Ainda que se tenham mostrado inalterados os pecadilhos apontados á organica dos debates, o segundo dos debates televisivos sempre foi mais dialéctico e vivo.
Soares apareceu no seu estilo de sempre, procurando emprestar dinamica e vivacidade ao confronto.
Todavia, os anos não perdoam e Soares não é mais o animal político de outrora.
Na verdade, Soares é, hoje, uma pálida imagem do homo politicus que foi, deixando a nu as mazelas da idade.
As constantes pausas no discurso, os enganos e a necessidade de, no final, recorrer á cabula não correspondem ao Soares de sempre, mas apenas ao da actualidade.
Mantém vivas algumas características que o alcandoraram á categoria de mito em debates televisivos, como a bonomia, a perspicácia, a verbe e a inteligencia.
Contudo, tais características emergem empobercidas pelo passar dos anos e suas inevitáveis consequencias.
Soares revelou-se, acima de tudo, inteligente - piscou, claramente, o olho ao eleitorado comunista para uma, por si, muito desejada segunda volta, ao mesmo tempo que apresentou uma postura de estadista experiente muito do agrado do eleitorado moderado do centro.
Aliás, Soares parece querer inverter o rumo da sua campanha, substituindo o discurso de crítica constante a Cavaco por um discurso empático de garante da estabilidade e de prevenção da conflitualidade social.
Para o homem providencial, responde Soares com o homem estabilidade.
A declaração final de Soares, ainda que pobre, foi reveladora das suas intenções futuras.
Pormenor curioso e sintomático repousou na frase inicial da sua declaração final - "Sou um Presidente (...)".
Jerónimo de Sousa, depois da afonia no debate das legislativas, superou-se.
Apareceu com um discurso coerente, bem estruturado, bem pensado, defendendo o seu modelo social.
Jerónimo mostrou-se um aluno com o trabalho de casa muito bem feito - conhecimento consistente dos dossiers e discurso conforme. A tónica constitucional do seu discurso parece-me virtuosa, pois permite-lhe marcar as suas posições sem ter de atacar, de forma explícita, os restantes candidatos de esquerda.
Jerónimo deixa, deste modo, em aberto um lastro de entendimentos á esquerda que, do ponto de vista dos propósitos da sua candidatura, não são dispiciendos.
Jerónimo é um case study na política portuguesa.
Se há um ano transparecia uma imagem austera, uma linguagem pobre, muito marcada por clichés do PREC (a famosa cassete), hoje irradia simpatia e o seu discurso político evoluiu e muito no sentido do seu aggiornamento.
Jerónimo não dispensa o fato, o cabelo aprumadinho e preocupa-se com a saliva no canto da boca, demonstrando que o PCP fez um notável trabalho de Marketing Político com repercussões eleitorais.
Aliás, o capital de simpatia que Jerónimo cativou no eleitorado a tal muito se deve.
As diferenças para Carvalhas são colossais - se este apenas balbuciava, e mal, algumas palavras sobre as questoes que lhe colocavam, Jerónimo é firme na defesa das suas posições, revelando já um discurso com alguma desenvoltura.
Jerónimo não hostilizou Soares, pouco o criticou, procurando lançar a ponte para um futuro apoio que, assim, surgirá aos olhos do seu eleitorado como menos doloroso.
Não foi um debate por aí além, mas foi, sem sombra de dúvida, muito melhor que o anterior.
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