Livro de Reclamações

1 - Acaso não se achasse agarrado ao poder como uma lapa, com a demissão de José Antonio Camacho, não restaria a Luís Filipe Vieira outra solução que não fosse a demissão e a convocação de eleições antecipadas para o final desta temporada.
Se não encontro dúvidas em afirmar que Camacho era parte do problema, idêntica asserção identifico em asseverar que o principal responsável pelo actual estado de coisas no Benfica se chama Luís Filipe Vieira!
Cingindo-me à presente temporada, dizer que Vieira tem acumulado erros a um ritmo vertiginoso:
Primeiro, assumiu a gestão do futebol profissional em partilha com a administração da SAD e decidiu manter Fernando Santos como treinador principal quando era evidente que a sua fragilidade importaria a sua queda ao primeiro desaire.
Depois, entronizou intempestivamente Rui Costa como director desportivo e construiu um plantel profundamente desequilibrado, no qual as saídas de Manuel Fernandes, Simão e Miccoli não conheceram o devido suprimento.
Demasiados delitos!
Um total desregramento, no qual avulta uma completa ausência de planeamento, organização, coordenação e estratégia!

2 - Mas, no Domingo, quando Camacho demonstrava uma suprema dignidade e hombridade na hora da despedida, fomos forçados a assistir ao já tradicional número de prestidigitação de Vieira - como sacudir a água do capote sem molhar qualquer parte do corpo ou como adejar com mais uma promessa de um novo ciclo para obnubilar os espíritos mais incautos.

3 - Não olvido os constrangimentos colocados à sua intervenção, mas finda a relação contratual com o Benfica apenas uma certeza ficou:
Camacho foi uma desilusão!
O seu primarismo na abordagem ao jogo e a sua inabilidade táctica eram já bem conhecidas, mas a sua "falta de ganas" não!
Com honrosas e infelizmente contadas excepções - os jogos de Copenhaga e Donetsk serão os exemplos maiores - este não foi o Camacho de outrora!
O Camacho ambicioso deu lugar ao Camacho lugares comuns e má-disposição, que desprezou e desvalorizou os "mind-games" do pré-jogo;
O Camacho que incutia confiança, desejo veemente de fortuna e de glória, espírito de grupo e de conquista deu lugar ao Camacho que comandou uma equipa apática, abúlica e sem iniciativa;
O Camacho que no decurso dos jogos participava, intervinha, dirigia e se empolgava, deu lugar ao Camacho conformado e sem volição;
O Camacho que reforçava a auto-estima do seus jogadores e, assim, potenciava o seu desempenho, deu lugar ao Camacho acabrunhado que condicionou emocionalmente a equipa, cerceando-lhe as competências.
O Camacho que, pelo seu carisma e personalidade, apresentava uma liderança forte, decidida e afirmativa não marcou, desta vez, presença no Estádio da Luz (o episódio Luisão-Katsouranis é disso reflexo evidente)!
Nem o “Salir a gañar” se ouviu da boca do espanhol!
Ainda não consegui descortinar porquê, mas este Camacho foi apenas uma segunda versão de Fernando Santos.
E nem sequer revista e melhorada!

4 - A demissão de Camacho, para além de uma derrota pessoal de Vieira, constituiu uma derrota pessoal do espanhol.
Em escassos 7 meses, Camacho desbaratou o incomensurável capital de simpatia e bonomia que havia granjeado junto da massa associativa do Benfica.
Se na primeira passagem pelo Benfica, Camacho conquistou um troféu, desta feita apenas logrou alcançar feitos negativos, a saber:
o maior número de empates na condição de visitado e o futebol de pior qualidade da última década.

5 - Como escrevi há uns tempos "O desmando é consequência da falta de mando!".

6 - Da mini-crise despoletada com a saída de Camacho, emergem duas decisões acertadas:

a) a designação de Fernando Albino de Sousa Chalana como treinador principal até final da presente época, na medida em que inexistem treinadores de qualidade disponíveis;

b) não esperar pelo final da temporada para contratar um treinador de modo a planificar 2008/2009 com a devida antecedência e em convergência com o futuro director-desportivo Rui Costa.

7 - Do Chalana espero labor, sorte e, sobretudo, modificações tácticas.
A partir do que se viu na anterior experiência no cargo, podemos perspectivar um Benfica em 3x5x2.
Recuperados os jogadores ora lesionados, mormente os centrais, Chalana terá então ocasião de estruturar a equipa naquele sistema táctico, entregando a titularidade a Quim, Maxi Pereira, Luisão, Katsouranis, David Luiz e Spesi, Petit, Rui Costa e Cristian Rodriguez, Cardozo e Nuno Gomes.
A par do 4x4x2 losango, este é, para mim, o sistema que mais se mostra conforme as características dos jogadores que integram o plantel do Benfica.

8 - Mesmo com o Benfica a 14 pontos, Pinto da Costa não perdeu a oportunidade de ensaiar mais uma manobra de desestabilização ao afirmar que "Camacho era a trave que estava a suportar as deficiências".
Há vícios que são a nossa razão de viver!

9 - Humberto Coelho, admitiu ver «com bons olhos» o ingresso no comando técnico do Benfica.
"Se fosse convidado, encararia com bons olhos. Eu tenho sempre disponibilidade para voltar ao Benfica. Gosto muito do clube e também de treinar. Mas primeiro teria de ser convidado."
Humberto Coelho foi um dos melhores jogadores da sua geração, como o comprova a sua recente eleição como melhor líbero no âmbito da compilação de Cavungi e AMV.
Como treinador, não regateou tantos e tamanhos encómios, mas, ainda assim, conseguiu guindar Portugal a um 3º lugar no Euro-2000.
Deste modo, não percebo que se prostitua ao ponto de colocar em causa o prestígio e o reconhecimento que cultivou ao longo da sua vida.
Como diria Diácono Remédios, não havia necessidade...

10 - Suprema ironia no meio do turbilhão gerado pela demissão de Camacho é constatar que, mesmo empatando em casa com o Leiria, o Benfica ganhou mais 1 ponto em relação ao Sporting.

11 - Paulo Bento é, hoje, uma vítima do seu próprio sucesso!
A campanha leonina na época transacta e a conquista da Supertaça na presente, criaram expectativas desmesuradas nos sócios e adeptos do Sporting.
Desmesuradas em função da qualidade dos jogadores que saíram concatenada com a dos que aportaram.
Os dotes de ilusionista de Paulo Bento ludibriaram e inibriaram não só os simpatizantes leoninos como a própria Administração, que confiou na sua aparente capacidade de fazer vistosas omeletas com poucos ovos."
O Sporting é o actual 5º classificado da Liga Bwin.
E Paulo Bento foi parte da solução!
Desde que assumiu o comando técnico do Sporting conferiu identidade à equipa, promoveu coerência táctica e um modelo de jogo consistente.
Arrisco dizer que, com outro treinador e olhando ao naipe de jogadores que compõem o plantel leonino, ao Sporting estaria reservado um papel ainda mais secundário na presente edição da Liga Bwin.
Alguns treinadores potenciam valor nos seus jogadores, outros depreciam.
Paulo Bento pertence, claramente, ao primeiro dos grupos.
Contudo, hodiernamente, é um homem institucionalmente isolado, pressionado, acossado e profundamente desgastado.
Destarte, Paulo Bento é agora parte do problema!

12 - E sendo parte do problema e encontrando-se o Sporting na 5ª posição no campeonato, não se alcança a razão de ser da absoluta indiferença e inércia reveladas pela massa adepta leonina!
Percebe-se que a administração prefira conservar um silencioso distanciamento em nome da pseudo-reafirmação dos valores que ditaram a sua ascensão do poder: diferença e estabilidade.
Não se ignora que Soares Franco está refém do cognome com que baptizou Bento, mas, não se entende tanta resignação de sócios, adeptos e simpatizantes.

13 - Lanço uma interrogação: Que outro treinador não seria despedido se tivesse vencido apenas 2 dos 12 jogos realizados fora de casa na Liga Bwin?
Ou o grau zero da exigência!

14 - Pacheco do alto da sua eloquente verve disse um dia que ninguém é imune de estar alheio ao erro.
Sou tentado a reconhecer uma excepção a este brilhante axioma - atentas as circunstâncias, Paulo Bento é ou, pelo menos, parece imune de estar alheio ao erro.

15 - O Sporting está, à 22.ª jornada, mais perto da linha de água do que do líder.

16 - Como, na segunda-feira, se aludiu ao calendário das equipas posicionadas entre o 2º e o 5º lugares, publico, em seguida, um estudo do MaisFutebol sobre o assunto:

"Há quatro equipas separadas por apenas seis pontos na luta pelo apetecido segundo lugar, o tal que, além do primeiro, dá acesso directo à fase de grupos da Liga dos Campeões. Quando faltam oito jornadas para o final, tudo pode acontecer neste restrito grupo ao qual ainda se pode juntar o Belenenses, caso a equipa do Restelo vença o jogo desta noite com o Boavista e ganhe ainda o recurso que apresentou junto do Conselho de Justiça da federação. No entanto, numa análise académica, se partirmos do pressuposto que as equipas vão repetir os mesmos resultados da primeira volta, as actuais posições na tabela classificativa sofreriam poucas alterações.
O Benfica conservaria o primeiro lugar, com mais cinco pontos do que o V. Guimarães e mais seis do que o V. Setúbal. O Sporting seria a equipa que perderia mais pontos, estacionando no quinto lugar com menos quatro pontos do que os sadinos, menos cinco do que os minhotos e menos dez do que o clube da Luz.
Nestas contas, o F.C. Porto continuaria a ganhar pontos aos restantes adversários, somando mais 17 até final da época, contra 16 do Benfica, 13 do V. Guimarães e V. Setúbal e apenas 12 do Sporting. O Belenenses somaria apenas nove, sem contar com os seis que ainda se arrisca a perder pelo caso Meyong.
No entanto, apesar deste quadro negro, a equipa de Alvalade parece ter um calendário mais acessível do que os restantes candidatos, uma vez que, dos oito jogos que faltam disputar, vai realizar cinco em casa, mais um dos que os adversários inseridos nesta equação. Além disso, os leões são os únicos dos quatro candidatos que já não vão ter que defrontar o inabalável líder F.C. Porto.
O Benfica, além da deslocação ao Dragão, vai ainda receber o V. Setúbal e o Belenenses. O V. Guimarães recebe o líder e vai ao Restelo. O V. Setúbal também recebe o F.C. Porto e, além de ir ao Restelo, também vai à Luz. Os leões já não têm jogos com os actuais seis primeiros classificados."