terça-feira, janeiro 24, 2006

O que alguns sportinguistas pensam de Paulo Bento por Pedro Boucherie Mendes

Post publicado por Pedro Boucherie Mendes, sportinguista assumido, no seu blog - aos 35.
O Acidental
Será que a vida nos escolhe?
Julgo que foi Montaigne quem constatou que há derrotas mais triunfantes que algumas vitórias, mas não me parece que Paulo Bento, o treinador do Sporting em ano de centenário, esteja interessado em se consolar nestas palavras do pensador francês.
Mais, nem sequer julgo que Paulo Bento as entenda alguma vez. Para ele, ganhar é ganhar e perder é perder.
Imagino que os dirigentes do Sporting, o clube dos viscondes e das elites, tenha dito ao plebeu Paulo Bento (curioso como plebeu é muito parecido com Paulo Bento dito muito depressa…), ‘caro amigo, faça o melhor que conseguir. E naturalmente seja campeão! Estamos cá é para isso. Se precisar de alguma coisa, disponha. Quando sair feche a porta, 'tá bem?’
O clube dos viscondes entregou assim o seu destino a um homem que usa risco ao meio no cabelo, fala como um português estranho e tem uma noção do que é o futebol própria dos anos 80.
Acresce que nem sequer tem qualificações ou preocupações com essa circunstância.
A deformação de anos e anos de convívio com o futebol são, do seu estrito ponto de vista, suficientes porque o futebol, apesar de ser ‘uma caixinha de surpresas’, não tem segredos.
Paulo Bento é um acidental e parecia ter noção disso.
No escuro, sem lanterna, sol ou bússola para se guiar, fechou os olhos e foi em frente, disciplinado os veteranos e cativando os jovens leõzinhos com entradas directas na equipa.
Os resultados são mistos. Nem tão bons que haja alguém que acredite que o SCP será campeão; nem tão maus que haja alguém que acredite que já não temos a menor possibilidade se ganhar o campeonato.
Como em todos os acidentais, Paulo Bento incorreu no pecado da soberba e não demorou muito a pensar que talvez (talvez...) seja um escolhido.
O espectro do super-herói José Mourinho lembra a qualquer treinador português que ele luta para ser ‘o segundo melhor treinador português da actualidade’, uma apreciação tão verdadeira e afiada que deve magoar só de se pensar nisso.
Mourinho não se cansa de Portugal e faz questão de nos lembrar que aqui ele também é o melhor. Quando escreve semanalmente na revista do Record, Mourinho está a dizer a missa, ensinando-nos o Pai Nosso e dando-nos comunhão.
Paulo Bento nem é acólito ainda.
De fato de mau corte e mãos nos bolsos, olha, incrédulo, a bola a rolar, indiferente àquilo que ele disse aos jogadores.
A bola teima em ser redonda e não faz o que ele disse aos jogadores que ia fazer. Que ele prometeu aos jogadores, que ia fazer.
PBM

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