiado da baliza portista. Apesar dos golos sofridos pelos dragões, Rolando fez um bom trabalho.

Bruno Alves
O central é um jogador de raça. Ficou a ideia de que entrou em campo com mais coração do que razão e isso condicionou a sua actuação e também o seu comportamento. É um bom jogador e, até ao primeiro golo dos encarnados (dez minutos), tentou mostrar aos companheiros que o caminho deveria ser em direcção à baliza de Quim. Rodríguez quase marcou aos oito minutos, depois de uma jogada que começa num cruzamento do central. Terminou a primeira parte de cabeça perdida. No início da segunda metade teve discernimento suficiente para pedir calma aos adeptos. Cometeu demasiadas faltas duras. Hoje o F.C. Porto precisava de um Bruno Alves com mais razão do que coração.

Falcao e Rodríguez
Criaram algumas situações de perigo. Tentaram e trabalharam. Lutaram. Os dois jogadores têm qualidade e são lutadores. Nem sempre foram felizes, mas tentaram dar aos seus adeptos razões para festejar. Não brilharam. Em algumas ocasiões os adversários foram superiores e noutras a sorte não esteve do seu lado.

sábado, março 20, 2010

Artigo de Opinião de Ricardo Araújo Pereira

'Welcome' to Algarve

SENDO o Algarve praticamente solo inglês, tenho expectativas mais ou menos elevadas para a final da Taça da Liga.
Todos sabemos o que acontece ao Porto quando tem de jogar em Inglaterra contra equipas que vestem de vermelho e branco.
Provavelmente por isso, a Liga tomou medidas com o intuito de equilibrar o desafio: a nomeação de Jorge Sousa é um sinal claro de que se pretende um jogo bastante nivelado.
Que diriam os portistas se um antigo elemento dos No Name Boys fosse nomeado para arbitrar uma final entre Benfica e Porto? Haveria certamente vigílias lacrimejantes e pungentes comunicados.
Que dizem os benfiquistas quando Jorge Sousa é nomeado para arbitrar o jogo de amanhã? Encolhem os ombros. E dizem que o jogo de Marselha, com a arbitragem que teve, foi um bom treino para esta final.
É assim que se chama público aos estádios: a maior parte dos Super Dragões vai assistir à partida na bancada, mas um deles terá o privilégio de ver o jogo mesmo no relvado.
Ninguém pode acusar a Liga de não saber promover o espectáculo — que terá, aliás, outros motivos de interesse.
Depois das escaramuças com José Lima, no intervalo do Sporting-Porto, e com Vilas Boas, no intervalo do Académica-Porto, com quem irá desentender-se o treinador-adjunto José Gomes no intervalo da final? Como é que os stewards da Luz conseguirão provocá-lo de forma infame a 300 quilómetros de distância?
Quantos jogos de suspensão serão aplicados aos jogadores do Benfica que não agredirem ninguém, como aconteceu com Cardozo no Braga-Benfica (arbitrado por Jorge Sousa)?
Tal como sucedeu no ano passado, irá algum portista sugerir que o Porto perca o jogo por falta de comparência, ou esta época já lhes apetece disputar este troféu? Que inquietação.

Foi uma excelente quinta-feira europeia para os portugueses: o Benfica passou aos quartos-de-final da Liga Europa e Simão Sabrosa também.
Aconteceu, em todo o caso, um episódio triste: por uma daquelas coincidências inexplicáveis, dois dias depois de Salema Garção ter instigado os adeptos do Sporting a criarem um ambiente hostil ao Atlético de Madrid, vários sportinguistas apedrejaram os adeptos espanhóis.
Quem diria? No entanto, tenho a certeza de que as pedras foram trazidas de Alcochete por sócios do Benfica, os mesmos que, naquele jogo decisivo do campeonato de juniores, atiraram pedras aos inocentes sportinguistas que nunca tinham visto um paralelepípedo na vida.
Entretanto, Costinha parece ser o director desportivo de que o Sporting precisava: Sá Pinto tentou expulsar Liedson do clube e não foi capaz, mas Costinha mostrou mais talento e, ao que parece, conseguiu mesmo afastar definitivamente Izmailov. A generalidade dos directores desportivos tem a responsabilidade de recrutar jogadores para a equipa que dirige; no Sporting, compete ao titular do cargo expulsar os que lá estão. É, sem dúvida, um clube diferente.

Que azar teve o Marselha: no espaço de uma semana passou de equipa que, finalmente, mostrou ao Benfica o que era ter pela frente um adversário a sério, com excelentes jogadores de nível mundial, a equipa composta por coxos que, afinal, qualquer um eliminava.
Quanto aos benfiquistas, apesar da liderança do campeonato, do melhor ataque, da melhor defesa, do melhor marcador e dos quartos-de-final da Liga Europa, continuam a não embandeirar em arco. Quem quiser saber o que é embandeirar em arco, leia o que se escreveu na semana em que o terceiro classificado ganhou ao Arsenal em casa com um frango e um golo à chico-esperto. Euforia ridícula é aquilo, como os factos viriam a demonstrar com alguma dureza.

quinta-feira, março 18, 2010

Marselha 1 SLBenfica 2 Exibição Memorável Superou um Inadmissível Vilipêndio ou a Justiça Chegou pelo Pé Direito do Mestre do Espiritismo



Kardec
Herói como Vata, mas desta vez sem mão ou ombro, como diz o angolano. Jesus apostou no brasileiro e em cima do apito final atirou à grande ponta-de-lança para o fundo da rede de Mandanda. Um golo que valeu muito, muito mesmo e leva o Benfica para os quartos-de-final da Liga Europa. Entrou como um desconhecido para os gauleses, mas saiu como herói encarnado.

Maxi Pereira
Mas que mal lhe fez o Marselha????? Assim, mesmo, com muitos pontos de interrogação, tal foi a apetência para marcar aos franceses. Fizera o golo encarnado na Luz, encheu o pé em França, com desvio de Cheyrou, e devolveu esperança a todo o Benfica. No Vélodrome, Maxi cheyrou o golo, deixou tudo em campo, fartou-se de subir pelo flanco e defendeu com toda a força da grandeza encarnada.

Di María
Tantas vezes com o diabo no corpo, tantas vezes sem força para atirar a contar na baliza do Marselha. Pela esquerda, abriu brechas na defesa francesa, arrancou com a vista no golo, rematou «sem olhar», nas melhores ocasiões encarnadas dentro de área. Em mais um jogo europeu, mostrou-se ao Velho Continente, que cada vez mais o conhece melhor, cada vez mais tem o nome do argentino na ponta da língua.

Cardozo
Goleador de serviço, bombardeiro paraguaio. Já se sabe que com o Tacuara não se pode esperar grandes primores técnicos, não se pode aguardar magia igual à de Saviola ou outro nascido em solo argentino. Mas lá de onde vem, no Paraguai, devem fazer sapatos à medida de bombas, pois foi mesmo uma que disparou ao poste de Mandanda. A acabar os 90 minutos, teve a glória no pé esquerdo, mas atirou para fora. Deu grande luta aos centrais e se mais não fez foi porque Mbia também esteve em bom plano e ganhou-lhe alguns duelos.

David Luiz e Luisão
Arrancou aplausos quando distribuiu técnica, passando a bola por cima de adversários. Teve pela frente o melhor marcador de França e, certamente, um dos mais difíceis que encontrou na Europa, enquanto central. David Luiz teve tarefa complicada, mas saiu dela com distinção, tal e qual o companheiro do lado. Luisão esteve em bom plano, com cortes precisos. A dupla deu segurança e foi apanhada em contra-pé no lance do golo.

Artigo de Opinião de Leonor Pinhão

Diabólica, é a ponta ou é a época?

Falar torna-se, às vezes, muito complicado. Principalmente quando se fala pouco é muito difícil fazermo-nos entender. A culpa é dos eloquentes, que são os que falam muito e, embalados pelo som da sua própria voz, dizem a mesma coisa uma dúzia de vezes, sem vírgulas, sem pontos finais. Para sofrer a experiência basta assistir a programas de televisão cujo assunto em debate seja, por exemplo, o futebol.

Qualquer interveniente que comece por dizer «vou ser muito rápido» demora-se, pelo menos, dois minutos a explicar porque é que vai ser muito rápido, mais dois minutos a perder-se em considerações que não vêm para o caso e outros seis, sete minutos a formular por palavras a sua ideia inevitavelmente muito geral. E com tantas explicações e redundâncias é óbvio que, no fim, os telespectadores dando-se por vencidos, por exaustão, conseguem juntar os pedacinhos todos do muito que ouviram e armar, pelo menos, uma frase que faça algum, ainda que pouco, sentido.

Assim sendo, as pessoas desabituaram-se de apreciar os lacónicos. E, sobretudo, desabituaram-se de os perceber. Ouvir falar os outros tornou-se numa espécie de passatempo sem que o móbil seja o da compreensão. E quanto mais falam mais passa o tempo, sucesso garantido. É caso para se dizer que, nesta altura do campeonato, as frases curtas e o poder de síntese estão condenados ao desdém, à obtusidade e à maledicência, como alguns fenómenos recentes bem o explicam.

Comecemos por Jesus, por definição um incompreendido. Ainda hoje, um incompreendido.

No fim do jogo no Funchal, contra o Nacional, Jesus disse:

— Estamos a fazer uma ponta final de época diabólica!

E sobre este tema não disse mais nada. Deixou-o assim, curto e palpitante, como palpitantes eram os peixes nas redes de Pedro. Logo vieram os fariseus, habituados aos seus próprios longos e insignificantes discursos, desdenhar as palavras do treinador do Benfica, acusando-o de ser um convencido, um vaidoso, porque não entenderam a simplicidade da mensagem.

É que Jesus não disse:

— Estamos a fazer uma diabólica ponta final de época!

E se o dissesse, estaria, pois evidente e desnecessariamente, a elogiar a sua equipa e a elogiar-se a si mesmo, considerando como «diabólica» a «ponta» e não o «final de época» que, esse sim, é mesmo muito puxado como Jesus quis dizer e disse, colocando o adjectivo «diabólico», humildemente a preceito, no final da frase.

No futebol falado as regras são todas ao contrário. Há uma altercação táctica permanente entre formas e conteúdos, sem que nenhum dos campos se consiga impor porque os abusos de interpretação são sempre adulterados por factores exteriores à formulação. E quanto mais curta é a formulação da frase, maiores são os abusos e menor é o entendimento.

Tomemos outro exemplo da semana. O exemplo de Deco. O jogador foi entrevistado no Brasil pela TV Globo e disse:

— Eu não sou português.

É uma grande verdade.

Mas, no lugar de ser elogiado por não ter mentido, e bem merecia o elogio, Deco teve de sofrer os remoques ofendidos dos patriotas lusitanos que lhe exigem que, pelo menos, «finja» que é português em nome da boa consciência do futebol nacional e da sua febre de naturalização de estrangeiros residentes e competentes.

Para se safar à crítica, o jogador brasileiro do Chelsea deveria ter produzido um arrazoado de 12 minutos sobre o seu amor à pátria do Santo Condestável, recitando os primeiros versos de Os Lusíadas, descrevendo as maravilhas naturais do torrão que lhe é querido, salientando as características de amabilidade do povo nativo e, muito principalmente, elogiando as delícias da gastronomia portuguesa, apontando a dedo os nomes de uma dúzia de pratos preferidos e de uma meia dúzia de restaurantes de Norte a Sul do país, para que todos ficassem contentes.

E, no meio disto, mas mesmo lá para o meio da conversa, o nosso Deco até podia dizer «eu não sou português» que ninguém lhe levava a mal, por entre tanta estrofe, eloquência, e bacalhau à Gomes de Sá.

O problema de Deco foi, como não podia deixar de ser, o laconismo da sua honestíssima expressão. Na noite de segunda-feira, Ulisses Morais, treinador do Paços de Ferreira, radiante pela difícil vitória da sua equipa sobre o Marítimo, produziu uma curta frase, não menos honestíssima, que resume todas as qualidades necessárias ao sucesso dentro das quatro linhas:

— Fomos cínicos e traiçoeiros!

E, consequentemente, foram felizes.

O futebol tem, neste campo, particularidades únicas. Tomam-se as qualidades por defeitos e vice-versa. E é por isso que dá panos para mangas, tal a riqueza interpretativa que suscita em Portugal.

No estrangeiro, as coisas passam-se de maneira diferente. Sobretudo nos países anglo-saxónicos, há um amor pelo preciso e pelo conciso que nos é de todo alheio.

Para obter a prova basta assistir, por cabo, a programas de debates ou a entrevistas. Ingleses e norte-americanos não demoram mais de 30 segundos a responder ao que quer que seja. E de tal modo são hábeis e qualificados nesta prática que os telespectadores, em casa, conseguem até lembrar-se da pergunta que foi feita, o que raramente acontece entre nós.

Em Inglaterra, são raros os momentos de eloquência na imprensa escrita ou na televisão. Quanto a momentos de humor, benza-os Deus, estamos conversados. Daí o espanto que não podem deixar de causar as invulgares ironia e retórica com que o cronista do conceituado jornal londrino The Times, esse pilar da velha Inglaterra, se referiu à passagem do FC Porto pelo campo do Arsenal:

— O FC Porto foi tão convidativo como adversário que mais parecia o Burnley disfarçado. Não que Fucile, pelo que mostrou, conseguisse sequer fazer um jogo pelo Burnley.

A conclusão a que se chega é que a Inglaterra já não é o que era. Quanto ao Times, perdeu toda a sua credibilidade centenária. A única pessoa que ainda leva a sério o Times é Jesualdo Ferreira. É a única explicação para a diabólica exclusão de Fucile da equipa que, depois de Londres, foi a Coimbra vencer a Académica.

Vítor Pereira anunciou publicamente que a Comissão a que preside está indecisa. Ainda não foi escolhido que árbitro vai dirigir a final da Taça da Liga. Apenas foi escolhida a cidade de proveniência do árbitro. Será do Porto, o que parece coerente. A Comissão está a pensar se será melhor ideia nomear Jorge Sousa, que recebeu a pior nota da corrente época pelo que fez e não fez no último Vitória de Setúbal-Benfica, ou nomear Paulo Costa, que está em fim de carreira e merece uma despedida condigna.

Mas que ponta final diabólica de época diabólica.

quarta-feira, março 17, 2010

Artigo de Opinião de Luís Seara Cardoso

Houve quem temesse que a deslocação do Benfica à Madeira, no passado fim-de-semana, pudesse fazer perigar a trajetória vitoriosa do conjunto.
A excessiva proximidade do embate com o Marselha, mais as suas sequelas físicas e até emocionais, poderiam resultar num desfecho menos favorável. Afinal, o que se viu?
Uma equipa com uma excelente atitude, soberana nos capítulos dominantes do jogo, que arrecadou mais um precioso triunfo, numa altura em que a competição se aproxima da fase conclusiva.
Até poderá acontecer que a receção próxima ao Sporting de Braga se encarregue de encerrar praticamente as contas do Campeonato.
O Benfica, esta temporada, invariavelmente, depois de um resultado menos conseguido (caso recente do despique com o Marselha), tem conseguido reverter a situação a contento. Foi também assim, depois dos empates com o Marítimo, o Olhanense e o Vitória de Setúbal. Foi também assim, depois dos desaires com o Sporting de Braga e o Vitória de Guimarães.
A razão? Estamos perante uma formação sólida, concentrada, desequilibrante. Este Benfica só pode ser campeão nacional, também por amor à justiça competitiva.
E a nível internacional?
Amanhã, em França, ninguém duvide que tudo fará para prosseguir na Liga Europa, ainda que sabidas as dificuldades que a eliminatória encerra. Não há um Benfica para consumo doméstico e outro para estrangeiro ver. Não há nem poderia haver. O Benfica, soberano a nível nacional, tem recursos bastantes para demonstrar, fora do país, todo o seu potencial. Este Benfica, versão 2009/2010, na sua propensão ganhadora, não tem fronteiras.
Por isso é que também não tem limites.

Mimos...

Porradinha e Beijinho...

terça-feira, março 16, 2010

Artigo de Opinião de Luís Avelãs

Analisar, até à data, a boa temporada do Benfica passa, desde logo, por constatar o alto rendimento ofensivo de Cardozo. O paraguaio, ao invés do que sucedia no passado, convenceu técnico, dirigentes e adeptos e, com naturalidade, conquistou o estatuto de titular. Como é que isso foi possível? De forma simples: o avançado desatou a marcar golos com uma regularidade de fazer inveja a muitos "matadores" do futebol europeu.

Mas Cardozo, como qualquer futebolista, podia fazer ainda mais e melhor. E quando digo isto não estou a pensar no domínio da bola, no jogo aéreo, nos livres directos, na entrega às partidas, no auxílio às tarefas defensivas ou sequer nas combinações com Saviola e restantes elementos com características atacantes, embora tudo isso, é certo, possa ser sempre aprimorado. Estou a pensar em algo diferente: o sul-americano seria um jogador consideravelmente mais valioso se, pura e simplesmente, revelasse uma eficiência normal na marcação das grandes penalidades.

Por mais paradoxal que possa parecer... não considero Cardozo um mau marcador de penáltis (também não acho que seja um dos melhores especialistas do planeta, conforme um dia escutei a um "entendido" da Benfica Tv)! Ele tem força no remate, consegue - na maioria das vezes - iludir o posicionamento dos guarda-redes e, por isso mesmo, tecnicamente não pode ser incluído num qualquer lote de jogadores pouco talhados para a cobrança dos castigos máximos. O problema de Cardozo é outro, é psicológico.

Escrevi aqui, logo após o empate dos encarnados em Setúbal, um texto onde chamava a atenção para o bloqueio que Cardozo demonstra quando, em situações complicadas (com a equipa a precisar de marcar para anular desvantagens ou passar a liderar), está "obrigado" a converter a falta. O tema, pouco tempo depois, volta a suscitar discussão.

Falhar um penálti, seja com Cardozo ou outro qualquer jogador, acontece. E até é normal que suceda de tempos em tempos. No entanto, não deve ser apenas mera coincidência constatar que o avançado desperdiçou quatro penalidades no Campeonato (Marítimo, V. Guimarães, V. Setúbal e Nacional) quando a equipa precisava de marcar. Ao invés, não errou um único sempre que foi chamado a cobrar os castigos com as águias em vantagem.

Tal como defendi no texto anterior, parece-me claro que Jorge Jesus só deveria eleger Cardozo como marcador dos penáltis quando a equipa está na frente. Estatisticamente é essa a decisão lógica. Contudo, já se percebeu que o treinador não está para aí virado. Provavelmente porque pensa que, dessa forma, poderia minar a confiança de um atleta fulcral no conjunto. Compreendo a ideia. No entanto, se seguisse sempre essa linha de raciocínio, o técnico nunca faria uma alteração, pois por mais que ela se justificasse poderia sempre correr o risco de estar a desestabilizar um qualquer futebolista...

A Entrada Assassina da Semana

Uma lesão, no mínimo, Inusitada ou Efeitos Colaterais da Paradinha...

O Regresso aos Golos de Roberto Carlos

segunda-feira, março 15, 2010

A Mística do Benfica segundo Bella Guttman

Video de Opinião de Pedro Ribeiro

Espaço Prof. Karamba - Classificação Geral

1º Lugar: Jimmy Jump e Vermelho Sempre - 575 pontos

2º Lugar: Kaiserlicheagle - 535 pontos

3º Lugar: JC - 520 pontos

4º Lugar: Vermelho - 500 pontos

5º Lugar: Fura-Redes - 495 pontos

6º Lugar: J. Lobo - 490 pontos

7º Lugar: Sócio - 425 pontos

8º Lugar: Gui e Samsalameh - 405 pontos

9º Lugar: Cuto - 380 pontos

10º Lugar: Chico - 245 pontos

11º Lugar: Vermelho Nunca - 225 pontos

12º Lugar: Agarredinhos e Filipe - 70 pontos

13º Lugar: Luís Rosário - 55 pontos

14º Lugar: Lion Heart - 50 pontos

15º Lugar: Pachulico - 35 pontos

domingo, março 14, 2010

Artigo de Opinião de Luís Avelãs

Quando Ben Arfa, já com a partida a caminhar para o final, cabeceou de forma vitoriosa para o fundo da baliza defendida por Júlio César, a Luz gelou. Pouco depois de verem Ramires acertar na trave e, consequentemente, falhar por pouco aquilo que seria um muito agradável 2-0, os adeptos encarnados constataram a complicada realidade: para o Benfica eliminar o Marselha e atingir os quartos-de-final da Liga Europa será preciso, em França, marcar pelo menos uma vez e, ao mesmo tempo, não perder o jogo.

Quem sofre um golo, ainda por cima em casa, nos últimos instantes de um encontro e com isso vê escapar entre os dedos uma previsível vitória... é normal falar em azar. E, objectivamente, faz sentido ter esse sentimento de frustração quando sucede o que se viu na Luz. Porém, se tivermos em conta que, bem antes, com o "placard" ainda a zero, os gauleses (com o ex-portista Lucho em plano de evidência) desaproveitaram várias soberanas ocasiões para facturar, talvez tenhamos de aceitar o empate como um desfecho justo face aos que se passou nos 90 minutos.

O Benfica, ao contrário do que tem sido normal esta época em casa, não foi uma equipa asfixiante desde o apito inicial. É certo que o colectivo foi conseguido levar perigo à baliza marselhesa, mas nunca com aquele ímpeto que tem sido característico. Faltou alegria, criatividade e eficiência (no passe e no remate). Demérito dos pupilos de Jesus? Um pouco (nomeadamente por parte de Aimar, que reapareceu sem o ritmo adequado e com escassa inspiração), mas essencialmente mérito dos gauleses que, pelos vistos, fizeram bem o trabalho de casa e souberam controlar as iniciativas dos principais construtores do futebol atacante das águias.

Agora, em Marselha, o Benfica vai ter um teste "a sério". Se a equipa revelar o arcaboiço que muitos lhe reconhecem, poderá, perfeitamente, eliminar o adversário. Contudo, já se sabe, para o conseguir terá de estar perto do seu melhor nível. Já todos vimos, esta temporada, o que pode fazer a turma de Jesus. No entanto, agora vai ser preciso brilhar exactamente no dia, hora e local agendado. E as distracções, como a do último minuto do jogo da Luz, são proibidas ou poderão ter custo bastante elevado.

Nacional 0 SLBenfica 1 Tudo o que Cardozo Desbaratou, Tudo o que Cardozo Ajudou a Conquistar



Cardozo, pois claro

O melhor marcador do Benfica não teve muitos espaços mas deu que fazer, principalmente, na segunda parte. Após falhar a grande penalidade, Cardozo marcou e viu Bracalli negar-lhe o golo de seguida. O Tacuara desperdiçou mais um penalty, mas também resgatou os três pontos para os encarnados. É o que dá estar no sítio certo.

Coentrão quer ir ao Mundial

Fábio Coentrão surgiu a defesa-esquerdo e mostrou que Carlos Queiroz pode contar com ele nessa posição. Se a defender não teve grandes problemas para resolver, a atacar mostrou grande velocidade e capacidade técnica. Esteve perto de marcar aos 46, mas Bracalli defendeu melhor.

David Luiz a todo terreno

Se no centro da defesa David Luiz não deu hipóteses a Edgar Silva e companhia, o central também mostrou serviço em terrenos mais avançados. E foi sobre si que foi cometida a grande penalidade.

sábado, março 13, 2010

Artigo de Opinião de Ricardo Araújo Pereira

Misteriosos desaparecimentos

(…) só há duas coisas que eu odeio, quando se referem a mim: que me tirem o Miguel do nome e que me ponham a dizer uma palavra que eu nunca uso: «algo»

(…) reconfortando-se ao encontrarem-se uns aos outros na missa algo despovoada desse domingo na vila

(…) eu atravessaria a rua como se flutuasse dentro de um sonho ou de um pesadelo, algo de irremediável se teria então quebrado para sempre

Miguel Sousa Tavares


E, de repente, deixou de se falar no túnel da Luz. Confesso que estou preocupado. Talvez valesse a pena as autoridades competentes lançarem o alerta do costume: «Desapareceu das colunas de opinião o túnel da Luz. Da última vez que foi visto usava uma estrutura de metal coberta por uma lona branca com a marca dos pitons do Fernando. Se alguém possuir informações que nos possam levar ao seu paradeiro, por favor contacte a Polícia de Segurança Pública.» O mais chocante neste desaparecimento é o facto de serem precisamente as mesmas pessoas que mais lembraram o túnel da Luz aquelas que agora o esquecem. Foram meses de análises, lamentos, acusações, queixinhas, vigílias, comunicados — tudo em nome do túnel. Subitamente, depois de duas goleadas e um empate em casa com o 13º classificado, o túnel desapareceu. De repente, as opções do professor Jesualdo são duvidosas, o plantel é pobre, os reforços são fracos, a estratégia falhou e o modelo de gestão morreu. E o túnel? Com que desumanidade se descarta assim uma infraestrutura que, ao longo de tantas semanas, cumpriu com brilhantismo o seu papel de bode expiatório de todos os fracassos? Houve vigílias contra o modelo de gestão? Não. O plantel uniu-se para emitir um comunicado a condenar a sua própria falta de qualidade? Claro que não. Foi tudo feito sempre a pensar túnel, no mesmo túnel que é agora injustamente esquecido. A ingratidão é muito feia.

Mesmo tendo feito uma época menos boa, o clube da estrutura — ah, a estrutura! — continua a dar lições. No Benfica, onde a organização é fraca e a estrutura inexistente, dirigentes e adeptos têm celebrado o bom futebol, as goleadas e a liderança do campeonato. Um erro, evidentemente. São entusiasmos que não se admitem numa gestão altamente profissionalizada. No Porto, a estrutura — ah, a estrutura! — é sólida e não embarca em euforias. O presidente olhou para a tabela, verificou que se encontrava num prometedor terceiro lugar e, com toda a sensatez e realismo, prometeu o título de campeão a vivos e a defuntos. É assim que se gere um clube. Temos muito a aprender.

À chegada de Londres, Pinto da Costa não aproveitou a presença das câmaras e dos microfones para fazer uma das suas habituais e divertidas ironias, ou para atacar o centralismo, ou para declamar José Régio. Na verdade, Pinto da Costa nem sequer apareceu. O gesto, como sempre, foi mal interpretado. Não há, na atitude de Pinto da Costa, a mais pequena falta de solidariedade nem de coragem. Na verdade, foi um gesto de verdadeiro portista: a equipa tinha acabado de fazer história na Europa, e Pinto da Costa não quis roubar o protagonismo aos jogadores e treinador. Quando os jogadores são contratados, é ele que os descobre, que os negoceia, que tem a argúcia de os roubar ao Benfica. Quando levam cinco de um Arsenal desfalcado de Fabregas, Van Persie, Gallas, Djourou, Ramsey e Gibbs, é altura de se reconhecer o mérito ao professor Jesualdo. Há um tempo para tudo.

quinta-feira, março 11, 2010

SLBenfica 1 Marselha 1 Desconcentração Inadmissível Compromete Eliminatória


Artigo de Opinião de Leonor Pinhão

Genial, presidente, genial!

Na última jornada, no Restelo, Liedson construiu por mérito próprio a bonita proeza que, na penúltima jornada, Di María, em Matosinhos, também tinha conseguido atingir mas que Lucílio Baptista, esse grande benfiquista, não permitiu que fosse para valer. Marcar quatro golos num só jogo é obra!

E, por isso mesmo, estão os dois, o brasileiro e o argentino, de parabéns.

O ressurgimento efectivo do Sporting neste terço final da época tem suscitado muitas análises e muitas interrogações por parte dos especialistas da matéria. Como é possível que uma equipa que parecia atirada ao tapete consiga sacudir a poeira, levantar-se do chão e, de uma assentada, eliminar o Everton, golear o FC Porto e despachar o Belenenses?

Uns explicam o fenómeno com os dotes reanimadores de Carlos Carvalhal, outros com a entrada de Costinha para um posto directivo e ainda há quem acredite que o anúncio da contratação de um novo treinador para 2010/2011, ao contrário do efeito cientificamente esperado, causou uma positiva onda de choque no balneário, porque o futebol tem destas coisas…

No entanto, perante os factos, é de crer que estão todos errados. O Sporting deve a sua reanimação única e exclusivamente ao Benfica, cuja força anímica está de tal modo em alta que até dá para emprestar as sobras a terceiros. Recordemos, por exemplo, os minutos finais do Sporting-Everton para a Liga Europa. Depois de ter perdido por 2-1, na primeira-mão, em Liverpool, chegou, em Alvalade, aos 2-0 e os ingleses, como lhes competia, e ainda que muito incompetentes, tentaram fazer o golo que lhes permitisse, no mínimo, chegar ao prolongamento.

E isso é que não podia, de maneira nenhuma, acontecer!

Três dias depois de jogar com o Everton, cabia ao Sporting receber o FC Porto e não convinha mesmo nada, ao Benfica, pois claro, que a equipa de Carlos Carvalhal fosse obrigada a cansar-se, a jogar mais meia hora quando tinha, imperiosamente, de se apresentar frente aos tetracampeões fresca e luzidia como uma alface, como veio a acontecer.

É, portanto falso ou, pelo menos, incompleto, afirmar-se que os benfiquistas só torceram pelo Sporting durante o jogo com o FC Porto. Os benfiquistas já tinham sofrido, e muito, pelo Sporting no jogo com o Everton perante a desagradável possibilidade de o jogo seguir para prolongamento.

Esta vaga de simpatia vermelha e interesseira pelas cores verdes emprestou à equipa do Sporting uma dimensão verdadeiramente nacional, raramente experimentada pelos seus jogadores que, pelos vistos, adoraram a novidade da experiência. Por exemplo, Liedson, o herói sportinguista do Restelo, revelou à imprensa no início da semana tudo o que lhe vai na alma sobre o assunto.

Escutemo-lo: «Eu já tinha um respeito grande pelo Benfica e os adeptos do Benfica por mim, porque eles sabem que eu estou no Sporting a fazer o meu trabalho», disse o levezinho com grande desenvoltura e leveza. E foi ainda mais longe: «A maioria dos benfiquistas, quando me encontra diz: 'Você é um grande jogador, mas está na equipa errada.' Mas são todos sempre muito educados comigo.» Pois com certeza que somos, caro Liedson.

Ficaram esclarecidos?

Mais uma vez, Liedson resolveu.

Desta vez resolveu as dúvidas que pairavam sobre as razões da sensacional recuperação do Sporting. Está provado que é o Benfica que lhes anda a dar moral. Os sportinguistas nem sabem a sorte que têm. E Liedson não sabe a sorte que tem por já ter Sá Pinto a uma considerável distância…

É que Sá Pinto não ia achar graça nenhuma a uma coisa destas.

Ia alta a madrugada quando stewards, ao serviço do Benfica, esperaram pelos jogadores do FC Porto no Aeroporto Sá Carneiro no Porto e os provocaram com insultos e ignomínias várias. Enfim, o costume…

Os jogadores do FC Porto, desta vez, não responderam às provocações. Nem sequer Hulk esboçou qualquer tentativa de desagravo.

Não valia a pena. Depois da sua exibição em Londres, ciente de que a sua cláusula de rescisão tinha subido para os 150 milhões de euros, o poderoso avançado brasileiro deitou contas à vida, fez-se egoísta, e chegou à conclusão de que lhe mais valia estar quieto.

Fez muitíssimo bem. À primeira caem todos, à segunda cai quem quer…

A absurda quantidade de túneis cavados pela linha avançada do Arsenal nas linhas defensivas do FC Porto deixaram a comitiva portista sem capacidade de reacção.

Entre todos, foi Raul Meireles, o herói da qualificação portuguesa para o Mundial da África do Sul, quem apelou ao bom senso das massas revoltadas com uma frase pragmática e digna de respeito: «Ainda existem três troféus para ganhar!» E existem mesmo.

Raul Meireles é um excelente profissional e um jogador que todos admiram independentemente das paixões clubistas. Pauta-se, normalmente, por discursos razoáveis, distantes da propaganda oficial. No momento presente, ao serviço do seu clube, o FC Porto, não tem sido especialmente feliz dentro das quatro linhas, mas são coisas que acontecem aos melhores.

E se Raul Meireles pensar que na corrente temporada apenas marcou dois golos nas balizas adversárias, exactamente o mesmo número de golos que o nosso grande David Luiz marcou na sua própria baliza, há-de concluir que muita coisa está explicada.

O presidente do FC Porto não foi visto nem achado no Aeroporto Sá Carneiro quando os stewards contratados pelo Benfica, acentue-se porque é importante, provocaram os seus jogadores com insultos e ignomínias várias. Fez bem em não estar.

Genial, presidente, genial.

O Benfica joga hoje à noite a primeira-mão dos oitavos-de-final da Liga Europa. Ora aqui está um jogo que não tem importância nenhuma. O objectivo desta época é, como diz Jesus, o campeonato nacional e o resto serve apenas para entreter.

Menos importante do que a Liga Europa, só a Taça da Liga nacional. Que sejam dois bons entretenimentos e basta.

Genial, presidente, genial.

quarta-feira, março 10, 2010

Espaço Prof. Karamba

Sporting - V. Guimarães
Nacional - Benfica
Sp. Braga - Rio Ave
Leixões - V. Setúbal
Académica - FC Porto
P. Ferreira - Marítimo
Naval - U. Leiria
Olhanense - Belenenses

Artigo de Opinião de Luís Freitas Lobo

Benfica-Braga: um duelo que brinca com a história do nosso futebol. Os méritos dos campeões podem vir dos locais mais improváveis.
Por cada vez que ele, com as orelhas quase parecendo asas, arranca pelo seu flanco canhoto ou surge, olhos esbugalhados, mais enquadrado com a baliza, o jogo parece torna-se numa cena de "Alice no país das maravilhas". A personagem principal não tem, no entanto, o traço imaginativo de Lewis Carroll. Foi antes inventada por outro criativo, Jorge Jesus, o treinador que resolveu reescrever o futebol táctico de Di María, antes apenas um malabarista que tanto fintava adversários, como a seguir se fintava a si próprio. Agora, até parece que voa. Um 'Dumbo esquelético' que faz a turba benfiquista saltar. O Benfica de Jesus vive actualmente na terra do 'futebol das maravilhas'. Ganha e joga bem. É uma obra com cimento táctico (equilíbrios defensivos, Javi Garcia e a dupla Luisão-David Luís) e técnico (a conexão argentina, Aimar com a batuta, Di María e Saviola a inventar).

Depois da dinastia espanhola Camacho-Quique de futebol 'cinzento', acendeu-se a Luz, o futebol 'a cores' de Jesus. O maior desafio que enfrenta agora (após a queda do FC Porto) parece ser aguentar essa sua própria qualidade futebolística até ao fim. Não se deixar dominar pela chamada 'fadiga táctica'. Quando, apesar de fisicamente os jogadores continuarem bem, os índices de concentração táctico e mental (que influi na eficácia de posicionamento e dinâmica de jogo) já não são os mesmos.

Neste contexto, um ponto parece mais do que realmente é. Distância curta que é a base do 'sonho impossível' do 'pequeno herói' de início de época, o Braga de Domingos, que, insolente, chega a esta recta final como que abrindo uma porta secreta da sua própria existência como clube. O crescimento futebolístico do Braga tem diferentes espelhos. A qualidade das equipas (bons jogadores, bons negócios) e seus treinadores. Poucos terão reparado, mas os actuais treinadores dos grandes (Jesualdo, Jesus e Carvalhal) passaram pelo banco do Braga nos últimos quatro anos. Um simples detalhe que diz muito da avançada visão do futebol bracarense. Um ciclo (2005-2010) onde, claramente, se assumiu como o 'quarto grande' do futebol português. Domingos é o quarto elemento na senda dos seus antepassados tácticos. Não é difícil prever-lhe também o futuro no comando de um grande. Mais do que o título, o Braga pode conquistar algo mais sólido: o futuro entre a 'elite dos grandes' do nosso futebol. Isto porque, entre este Braga e o Boavista campeão em 2001, não existe qualquer ponto de contacto em termos de bases de sucesso. As do Braga são, claramente, mais sustentadas à face da relva (balneário e corredores da sua própria estrutura).

Domingos tem uma ideia de jogo diferente da de Jesus. Este seu Braga, apesar dos jogadores serem quase os mesmos, é, na forma de jogar, muito diferente. No sistema (de 4x1x3x2 para 4x2x3x1) e no modelo (mais jogo apoiado do que saídas rápidas). Por isso, sente mais dificuldades agora por não ter o pilar do seu plano de jogo: o dono da organização defensiva, Vandinho. Na entrada para cada jogo decisivo, o Braga, para além da 'pressão mental', enfrenta agora também a 'pressão táctica'. É o 'futebol de pressão' na sua máxima expressão.

É um duelo (Benfica-Braga) pelo título que brinca com a história do futebol português. Quase que o vira de pernas para o ar. Apontar o final mais lógico - a vitória do grande - tanto pode ser uma conclusão fácil como insensível aos perigos da história. Porque, no futebol, os méritos dos campeões são sempre diferentes e podem vir dos locais (e estilos) mais opostos. Mesmo os mais improváveis.

Publicidade e da boa...

Vingança Genital

Legal ou talvez não...

Para Descontrair

Entrevista com o Boinas (integral)

terça-feira, março 09, 2010

O Jornalismo que (não) se faz em Portugal...

"Marselha com uma alteração para a Luz
O treinador do Marselha, Didier Deschamps, chamou 20 jogadores para o encontro da primeira "mão" dos oitavos-de-final da Liga Europa com o Benfica, esta quinta-feira, no Estádio da Luz.
Em relação ao jogo deste fim-de-semana com o Lorient (1-1), em casa, para a Liga francesa, o técnico gaulês adicionou o jovem Alexander N´Doumbou à convocatória.
Heinze, Rodriguez, Gnabouyou e Rool, todos lesionados, e Aucun, castigado, não são opção para o embate com os “encarnados”."

in, ABola

Video de Opinião de Pedro Ribeiro

Golão de um Talento que merece regressar à Europa

segunda-feira, março 08, 2010

Artigo de Opinião de Luís Avelãs

FC Porto e Sp. Braga vacilaram no sábado e o Benfica, como lhe competia, aproveitou no domingo. Ao derrotar, em casa, o Paços de Ferreira, por 3-1, a equipa encarnada não só recuperou a liderança isolada da Liga, como viu a sua vantagem aumentar para 3 pontos. Contudo, ao contrário do que se escuta por aí, não se pode dizer, desde já, que o assunto do título esteja resolvido. As águias seguem na frente, possuem mais e melhores soluções que os minhotos (os portistas, como referi pouco depois do empate caseiro com o Olhanense, abdicaram de vez), atravessam um momento de forma notável mas, tudo somado, isso não garante nada, a não ser uma maior percentagem de favoritismo. É que ainda faltam 8 jornadas...
No desporto profissional, quase tudo está bem quando se ganha, da mesma forma que quase tudo está mal quando se perde. Por outras palavras, a eventual coroação da equipa encarnada fará de Jorge Jesus o grande vencedor da temporada futebolística em curso. Contudo, depois do caminho traçado até agora, a não conquista do título será um choque tremendo para toda a "nação encarnada" e, como sempre, deixará o treinador fragilizado perante muitos adeptos. É que independentemente da caminhada na Liga Europa, de um hipotético sucesso na Taça da Liga e do bom futebol apresentado, a temporada só será boa se o principal objectivo for alcançado.

Cada vez são mais as pessoas que dizem ser o Benfica a equipa que melhor futebol pratica em Portugal. Aí estou de acordo. Com algumas excepções pontuais, isso é mesmo verdade. E é exactamente por isso que também é a turma da Luz que mais vence (17 partidas), a que mais golos marca (59) ou, visto de outra forma, a que menos vezes perde (1 jogo) ou a que menos golos sofre (12).

Diante do Paços de Ferreira - que foi "só" das equipas mais positivas e atrevidas que esta época actuou no reduto das águias - o Benfica assinou uma clara demonstração de força. Marcou 2 golos nos primeiros minutos, criou ocasiões para acertar mais vezes na baliza superiormente defendida por Coelho e, tenho a certeza, se o adversário não tivesse revelado capacidade para reagir com classe... teríamos assistido a outra goleada das antigas. E nem o golo dos visitantes quebrou a vontade encarnada. Após o normal abalo, cedo fizeram o 3-1 e, até final, nunca deixaram de tentar mais golos. Com Jesus, outra das virtudes, é que a equipa descansa pouco à sombra das vantagens e que o duelo seguinte só começa a preocupar quando acaba o actual.

Com 8 jogos pela frente, creio que o Benfica será campeão se ganhar os quatro embates que lhe restam em casa, até porque o próximo é precisamente contra o Sp. Braga. E sabendo que na Luz, em 11 jogos, as águias venceram 10 vezes e apresentam um saldo de 36-5 em golos... esta é uma forte possibilidade.

Mas, como já referi, os minhotos também estão na corrida. E convém recordar que foram eles os únicos, em 22 encontros, a conseguir bater o Benfica. Contudo, assumo, já vi a turma de Domingos mais forte. Nos últimos jogos pareceu-me algo permeável. Porém, tenho a certeza que, se vencer o Rio Ave, em casa, na próxima ronda - e independentemente do que suceder com o Benfica, na Madeira, perante o Nacional -, irá à Luz disposta a tudo.

PS - Outra das chaves para o eventual sucesso dos encarnados é chegar ao Dragão, na penúltima jornada, a poder não precisar dos 3 pontos. É que se é verdade que o FC Porto já parece fora deste "filme", jamais estará de fora se puder decidir o final da "película".

Entrevista com o Boinas

Uma Declaração Elucidativa!

"Ao longo dos anos, provámos que vendemos jogadores e temos sempre equipas conscientes e capazes de tornear dificuldades e voltarem aos campeonatos".

De quem são estas palavras?

Lourenço Pinto, actual Presidente da Associação de Futebol do Porto e ex-Presidente do Conselho de Arbitragem

Partiu-o Todo...

Artigo de Opinião de Santos Neves

Benfica: mérito e muito proveito

NADA de decisivo, mas horizonte bem mais radioso para o Benfica, um pouco nublado para o Sp. Braga e muitíssimo escuro para o FC Porto.
Ao mérito benfiquista juntaram-se a escorregadela bracarense em Setúbal (onde também o Benfica empatara – único deslize nos últimos 9 jogos) e o definitivo corte do FC Porto, embora anunciado uma semana antes, com o objectivo de ser pentacampeão.
E até o tudo por tudo pelo 2.º lugar e consequente hipótese de acesso à Champions dos muitos milhões perdeu terreno: mantêm-se os 8 pontos de atraso, mas minguou o espaço para recuperação.
Faltam 8 jornadas, o Benfica deu forte passo em frente, mais vincou ser a melhor (mais espectacular, eficaz e sólida) equipa... até agora.
As próximas duas rondas poderão ser cruciais: Nacional-Benfica e... Benfica-Sp. Braga. Sabendo-se que, depois, continuará a ser do agora mais firme candidato a campeão o mais difícil calendário.
Sporting em espectacular retoma de eficácia: 10-0 nos últimos 3 jogos (Everton, FC Porto e Belenenses, grandes vítimas)!
E, no 4-0 de ontem, impressionante pleno de Liedson. Tantos meses terrivelmente perdidos, senhor leão...

Artigo de Opinião de José Manuel Delgado

JORNADA intensa, no que respeita aos lugares do topo, a que hoje termina com o duelo entre vimaranenses e nacionalistas.
Enquanto o FC Porto mostrou que está em perda, confirmando o flop de Alvalade, o Sp. Braga reafirmou-se, apesar do empate em Setúbal, como um dos dois candidatos ao título nacional.
O outro pretendente à sucessão do FC Porto, o Benfica, tinha um jogo tremendamente difícil, contra o Paços de Ferreira, não só do ponto de vista meramente desportivo mas também psicológico.
Por um lado, os castores, que tiraram, esta época, quatro pontos ao FC Porto, são organizados e duros de roer, pelo que nunca entrariam, como não entraram, na Luz, apenas para cumprir calendário; por outro, porque ao Benfica, vindo de duas exibições fulgurantes (Hertha e Leixões) era pedido, pelos 43 mil adeptos que rumaram à Nova Catedral, não só que mantivesse a alta bitola artística, mas que também não frustrasse a possibilidade de deixar os arsenalistas a três pontos e os dragões a... onze. Respondeu, à altura, a equipa de Jorge Jesus.
Que terá, contudo, num Sp. Braga que abdicou da Europa, um rival temível.
Para já, antes de se saber o que acontecerá na eliminatória entre Benfica e Marselha, uma coisa é certa: os encarnados vão ter de realizar, nos próximos dias, três jogos de tremenda intensidade - dois com os franceses, para a UEFA, e um outro, na final da Carlsberg Cup, contra o FC Porto - enquanto que Domingos Paciência poderá recuperar e reagrupar os efectivos para as batalhas que se seguem.
Assim, há muito ainda a esperar, em incerteza e emoção, desta Liga Sagres.
Mas, esta semana, a Europa também tem FC Porto e Sporting, equipas que vão colocar todos os ovos nos cestos dos embates com Arsenal e Atl. Madrid.
Aliás, para os dragões, com o acesso à Champions de 2010/11 periclitante, aquilo que vão jogar na terça-feira no Millenium Stadium é muito mais do que um mero jogo de futebol.