Já começa a ser repetitivo, mas a César o que é de César - o debate de ontem foi mais do mesmo.
O modelo masturbatório, na metáfora do amigo Carlos, redunda em conferencias de imprensa paralelas dos candidatos presentes.
Passemos á análise possível.
De forma singela, o debate de ontem pode ser designado como o debate "sound byte".
Na verdade, Alegre e Louçã limitaram-se a apresentar frases choque sobre os assuntos em discussão.
Todavia, se Alegre á míngua de retórica argumentativa por aí se fica, demonstrando uma total inabilidade para discorrer sobre as questões colocadas, já Louçã, senhor de outros predicados, envereda por tiradas demagógicas e populistas.
Exemplo maior terá sido a vontade expressa de dissolver o parlamento regional madeirense e, assim, demitir Alberto João.
Encontro-me nos antípodas do discurso e da prática política do líder madeirense, mas daí até ter por legitima a subversão do sistema democrático vai uma grande distancia.
Dissolver um parlamento democraticamente eleito, por discordar politicamente das suas decisões, não me parece próprio das regras democráticas e do sistema constitucional instituído.
O desenho constitucional da figura do PR não lhe permite tomar decisões ancoradas no seu livre arbítrio político, antes supõe e exige a sua fundamentação jurídico-constitucional.
Dizer-se que Alberto João Jardim põe em causa o regular funcionamento das instituições democráticas é argumento que não colhe, desde logo, porque as urnas o desmentem.
Mal ou bem o exercício de cargos governativos em Portugal acha-se condicionado por regras democráticas electivas, as quais não podem ser postergadas por uma pseudo superior consciencia libertária.
Comparar a dissolução do Parlamento promovida por Sampaio a tal decisão é, para além de demagógico, falacioso.
Ainda que existisse uma maioria parlamentar, o Primeiro-Ministro de então não tinha sido sufragado e o clima instalado na sociedade portuguesa fazia, de facto, perigar o normal andamento do País.
Nessa ocasião, a dissolução teve por base uma fundamentação jurídico-constitucional.
Louçã, mais uma vez, arvorou-se na consciencia moral do regime, assumindo-se como a esquerda da esquerda. Homem impoluto de uma candura de valores e princípios acima do comum dos mortais.
Arnaldo de Matos assumiu-se, após o 25 de Abril, como o educador da classe operária, Louçã será, hoje, o educador moral da Nação, o vingador das injustiças (aqui se aproximando de Paulo Portas).
Voltando a Alegre, direi que a sua candidatura dá mostras de empalidecimento, de se estar a desmoronar.
A aura inicial de candidatura de protesto, exterior ás lógicas partidárias, perdeu fulgor com a entrada em cena do candidato.
Enquanto Alegre não foi Alegre, mas sim o ser corporizante do descontentamento social face ao Governo e á forma de fazer política, arrebatou apoios e os votos virtuais das sondagens.
Quando Alegre saiu da penumbra e teve de assumir o discurso político, entrou numa tendencia inexorável de queda.
Para mim, é claro hoje que, a existir segunda volta, será entre Soares e Cavaco.
Alegre não soube capitalizar a simpatia que granjeou, precisamente pelas antinomias da sua candidatura.
Para lá das debilidades dialecticas de Alegre, certo é que Alegre não estava em condições de corporizar os desafios postos por uma candidatura tida por diferente e diferenciada.
Alguém que sempre obedeceu ás lógicas partidárias, que sempre foi um homem do aparelho, que sustentou as diferentes soluções políticas dos sucessivos governos PS, nunca poderia encetar a ruptura suposta pela imagem construída em torno da sua candidatura - seria a quadratura do círculo.
Alegre está num beco do qual não dispõe nem de passado, nem de élan ou estofo políticos para sair.
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