Com a devida vénia aqui se transcreve um texto de um amigo sobre esse mito do futebol português Carlos Secretário:
"Iniciava-se a época de 1996/97 e os tablóides anunciavam a transferência do ano: Carlos Secretário, defesa direito do Futebol Clube do Porto e da Portugesiche Manschaaft, assina um contrato com o Real Madrid.
De imediato, e dissipando quaisquer dúvidas que até então remanescessem, J.N. Pinto da Costa é elevado à categoria de génio do comércio.
Um Alves dos Reis da década de noventa, um daqueles grandes senhores que conseguem vender a torre Eiffel a um endinheirado industrial do Vale do Ave, um Professor Moriarty à moda do Porto.
Um sentimento de comiseração quase condolente para com a direcção do Real Madrid toma-nos o coração.
E mais se nos parte o dito cujo músculo quando o speaker do Santiago Barnabeu anuncia, na apresentação da Plantilla Merengue, "el defensor que todos buscavan y solo Real lo consegió: Carlos Secretáááário".
E a afficción merengue, se bem que meio estupefacta, delira.
Porque tem de delirar, apesar de nas bancadas ser audível um "¿Pero quien és este tío, hombre?"
Nascido em 1970, na bela S. João da Madeira, Carlos Alberto Oliveira Secretário, sempre com aquela cara de "não sei o que é que se está a passar" debutou na época de 1990/1991 no Nacional Maior (numa expressão muito grata a Ribeiro Cristóvão), com as cores do Penafiel.
Um pulinho no Famalicão, outro no Braga e ei-lo no F. C. Porto, a completar a asa direita com João Pinto.
A retirada do Grande Capitão abre lugar ao jovem Carlos que, pé ante pé se consegue impor a tudo e a todos, conquistando, graças à sua regularidade, um lugar na equipa das Quinas.
Dele disse Cândido Sarmento: "conjuga a requintada técnica de um Carlos Costa com a pujança física de um Rui Barros".
E é precisamente no final da época de 96 que se dá o grande engano por parte dos dirigentes madridistas.
Não será difícil imaginar as gargalhadas de Pinto da Costa a ecoarem na Torre das Antas quando, via fax, vê uma proposta vinda do...Real Madrid.
Um fax de resposta a perguntar se se tinham enganado no nome do jogador, se não era o lateral esquerdo ou o Domingos, uma contra resposta a dizer, "si, es el lateral derecho, lo queremos" e as negociações que se iniciam.
E aqui, sim, o Papa do Norte é elevado á categoria de Génio pela simples razão de ter conseguido subir a parada até 300.000 contos. A imprensa de Espanha estava incrédula. Mas quem seria este português? Informações como estas são as únicas que ainda restam acessíveis, em sites obscuros de fãs da Liga Espanhola: "Jugador de 26 años e internacional absoluto por la selección portuguesa. Procede del Oporto y se desenvuelve por la banda derecha, tanto en la defensa como en el centro del campo. Su fichaje fue aconsejado por Capello tras su gran rendimiento en la Eurocopa 96. Ademas, su venida al Real Madrid supuso un golpe de efecto, ya que era uno de los grandes objetivos del actual técnico del Barcelona Bobby Robson. No ocupara plaza de extranjero, gracias a su condición de comunitario".
De notar três factos nesta descrição: o primeiro, o facto de considerarem Secretário um internacional absoluto, estatuto que só adquiriria depois do atraso para o Acosta, que o catapultou para aqueles interlúdios de cenas ridículas de desporto que passam na têvê a 31 de Dezembro;
o segundo, o facto da sua contratação ter sido aconselhada por Capello, o que constitui prova irrefutável da mediania deste treinador, comprovada, claro está, com a menção de "su gran rendimento en la Eurocopa" (o que nos faz concluir, igualmente, que Capello viu um Euro 96 bem diferente de todos nós);
terceiro e último, o facto desta contratação ter sido um modo do Real Madrid "picar" o seu arqui rival. Independentemente de vendettas, o que é certo é que a entrada de Carlos Secretário no clube merengue se deu pela porta grande: 27 jogos na primeira época e 12 na segunda foram mais que suficientes para Capello se aperceber da asneirada e resgatar o seu "protegido" Panucci para fazer as vezes do nosso Carlos Alberto.
A tão grande concorrência acresce o lamentável incidente em que se viu encolvido, a meio de um jogo, quando um canídeo entrou em pleno relvado do Barnabéu: Secretário perseguiu o dito bicho até à sua (dele) exaustão, enquanto o jogo continuava indiferente à estoica acção do nosso lateral, o que provocou uma monumental vaia dos adeptos.
Inesquecível e duro para Carlos, inesquecível e hilariante para aqueles que vêem os interlúdios de cenas ridículas de desporto que passam na têvê a 31 de Dezembro.
É de relembrar as palavras sábias de Joaquim Lucas Duro de Jesus "Quinito", quando treinou o FC Porto depois de Viena 87 quando, virado para o seu próprio plantel dizia " Eu não sei se os hei-de treinar ou se lhes hei-de pedir autógrafos".
O mesmo terá passado, com as devidas adaptações, pela cabeça de Carlos Oliveira Secretário quando encontrou, no mesmo balneário, nomes como Chendo (um concorrente directo), Hierro, Sanchis, Buyo, Illgner, Cañizares, Alkorta, Roberto Carlos (sim, é verdade), Redondo, Raul, Suker, Mijatovic e muitos outros. Impressionante, a quantidade de estrelas que se equipavam ao lado do nosso Carlos. Já os adeptos não poupavam críticas às heróicas, porém inglórias exibições de Carlos Alberto.
O fim da gesta madridista do "Tuercebotas" chegou mesmo em Dezembro de 1997, um ano e meio depois da estreia, 39 jogos de camisola "blanca" ao peito.
Carlos Alberto, talvez inadaptado à exigente e sempre stressante vida de Madrid e cedendo à sempre lusitana Saudade, regressa ao seu Porto de sempre, lugar de onde, quem sabe, nunca houvera saído.
Estava escrito um dos momentos mais épicos da emigração portuguesa, depois de Linda de Suza.
1 comentário:
sr dr vermelho quantos jogadores do seu benfica jogaram no real madrid.Quem lhe dera ter mts jogadores como o carlos secretario.Veja o curriculium dele e compare com a porcaria que tem no seu clube. Apaga a luz beba agua e dorme. Estavas em 4 frentes e agora só tens levado por traz ahahahahahahahahahaha.
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