segunda-feira, junho 01, 2009

Livro de Reclamações - Relatório e Contas das SAD´s dos 3G

1 - As SAD´s dos 3G apresentaram, esta segunda-feira, à Comissão de Mercado de Valores Mobiliários os relatórios e contas relativos ao terceiro trimestre de 2008/2009.
E o panorama é negro!
No seu conjunto, os prejuízos atingem os 31,5 milhões de Euros nos primeiros nove meses da temporada.
O principal contributo é do Benfica, com 18,4 milhões negativos, seguindo-se o Sporting com 6,7 e o Porto com 6,4.

2 - Todavia, se na aparência a situação da Benfica SAD surge como a mais complicada, já na essência o estado da Sporting SAD é o que inspira mais cuidados.
E porquê?
A Benfica SAD apresentou um decréscimo nos proveitos globais de 12,7 milhões de Euros, sendo 5,5 relativos à não participação na Champions e 7,2 relacionados com diminuição das receitas geradas com transferências de jogadores.
Por outro lado, verificou-se um acréscimo dos custos com fornecimentos e serviços externos em 1,3 milhões de Euros, 4 milhões com pessoal e 4,5 com amortizações, o que representou um crescimento dos custos globais em 9,8 milhões de Euros.
Nestes termos, a diminuição dos proveitos e o aumento dos custos provocou um agravamento dos resultados operacionais em 22,7 milhões de Euros.
Conforme se diz no relatório e contas este "impacto negativo é essencialmente explicado pela não participação na Liga dos Campeões na presente época, pela diminuição de mais-valias obtidas com a transacção de direitos desportivos de atletas e pelos investimentos efectuados no reforço da equipa principal de futebol".
Ou seja, o prejuízo apresentado encontra a sua razão de ser em factores, globalmente, não presentes nas SAD´s de Porto e Sporting.

3 - Ambos participaram na Champions, tendo registado receitas superiores à de exercícios anteriores, o Porto manteve, no essencial, o nível de investimento e de transacção de direitos desportivos de jogadores de anteriores exercícios e o Sporting, pese embora tenha diminuído os proveitos relacionados com a venda de direitos desportivos de atletas, conservou praticamente perene o montante do seu investimento.
Assim sendo, a superação destes resultados afigura-se muito mais óbvia e imediata na Benfica SAD do que nas restantes SAD´s.
As medidas a adoptar são simples e evidentes e devem ser já colocadas em prática neste defeso - vender mais ou, pelo menos, de modo diferente, comprar menos ou, pelo menos, de forma distinta, diminuir a massa salarial e melhorar a performance desportiva!
Adquirir jogadores mediante o estabelecimento de parcerias ou a criação de um fundo de jogadores, a par da saída de Luisão, Katsouranis e Di Maria, devem ser providências a tomar no imediato.

4 - Pelo contrário, as SAD´s de Porto e Sporting têm uma margem de manobra mais reduzida.
A Porto SAD, dificilmente, conseguirá elevar o nível de proveitos decorrentes da alienação de direitos desportivos de jogadores e se o fizer corre o risco de diminuir a sua competitividade desportiva com a consequente diminuição das receitas daí decorrentes. O mesmo se diga relativamente à diminuição dos custos com pessoal.
Aumentar os proveitos relacionados com o desempenho desportivo revela-se, de igual modo, complicado, na medida em que atingiu os quartos de final da Champions, sagrou-se campeão nacional e conquistou a Taça de Portugal.

5 - A Sporting SAD é a de todos a que mais padece.
A situação de falência técnica agravou-se, pois que os capitais próprios se fixaram nos 9,3 milhões de euros negativos.
Sucede que este aprofundamento do cenário de insolvência ocorreu num exercício sem paralelo ao nível das receitas iminentemente desportivas, às quais não é alheio o descréscimo verificado nos proveitos relacionados com a alienação de direitos desportivos de jogadores.
Isto é, por forma a elevar os seus indíces de competitividade, a SAD sportinguista viu-se forçada a abster-se de vender jogadores. Mutatis mutandis, significa que se pretender elevar os proveitos globais através da transacção de direitos desportivos verá a sua capacidade desportiva diminuída.
A resolução desta equação revela-se tarefa hercúlea.
Sem a diminuição dos encargos bancários, sem uma extraordinária habilidade na abordagem ao mercado (do lado da venda, mas também da compra) e sem uma superior militância, o futuro apresenta-se sombrio.
Até porque persiste um problema que impõe resolução célere, qual seja o capital próprio que permanece negativo.
A emissão do empréstimo obrigacionista de 60 milhões de euros obrigatoriamente convertível em capital visa solucionar esta questão, mas, como já aqui afirmei abundantemente, poderá significar a perda pelo Sporting do controlo maioritário da SAD.

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