terça-feira, outubro 14, 2008

Livro de Reclamações - As entrevistas de Soares Franco

1 - Numa inusitada ofensiva mediática, Soares Franco concedeu, num só dia, três entrevistas (Record, Diário Económico e Diário de Notícias).
Da sua conjugação, importa reflectir sobre alguns pontos:

a) - Participação e Fidelização.

Soares Franco lamentou a reduzida militância dos sportinguistas se e quando comparados com adeptos de outros clubes.
Reconheceu o fracasso da campanha de angariação de novos sócios (55 mil pagantes e destes só 27 mil são efectivos (com mais de 18 anos), o decréscimo de vendas das gameboxes (de 34 mil há dois anos para 26 mil este ano) e a descida da média de assistências aos jogos (de 30 mil no ano passado para 25 a 26 mil este ano).
Soares Franco fez o diagnóstico, mas não ponderou as causas, nem sequer a sua superação.
O divórcio a que ora se assiste tem as suas raízes profundas no famigerado "projecto Roquete".
Desde o consulado Roquete que o primado da racionalidade imperou sobre o da emotividade (não obstante, o passivo quase que triplicou a sua dimensão).
A criação da SAD, medida emblemática e estruturante, cerceou o poder de intervenção dos sócios na gestão do "core business" do clube.
A subtracção do étimo criador do clube importou uma evidente diminuição dos factores de identificação e de pertença da massa associativa.
Um incremento substancial do ecletismo poderia contrariar esta tendência.
Sucede que o Sporting ensaiou movimento inverso e reduziu o universo de modalidades de alta competição.
Hoje por hoje, não tem pista de atletismo, nem pavilhão!
Desvalorizou a condição de sócio, privando-a de todo e qualquer benefício, para além do orgulho da sua ostentação.
Mais do que adicionar pontos num cartão, os sócios pretendem sentir-se parte integrante e fundamental da vida do clube, contribuindo e influindo no seu processo de construção e evolução.
A ausência de uma política de expansão da rede de núcleos do clube, estimulando a sua criação por forma a sedimentar o "ser sportinguista", através da participação e partilha de experiências, ritos e memórias colectivas.
Por todas estas razões, o afastamento dos adeptos não pode surpreender!

b) - O projecto de reestruturação financeira da SAD.

Em Maio, Soares Franco disse: "Durante os próximos cinco anos, vamos ter a maioria da SAD".
Neste conjunto de entrevistas, anunciou a perda da maioria do capital da SAD.
O Presidente do Sporting sustentou que "quanto mais depressa se amortizar passivo, mais depressa teremos uma vida financeira estável (...)", aduzindo que tal acontecerá através da emissão de valores mobiliários obrigatoriamente convertíveis, num montante global de 60 milhões de Euros.
Na verdade, no âmbito da reestruturação financeira da SAD leonina, o Sporting obrigou-se a emitir um empréstimo obrigacionista de 60 milhões de euros obrigatoriamente convertível em capital, isto é, em 30 milhões de acções, número suficiente para garantir a maioria do capital.
Sucede que a descapitalização bolsista da SAD impossibilita a emissão de valores mobiliários a 2,00€.
Deste modo, para que se alcance os tais 60 milhões necessário será emitir mais acções.
Ao emitir mais acções, daqui a 5 anos, o volume do investimento do Sporting para conservar a maioria do capital crescerá proporcionalmente.
Se no contexto de uma cotação a 2,00€ já se me afigurava muito difícil o Sporting conseguir em 5 anos gerar receitas capazes de prover à conversão do empréstimo obrigacionista em acções, no actual quadro atrevo-me a vaticinar que o Sporting perderá o controlo maioritário da SAD.

c) - A redução do passivo.

O projecto de reestruturação financeira da SAD leonina visa, essencialmente, reduzir o passivo.
O Sporting obrigou-se a emitir um empréstimo obrigacionista de 60 milhões de euros obrigatoriamente convertível em capital, o qual será canalizado, na sua totalidade, para abreviar prejuízos.
O passivo da SAD ascende a 235 milhões.
Pergunto: 60 milhões em 235 valem o risco ou a inevitabilidade de perder a maioria do capital da SAD?
Penso que não!

10 comentários:

antes morto que vermelho disse...

porquê andar a falar do "homem que á tarde não sabe o que diz", em vez de "lançar" o jogo de hoje com a albania?

Mestrecavungi disse...

Amigo Vermelho,
Pois eu penso que sim!
Que vale a pena correr o risco de perder a maioria do capital da SAD.
Pode ser que assim, quando o LIDL comprar a SAD, acabe com mais uma modalidade de alta competição do clube, que ainda por cima só dá despesas:O Futebol sénior!
Já agora és capaz de me explicar, como a um muido de 8 anos, o que é isso do "ser Sportinguista"?
Doí muito?

Mestrecavungi disse...

Macaco:
Estás optimista? Ou achas que pode haver barraca em Braga?

Vermelho disse...

Amigo Cavungi:
Como calculas, eu não sei, nem quero saber.
Aquele abraço.

Anónimo disse...

Bom artigo do Snr. Administrador, que toca, de facto, em questões sensíveis e de capital importância da actual gestão do SCP - das quais, confesso, pouco percebo.

Concordo, no entanto, que o SCP deve sanear as suas finanças e diminuir drasticamente o passivo, embora não saiba se está ou não a ser seguido o caminho certo pela actual gestão.
Sei, no entanto, que o passivo não tem aumentado - diminuiu desde a chegada de Soares Franco à Presidência e vai diminuir mais nos próximos tempos - e que a equipa de futebol, mesmo assim, tem tido relativo sucesso nos últimos três anos, com a conquista de alguns troféus nacionais
O Benfica, por exemplo, que tem investido muito mais no futebol do que o SCP, não conquistou um único título neste período de tempo.
O que é incompreensível é como é que o SCP, sendo a segunda equipa portuguesa em termos de conquistas nos últimos três anos, tem visto as assistências no estádio diminuirem.
Talvez este discurso da contenção, no futebol, tenha esse efeito.

VermelhoNunca disse...

Sobre a questão da maioria do capital da SAD, já se falou no passado. Desde que as SAD's mantenham o poder de veto sobre todas as matérias fundamentais, não me aflige em nada a situação.
Sobre as assistências em Alvalade, convém também fazer a leitura correcta dos números. Por exemplo, o ano passado contra o Basileia, na Taça UEFA, oitavos de final estavam em ALvalade 14.000 pessoas, este ano estavam 25.000. Ou seja, o problema das assistências não é de hoje. A questão é que é caro ir ao futebol. Um bilhete de sócio, para o meu lugar em Alvalade, custava 30 euros, no jogo contra o Basileia.
Quanto à questão dos sócios do clube: mão há grandes vantagens em ser sócio actualmente. No Benfica a política de supermercado resulta, uma vez que uma lavagem de carro no Elefante é motivo para o lampião usar o seu cartão Kit.
No Sporting a ideia não resulta. Errou na estratégia a direcção, ao pensar que o adepto do Sporting come ração como o lampião.
Acrescentando a isto tudo, os tempos são de crise, quer se queira quer não.

VermelhoNunca disse...

Amigo Vermelho, proponho artigo meu para a próxima 6ª feira, se houver interesse da tua parte , claro está.

Vermelho disse...

Amigo Nunca:
Claro que sim.
Envia para o meu mail ou para mail do blog.
Aquele abraço.

Ndrangheta disse...

Quem me conhece saberá que figurinhas como o Snr. Nunca me encantam.
São tristes, são débeis, têm o seu quê de imbecilidade e, ainda assim, têm tempo de antena. Pelo menos, aqui no blog.
Porém, há que reconhecer que nos fazem falta.
Isto, na perspectiva da indústria do entretenimento – e o que são os blogs senão entretenimento?
No entanto, o Snr. Nunca é daquelas personagens que conseguem sempre dizer qualquer coisa que me faz exclamar algo do género “... mas esta avestruz tem cérebro?!” e isso é um mérito, porque eu raramente uso o termo “avestruz”, por um lado; por outro, há muito que concluí que “cérebro” é coisa que não tem (pelo menos, um cérebro saudável e funcional) e a dúvida surge-me inexplicavelmente sempre que escreve – também é certo que se desvanece meia-dúzia de segundos depois, mas o que interessa é que este pop-up inconsciente me intriga.
Mas o Snr. Nunca também tem sentido de humor.
A leitura que faz das assistências em Alvalade é hilariante.
Obrigado, Snr. Nunca.
Ri-me como há muito não o fazia.
Para a semana só limpo os vidros da casa-de-banho com os seus comentários depois de tirar apontamentos.

Mestrecavungi disse...

Amigo Nunca,
Mas não é o Sporting o clube das elites, da alta finança?
O clube dos Condes não tem dinheiro e os Papa-ração, a populaça lampiã enche os estádios com o seu salário de taxista ou de cantoneiro da CML?
Ou a crise é de fé?