1 - No Prós e Contras da última segunda-feira, Domingos Soares Oliveira revelou que a Sporttv arrecada, anualmente, cerca de 150 Milhões de Euros em assinaturas.
Mais disse que o custo do conjunto dos direitos de transmissão televisiva das partidas da Liga Sagres ascende a 42 Milhões de Euros.
Ou seja, a Sporttv obtém, desde logo, uma mais-valia imediata de 108 Milhões de Euros!
A título de exemplo e para que se perceba a enorme disparidade entre a realidade portuguesa e a realidade europeia, referir que o Villareal, clube de uma pequena Cidade de 40 mil habitantes, perto de Valência, recebeu a época passada 52 milhões de euros pela venda de direitos televisivos!
2 - Na década de 90 do século passado, a Olivedesportos, vendo na depauperada situação dos clubes um maná a explorar, acentuou a sua política monopolista, adquirindo os direitos de transmissão televisiva das partidas a disputar em épocas vindouras a preços ridículos.
Os clubes sufocados de dívidas e sem receitas para lhes fazer face, viram-se na contingência de antecipar a venda dos direitos televisivos e, como se não achavam em posição negocial de discutir o preço, fizeram-no por valores quase insignificantes.
O Benfica não constituiu excepção e alienou os direitos televisivos relativos aos seus jogos na Liga Portuguesa à Olivedesportos até à época desportiva de 2012/13 (o Sporting, por exemplo, vendeu até à época 2017/1018).
Fê-lo pela "exorbitância" de 7,5 milhões de euros por ano, verba esta à qual acresceu um prémio de assinatura no valor de 500 mil Euros.
Ou seja, os direitos televisivos representam cerca de 10% do total das receitas actualmente geradas pelo Benfica, ao passo que a média europeia se situa nos 50%.
3 - Com o agravar da crise financeira, que ameaça implodir o futebol português tal como o conhecemos, urge, entre outras medidas estruturais, renegociar os direitos de transmissão televisiva das partidas da Liga Sagres.
Dir-me-ão que o detentor dos direitos não tem qualquer interesse em fazê-lo?
Discordo!
Uma visão de futuro, de longo prazo, mas, acima de tudo, de subsistência e mesmo de sobrevivência impõe que a Olivedesportos se sente e discuta com os clubes a valorização dos direitos de transmissão televisiva.
4 - E quando falo em renegociação, penso, sobretudo, no pay-per-view.
O desespero dos clubes portugueses levou-os a nem sequer discutir a introdução de cláusulas relativas a todas as formas conhecidas de transmissão de espectáculos desportivos.
Abdicaram de tudo e mais alguma coisa por um mísero prato de lentilhas (vejo mesmo alguns contratos como leoninos, mas isso é assunto para outras conversas).
5 - A ideia de renegociação do pay-per-view tem por base a alteração do actual paradigma de exibição de eventos desportivos em Portugal, mormente dos jogos da Liga Portuguesa.
Hoje por hoje, a Sporttv transmite, por jornada, um número variável, mas nunca inferior a 3 jogos da Liga Sagres.
A RTP exibe 1 jogo.
Covergem a generalidade dos actores ligados ao fenómeno e a maioria dos "opinion makers" que, a par do preço dos bilhetes, o horário dos jogos e o excesso de transmissões televisivas desertificam os estádios nacionais.
6 - O pay-per-view permitiria compatibilizar os interesses comerciais da Olivedesportos e da Sporttv, os interesses económicos dos clubes e, bem assim, o crescimento da taxa de ocupação dos estádios portugueses.
7 - O pay-per-view, tal qual o idealizo, exigiria uma assembleia-geral da Liga na qual se deliberasse a exclusão da transmissão em directo e em canal aberto ou codificado de partidas da Liga Sagres (nada obstaria a que os jogos fossem transmitidos, em diferido, volvidas que fossem 24 horas sobre a sua realização).
Os desafios seriam transmitidos, unica e exclusivamente, em sistema de pay-per-view, podendo, como tal, decorrer todos ou alguns em simultâneo.
8 - Dir-me-ão com a crise que assola o nosso País, estariam os portugueses dispostos a suportar mais uma despesa?
Dependeria sempre do preço!
A Sporttv tem cerca de 600 mil assinantes, que pagam, mensalmente, cerca de 25,00€.
Se cada jogo fosse colocado em sistema de pay-per-view por valores entre 5,00 e 10,00€, dependendo da sua relevância, os assinantes que apenas pretendem assistir às partidas do seu clube de afeição poderiam conhecer, inclusivamente, uma redução dos seus encargos (conforme o número de jogos disputados e sua relevância).
9 - A audiência média das partidas transmitidas em sinal aberto tem-se situado entre os 11,4 e os 16%. O share entre os 27,8 e os 47.2%.
Uma audiência média de 11,4% corresponde, grosso modo, a 1.100.000 espectadores.
Façamos estimativas por defeito relativas a uma partida entre um dos 3G´s e um outro clube do meio da tabela:
Preço: 5,00€
Compradores: 330 mil - 30% da audiência média em canal aberto
Receita: 1.650.000,00€
Forma de repartição: Equitativa pelos clubes intervenientes e pela operadora de televisão - 550.000,00€.
10 - Aludo a uma repartição equitativa em vista da instituição de um mecanismo de solidariedade que potencie as receitas dos clubes de menor dimensão.
Assim, na prossecução deste desiderato, as receitas apuradas em cada jogo seriam sempre divididas em partes iguais pelos clubes e operador, independentemente da condição em que os clubes fossem intervenientes na partida.
Deste modo, os clubes "pequenos" considerando, apenas, os 6 jogos com os 3G´s arrecadariam 3.300.000,00€ (sem considerar receitas de publicidade).
Por sua vez, os 3G´s nos 30 encontros da Liga Sagres poderiam granjear uma receita nunca inferior a 16.500.000,00€.
11 - O debate sobre a solvabilidade dos clubes portugueses exige que se pondere, devidamente, a solução que ora preconizo.
Assim haja vontade política para o fazer!