Antevisão do Sporting/FCPorto

Joga-se, no próximo sábado, aquele que será, em princípio, o "jogo do título".
A equipa que vença a partida, estou certo, será a futura campeã nacional.
Caso se verifique um empate, temos campeonato até ao fim.
Será um encontro de duas gerações de treinadores e de concepções futebolísticas perfeitamente distintas.
Paulo Bento, mais novo, estrutura a sua equipa numa forte contenção defensiva e em rápidas transições.
Adriaanse, mais velho, fiel à escola holandesa, aposta num modelo de jogo mais planeado, mais pausado, de construção ofensiva mais gradual, progressiva, sobrelevando os aspectos ofensivos aos defensivos.
Será curioso ver como se irão casar estas distintas concepções de jogo.
Até ao presente, o Sporting tem sido uma equipa que embora não domine territorialmente o jogo, controla-o, sendo que em relação ao Porto acontece, precisamente, o inverso. O Porto domina territorialmente a partida, sem que a consiga controlar na pleinitude.
Assim, o actual posicionamento classificativo das equipas assenta melhor no esquema táctico de Paulo Bento do que no de Adriaanse.
Destarte, esta será a primeira interrogação que se coloca - manterá Adriaanse, mais do que o esquema táctico, o modelo de jogo que tem vindo a adoptar?
Penso que não!
Em vantagem pontual e conhecedor do modelo de jogo leonino, Adriaanse será tentado a abdicar dos seus princípios de jogo.
Penso que o Porto, embora se apresente, teoricamente, no seu já clássico 3x3x4, irá alterar o seu modelo de jogo, entregando a iniciativa ao Sporting e jogando na expectativa.
Adriaanse procurará inverter as premissas da partida.
Procurará colocar o Sporting perante a encruzilhada da fidelidade ou da alteração do seu modelo de jogo.
Está à frente, o empate basta-lhe, não necessita, portanto, de assumir o jogo.
Na teoria, o Porto apresentará o seu habitual esquema táctico, 3x3x4, mas Assunção será, muitas vezes, central e Cech mais defesa do que ala.
Por outro lado, conhece as limitações do Sporting quando chamado a ter a iniciativa da partida, as suas dificuldades, por isso procurará maximizá-las.
Todavia, aqui outra questão se levanta - terá a estrutura defensiva do Porto capacidade para suster a pressão leonina?
Se o Porto, efectivamente, optar por jogar na expectativa, ir-se-á expôr ao ataque leonino e o certo é que o bloco defensivo portista não oferece garantias absolutas de fiabilidade.
As estruturas defensivas portistas dos anos 80 e 90, compostas por jogadores como João Pinto, Lima Pereira, Eurico, Inácio, Geraldão, Demol, Branco, Fernando Couto, Jorge Costa, suportadas por médios operários de inegável labor e qualidade, certamente que se sentiriam como "peixe na água" a actuar em tal sistema.
A actual defesa portista, certamente, que não.
Não será por acaso que o rendimento do Porto subiu a partir do momento em que Adriaanse optou, definitivamente, pelo 3x3x4.
Ao apostar na colocação de 4 elementos na frente obrigou as equipas adversárias a reforçarem a sua defesa com mais um elemento, por forma a garantir superioridade numérica, elemento esse que, por norma, correspondeu ao abdicar de uma unidade mais avançada.
Assim, para além de procurar conferir maior ofensividade à equipa, Adriaanse procurou retirar pressão à sua defesa.
Tal circunstância foi, ainda mais, potenciada pelo facto de as equipas adversárias, não habituadas a defrontar equipas assim estruturadas, se terem amedrontado e nunca terem pressionado devidamente a defensiva portista.
Aliás, tal sucedeu com o Sporting no Dragão para a Taça.
Para vencer o Porto é necessário pressionar a sua linha defensiva.
A linha defensiva portista, para além de apresentar um claro deficit de qualidade, é composta por jogadores adaptados.
Bosingwa não é um lateral de raiz, Cech também o não é, Pedro Emanuel ou Pepe, quando chamados a desempenhar funções junto à ala, são adaptações e Assunção, que funciona as mais das vezes como central, também se trata de uma adaptação.
São jogadores sem rotinas posicionais, mais vulneráveis às movimentações sem bola do adversário.
Este aspecto neste jogo poderá assumir capital importância, pois que uma das principais qualidades de Liedson é a sua capacidade de desmarcação, de jogar no espaço livre, de aparecer.
Deste modo, embora seja previsível que o Porto adopte uma atitude de espera, caso o Sporting assuma o jogo, poderá colocar-se em dificuldade.
Por seu turno, o Sporting sabendo que o jogo é a sua oportunidade, será tentado a alterar o seu modelo de jogo e, assim, a assumir as despesas da partida.
Terá o Sporting capacidade e rotinas para tanto?
Não me parece.
Irá Paulo Bento por aí?
Duvido.
Paulo Bento ao assumir o comando técnico do Sporting manteve o esquema táctico de Peseiro - 4 defesas, meio-campo em losango e dois avançados.
O que Bento alterou foi o modelo de jogo - passou de um modelo de risco, de procura de domínio territorial, de posse de bola, de linhas subidas, de "slow build up", para um modelo de expectativa, de contenção, de transições rápidas.
Bento percebeu que a principal debilidade leonina estava na forma como a equipa defendia e, então, procurou conjurar tal deficiência com o recuo das linhas, protegendo a sua defesa.
Por outro lado, este modelo mostra-se mais propício à potenciação das características dos seus jogadores mais avançados, mormente Liedson, pelo aproveitamento da sua extrema mobilidade e rapidez.
Deste modo, não vejo como possível que altere o seu modelo de jogo, até porque a equipa adquiriu rotinas que urge não desperdiçar.
Se Bento se mantiver fiel ao seu modelo e Adriaanse alterar o seu, teremos um jogo de espera, no qual nenhum dos contendores quererá assumir o jogo.
Ambos irão procurar o erro adversário.
O jogo será lutado, "rasgadinho", com muitos duelos individuais, marcações apertadas, pouco espectacular.
Ainda que a partida surja aos olhos de todos como decisiva para a atribuição do título de campeão nacional, o certo é que ninguém a quererá perder, por forma a não hipotecar as chances de obtenção do ceptro.
Afinando por este diapasão, ainda mais se acentuará o carácter tacticista da partida.
Por outro lado, existe a convicção mútua que esta não é a última batalha e que ainda faltam outras nas quais o oponente poderá tombar.
Nenhum dos dois fará "all in", estou certo.
Bento porque é cauteloso por natureza, Adriaanse porque não precisa.
Quem errar menos, sairá vencedor.