Quando se tem estrutura, organização e contactos próximos com os grandes clubes europeus, tudo fica mais fácil: o Porto, que já era recordista em vendas, consegue agora ser igualmente recordista em não-vendas. Também prestigia. No entanto, e apesar de meritória pelo carácter histórico de que se reveste, a não-venda de Cissokho ao Milan não pode deixar de causar estranheza: Cissokho falhou a ida para o Milan devido a um problema nos dentes. Há uns anos constou que Pinto da Costa tinha bastante talento para transaccionar marfim, apesar da alegada apreensão de uma remessa de dentes de elefante pela alfândega do Porto. Ninguém esperava, por isso, que fosse precisamente o marfim a entravar agora o negócio com o Milan.
Num clube com uma gestão altamente profissionalizada, acontece isto: o clube adquire o passe de um lateral-esquerdo barato, valoriza-o, vende-o por 15 milhões e, entretanto, adquire o passe de outro lateral-esquerdo por 5 milhões, para assegurar o futuro. No Porto, é parecido: primeiro, um dos laboratórios médicos mais conceituados de um dos maiores clubes do mundo proporciona um episódio que oscila entre o humilhante e o patético, e depois o clube dá por si com dois jogadores caros para a mesma posição (um custou cinco milhões de euros e o outro, durante 10 minutos, chegou a valer 15 milhões). O problema é que, na verdade, nos tempos que correm só faz sentido gastar cinco milhões num lateral-esquerdo se se conseguiu vender o outro por 15 milhões. Quase conseguir não conta. Agora, há que decidir: ou o titular é o recém-contratado lateral, que foi muito mais caro, e o outro fica a ganhar bicho (e cárie) no banco; ou joga o que, hipoteticamente, se não fosse a placa bacteriana, poderia, talvez, segundo dizem, valer 15 milhões, e gastou-se cinco milhões num suplente. Cruel dilema.
NÃO quero fazer a rábula do cristão-novo mas depois de, na semana passada, ter dito que não tinha fé em Jesus, a seguir à conferência de imprensa da apresentação, julgo que comecei a ver a luz. Jorge Jesus é, e digo isto no melhor sentido, uma espécie de José Mourinho da Brandoa: é fanfarrão, desafiador e empolgante, como Mourinho, mas com linguajar da Reboleira. Apresenta-se aos jornalistas com o enfado próprio de quem preferia estar a delinear tácticas intrincadas e a conceber treinos complexos, mas tem de estar a explicar a gente razoavelmente ignorante o que é um preparador físico — o que o obriga a chamar preparador físico ao preparador físico, só para que os jornalistas ignaros, embora através de uma designação deficiente, possam perceber de que é que ele está a falar. Confesso que gostei. Sou mesmo fácil…
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