segunda-feira, junho 19, 2006

Análise ao Portugal/Irão

Portugal venceu com relativa facilidade o Irão, qualficando-se, assim, para os oitavos de final.
Scolari regressou à casa de partida, o que equivale por dizer que apresentou o seu onze mais fiável.
Na verdade, com excepção da inevitável troca de J.Andrade por Meira, Portugal alinhou com os mesmos jogadores da partida com a Grécia a contar para a final do Euro-2004.
Contudo, a idade dos jogadores não é a mesma e, essencialmente, o momento de forma de alguns que constituíram peças chave da estrutura da equipa é bem distinto.
Para derrotar uns iranianos pouco mais do que inofensivos e estranhamente abúlicos chegou e sobrou. Para mais, veremos.
A equipa apresentou-se mais compacta, mais fresca, com maior fluidez nas transições, mas a debilidade da oposição não permite, ainda, formular ideias seguras sobre a actual valia do conjunto luso.
As entradas de Costinha, Maniche e, principalmente, de Deco aportaram equilíbrio ao onze.
O regresso ao 4x1x1x3x1 em detrimento do 4x2x3x1 do primeiro jogo permitiu que as transições defensivas e ofensivas acontecessem de forma mais escorreita.
A colocação de Costinha à frente da defesa, de Maniche uns passos mais adiante e de Deco numa linha de três com os dois alas, trouxe inegáveis mais valias.
Portugal foi sempre superior ao Irão, pressionou mais alto, recuperou mais bolas no último terço do campo, o que, naturalmente, possibilitou a criação de mais e melhores ocasiões de golo.
Na primeira parte, Portugal geriu o jogo, estudou os iranianos, criando as condições necessárias para no segundo tempo desferir a estocada fatal.
Foi sem surpresa que Deco, no dealbar da segunda metade, com um remate soberbo à entrada da área, fez o primeiro golo.
Se Portugal já dominava a partida e as suas incidências, com o advento do golo, tal superioridade ainda se acentuou de forma mais gritante.
Face à incapacidade iraniana de se acercar com perigo das redes de Ricardo, Portugal foi controlando o jogo e, igualmente, de modo natural, chegou ao segundo golo através de um penalty a castigar falta tão flagrante quanto estúpida sobre Figo.
Portugal jogou melhor, é indubitável, mas a fragilidade iraniana não permite dissipar algumas dúvidas que permanecem.
Será Costinha, perante um ritmo de jogo mais elevado e face a adversários de maior valia técnica, capaz de se assumir como tampão primeiro às investidas contrárias?
Costinha lê bem o jogo, apresenta um sentido posicional irrepreensível, mas não demonstra saúde física bastante.
Perante Robben e Van Persie ou Saviola e Maxi Rodriguez ou Messi e Tevez, não me parece que Costinha disponha de condição física e ritmo de jogo para os travar.
Os movimentos basculantes que ensaiou foram, ainda, tímidos e pouco abrangentes, limitando a sua acção à zona central da defesa.
Será suficiente perante adversários mais valiosos? duvido.
Será Meira capaz de se elevar a outro nível competitivo, ultrapassando as hesitações em que tem incorrido?
Meira não apresenta as rotinas posicionais de central suficientemente consolidadas para que se possa assumir como central de marcação.
Me parece que seria mais vantajoso entregar a Ricardo Carvalho as funções de marcação e destinar a Meira funções de sobra.
Certamente que a equipa ganharia agressividade, tempo de entrada aos lances e sentido posicional no eixo central.
Por outro lado, a colocação de Meira sobre a direita agrava os problemas defensivos de tal flanco.
É consabido que Miguel, apesar de rápido, apresenta debilidades defensivas, que a sua formação como ala permite explicar.
Meira não supre tais debilidades, não conseguindo aportar o justo equilíbrio ao sector mais recuado da nossa selecção. A colocação de Carvalho à direita atenuaria, por certo, tais problemas.
Será Maniche capaz de demonstrar o fulgor físico patenteado no Euro/2004?
No jogo com o Irão, o raio de acção de Maniche foi muito menos extenso do que aquele que ao serviço do Porto e da Selecção Nacional já apresentou.
Maniche limitou-se a gerir a sua condição, empregando-se mais em tarefas ofensivas do que defensivas.
O adversário foi tão débil que não permitiu esclarecer se o fez de forma deliberada ou se a sua condição não dá para mais.
Será Figo capaz de manter a bitola exibicional demonstrada?
As prestações de Figo estão muito condicionadas pelo seu estado físico. Na segunda parte, apesar do penalty arrancado, o decréscimo da sua condição física foi evidente e, claro está, que a sua influência no jogo da equipa diminui em proporção idêntica.
Exige-se que descanse contra o México, por forma a que se apresente com folga física suficiente nos oitavos de final.
A sua colocação na ala desgasta-o ainda mais, pois que lhe exige uma maior amplitude de movimentos, quer em diagonais para o centro, quer em trocas de flanco com Ronaldo. Depois a sua velocidade já não é a mesma de outrora.
Será Ronaldo capaz de perceber que necessita de dar dimensão colectiva ao seu futebol?
No jogo contra o Irão, Ronaldo voltou a insistir nos mesmos pecadilhos de outras partidas, mormente abusando dos adornos e dos lances individuais.
Sendo um ala, não vi qualquer cruzamento executado com êxito pelo madeirense.
Apresentou vários truques, mostrou disponibilidade para o jogo, mas persistiu em jogar sózinho.
Pode ser que o golo lhe traga a tranquilidade necessária para perceber que se evidenciará tanto mais quanto mais eficiente for o seu futebol.
Dribles e afins desprovidos de eficácia colectiva podem constituir belos momentos hedonísticos, mas futebolisticamente nada acrescentam.
Será Pauleta capaz de concretizar contra equipas de maior valia?
Pauleta fez um golo contra Angola, mas contra o Irão nunca demonstrou capacidade para alcançar semelhante desiderato.
No Euro/2004 não marcou qualquer golo e no Mundial parece trilhar o mesmo caminho.
Falho de agressividade, de velocidade e de sentido posicional, pareceu sempre andar longe da bola e em contra-mão com os companheiros.
Tal como Meira, o problema reside na inexistência, por ora, de uma alternativa credível.
Em suma, direi que a Selecção apresentou uma melhoria significativa da sua qualidade exibicional. Foi, acima de tudo, uma equipa mais equilibrada.
Todavia, o nível da oposição foi tão fraco que conclusões seguras sobre a sua valia actual não serão mais do que meros tiros no escuro.
Veremos o que nos reservam os próximos jogos.

14 comentários:

VermelhoNunca disse...

Não concordo com o senhor administrador. Portugal jogou bem, mas como o senhor administrador não gosta de Scolari, desvaloriza o adversário. Destaco as exibições do nosso meio-campo, e de Miguel a subir no terreno. Para variar Simulão foi o pior em campo, e conseguiu isso jogando poucos minutos. Após marcação de um canto a nosso favor, Simulão, talvez para se mostrar à esposa que estava na bancada, inventou e provocou um contra-ataque do Irão. Scolari deve deixar rodar outros jogadores, Boa-Morte, Postiga e mesmo Nuno Gomes, que em apoio a outro avançado é útil. Simulão é que não!

VermelhoNunca disse...

Deixo aqui em jeito de comentário a excelente prestação do benfica a nível interno neste fim de semana:
Hóquei em patins- eliminado na Taça de Portugal pelo FCPorto, que veio a conquistar a Taça;
Futsal- derrota em casa, contra o Sporting, no 1º jogo da final do campeonato (declarações do treinador encarnado- "fomos a única equipa que jogou futsal"-imaginem se o Sporting tem jogado!);
Futebol iniciados- derrota por 6 a 0 em casa, com o Sporting, que veio a ser Campeão Nacional;
Futebol Juvenis- perdeu a hipótese de ser Campeão Nacional, pois o Sporting, que empatou no Dragão, ganhou o titulo na última jornada.
Ninguém pára o benfica.

VermelhoNunca disse...

É a sua perspectiva senhor Costa. Para mim interessa que o meu clube ganhe as competições em que participa, e não é por estarmos em época de Mundial que não deixo de salientar que o Sporting foi campeão nacional de futebol de Iniciados e de Juvenis, podendo ainda ser de Juniores.
Em relação à selecção, é estranho mas equipas como a Itália, República Checa,França estão com dificuldades no apuramento. Acho que se fosse Portugal a empatar com a Suiça, ou com os Estados Unidos, os amigos cairiam em cima de Scolari, acusando-o de tudo e mais alguma coisa. Porque pelos vistos há selecções a sério e outras a brincar nesta prova...Talvez devessem fazer essa separação, para talvez comentarmos apenas quando fossem jogos a sério...

Vermelho disse...

amigo Costa:
Infelizmente, o amigo Samsalameh não apareceu em nenhuma das reportagens exibidas pelos canais de televisão. Pelo menos, que eu tenha visto.
O seu sentido de humor está, sem dúvida, em alta. Dei umas boas casquinadas com o seu comentário.
Abraço.

Vermelho disse...

amigo Vermelho Nunca:
Não queira comparar as equipas que compõem o grupo das selecções que nomeou com aquelas que fazem parte do grupo de Portugal.
Como diz e é bem patente, não gosto do Sr. Scolari, mas isso não me faz criticar por criticar.
Aliás, disse que Portugal venceu bem, mas que tinha dúvidas pois que o Irão de tão fraco que é não me permite dizer qual o nível actual da nossa Selecção.
Apenas lancei algumas interrogações, nada mais.
Quando entender ser de criticar, fá-lo-ei, mas quando for de elogiar também o farei sem problemas. E, oxalá, tenha mais motivos para elogiar do que para criticar.
Tal como diz, é preferível esperar para ver como se comporta Portugal perante adversários de maior valia.
Abraço.

VermelhoNunca disse...

Amigo Vermelho, esclareça-me qual o valor da selecção de Trinidad e Tobago...

Vermelho disse...

amigo Vermelho Nunca:
Não percebo por que refere Trinidad e Tobago, pois que não integra o grupo de nenhuma das selecções de que falou.
Abraço.

VermelhoNunca disse...

Porque empatou com a Suécia, fazendo parte de um grupo não referido por mim, é certo. Mas não se fixe nos grupos que eu referi, analise em geral o Mundial é não menospreze as equipas que nós defrontamos. Tem visto os jogos do Brasil~? Não me vai dizer que a Austrália é uma potência do futebol...

Vermelho disse...

amigo Vermelho Nunca:
Trinidad e Tobago não é, efectivamente, uma potência do futebol mundial, nem a Austrália o é.
Agora com as falhas ou desaires dos outros posso eu bem.
Trinidad, ainda assim, tem demonstrado uma organização defensiva que nem Angola, nem Irão apresentaram.
A Austrália, com Hiddink, subiu muito o nível do seu futebol, situando-se num patamar mais elevado que Angola e Irão.
Não será por acaso que os seus principais jogadores alinham na Europa e em ligas de competitividade indiscutível, como a italiana e a inglesa.
Portugal ainda só defrontou adversários que procuraram defender, vamos ver como se comportará quando defrontar adversários que também querem atacar, que assumem o jogo.
Abraço.

VermelhoNunca disse...

De acordo consigo, amigo Vermelho. Mas você refere que com as falhas dos outros pode bem. Aí está o mérito da nossa selecção, não falhámos a jogar com adversários mais fracos, ao contrário de outros. A realidade é essa, não falhámos. Com outros adversários veremos o que acontece.

samsalameh disse...

Sr. Costa,
Deve andar bastante confundido com a minha imagem, pois o que diz sobre mim até me parece um tanto ou quanto injurioso!!! Até por que para começar não sou adepto do vinho de garrafão, talvez o Sr. Costa o seja, mas eu decerto que não.
Analisando o jogo, posso-vos dizer que as bancadas estavam repletas de iranianas que se chamarmos "burka" ou "gurka" ao biquini que as senhoras se faziam apresentar no estádio, então estavam vestidas com os seus belos "trajes" tradicionais.
Infelizmente, os golos foram da bancada oposta àquela que me encontrava, mas valeu por tudo, pela emoção, o jogo (nomeadamente a 2ª parte) em si foi bonzinho, o público vibrou, havia aquilo que Gabriel Alves chama de "A Festa do Futebol".
Sem quaisquer incidentes, foi um jogo de confraternização entre adeptos de países que distam cerca de 5.000 Km uns dos outros, apesar de a grande maioria de iranianos que se encontrava no estádio residir na Alemanha.
O Scolari soube vir no final do jogo agradecer aos adeptos tugas, tendo chegado bem perto da bancada onde me encontrava. E como é óbvio, Sr. Administrador, aplaudi.
Há que começar dar a mão à palmatória ao Scolari: o homem pode ser um mau relações públicas, mas conseguiu já pôr Portugal na final do Euro-2004 e agora os oitavos no Mundial. Além do mais, conseguiu criar uma unidade dentro dos jogadores que já não se via há muito tempo...se calhar nunca!!Muito bom para o País que somos!!

Também se viu bem que aquele tridente do FCP voltou a funcionar em pleno: Costinha, Maniche e Deco e aqui convém que Soclari não mude muito.
Estes 3 jogadores fizeram um grande jogo. Eu destaco mesmo o Maniche, apesar de terem colocado como man of the match o Deco!

Meus senhores, valeu bem passar 3 dias em Frankfurt e em época de Mundial.
Back to work!!

VermelhoNunca disse...

Sr. Salame, concordo com a sua opinião. Aquele meio campo é o melhor, embora Petit, sempre que é chamado tem jogado bem.

VermelhoNunca disse...

Sr. Salame, concordo com a sua opinião. Aquele meio campo é o melhor, embora Petit, sempre que é chamado tem jogado bem.

Anónimo disse...

Snr. Salame:
Comeu muitas salsichas em Frankfurt?
Espero que sim, mas não se habitue muito à salsicha.
Regozijo por ver que me começa a dar razão quanto aos méritos do Scolari.
É óbvio que jogámos até agora com adversários teoricamente mais fracos mas também noutras ocasiões o fizémos e perdemos.
Mas também esta equipa já jogou com adversários bem mais difíceis, como a Inglaterra, a Espanha e a Holanda e ganhou e é por isso que eu acho que o Scolari tem feito excelente trabalho.
Ganha aos bons e aos fracos, quando, no passado, ou ganhávamos aos bons e perdíamos com os fracos, ou perdiamos com os bons e ganhávamos aos fracos ou perdíamos com todos.
E, para além disso, criou um movimento entre os Portugueses, diáspora incluída, que só selecções como o Brasil têm conseguido criar.
As imagens de 12.500 pessoas assistirem ontem a um treino da nossa equipa na Alemanha foi deveras impressionante.
Sorte a sua, pois, Snr. Salamae, por ter estado in locco a assistir a esta loucura que tem sido o Mundial.
E só para finalizar: aquela personagem que o condómino Costa disse ter visualizado na televisão não era mesmo o senhor?
É que pela descrição que o Costa fez, parecia mesmo o caro amigo, principalmente pelo pormenor do garrafão.
Mas pronto, se diz que não, acredito.
Saudações iranianas (de burka)