Vermelho
quinta-feira, dezembro 23, 2010
quarta-feira, dezembro 22, 2010
Ano sabático - João Querido Manha
O ano está quase pronto a dar entrada nos arquivos como o do regresso do Benfica à linha do sucesso, com toda a pompa, mas são legítimas as dúvidas sobre a circunstância e inúmeros os que observam o trajeto da equipa de Jorge Jesus como um fenómeno conjuntural, bastante facilitado pela fragilidade psicológica dos protagonistas envolvidos nos julgamentos, judiciais, desportivos e populares, do processo conhecido pelo absurdo nome de "Apito Dourado".
Openálti que abriu caminho ao triunfo da União de Leiria na Figueira da Foz é um daqueles lances emblemáticos, a levantar a ponta do véu. As equipas de Bartolomeu e Pinto da Costa somam 12 penáltis em 14 jornadas, ou seja, um terço (33%) do total da 1.ª Liga. Um "must"!
Assistimos a um regresso às origens, com o grupo dos figurões a voltar pelos "bons" motivos à primeira linha das notícias, faltando apenas no ramalhete o abandonado "compagnon de route" do Boavista. Os sinais de impunidade que os arquivamentos sucessivos foram passando, ao mesmo tempo que a Liga se reposicionava internamente, elegendo para líder uma figura "acima de toda a suspeita", foram chancelados em particular pelo Benfica, inebriado pelos vapores do sucesso, sem dar conta de quão efémero ele era.
Dentro das quatro linhas, viveu-se o paralelismo simbólico dessa grande operação de retoma, com a reorganização desportiva do FC Porto, em contraste com o relaxamento e descuido dos recentes campeões. A entrada firme na nova época foi fundamental e remeteu para um procedimento clássico e comum na maioria dos títulos dos últimos 30 anos, assegurados normalmente nas primeiras dez jornadas com intervenções cirúrgicas nos próprios jogos e nos dos adversários.
Afinal 2010 não será o ano da águia e pode vir a ser visto mais tarde como um insignificante incidente do longo percurso dessa força descomunal que o líder natural descrevia ontem de modo muito honesto: "depois, a jornada acaba sempre com uma vitória nossa".
A estabilidade de todo este processo, incluindo os intervalos para recarga de energias após o esgotamento dos treinadores que não conseguem sobreviver a mais de dois anos de sucesso, é garantida pela fragilidade psicológica e operacional dos adversários, com o Sporting, enfeitiçado primeiro e desvitalizado depois por uma associação perversa com um adversário que lhe era inferior, e com o Benfica, sempre inebriado com a grandeza e as glórias do passado.
Os últimos três meses foram horríveis para o Benfica, descendo das nuvens em círculos estonteantes, como uma águia Vitória a baixar do 3.º Anel, voo sobre voo, até à aterragem final. Todos os altos voos caíram por terra: a regeneração desportiva, o controlo da vontade dos adeptos, a Liga dos Campeões, a liderança dos clubes "bons", a luta absurda com a tutela governamental e, provavelmente, a revolução da discussão dos direitos televisivos. Depois de um quadro favorável que lhe permitia sentar-se no lugar do condutor, o Benfica constata em poucos meses que não consegue catalisar vontades e que eventuais apoios externos vacilam perante a notória retomada dos poderes instituídos. 2010 não terá então passado de um período sabático do líder natural.
Openálti que abriu caminho ao triunfo da União de Leiria na Figueira da Foz é um daqueles lances emblemáticos, a levantar a ponta do véu. As equipas de Bartolomeu e Pinto da Costa somam 12 penáltis em 14 jornadas, ou seja, um terço (33%) do total da 1.ª Liga. Um "must"!
Assistimos a um regresso às origens, com o grupo dos figurões a voltar pelos "bons" motivos à primeira linha das notícias, faltando apenas no ramalhete o abandonado "compagnon de route" do Boavista. Os sinais de impunidade que os arquivamentos sucessivos foram passando, ao mesmo tempo que a Liga se reposicionava internamente, elegendo para líder uma figura "acima de toda a suspeita", foram chancelados em particular pelo Benfica, inebriado pelos vapores do sucesso, sem dar conta de quão efémero ele era.
Dentro das quatro linhas, viveu-se o paralelismo simbólico dessa grande operação de retoma, com a reorganização desportiva do FC Porto, em contraste com o relaxamento e descuido dos recentes campeões. A entrada firme na nova época foi fundamental e remeteu para um procedimento clássico e comum na maioria dos títulos dos últimos 30 anos, assegurados normalmente nas primeiras dez jornadas com intervenções cirúrgicas nos próprios jogos e nos dos adversários.
Afinal 2010 não será o ano da águia e pode vir a ser visto mais tarde como um insignificante incidente do longo percurso dessa força descomunal que o líder natural descrevia ontem de modo muito honesto: "depois, a jornada acaba sempre com uma vitória nossa".
A estabilidade de todo este processo, incluindo os intervalos para recarga de energias após o esgotamento dos treinadores que não conseguem sobreviver a mais de dois anos de sucesso, é garantida pela fragilidade psicológica e operacional dos adversários, com o Sporting, enfeitiçado primeiro e desvitalizado depois por uma associação perversa com um adversário que lhe era inferior, e com o Benfica, sempre inebriado com a grandeza e as glórias do passado.
Os últimos três meses foram horríveis para o Benfica, descendo das nuvens em círculos estonteantes, como uma águia Vitória a baixar do 3.º Anel, voo sobre voo, até à aterragem final. Todos os altos voos caíram por terra: a regeneração desportiva, o controlo da vontade dos adeptos, a Liga dos Campeões, a liderança dos clubes "bons", a luta absurda com a tutela governamental e, provavelmente, a revolução da discussão dos direitos televisivos. Depois de um quadro favorável que lhe permitia sentar-se no lugar do condutor, o Benfica constata em poucos meses que não consegue catalisar vontades e que eventuais apoios externos vacilam perante a notória retomada dos poderes instituídos. 2010 não terá então passado de um período sabático do líder natural.
O voo da águia - João Gobern
Gosto, no que ao futebol diz respeito e em boa parte da vida, que se respeitem tradições que fazem sentido, que distinguem e que valem como componentes de um espetáculo que só vistas curtas entendem que se limitam ao jogo. Ninguém de bom senso põe em causa a importância e o arrepio que nascem dos cânticos com que as claques inglesas brindam as suas equipas. Do mesmo modo, quem tenha visto um jogo entre rivais cariocas no velhinho Maracanã, sabe que um dos grandes momentos da tarde ou do serão passa pela libertação de papéis multicoloridos (com as cores dos clubes), de todos os formatos, para saudar a subida dos jogadores ao relvado. Em Portugal, se excetuarmos algumas coreografias no Dragão, vistosas e impressionantes, a ocasião mais distintiva de espetáculo vinha cabendo ao Benfica com o voo de uma águia a emocionar os adeptos, a espantar adversários e visitantes, incluindo jogadores, a encantar os mais novos que, anos passados, ainda recordam a magia daquela descida circular, com aterragem em local previamente determinado.
No último fim-de-semana e por força de incidentes cujas versões são naturalmente desencontradas, a águia “Vitória” não voou. E, para os quase 40 mil que rumaram à Luz, foi pena. Primeiro, porque esse capítulo imperial e tradicional teria calhado bem com a exibição dos jogadores que quiseram despedir-se do ano, deixando a esperança como mensagem pela partida que realizaram. Depois, porque quem visita aquele estádio já tem como garantido aquele preâmbulo que aproveita a elegância e a eficácia de um animal para começar a agitar a pulsação clubística. Ao que parece, o Benfica e o tratador da águia “Vitória” passam, a partir daqui, a ser partes irreconciliáveis. Neste quadro, cabe à direção do clube trabalhar – e tão rapidamente quanto lhe for possível – para que se descubra um reforço que permita que a ausência daquele segmento do show tenha interrupção apenas temporária. Do ponto de vista simbólico mas também em função das razões práticas já enunciadas, ele é muito mais importante do que pode parecer à primeira vista. Até porque a grandeza de um clube não se mede apenas pelos resultados e valores, também se avalia em função da diferença e da singularidade.
Ora, por razões de Natureza, a águia pode garantir ao Benfica algo a que os rivais nunca terão acesso. Em tempos, o Sporting ainda exibiu um leão enjaulado antes dos jogos – triste espetáculo, até pelos paralelos que suscita. Quanto ao FC Porto, nem Jorge Nuno Pinto da Costa, milagreiro noutras frentes, consegue assegurar o concurso de um dragão. De resto, a relação – mesmo que fosse possível – iria chocar com a História. Não foi São Jorge que matou o dragão? Bom Natal para todos.
No último fim-de-semana e por força de incidentes cujas versões são naturalmente desencontradas, a águia “Vitória” não voou. E, para os quase 40 mil que rumaram à Luz, foi pena. Primeiro, porque esse capítulo imperial e tradicional teria calhado bem com a exibição dos jogadores que quiseram despedir-se do ano, deixando a esperança como mensagem pela partida que realizaram. Depois, porque quem visita aquele estádio já tem como garantido aquele preâmbulo que aproveita a elegância e a eficácia de um animal para começar a agitar a pulsação clubística. Ao que parece, o Benfica e o tratador da águia “Vitória” passam, a partir daqui, a ser partes irreconciliáveis. Neste quadro, cabe à direção do clube trabalhar – e tão rapidamente quanto lhe for possível – para que se descubra um reforço que permita que a ausência daquele segmento do show tenha interrupção apenas temporária. Do ponto de vista simbólico mas também em função das razões práticas já enunciadas, ele é muito mais importante do que pode parecer à primeira vista. Até porque a grandeza de um clube não se mede apenas pelos resultados e valores, também se avalia em função da diferença e da singularidade.
Ora, por razões de Natureza, a águia pode garantir ao Benfica algo a que os rivais nunca terão acesso. Em tempos, o Sporting ainda exibiu um leão enjaulado antes dos jogos – triste espetáculo, até pelos paralelos que suscita. Quanto ao FC Porto, nem Jorge Nuno Pinto da Costa, milagreiro noutras frentes, consegue assegurar o concurso de um dragão. De resto, a relação – mesmo que fosse possível – iria chocar com a História. Não foi São Jorge que matou o dragão? Bom Natal para todos.
Voa Benfica! - Luís Seara Cardoso
Frente ao Rio Ave, na última ronda do ano civil, já foi possível ver um Benfica próximo da sua real valia. O jogo teve momentos exaltantes, sobretudo no plano ofensivo. É este o verdadeiro Benfica? Só pode ser. Uma equipa compacta, desequilibrante, capaz de gizar vários lances suscetíveis de redundarem em golo.
Acabou a crise nos resultados? Este Benfica tem sido inconstante, ferido também por arbitragens demasiado adversas. Ainda assim, a julgar pelo desempenho ante o Rio Ave é manifesta a qualidade do conjunto e a sua capacidade para atingir patamares capazes de projetaram a equipa para títulos que estão ainda em aberto.
E na Liga nacional? A vantagem do FC Porto é dilatada, muito também em virtude de alguns favores arbitrais. O Benfica pode anular a distância? Superar o seu principal antagonista? A tarefa é muito complicada, mas a equipa não pode renunciar a esse propósito. Não pode nem vai, certamente, fazê-lo.
A segunda volta do campeonato vai ter um Benfica mais enérgico, mais ganhador. Os triunfos dão tranquilidade à equipa. Os triunfos empolgam os adeptos. Os triunfos trazem... triunfos.
A Vitória deixou de voar. Lamento o sucedido, tanto mais que, há anos, então vice-presidente do clube, tomei a decisão de apadrinhar a águia e o seu delicioso número no Estádio da Luz. É uma questão que gostava, por acrescidas razões, de ver solucionada com a serenidade que se impõe, até pela consideração que devemos ter pela história. Pela vitória, também com a Vitória, é indiscutível que o Benfica voa mais alto.
Acabou a crise nos resultados? Este Benfica tem sido inconstante, ferido também por arbitragens demasiado adversas. Ainda assim, a julgar pelo desempenho ante o Rio Ave é manifesta a qualidade do conjunto e a sua capacidade para atingir patamares capazes de projetaram a equipa para títulos que estão ainda em aberto.
E na Liga nacional? A vantagem do FC Porto é dilatada, muito também em virtude de alguns favores arbitrais. O Benfica pode anular a distância? Superar o seu principal antagonista? A tarefa é muito complicada, mas a equipa não pode renunciar a esse propósito. Não pode nem vai, certamente, fazê-lo.
A segunda volta do campeonato vai ter um Benfica mais enérgico, mais ganhador. Os triunfos dão tranquilidade à equipa. Os triunfos empolgam os adeptos. Os triunfos trazem... triunfos.
A Vitória deixou de voar. Lamento o sucedido, tanto mais que, há anos, então vice-presidente do clube, tomei a decisão de apadrinhar a águia e o seu delicioso número no Estádio da Luz. É uma questão que gostava, por acrescidas razões, de ver solucionada com a serenidade que se impõe, até pela consideração que devemos ter pela história. Pela vitória, também com a Vitória, é indiscutível que o Benfica voa mais alto.
terça-feira, dezembro 21, 2010
Leituras de Natal para os técnicos dos três grandes - Carlos Ferro
Em vez de analisarmos as "guerras" em que o futebol português é fértil, hoje deixamos três conselhos, em estilo de livro, para os treinadores de Sporting, Benfica e FC Porto lerem nas próximas duas semanas de férias. Ao técnico do Sporting, Paulo Sérgio, não faria mal passar os olhos por Os Magos do Futebol, de Luís Freitas Lobo. Sempre pode ler citações como esta: "Quando o massagista comunicou a John Lambi, treinador de Partick Thistle, que o avançado-centro, após o choque com um defesa, perdera a memória e nem sabia quem era, o técnico respondeu: 'Perfeito, diga-lhe que é o Pelé e que volte rapidamente para o campo." Retirada do livro Do I Not Like That, de Groff Tibballs, esta frase certamente será compreendida pelo técnico quando alguns atletas da sua equipa jogam.
Já Jorge Jesus devia ler A Solidão de Um Treinador, de Cecília Carmo. Aqui ficam duas ideias para Jesus reflectir: "Há uma expressão terrível no futebol, é a pior coisa no futebol, que é 'dar confiança ao treinador'. É meio caminho andado para pôr o treinador na rua." O autor, Humberto Coelho, não estava a referir-se ao Benfica, mas depois de o presidente, Luís Filipe Vieira, ter vindo dizer que o técnico vai manter-se, este "fantasma" certamente que paira na mente de Jesus.
Para o fim, a tarefa mais fácil: o portista André Villas-Boas. Tranquilo e imbatível até ao momento, resta aconselhar-lhe uns momentos de diversão. Sugerimos o livro 30 Anos de Mau Futebol - As Gran-des Frases (e as mais disparatadas) do Futebol Portu-guês", de João Pombeiro. Do vasto lote de tiradas incríveis fica uma da "sombra" de que tanto foge Villas-Boas: José Mourinho, em Julho de 2004: "Se quisesse ter um trabalho fácil (...) teria ficado no FC Porto, numa bonita poltrona azul, troféu da Liga dos Campeões a meu lado, Deus, e, depois de Deus, eu."
Já Jorge Jesus devia ler A Solidão de Um Treinador, de Cecília Carmo. Aqui ficam duas ideias para Jesus reflectir: "Há uma expressão terrível no futebol, é a pior coisa no futebol, que é 'dar confiança ao treinador'. É meio caminho andado para pôr o treinador na rua." O autor, Humberto Coelho, não estava a referir-se ao Benfica, mas depois de o presidente, Luís Filipe Vieira, ter vindo dizer que o técnico vai manter-se, este "fantasma" certamente que paira na mente de Jesus.
Para o fim, a tarefa mais fácil: o portista André Villas-Boas. Tranquilo e imbatível até ao momento, resta aconselhar-lhe uns momentos de diversão. Sugerimos o livro 30 Anos de Mau Futebol - As Gran-des Frases (e as mais disparatadas) do Futebol Portu-guês", de João Pombeiro. Do vasto lote de tiradas incríveis fica uma da "sombra" de que tanto foge Villas-Boas: José Mourinho, em Julho de 2004: "Se quisesse ter um trabalho fácil (...) teria ficado no FC Porto, numa bonita poltrona azul, troféu da Liga dos Campeões a meu lado, Deus, e, depois de Deus, eu."
Benfica-Rio Ave: devia ser sempre assim - Luís Sobral
Se eu pudesse pedir, os jogos da Liga portuguesa seriam todos como o Benfica-Rio Ave, com esse luxo de ter duas equipas.
Acho que essa foi a grande diferença, sábado à tarde. Na Luz, duas equipas.
O Benfica, mais forte, com melhores jogadores e com a felicidade adicional de ter encontrado duas vezes a baliza ainda antes dos dez minutos.
Do outro lado, uma equipa também. Com uma mistura interessante entre experiência e vontade de mostrar serviço, nunca se desequilibrou e acreditou sempre que podia levar dali qualquer coisa. Tudo montado em cima de um «onze» onde cabiam nove portugueses, um luxo que devia pôr a reflectir outros emblemas. (já agora, o Benfica tinha apenas um, por ironia formado no Rio Ave, Fábio Coentrão)
Quem viu o jogo sabe que ele terminou bem com 5-2. Mas se tivesse ficado 4-3 também faria sentido. Sobre o jogo poderá ler mais aqui.
Este texto é sobretudo uma oportunidade de elogiar o compromisso das duas equipas com o bom futebol. O Benfica a fechar o ano com os melhores 35 minutos da temporada. Ainda por cima frente à equipa que lhe permitiu, em Maio, voltar a festejar um título.
O Rio Ave a explicar que ter um orçamento baixo não é necessariamente um problema quando se sabe formar um plantel, liderá-lo e se gosta de jogar bem.
Por último, três destaques individuais:
João Tomás. Pelos golos que marcou, pelos golos que leva na Liga, mas sobretudo pelo exemplo que é, no campo e fora dele.
Salvio. Por ter aproveitado a oportunidade. O Benfica precisa de quem acelere como ele. É verdade que lhe falta muito do que Carlos Martins e Ruben Amorim possuem, mas em algumas partidas poderá ajudar a decidir.
Roberto. Depois de tudo o que passou nas primeiras semanas, no sábado assinou uma das defesas da primeira volta, frente a João Tomás. Está seguro, concentrado e perto de equilibrar as contas com a equipa: começa a devolver o que tirou.
Acho que essa foi a grande diferença, sábado à tarde. Na Luz, duas equipas.
O Benfica, mais forte, com melhores jogadores e com a felicidade adicional de ter encontrado duas vezes a baliza ainda antes dos dez minutos.
Do outro lado, uma equipa também. Com uma mistura interessante entre experiência e vontade de mostrar serviço, nunca se desequilibrou e acreditou sempre que podia levar dali qualquer coisa. Tudo montado em cima de um «onze» onde cabiam nove portugueses, um luxo que devia pôr a reflectir outros emblemas. (já agora, o Benfica tinha apenas um, por ironia formado no Rio Ave, Fábio Coentrão)
Quem viu o jogo sabe que ele terminou bem com 5-2. Mas se tivesse ficado 4-3 também faria sentido. Sobre o jogo poderá ler mais aqui.
Este texto é sobretudo uma oportunidade de elogiar o compromisso das duas equipas com o bom futebol. O Benfica a fechar o ano com os melhores 35 minutos da temporada. Ainda por cima frente à equipa que lhe permitiu, em Maio, voltar a festejar um título.
O Rio Ave a explicar que ter um orçamento baixo não é necessariamente um problema quando se sabe formar um plantel, liderá-lo e se gosta de jogar bem.
Por último, três destaques individuais:
João Tomás. Pelos golos que marcou, pelos golos que leva na Liga, mas sobretudo pelo exemplo que é, no campo e fora dele.
Salvio. Por ter aproveitado a oportunidade. O Benfica precisa de quem acelere como ele. É verdade que lhe falta muito do que Carlos Martins e Ruben Amorim possuem, mas em algumas partidas poderá ajudar a decidir.
Roberto. Depois de tudo o que passou nas primeiras semanas, no sábado assinou uma das defesas da primeira volta, frente a João Tomás. Está seguro, concentrado e perto de equilibrar as contas com a equipa: começa a devolver o que tirou.
Falar Verdade - Domingos Amaral
From: Domingos Amaral To: Jorge Jesus
Caro Jorge Jesus
Churchill disse um dia que a verdade era a primeira vítima de uma guerra, e sendo o futebol uma espécie de jogo de guerra, é natural que poucas vezes os seus intervenientes digam, pelo menos em público, a verdade. Os discursos de treinadores, jogadores ou presidentes, ou são estratégias de motivação das equipas ou tentativas de desestabilização dos adversários ou dos árbitros. Contudo, em certos momentos é essencial falar verdade.
Ora, finalmente, e ao fim de cinco longos meses, desceste da torre de marfim e reconheceste o óbvio: subiste demasiado as expectativas, por um lado, e a equipa ainda não está bem, por outro. A euforia depois do título cegou-te, e foi doloroso o choque da realidade, com derrotas atrás de derrotas, mas o teu teimoso estado de negação só adiou as coisas. Foi tardia esta verdade, mas só ela pode libertar a equipa, e tentar relançá-la. Embora ainda perca muito facilmente o controlo dos jogos (final da primeira parte com o Rio Ave), desconfie de si própria, e não saiba estar a perder sem se angustiar, reconhecer tais verdades só fortifica o Benfica.
Só identificando as fraquezas se pode trabalhar para as eliminar, como se fez, e bem, no caso do Roberto, que parece outro. Desejo-te boas férias de Natal, e espero que as aproveites para distinguir o trigo do joio e revitalizar o balneário.
Se fores lúcido e motivado, pode ser que ainda seja possível mordermos os calcanhares ao FC Porto. Em meados de 1942, também ninguém acreditava que Churchill ganhasse a guerra, mas ele reconheceu a verdade, e as coisas mudaram…
Caro Jorge Jesus
Churchill disse um dia que a verdade era a primeira vítima de uma guerra, e sendo o futebol uma espécie de jogo de guerra, é natural que poucas vezes os seus intervenientes digam, pelo menos em público, a verdade. Os discursos de treinadores, jogadores ou presidentes, ou são estratégias de motivação das equipas ou tentativas de desestabilização dos adversários ou dos árbitros. Contudo, em certos momentos é essencial falar verdade.
Ora, finalmente, e ao fim de cinco longos meses, desceste da torre de marfim e reconheceste o óbvio: subiste demasiado as expectativas, por um lado, e a equipa ainda não está bem, por outro. A euforia depois do título cegou-te, e foi doloroso o choque da realidade, com derrotas atrás de derrotas, mas o teu teimoso estado de negação só adiou as coisas. Foi tardia esta verdade, mas só ela pode libertar a equipa, e tentar relançá-la. Embora ainda perca muito facilmente o controlo dos jogos (final da primeira parte com o Rio Ave), desconfie de si própria, e não saiba estar a perder sem se angustiar, reconhecer tais verdades só fortifica o Benfica.
Só identificando as fraquezas se pode trabalhar para as eliminar, como se fez, e bem, no caso do Roberto, que parece outro. Desejo-te boas férias de Natal, e espero que as aproveites para distinguir o trigo do joio e revitalizar o balneário.
Se fores lúcido e motivado, pode ser que ainda seja possível mordermos os calcanhares ao FC Porto. Em meados de 1942, também ninguém acreditava que Churchill ganhasse a guerra, mas ele reconheceu a verdade, e as coisas mudaram…
Vitória - Marta Rebelo
Em tarde de regresso à gloriosa goleada e eficácia bonita da época passada, a Vitória não “abençoou” a partida com o seu habitual voo. Salvio foi herói mas a nossa águia foi a grande ausente. Perdemos o nosso símbolo desde a inauguração da nova Catedral, há 8 anos. Ensombrou-me a partida...
O Benfica brindou-nos com uma exibição das antigas, do antigamente do ano passado. Como é que a equipa que jogou uns tremendos 30 minutos e uma segunda parte ainda mais argentina, se humilhou frente ao Hapoel há apenas semana e meia? Estruturalmente a mesma, alguma coisa mudou com a (entediante) vitória na Taça. Pela primeira vez esta época JJ teve estratégia, óbvio quando “mandou” Coentrão engonhar e levar o vermelho. Pela primeira vez esta época, JJ realizou que a gestão de expectativas é fundamental, e deixou-se de prognósticos de glória pela Europa fora, quando comentou o adversário que nos calhou na rifa para a Euroliga, o Estugarda. E, pelos vistos, estas novidades colheram frutos no balneário. E em campo.
As saudades que eu tinha de celebrar efusivamente logo aos 4 minutos, de sofrer até ao fim mas pela goleada e não pelos 3 pontos. Na primeira parte fizemos bonito pela esquerda, com Coentrão e Gaitán finalmente entrosados; na segunda mais pela direita, com Salvio de ouro; e durante os 90 com Aimar e Saviola, porque Cardozo foi uma nulidade absoluta. Saiu aos 63’, e saiu tarde. Eu sei que o adepto embandeira em arco com 90 minutos de glória. Eu celebro mas aguardo: pela confirmação de Salvio, tão intermitente; pelo Ano Novo, na esperança que Jesus consiga reproduzir a receita do fim-de-semana; pela certeza da mudança; pela defesa sem David Luiz, que pode ter feito a última partida pelo SLB. Além da jogada magistral do primeiro tento, que ofereceu a Aimar, ele bem tentou o golo da despedida. Lamento, mas está na hora de deixar o rapaz voar ainda mais alto.
O Benfica brindou-nos com uma exibição das antigas, do antigamente do ano passado. Como é que a equipa que jogou uns tremendos 30 minutos e uma segunda parte ainda mais argentina, se humilhou frente ao Hapoel há apenas semana e meia? Estruturalmente a mesma, alguma coisa mudou com a (entediante) vitória na Taça. Pela primeira vez esta época JJ teve estratégia, óbvio quando “mandou” Coentrão engonhar e levar o vermelho. Pela primeira vez esta época, JJ realizou que a gestão de expectativas é fundamental, e deixou-se de prognósticos de glória pela Europa fora, quando comentou o adversário que nos calhou na rifa para a Euroliga, o Estugarda. E, pelos vistos, estas novidades colheram frutos no balneário. E em campo.
As saudades que eu tinha de celebrar efusivamente logo aos 4 minutos, de sofrer até ao fim mas pela goleada e não pelos 3 pontos. Na primeira parte fizemos bonito pela esquerda, com Coentrão e Gaitán finalmente entrosados; na segunda mais pela direita, com Salvio de ouro; e durante os 90 com Aimar e Saviola, porque Cardozo foi uma nulidade absoluta. Saiu aos 63’, e saiu tarde. Eu sei que o adepto embandeira em arco com 90 minutos de glória. Eu celebro mas aguardo: pela confirmação de Salvio, tão intermitente; pelo Ano Novo, na esperança que Jesus consiga reproduzir a receita do fim-de-semana; pela certeza da mudança; pela defesa sem David Luiz, que pode ter feito a última partida pelo SLB. Além da jogada magistral do primeiro tento, que ofereceu a Aimar, ele bem tentou o golo da despedida. Lamento, mas está na hora de deixar o rapaz voar ainda mais alto.
Silêncio - Miguel Góis
Esta semana, Sousa Tavares escreveu na sua crónica que Jorge Araújo foi um “treinador de basquetebol, que deu ao Benfica vários títulos nacionais, antes de rumar ao FC Porto”. Como é evidente, Jorge Araújo nunca treinou o Benfica, não cumprindo assim um dos requisitos necessários para se vencer vários títulos por esse clube. Sousa Tavares escreveu isto, mas - salvo uma única exceção (cuidadinho, Leonor!) - ninguém o desmentiu.
Esta semana, Sousa Tavares escreveu também: “Insisto: o futebol é um jogo simples de entender. Basta um mínimo de conhecimento do assunto e um mínimo de experiência de observação para distinguir um bom jogador dum mau jogador.” No entanto, a 9 de março não era “preciso ser nenhuma luminária para perceber que o Belluschi tem pose de pavão mas a eficácia em voo de uma avestruz”, e até que o jogador é “uma fonte de despesas e frustrações sem fim”; e, a 30 de novembro, já era um dos “bons jogadores” do plantel portista, e o único “médio de ataque à altura das necessidades”. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o confrontou.
Esta semana, Sousa Tavares escreveu ainda, referindo-se ao jogo contra o Setúbal, que “o FC Porto ganhou, de facto, com um penálti que não terá existido, mas só ganhou porque o Vitória, que dispôs da mesma oferta, a desperdiçou e o FC Porto não”. Posta a questão nestes termos, há quase, no desfecho da partida, um sabor a justiça, e quase nos esquecemos que justo, mas mesmo justo, seria que nenhum dos penáltis tivesse sido assinalado e o jogo acabasse 0-0. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o desmascarou. Assim é que é bonito.
Esta semana, Sousa Tavares escreveu também: “Insisto: o futebol é um jogo simples de entender. Basta um mínimo de conhecimento do assunto e um mínimo de experiência de observação para distinguir um bom jogador dum mau jogador.” No entanto, a 9 de março não era “preciso ser nenhuma luminária para perceber que o Belluschi tem pose de pavão mas a eficácia em voo de uma avestruz”, e até que o jogador é “uma fonte de despesas e frustrações sem fim”; e, a 30 de novembro, já era um dos “bons jogadores” do plantel portista, e o único “médio de ataque à altura das necessidades”. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o confrontou.
Esta semana, Sousa Tavares escreveu ainda, referindo-se ao jogo contra o Setúbal, que “o FC Porto ganhou, de facto, com um penálti que não terá existido, mas só ganhou porque o Vitória, que dispôs da mesma oferta, a desperdiçou e o FC Porto não”. Posta a questão nestes termos, há quase, no desfecho da partida, um sabor a justiça, e quase nos esquecemos que justo, mas mesmo justo, seria que nenhum dos penáltis tivesse sido assinalado e o jogo acabasse 0-0. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o desmascarou. Assim é que é bonito.
sexta-feira, dezembro 17, 2010
Benfica Quick To Scratch Seven Month Itch? - Simon Curtis
If you have an itch, and Sport Lisboa e Benfica has been known to have one, a big loathesome one, every year or two, you have to scratch it. The Stadium of Light is like a cat’s basket full of nits at the moment. Having gone through almost every trainer realistically available to Portuguese top flight football (and one or two, it must be said, from outside the box), the powerbrokers at the Estadio da Luz last year landed on someone else’s saviour, Jorge Jesus, and quickly whisked him away from the flourishing experiment he had been conducting up in the arctic wastes of Braga for a longer period than those employed in the capital are used to. Sure enough, the trick worked. In his first season in the big smoke, Jesus performed the miracle of the twelve players and how to use your loaf. It was a water to wine moment down by the muddy margins of the Tagus, if ever there was one.
Suddenly, sloppy lethargic signings looked neat and incisive, interested even. The thousands of empty seats began to fill up at Luz and the media began to dust off their hyperbolic stanzas. Even the great statue of Marques de Pombal was reinforced in preparation for the traditional mass invasion of the biggest roundabout in central Lisbon, the traditional site for car horn tooting anf flag waving into the early hours after one of the local teams has brought back a treasured trophy. There has been little activity there in recent years, bar the omnipresent go-for-broke taxi drivers.
The title was delivered to the “Encarnados” for the first time in 6 years by the long-haired Jesus. Trapatoni’s triumph in 2004 was preceded by a drought dating back to 1992 and the days of the great dinosaur Toni. At last the capital could bask in the sunlight, sure that Porto had for once been left licking their wounds in the shadows. Nobody could have foreseen how swiftly the star of Jesus would fall, however. After 13 games this season, he already carries the air of the condemned man that no last supper will save. Benfica lie, almost prone, eight points adrift of Porto in second spot. On the face of it, this is not a calamatous position, there is still hope that an upturn can save the season for the red devils, but consider this: we are talking about a club with legendary impatience when it comes to managing to resist fiddling with the trigger of the gun marked “Manager”.
In a land where 2nd place is nowhere and 3rd is like being thrown into the wilderness, an eight point deficit at this point is a gulf that Moses would do well to bridge. Add to that some of the lacklustre, supine and heartless performances and Jorge Jesus is facing the music turned up high. If the Champions League was meant to offer the club salvation, there was a nasty wake-up call waiting there too, culminating in Benfica being two minutes from missing out on the dubious booby prize of dropping into the Europa League. The irony that far to the north a goal scored by Lyon’s ex-Porto striker Lisandro Lopez against Hapoel helped save Benfica’s bacon, shuffling Hapoel into 4th place and elevating Benfica into 3rd, was both blunt and cutting. That they had managed this on the back of a lifeless performance against Schalke, losing hopelessly and listlessly, whilst Lyon and an ex-rival pulled them from the steaming wreck of their Champions League campaign, only served to sharpen the media and supporter barbs the day after.
From the legendary Toni to the legendary Manuel José, Benfica’s managers have been confronted by administrators with always itchy trigger fingers. At Luz shooting for the stars often becomes shooting at the trainer and shooting at your foot is a presumed precursor to all of this wild and misdirected gunfire.
As many still maintain, this is the same man who lead the club to an astonishingly pert opening period last year, won them the title and brought light back to Luz. He didn’t turn sour overnight. He is the same man with the same players. Patience, it must be said is a virtue not held highly in these parts. Take a look at this impressive list of frightened incumbents, who quickly found the red carpet of welcome moving under their feet:
Tomislav Ivić 1992 1992
Toni 1992 1994 (1 League Title, 1 Cup)
Artur Jorge 1994 1995
Mário Wilson 1995 1996 (1 Cup)
Paulo Autuori 1996 1997
Manuel Jesus 1997 1997
Mário Wilson 1997 1997
Graeme Souness 1997 1999
Jupp Heynckes 1999 2000
José Mourinho 2000 2000
Toni 2000 2002
Jesualdo Ferreira 2002 2002
José Antonio Camacho 2002 2004 (1 Portuguese Cup)
Giovanni Trapattoni 2004 2005 (1 League Title)
Ronald Koeman 2005 2006 (1 Supercup)
Fernando Santos 2006 2007
José Antonio Camacho 2007 2008
Fernando Chalana 2008 2008
Quique Flores 2008 2009 (1 League Cup)
Jorge Jesus 2009 — (1 League Title, 1 League Cup)
It doesn’t need a decorated historian to point out a critical ring-pattern in this withered old oak. Impatience will eventually kill the great institution that is Benfica, unless president Liuis Filipe Vieira holds to his promise of keeping his ammo dry for once.
Suddenly, sloppy lethargic signings looked neat and incisive, interested even. The thousands of empty seats began to fill up at Luz and the media began to dust off their hyperbolic stanzas. Even the great statue of Marques de Pombal was reinforced in preparation for the traditional mass invasion of the biggest roundabout in central Lisbon, the traditional site for car horn tooting anf flag waving into the early hours after one of the local teams has brought back a treasured trophy. There has been little activity there in recent years, bar the omnipresent go-for-broke taxi drivers.
The title was delivered to the “Encarnados” for the first time in 6 years by the long-haired Jesus. Trapatoni’s triumph in 2004 was preceded by a drought dating back to 1992 and the days of the great dinosaur Toni. At last the capital could bask in the sunlight, sure that Porto had for once been left licking their wounds in the shadows. Nobody could have foreseen how swiftly the star of Jesus would fall, however. After 13 games this season, he already carries the air of the condemned man that no last supper will save. Benfica lie, almost prone, eight points adrift of Porto in second spot. On the face of it, this is not a calamatous position, there is still hope that an upturn can save the season for the red devils, but consider this: we are talking about a club with legendary impatience when it comes to managing to resist fiddling with the trigger of the gun marked “Manager”.
In a land where 2nd place is nowhere and 3rd is like being thrown into the wilderness, an eight point deficit at this point is a gulf that Moses would do well to bridge. Add to that some of the lacklustre, supine and heartless performances and Jorge Jesus is facing the music turned up high. If the Champions League was meant to offer the club salvation, there was a nasty wake-up call waiting there too, culminating in Benfica being two minutes from missing out on the dubious booby prize of dropping into the Europa League. The irony that far to the north a goal scored by Lyon’s ex-Porto striker Lisandro Lopez against Hapoel helped save Benfica’s bacon, shuffling Hapoel into 4th place and elevating Benfica into 3rd, was both blunt and cutting. That they had managed this on the back of a lifeless performance against Schalke, losing hopelessly and listlessly, whilst Lyon and an ex-rival pulled them from the steaming wreck of their Champions League campaign, only served to sharpen the media and supporter barbs the day after.
From the legendary Toni to the legendary Manuel José, Benfica’s managers have been confronted by administrators with always itchy trigger fingers. At Luz shooting for the stars often becomes shooting at the trainer and shooting at your foot is a presumed precursor to all of this wild and misdirected gunfire.
As many still maintain, this is the same man who lead the club to an astonishingly pert opening period last year, won them the title and brought light back to Luz. He didn’t turn sour overnight. He is the same man with the same players. Patience, it must be said is a virtue not held highly in these parts. Take a look at this impressive list of frightened incumbents, who quickly found the red carpet of welcome moving under their feet:
Tomislav Ivić 1992 1992
Toni 1992 1994 (1 League Title, 1 Cup)
Artur Jorge 1994 1995
Mário Wilson 1995 1996 (1 Cup)
Paulo Autuori 1996 1997
Manuel Jesus 1997 1997
Mário Wilson 1997 1997
Graeme Souness 1997 1999
Jupp Heynckes 1999 2000
José Mourinho 2000 2000
Toni 2000 2002
Jesualdo Ferreira 2002 2002
José Antonio Camacho 2002 2004 (1 Portuguese Cup)
Giovanni Trapattoni 2004 2005 (1 League Title)
Ronald Koeman 2005 2006 (1 Supercup)
Fernando Santos 2006 2007
José Antonio Camacho 2007 2008
Fernando Chalana 2008 2008
Quique Flores 2008 2009 (1 League Cup)
Jorge Jesus 2009 — (1 League Title, 1 League Cup)
It doesn’t need a decorated historian to point out a critical ring-pattern in this withered old oak. Impatience will eventually kill the great institution that is Benfica, unless president Liuis Filipe Vieira holds to his promise of keeping his ammo dry for once.
quinta-feira, dezembro 16, 2010
A WikiLiga - Pedro S. Guerreiro
O Wikileaks está a pôr o mundo em choque. A revelação de milhares de telegramas secretos da diplomacia americana, na Internet e nos jornais, está a trazer escândalos e bisbilhotice. Lembra-se do Caso da Fruta?...
Sim, o futebol português já teve o seu Wikileaks: a publicação, primeiro escrita e depois dos próprios registos sonoros, de escutas telefónicas. Deu no que deu: na contestação pública de um processo arquivado pelos tribunais.
Caso da Fruta, Apito Dourado, Apito Final, Envelope, o Túnel da Luz, o de Braga... O futebol tem sido fértil em casos barulhentos, mas esse da “wikifruta” foi mais longe e foi longe de mais. A violação do segredo de justiça é justiça pelas próprias mãos. É uma cobardia: suspeito não é arguido e arguido não é culpado. Só que culpado nem sempre é condenado – daí que as fugas de informação do sistema judicial português aconteçam porque o próprio sistema se descrê – e prefere uma condenação na praça pública a condenação nenhuma nos tribunais. O problema é que mesmo quem assim pensa foi à Internet, como eu fui, ouvir as gravações. Tirou conclusões. E comparou-as com as dos tribunais.
O Wikileaks tem muitas destas características, incluindo ter milhares de informações irrelevantes sobre os citados, se são pândegos, obstinados ou espirituosos. Mas o Wikileaks é uma fuga de informação diplomática, não judicial. E estão a ser revelados segredos de Estado que deviam ser julgados por tribunais. O Wikileaks é uma forma, arriscada, que a democracia encontrou para se soltar de Governos que a aprisionam.
Ao ouvir escutas de futebol, prefiro achar-me incompetente para julgar do que suspeitar de quem julga. No dia em que acreditarmos que a justiça portuguesa é orquestrada por alguma política, nem valerá a pena “wikiliquidá-la”, mais vale emigrar.
Sim, o futebol português já teve o seu Wikileaks: a publicação, primeiro escrita e depois dos próprios registos sonoros, de escutas telefónicas. Deu no que deu: na contestação pública de um processo arquivado pelos tribunais.
Caso da Fruta, Apito Dourado, Apito Final, Envelope, o Túnel da Luz, o de Braga... O futebol tem sido fértil em casos barulhentos, mas esse da “wikifruta” foi mais longe e foi longe de mais. A violação do segredo de justiça é justiça pelas próprias mãos. É uma cobardia: suspeito não é arguido e arguido não é culpado. Só que culpado nem sempre é condenado – daí que as fugas de informação do sistema judicial português aconteçam porque o próprio sistema se descrê – e prefere uma condenação na praça pública a condenação nenhuma nos tribunais. O problema é que mesmo quem assim pensa foi à Internet, como eu fui, ouvir as gravações. Tirou conclusões. E comparou-as com as dos tribunais.
O Wikileaks tem muitas destas características, incluindo ter milhares de informações irrelevantes sobre os citados, se são pândegos, obstinados ou espirituosos. Mas o Wikileaks é uma fuga de informação diplomática, não judicial. E estão a ser revelados segredos de Estado que deviam ser julgados por tribunais. O Wikileaks é uma forma, arriscada, que a democracia encontrou para se soltar de Governos que a aprisionam.
Ao ouvir escutas de futebol, prefiro achar-me incompetente para julgar do que suspeitar de quem julga. No dia em que acreditarmos que a justiça portuguesa é orquestrada por alguma política, nem valerá a pena “wikiliquidá-la”, mais vale emigrar.
A macieira - Rui Santos
Foram 11.360 sócios que elegeram José Eduardo Bettencourt (JEB) como o 36.º presidente do Sporting e o 1.º como presidente profissional. Há um ano e meio. O tempo passado dentro e na periferia da “estrutura do futebol” e principalmente o perfil de dirigente sereno e discurso estruturado, nas cirúrgicas aparições públicas que protagonizou, a par da fama granjeada ao serviço de um banco, conferiam-lhe um halo de respeitabilidade à partida para um primeiro mandato à frente dos destinos do clube leonino.
Um conjunto de declarações absolutamente desastrosas, algumas das quais “non-sense”, a contrastar com a imagem construída durante anos, e a ausência de resultados desportivos, contribuíram para uma rápida perda de credibilidade. A esperança esvaiu-se num mar de erros e contradições que se foram acumulando a um ritmo vertiginoso. Três treinadores em menos de dois anos, um dos quais herdado e os restantes contratados, três “diretores para o futebol”, exatamente nas mesmas condições, e um naipe de aquisições e dispensas que, feito o balanço, não pode considerar-se positivo. A forma como o Sporting perdeu João Moutinho, que realizou em Alvalade maior número de jogos consecutivos do que Vítor Damas e Oceano, só para citar dois exemplos de “raça de leão”, diz muito sobre alguma incapacidade para resolver os problemas de gestão desportiva que se lhe depararam nos últimos tempos. Nem a disponibilidade revelada pelo “mago” dos “agentes-FIFA”, Jorge Mendes, para tentar “ajudar um amigo” (Costinha) serviu para contraditar a lógica de anti-espectáculo futebolístico que se instalou em Alvalade no “pós-Peseiro”. Não é só a falta de dinheiro e a dependência da banca. Também falta liderança. É preciso perceber, em primeiro lugar, por que razão o Sporting ficou totalmente refém da banca, como é que o passivo aumentou exponencialmente com pouco investimento na área desportiva, por que motivo se colocou numa posição de subalternidade perante a Olivedesportos e questionar os últimos 5 presidentes da agremiação sportinguista por que não souberam ou não quiseram procurar as causas de uma derrapagem financeira que se acentuava de uma forma preocupante e dramática. Falamos, como sempre, da auditoria externa, essa “bruxa má” que ninguém, estranhamente, quer ver por perto. Quem tem medo do quê?
Este ponto é vital porque sem ele, sem o devido apuramento de responsabilidades, é muito difícil aferir tudo o resto. Há quantos anos o Sporting não tem dinheiro para contratar um treinador com perfil ganhador, à altura da dimensão histórica de Alvalade? Há quantos anos o Sporting não consegue fazer uma “grande venda”, sem reforçar os plantéis dos adversários? Há quantos anos o Sporting não consegue fazer uma grande contratação? E o argumento do clube-formador não colhe como “solução de modernidade”, porque o Sporting sempre foi, desde o tempo do Passadiço, um clube-formador.
Não estava JEB preparado para ser presidente de um clube com a dimensão histórica do Sporting? Não estava Costinha preparado para ser, fulminantemente, diretor do futebol? Não estava Paulo Sérgio preparado para ser, em função da conjuntura criada, treinador do Sporting? Parece evidente. E é evidente que o presente está muito marcado por quem ajudou a criar a miniatura. O Sporting não é isto – e é tempo de olhar para a macieira.
Um conjunto de declarações absolutamente desastrosas, algumas das quais “non-sense”, a contrastar com a imagem construída durante anos, e a ausência de resultados desportivos, contribuíram para uma rápida perda de credibilidade. A esperança esvaiu-se num mar de erros e contradições que se foram acumulando a um ritmo vertiginoso. Três treinadores em menos de dois anos, um dos quais herdado e os restantes contratados, três “diretores para o futebol”, exatamente nas mesmas condições, e um naipe de aquisições e dispensas que, feito o balanço, não pode considerar-se positivo. A forma como o Sporting perdeu João Moutinho, que realizou em Alvalade maior número de jogos consecutivos do que Vítor Damas e Oceano, só para citar dois exemplos de “raça de leão”, diz muito sobre alguma incapacidade para resolver os problemas de gestão desportiva que se lhe depararam nos últimos tempos. Nem a disponibilidade revelada pelo “mago” dos “agentes-FIFA”, Jorge Mendes, para tentar “ajudar um amigo” (Costinha) serviu para contraditar a lógica de anti-espectáculo futebolístico que se instalou em Alvalade no “pós-Peseiro”. Não é só a falta de dinheiro e a dependência da banca. Também falta liderança. É preciso perceber, em primeiro lugar, por que razão o Sporting ficou totalmente refém da banca, como é que o passivo aumentou exponencialmente com pouco investimento na área desportiva, por que motivo se colocou numa posição de subalternidade perante a Olivedesportos e questionar os últimos 5 presidentes da agremiação sportinguista por que não souberam ou não quiseram procurar as causas de uma derrapagem financeira que se acentuava de uma forma preocupante e dramática. Falamos, como sempre, da auditoria externa, essa “bruxa má” que ninguém, estranhamente, quer ver por perto. Quem tem medo do quê?
Este ponto é vital porque sem ele, sem o devido apuramento de responsabilidades, é muito difícil aferir tudo o resto. Há quantos anos o Sporting não tem dinheiro para contratar um treinador com perfil ganhador, à altura da dimensão histórica de Alvalade? Há quantos anos o Sporting não consegue fazer uma “grande venda”, sem reforçar os plantéis dos adversários? Há quantos anos o Sporting não consegue fazer uma grande contratação? E o argumento do clube-formador não colhe como “solução de modernidade”, porque o Sporting sempre foi, desde o tempo do Passadiço, um clube-formador.
Não estava JEB preparado para ser presidente de um clube com a dimensão histórica do Sporting? Não estava Costinha preparado para ser, fulminantemente, diretor do futebol? Não estava Paulo Sérgio preparado para ser, em função da conjuntura criada, treinador do Sporting? Parece evidente. E é evidente que o presente está muito marcado por quem ajudou a criar a miniatura. O Sporting não é isto – e é tempo de olhar para a macieira.
quarta-feira, dezembro 15, 2010
Luz: A conexão perdida - Luís Freitas Lobo
Um golo pode festejar-se de diferentes formas, mas há algumas que são quase como ‘espelhos da alma’. A cara fechada de Luisão, o olhar para o banco, para os adeptos, para os colegas, para o vazio, é uma imagem que, subitamente, após 90 minutos de angústia, entrava no mais profundo sentir do atual futebol benfiquista. Era um golo que já não adiantava nada. Por isso, a imagem ainda mais metafórica se tornava. Sobretudo vinda de um jogador que, com voz grossa, sempre melhor incorporou em campo o grito da equipa.
Este Benfica vive uma crise existencial. A ideia que fica, vendo-o jogar, é que perdeu capacidade de comunicação. A todos os níveis. Isto é, jogadores, adeptos, treinador e direção, deixaram de ter um diálogo sincronizado. Não vejo um conflito. Vejo é todas essas peças da máquina encarnada desconectadas. É estranho. Sobretudo porque ainda há pouco tempo a empatia era total. O que mudou? Mudaram os vínculos.
A primeira tentação é ver nisto mais um efeito (dos maus resultados) do que uma causa. Não é bem assim. Porque Jesus não é hoje, na essência, um treinador diferente do que era a época passada. Ninguém muda assim num ano.
Num clube órfão de referências (e títulos) nos últimos anos, a tentação de rever num homem esse novo Messias foi demasiado forte. Irresistível mesmo. Ao ponto de o imaginar acima da estrutura. Ao ponto de esta, alucinada com vitórias e elogios, se lhe entregar nas mãos. Nenhum treinador pode ser maior do que o clube. Nem Cruyff o foi em Barcelona. Nem Mourinho, apesar das aparências, o tenta em nenhum lado. O que consegue é meter-se no meio da estrutura, ler-lhe os pensamentos e, sem nunca perder o seu lugar, impor ideias (controlando corredores e influências). Por isso é o melhor. Os seus presidentes (Pinto da Costa, Abramovich, Moratti) sempre souberam, porém, com quem estavam a lidar. Nunca lhe entregariam o clube nas mãos. Só a equipa (balneário). É muito diferente.
No Benfica, Jesus recebeu esta época as duas coisas (clube e equipa) numa bandeja. Despediu um guarda-redes campeão na televisão, contratou quem quis (o clube segurou outros) e fez crer que o mais difícil (resgatar a aura vencedora) estava feito. Pura ilusão. Faltava todo o clube perceber o momento e transformar uma época conjuntural num ciclo estrutural. Isso nunca deveria ser missão prioritária do treinador. Teria de ser do clube (sua estrutura). O Benfica fez o inverso. E, num ápice, toda essa aura se desmoronou.
Em vez de mais confiantes, os jogadores surgiram mais convencidos. As táticas são outro debate (manter um sistema para o qual deixara de ter os jogadores fundamentais e insistir noutros totalmente diferentes para o repetir). Uma posição não faz uma equipa, mas pode contagiá-la. Dentro e fora do campo. A aposta em César Peixoto desafia não só a dinâmica tática como os limites da relação com os adeptos. Entretanto, Coentrão (único jogador capaz de dar profundidade ofensiva pela faixa) continua preso a lateral-esquerdo. Ver a equipa perdida em campo e, ao mesmo tempo, ver Aimar sentado no banco, torna toda esta comunicação tática e emocional ainda mais complexa. Quando entra, porém, são mais os problemas do coletivo a invadi-lo do que ele a atacá-los.
O treinador ficou na berma do precipício. Mais do que a tática, a solução de Jesus passa por recriar esses vínculos. Perceber as novas circunstâncias, conceder nessas relações e colocar-se numa zona intermédia para reinventar o seu lugar/papel no edifício benfiquista. Não são pontes, são cruzamentos de competências. Presidente, diretor desportivo e treinador. Em suma: o(s) poder(es) nos sítios certos.
II Liga Europeia
Foi mesmo impossível o sonho do Braga na Ucrânia. Portugal abandonou a Champions e as suas quatro equipas (FC Porto, Sporting, Benfica e Braga) vão disputar a Liga Europa, uma espécie de II Liga europeia. É este o espelho competitivo do atual futebol português?
Em termos globais, cruzando fatores financeiros com desportivos, é a que melhor reflete a sua realidade. Sucedeu o mesmo a holandeses, gregos e turcos, países da mesma divisão, a chamada ‘segunda linha’ do futebol europeu. Circunstancialmente, quando as razões desportivas ultrapassam as financeiras, um desses clubes (no nosso caso, tem sido o FC Porto) podem furar essa dimensão. Só com políticas desportivas/financeiras cirúrgicas na gestão e contratação é possível essa fuga à realidade futebolisticamente filha de um ‘deus menor’.
Na Liga Europa é outra história. Todos podem mesmo ambicionar ganhá-la (como Shakhtar e Atlético Madrid nas últimas duas épocas). A prova surge, neste momento, à medida certa da dimensão das nossas equipas.
Penálti choque
O treinador como que pressente o que vai acontecer. A imagem de Manuel Fernandes no banco do Setúbal na hora do segundo penálti de Jailson diz tudo. É uma ‘monografia’ sobre emoções no futebol. No primeiro, esperara de pé, exultara com o golo, desesperara quando viu o árbitro mandar repetir o pontapé. Nesse segundo, já não o viu de pé. Sentou-se e esperou, olhando impotente para o que receava (e pressentia) ir acontecer. E aconteceu. O mesmo jogador que antes marcara tão bem o penálti, dera agora um ‘chutão’ por cima da barra. Manuel Fernandes nem esboçou a reação. Apenas fechou os olhos e encostou a cabeça no banco. Controlar a respiração e o… coração. Aumento de batida cardíaca maior não existiria. Os penáltis não são para cardíacos.
Teoria dos estímulos
O FC Porto sobreviveu a um penálti (ou dois) no último minuto e continua no comando com oito pontos de avanço. É impossível manter 30 jogos com o mesmo nível exibicional, mas a quebra de jogo da equipa frente ao Setúbal revelou sobretudo, desde o início, uma quebra de estímulo competitivo. Jailson não aproveitou. Do primeiro para o segundo penálti, a baliza, na sua cabeça, ficou muito mais pequena. O receio de falhar, no segundo remate, tomara conta da esperança de marcar, que o estimulou no primeiro. Aqui estão, da exibição coletiva cinzenta do FC Porto até à ‘bipolaridade’ de Jailson na hora do(s) penálti(s), duas versões da teoria dos estímulos. O futebol, equipas e jogadores, vive (e depende) muito disso.
O treinador, nesse sentido, deve ser como um ilusionista. Falar ‘contra a corrente’. Otimista na derrota, pessimista na vitória. É a melhor forma de ajustar o estímulo competitivo da equipa à realidade. Sem depressões. Sem deslumbramentos.
Neste momento, a pergunta que o ‘mundo benfiquista’ faz é simples: como será possível o FC Porto perder tantos pontos para o Benfica ainda sonhar com o título? A maior possibilidade seria o ‘mundo azul e branco’ perder a consciência da realidade referida no parágrafo anterior. A outra, será duvidar da qualidade do plantel para substituir eventuais baixas do onze titular. É um pensamento que nasce de ver como Pereira se tornou um jogador fundamental nas dinâmicas defesa-ataque-defesa do flanco esquerdo portista (Emídio Rafael luta bem, mas não garante a mesma intensidade/qualidade). Villas-Boas tem sabido esquivar-se a ambas. Sabe, porém, que ainda falta mais de meio campeonato. Uma boa dúvida é um sinal de sabedoria, mas os treinadores nunca podem cometer o erro de a demonstrar publicamente.
Este Benfica vive uma crise existencial. A ideia que fica, vendo-o jogar, é que perdeu capacidade de comunicação. A todos os níveis. Isto é, jogadores, adeptos, treinador e direção, deixaram de ter um diálogo sincronizado. Não vejo um conflito. Vejo é todas essas peças da máquina encarnada desconectadas. É estranho. Sobretudo porque ainda há pouco tempo a empatia era total. O que mudou? Mudaram os vínculos.
A primeira tentação é ver nisto mais um efeito (dos maus resultados) do que uma causa. Não é bem assim. Porque Jesus não é hoje, na essência, um treinador diferente do que era a época passada. Ninguém muda assim num ano.
Num clube órfão de referências (e títulos) nos últimos anos, a tentação de rever num homem esse novo Messias foi demasiado forte. Irresistível mesmo. Ao ponto de o imaginar acima da estrutura. Ao ponto de esta, alucinada com vitórias e elogios, se lhe entregar nas mãos. Nenhum treinador pode ser maior do que o clube. Nem Cruyff o foi em Barcelona. Nem Mourinho, apesar das aparências, o tenta em nenhum lado. O que consegue é meter-se no meio da estrutura, ler-lhe os pensamentos e, sem nunca perder o seu lugar, impor ideias (controlando corredores e influências). Por isso é o melhor. Os seus presidentes (Pinto da Costa, Abramovich, Moratti) sempre souberam, porém, com quem estavam a lidar. Nunca lhe entregariam o clube nas mãos. Só a equipa (balneário). É muito diferente.
No Benfica, Jesus recebeu esta época as duas coisas (clube e equipa) numa bandeja. Despediu um guarda-redes campeão na televisão, contratou quem quis (o clube segurou outros) e fez crer que o mais difícil (resgatar a aura vencedora) estava feito. Pura ilusão. Faltava todo o clube perceber o momento e transformar uma época conjuntural num ciclo estrutural. Isso nunca deveria ser missão prioritária do treinador. Teria de ser do clube (sua estrutura). O Benfica fez o inverso. E, num ápice, toda essa aura se desmoronou.
Em vez de mais confiantes, os jogadores surgiram mais convencidos. As táticas são outro debate (manter um sistema para o qual deixara de ter os jogadores fundamentais e insistir noutros totalmente diferentes para o repetir). Uma posição não faz uma equipa, mas pode contagiá-la. Dentro e fora do campo. A aposta em César Peixoto desafia não só a dinâmica tática como os limites da relação com os adeptos. Entretanto, Coentrão (único jogador capaz de dar profundidade ofensiva pela faixa) continua preso a lateral-esquerdo. Ver a equipa perdida em campo e, ao mesmo tempo, ver Aimar sentado no banco, torna toda esta comunicação tática e emocional ainda mais complexa. Quando entra, porém, são mais os problemas do coletivo a invadi-lo do que ele a atacá-los.
O treinador ficou na berma do precipício. Mais do que a tática, a solução de Jesus passa por recriar esses vínculos. Perceber as novas circunstâncias, conceder nessas relações e colocar-se numa zona intermédia para reinventar o seu lugar/papel no edifício benfiquista. Não são pontes, são cruzamentos de competências. Presidente, diretor desportivo e treinador. Em suma: o(s) poder(es) nos sítios certos.
II Liga Europeia
Foi mesmo impossível o sonho do Braga na Ucrânia. Portugal abandonou a Champions e as suas quatro equipas (FC Porto, Sporting, Benfica e Braga) vão disputar a Liga Europa, uma espécie de II Liga europeia. É este o espelho competitivo do atual futebol português?
Em termos globais, cruzando fatores financeiros com desportivos, é a que melhor reflete a sua realidade. Sucedeu o mesmo a holandeses, gregos e turcos, países da mesma divisão, a chamada ‘segunda linha’ do futebol europeu. Circunstancialmente, quando as razões desportivas ultrapassam as financeiras, um desses clubes (no nosso caso, tem sido o FC Porto) podem furar essa dimensão. Só com políticas desportivas/financeiras cirúrgicas na gestão e contratação é possível essa fuga à realidade futebolisticamente filha de um ‘deus menor’.
Na Liga Europa é outra história. Todos podem mesmo ambicionar ganhá-la (como Shakhtar e Atlético Madrid nas últimas duas épocas). A prova surge, neste momento, à medida certa da dimensão das nossas equipas.
Penálti choque
O treinador como que pressente o que vai acontecer. A imagem de Manuel Fernandes no banco do Setúbal na hora do segundo penálti de Jailson diz tudo. É uma ‘monografia’ sobre emoções no futebol. No primeiro, esperara de pé, exultara com o golo, desesperara quando viu o árbitro mandar repetir o pontapé. Nesse segundo, já não o viu de pé. Sentou-se e esperou, olhando impotente para o que receava (e pressentia) ir acontecer. E aconteceu. O mesmo jogador que antes marcara tão bem o penálti, dera agora um ‘chutão’ por cima da barra. Manuel Fernandes nem esboçou a reação. Apenas fechou os olhos e encostou a cabeça no banco. Controlar a respiração e o… coração. Aumento de batida cardíaca maior não existiria. Os penáltis não são para cardíacos.
Teoria dos estímulos
O FC Porto sobreviveu a um penálti (ou dois) no último minuto e continua no comando com oito pontos de avanço. É impossível manter 30 jogos com o mesmo nível exibicional, mas a quebra de jogo da equipa frente ao Setúbal revelou sobretudo, desde o início, uma quebra de estímulo competitivo. Jailson não aproveitou. Do primeiro para o segundo penálti, a baliza, na sua cabeça, ficou muito mais pequena. O receio de falhar, no segundo remate, tomara conta da esperança de marcar, que o estimulou no primeiro. Aqui estão, da exibição coletiva cinzenta do FC Porto até à ‘bipolaridade’ de Jailson na hora do(s) penálti(s), duas versões da teoria dos estímulos. O futebol, equipas e jogadores, vive (e depende) muito disso.
O treinador, nesse sentido, deve ser como um ilusionista. Falar ‘contra a corrente’. Otimista na derrota, pessimista na vitória. É a melhor forma de ajustar o estímulo competitivo da equipa à realidade. Sem depressões. Sem deslumbramentos.
Neste momento, a pergunta que o ‘mundo benfiquista’ faz é simples: como será possível o FC Porto perder tantos pontos para o Benfica ainda sonhar com o título? A maior possibilidade seria o ‘mundo azul e branco’ perder a consciência da realidade referida no parágrafo anterior. A outra, será duvidar da qualidade do plantel para substituir eventuais baixas do onze titular. É um pensamento que nasce de ver como Pereira se tornou um jogador fundamental nas dinâmicas defesa-ataque-defesa do flanco esquerdo portista (Emídio Rafael luta bem, mas não garante a mesma intensidade/qualidade). Villas-Boas tem sabido esquivar-se a ambas. Sabe, porém, que ainda falta mais de meio campeonato. Uma boa dúvida é um sinal de sabedoria, mas os treinadores nunca podem cometer o erro de a demonstrar publicamente.
Respirações - João Gobern
Estão cada vez mais rápidos os ciclos de confiança e de alerta no futebol português – que o digam Jorge Jesus e Paulo Sérgio, outra vez protagonistas do fim-de-semana e outra vez pelas razões opostas. Quatro dias depois de uma humilhante derrota caseira no fecho da participação benfiquista na Champions, o treinador campeão parecia outro. Voltou a fazer as suas corridas rápidas ao longo da linha lateral, a gesticular mais e melhor do que os antigos polícias sinaleiros, a usar a voz de comando para orientar posições defensivas e para estimular movimentos ofensivos. Será coincidência, mas a verdade é que nunca a superioridade do Benfica frente ao Braga esteve em causa e percebeu-se cedo que os golos seriam mesmo uma questão de tempo.
Ochoque vitamínico de Jesus chegou pela voz de Luís Filipe Vieira, entre os dois jogos. Dir-se-á que o tom de crédito de confiança ao técnico também se ficou a dever a terceiros (sim, o milagre de Lyon, que manteve o Benfica na Europa). Mas Vieira soube falar no tempo certo e no sentido que se espera de quem tem de decidir racionalmente. Chegou, até, a sublinhar erros do passado para declinar a hipótese de os repetir. Sem percalço frente ao Rio Ave, o Benfica vai para o Natal com um capital de confiança externo que lhe permite respirar e recomeçar. Já perdeu a Supertaça, já caiu na liga dos milhões, tem atraso considerável no campeonato. Mas sabe que, sem estabilidade (e não só emocional), arrisca-se a perder tudo o resto. É a diferença entre o revés e a catástrofe.
Já Paulo Sérgio começa a ver reduzida a margem de manobra e, afastado da Taça, vai precisar de se alimentar muito da Europa. Só que o problema do Sporting parece diferente – com aquela matéria-prima, a qualidade não estica e, sobretudo, parece insuscetível de se traduzir em estabilidade e consistência. Num dia bom, os leões podem ganhar a qualquer dos rivais. Mas, num dia mau, podem perder com qualquer adversário. O mais fácil (e o mais praticado) é culpar o técnico mas, no caso particular de Paulo Sérgio, julgo que se trata de uma enorme injustiça. Ele já apresentou vários tipos de omeleta, mesmo sem ovos no cesto – não pode é servi-la todos os dias. Ainda assim, no final, estou em crer que a época do Sporting acabará por ser menos aflitiva e menos medíocre do que na temporada passada. A menos que cortem o oxigénio a Paulo Sérgio.
Uma nota final para André Villas-Boas: em fase de recordes e em estado de graça, ele fala como respira. Mandaria a prudência que não gastasse o ar todo, porque pode vir a precisar de fôlego, se a coisa se complicar. Até Mourinho sabe que o silêncio, de quando em vez, é o melhor remédio para evitar o desgaste e o cansaço. Está em espera.
Ochoque vitamínico de Jesus chegou pela voz de Luís Filipe Vieira, entre os dois jogos. Dir-se-á que o tom de crédito de confiança ao técnico também se ficou a dever a terceiros (sim, o milagre de Lyon, que manteve o Benfica na Europa). Mas Vieira soube falar no tempo certo e no sentido que se espera de quem tem de decidir racionalmente. Chegou, até, a sublinhar erros do passado para declinar a hipótese de os repetir. Sem percalço frente ao Rio Ave, o Benfica vai para o Natal com um capital de confiança externo que lhe permite respirar e recomeçar. Já perdeu a Supertaça, já caiu na liga dos milhões, tem atraso considerável no campeonato. Mas sabe que, sem estabilidade (e não só emocional), arrisca-se a perder tudo o resto. É a diferença entre o revés e a catástrofe.
Já Paulo Sérgio começa a ver reduzida a margem de manobra e, afastado da Taça, vai precisar de se alimentar muito da Europa. Só que o problema do Sporting parece diferente – com aquela matéria-prima, a qualidade não estica e, sobretudo, parece insuscetível de se traduzir em estabilidade e consistência. Num dia bom, os leões podem ganhar a qualquer dos rivais. Mas, num dia mau, podem perder com qualquer adversário. O mais fácil (e o mais praticado) é culpar o técnico mas, no caso particular de Paulo Sérgio, julgo que se trata de uma enorme injustiça. Ele já apresentou vários tipos de omeleta, mesmo sem ovos no cesto – não pode é servi-la todos os dias. Ainda assim, no final, estou em crer que a época do Sporting acabará por ser menos aflitiva e menos medíocre do que na temporada passada. A menos que cortem o oxigénio a Paulo Sérgio.
Uma nota final para André Villas-Boas: em fase de recordes e em estado de graça, ele fala como respira. Mandaria a prudência que não gastasse o ar todo, porque pode vir a precisar de fôlego, se a coisa se complicar. Até Mourinho sabe que o silêncio, de quando em vez, é o melhor remédio para evitar o desgaste e o cansaço. Está em espera.
"Ponto de ordem" - José António Saraiva
Escrevi uma primeira versão desta crónica com o título Os Coveiros, onde lamentava que os benfiquistas vaiassem os seus próprios jogadores, como tem acontecido com César Peixoto. E adiantava que os coveiros do Benfica estão a ser os seus adeptos.
Luís Filipe Vieira também percebeu isso. E, numa atitude inteligente e oportuna, veio apelar à massa associativa para apoiar a equipa, dizendo-lhe, com firmeza, que Jorge Jesus é para continuar. Esta intervenção deu frutos – e o comportamento dos adeptos, no jogo com o Braga, já foi diferente.
As massas associativas têm de começar a perceber que os clubes não podem despedir treinadores ao sabor dos assobios e que as chicotadas psicológicas pertencem cada vez mais ao passado. Só a estabilidade – e não a ansiedade – pode trazer resultados.
O problema do Benfica passa pela falta de confiança, individual e coletiva. No jogo com o Braga, teve 10 situações de golo possível. Cardoso e Saviola tiveram falhanços incríveis. Em sucessivos cantos, a equipa não criou uma única situação de perigo – enquanto o Braga, em três ou quatro, só não fez um golo por milagre. E tudo isto porquê? Porque os jogadores jogam sobre brasas, têm pavor de errar – e isso é meio caminho andado para as coisas saírem mal.
Daí a importância do “ponto de ordem” de Vieira. Ao dizer que a cabeça do treinador não está a prémio e que não haverá grandes mudanças no plantel, o presidente explicou aos adeptos que não adianta assobiar.
E àqueles que dizem que a equipa tem de ganhar para os adeptos voltarem a apoiá-la, convém lembrar que o contrário também é verdade: para a equipa voltar a ser o que já foi, os adeptos têm de puxar por ela.
Luís Filipe Vieira também percebeu isso. E, numa atitude inteligente e oportuna, veio apelar à massa associativa para apoiar a equipa, dizendo-lhe, com firmeza, que Jorge Jesus é para continuar. Esta intervenção deu frutos – e o comportamento dos adeptos, no jogo com o Braga, já foi diferente.
As massas associativas têm de começar a perceber que os clubes não podem despedir treinadores ao sabor dos assobios e que as chicotadas psicológicas pertencem cada vez mais ao passado. Só a estabilidade – e não a ansiedade – pode trazer resultados.
O problema do Benfica passa pela falta de confiança, individual e coletiva. No jogo com o Braga, teve 10 situações de golo possível. Cardoso e Saviola tiveram falhanços incríveis. Em sucessivos cantos, a equipa não criou uma única situação de perigo – enquanto o Braga, em três ou quatro, só não fez um golo por milagre. E tudo isto porquê? Porque os jogadores jogam sobre brasas, têm pavor de errar – e isso é meio caminho andado para as coisas saírem mal.
Daí a importância do “ponto de ordem” de Vieira. Ao dizer que a cabeça do treinador não está a prémio e que não haverá grandes mudanças no plantel, o presidente explicou aos adeptos que não adianta assobiar.
E àqueles que dizem que a equipa tem de ganhar para os adeptos voltarem a apoiá-la, convém lembrar que o contrário também é verdade: para a equipa voltar a ser o que já foi, os adeptos têm de puxar por ela.
terça-feira, dezembro 14, 2010
Ganha bem, mas não alegra - Rui Tovar
Podia ser um grande jogo – havia até quem dissesse, com exagero, que se tratava de uma final antecipada – mas não foi assim. Por um lado, porque o Benfica está a milhas do “outro” do ano passado e reeditar a excelência do seu futebol não foi, por isso, mais uma vez, possível; por outro, porque o Braga, sem sete dos seus habituais titulares, também não podia dar corpo ao verdadeiro arsenal de outras contendas.
A única coisa que ainda se aproximou do passado recente foi o nervosismo de alguns intérpretes no momento do regresso às cabinas, ao intervalo. Naquele que ficou conhecido como o episódio do túnel. Aí, temeu-se o pior, já que, minutos antes, tinha havido um desentendimento entre Coentrão e H. Viana que alastrou de imediato aos restantes. A pronta intervenção de Rui Costa e outros responsáveis dos dois emblemas evitou, porém, males maiores.
Então já o Benfica ganhava, com excelente golo de Saviola, curiosamente obtido numa altura (38’) em que o Braga começava a denunciar maior atrevimento ofensivo, depois de Domingos haver constatado que a sua equipa, de recurso como já se disse, tinha no fim de contas aguentado o balanço inicial de um Benfica nada convincente: muito mexido no meio, sim, mas pouco perigoso na frente de ataque.
A saída precoce de Luisão, após remate muito intencional a que Artur Moraes se opôs bem, terá também pesado nessa decisão mais aventureira dos bracarenses, embora o substituto Sidnei se tivesse mostrado à altura. Mas a esse empertigamento, se bem que intermitente, do Braga soube responder, de igual modo “soluçante” o Benfica, impulsionado ora pela magia de Aimar, ora pelo arreganho de Carlos Martins (cujos excessos não se recomendam) a que Cardozo, desta vez, não deu seguimento.
A perder pela tangente, o Braga tentou na parte final forçar o prolongamento. Esteve bem perto de o conseguir, num desvio de Alan, a obrigar Júlio César à defesa da noite. Mas seria o Benfica a chegar ao 2-0, aproveitando precisamente o adiantamento do adversário no terreno, com Salvio no papel de desequilibrador. Na sequência do lance, Aimar faria então o golo do descanso.
Vitória, portanto, merecida do Benfica, pelo seu maior caudal de jogo e oportunidades criadas mas, importa sempre sublinhá-lo, frente a um Braga sem mais de metade dos seus habituais “guerreiros”. E o facto de o Benfica ter registado o triplo de faltas (21 contra 7) também é capaz de querer dizer alguma coisa...
A única coisa que ainda se aproximou do passado recente foi o nervosismo de alguns intérpretes no momento do regresso às cabinas, ao intervalo. Naquele que ficou conhecido como o episódio do túnel. Aí, temeu-se o pior, já que, minutos antes, tinha havido um desentendimento entre Coentrão e H. Viana que alastrou de imediato aos restantes. A pronta intervenção de Rui Costa e outros responsáveis dos dois emblemas evitou, porém, males maiores.
Então já o Benfica ganhava, com excelente golo de Saviola, curiosamente obtido numa altura (38’) em que o Braga começava a denunciar maior atrevimento ofensivo, depois de Domingos haver constatado que a sua equipa, de recurso como já se disse, tinha no fim de contas aguentado o balanço inicial de um Benfica nada convincente: muito mexido no meio, sim, mas pouco perigoso na frente de ataque.
A saída precoce de Luisão, após remate muito intencional a que Artur Moraes se opôs bem, terá também pesado nessa decisão mais aventureira dos bracarenses, embora o substituto Sidnei se tivesse mostrado à altura. Mas a esse empertigamento, se bem que intermitente, do Braga soube responder, de igual modo “soluçante” o Benfica, impulsionado ora pela magia de Aimar, ora pelo arreganho de Carlos Martins (cujos excessos não se recomendam) a que Cardozo, desta vez, não deu seguimento.
A perder pela tangente, o Braga tentou na parte final forçar o prolongamento. Esteve bem perto de o conseguir, num desvio de Alan, a obrigar Júlio César à defesa da noite. Mas seria o Benfica a chegar ao 2-0, aproveitando precisamente o adiantamento do adversário no terreno, com Salvio no papel de desequilibrador. Na sequência do lance, Aimar faria então o golo do descanso.
Vitória, portanto, merecida do Benfica, pelo seu maior caudal de jogo e oportunidades criadas mas, importa sempre sublinhá-lo, frente a um Braga sem mais de metade dos seus habituais “guerreiros”. E o facto de o Benfica ter registado o triplo de faltas (21 contra 7) também é capaz de querer dizer alguma coisa...
Como Ressuscitou Jesus - Luís Pena Viegas
O jogo de domingo, com o Braga, para a Taça de Portugal, mostrou que Jorge Jesus... está vivo.
O técnico do Benfica voltou a ser aquele espectáculo à parte no acompanhamento do jogo e nas ordens à equipa, eléctrico como há algum tempo não se via, deixando a atitude conformada e quase passiva dos últimos encontros. Uma mudança de comportamento que se explica com o conjunto de factores que O JOGO a seguir decompõe, quando a posição de Jesus era insistentemente colocada em causa - havia até o rumor de que o treinador campeão nacional nem chegaria ao Natal, antecipando-se o fim de uma ligação válida até 2013.
Os votos de confiança de Luís Filipe Vieira, que pelo prisma do fatalismo até poderiam ser entendidos como prenúncio de despedimento, fortaleceram, porém, Jesus, uma vez que foram repetidos em curto espaço de tempo e com clareza por parte do presidente do Benfica. Começou aí a alteração de atitude do técnico de 56 anos, que segundo dizem a O JOGO mostra-se mais expansivo e exuberante precisamente quando se sente confiante - em contrapartida, os nervos é que o deixam quieto e escondido no banco. Depois, a promessa de contar com reforços de Inverno, já em Janeiro, deixou-o também mais optimista e com a convicção de que a segunda metade da época será melhor, até porque há atletas capazes de render mais com o passar do tempo.
O volte-face neste jogo da Taça, que garantiu o apuramento para os oitavos-de-final, foi ainda estimulado pelo facto de ser uma partida a eliminar e uma prova em aberto - o Benfica já foi eliminado da Champions e está longe do líder FC Porto -, tratando-se também de um sonho de Jesus. O treinador das águias já esteve numa decisão (em 2007), com o Belenenses, e nunca escondeu o desejo de triunfar no Jamor, enriquecendo o currículo e homenageando o avô.
A mudança de comportamento de Jesus entronca ainda numa nova estratégia de comunicação. Desde logo porque, pela primeira vez, o técnico fez um mea culpa, reconhecendo que pôs a fasquia demasiado alta quanto à Liga dos Campeões, exagero que acabou por ter influência no seio do grupo, à medida que as derrotas apareceram. Essa mesma instabilidade seria também assumida pelo treinador, que vê agora a equipa "menos ansiosa e mais confiante". E essa confiança é precisamente o combustível de um Jesus de regresso ao passado. Igual a si próprio.
O técnico do Benfica voltou a ser aquele espectáculo à parte no acompanhamento do jogo e nas ordens à equipa, eléctrico como há algum tempo não se via, deixando a atitude conformada e quase passiva dos últimos encontros. Uma mudança de comportamento que se explica com o conjunto de factores que O JOGO a seguir decompõe, quando a posição de Jesus era insistentemente colocada em causa - havia até o rumor de que o treinador campeão nacional nem chegaria ao Natal, antecipando-se o fim de uma ligação válida até 2013.
Os votos de confiança de Luís Filipe Vieira, que pelo prisma do fatalismo até poderiam ser entendidos como prenúncio de despedimento, fortaleceram, porém, Jesus, uma vez que foram repetidos em curto espaço de tempo e com clareza por parte do presidente do Benfica. Começou aí a alteração de atitude do técnico de 56 anos, que segundo dizem a O JOGO mostra-se mais expansivo e exuberante precisamente quando se sente confiante - em contrapartida, os nervos é que o deixam quieto e escondido no banco. Depois, a promessa de contar com reforços de Inverno, já em Janeiro, deixou-o também mais optimista e com a convicção de que a segunda metade da época será melhor, até porque há atletas capazes de render mais com o passar do tempo.
O volte-face neste jogo da Taça, que garantiu o apuramento para os oitavos-de-final, foi ainda estimulado pelo facto de ser uma partida a eliminar e uma prova em aberto - o Benfica já foi eliminado da Champions e está longe do líder FC Porto -, tratando-se também de um sonho de Jesus. O treinador das águias já esteve numa decisão (em 2007), com o Belenenses, e nunca escondeu o desejo de triunfar no Jamor, enriquecendo o currículo e homenageando o avô.
A mudança de comportamento de Jesus entronca ainda numa nova estratégia de comunicação. Desde logo porque, pela primeira vez, o técnico fez um mea culpa, reconhecendo que pôs a fasquia demasiado alta quanto à Liga dos Campeões, exagero que acabou por ter influência no seio do grupo, à medida que as derrotas apareceram. Essa mesma instabilidade seria também assumida pelo treinador, que vê agora a equipa "menos ansiosa e mais confiante". E essa confiança é precisamente o combustível de um Jesus de regresso ao passado. Igual a si próprio.
O astral na Luz... - Marta Rebelo
Continuamos na Taça. Eu não sou do contra, derrotista nem tão-pouco tenho sede de sangue. Não tenho um prazer masoquista em sofrer e criticar. Mas tenho muita sede de golos e saudades de exibições gloriosas. E a de ontem à noite foi triste, cinzenta, monótona.
Só em quatro momentos houve agitação: aos 38’, quando Saviola quebra o entorpecimento e marca o primeiro golo da noite; aos 61’, quando Coentrão se cansa da falta de cor e, endiabrado, arranca do meio campo e só depois de uma tentativa falhada e de, na recarga, ganhar o canto é que sossegou; aos 88’ Júlio César salva a noite, naquele que é o momento mais feliz do Benfica... outro seria o cântico se aquela bola entra...; e aos 93’, com o 2-0 por Aimar, um golo obtido na segunda recarga. É uma grande verdade que a bola teimou em não entrar. Mas nós teimámos em não entrar no jogo. E se o Braga se apresentasse na Luz com os sete titulares que não marcaram presença? É que nós jogámos com o nosso onze titularíssimo, pelo menos até à saída prematura de Luisão. E se o Benfica tivesse sido eliminado ontem?
É provável que se tornasse muito difícil à direção encarnada segurar Jesus. Mas houve eficácia. O Glorioso segue em frente, e os resultados têm de seguir para cima. Pede-se inteligência no mercado de Inverno, livrar-nos do lastro e investir em verdadeiros valores. Para as posições que estão desfalcadas. As contratações do Verão foram a pobreza que se vê em campo. A de Gaitán à parte (e Roberto, a baliza já serenou), que precisa de ser recolocado no terreno (faria, idealmente, o lugar de El Mago, e como Aimar só ele). O balneário precisa de repouso, por mais que nos digam que não... estava a equipa, suplentes e banco a festejar a vitória no relvado e JJ, à margem, já na entrada do túnel. Há um ano, o Guimarães eliminou o Glorioso da Taça, em casa. E mesmo perdendo por 0-1, o astral na Luz era outro. Que 2011 nos traga os momentos vibrantes que, afinal, aconteceram há menos de 6 meses...
Só em quatro momentos houve agitação: aos 38’, quando Saviola quebra o entorpecimento e marca o primeiro golo da noite; aos 61’, quando Coentrão se cansa da falta de cor e, endiabrado, arranca do meio campo e só depois de uma tentativa falhada e de, na recarga, ganhar o canto é que sossegou; aos 88’ Júlio César salva a noite, naquele que é o momento mais feliz do Benfica... outro seria o cântico se aquela bola entra...; e aos 93’, com o 2-0 por Aimar, um golo obtido na segunda recarga. É uma grande verdade que a bola teimou em não entrar. Mas nós teimámos em não entrar no jogo. E se o Braga se apresentasse na Luz com os sete titulares que não marcaram presença? É que nós jogámos com o nosso onze titularíssimo, pelo menos até à saída prematura de Luisão. E se o Benfica tivesse sido eliminado ontem?
É provável que se tornasse muito difícil à direção encarnada segurar Jesus. Mas houve eficácia. O Glorioso segue em frente, e os resultados têm de seguir para cima. Pede-se inteligência no mercado de Inverno, livrar-nos do lastro e investir em verdadeiros valores. Para as posições que estão desfalcadas. As contratações do Verão foram a pobreza que se vê em campo. A de Gaitán à parte (e Roberto, a baliza já serenou), que precisa de ser recolocado no terreno (faria, idealmente, o lugar de El Mago, e como Aimar só ele). O balneário precisa de repouso, por mais que nos digam que não... estava a equipa, suplentes e banco a festejar a vitória no relvado e JJ, à margem, já na entrada do túnel. Há um ano, o Guimarães eliminou o Glorioso da Taça, em casa. E mesmo perdendo por 0-1, o astral na Luz era outro. Que 2011 nos traga os momentos vibrantes que, afinal, aconteceram há menos de 6 meses...
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