terça-feira, junho 27, 2006

Artigo de Miguel Esteves Cardoso a propósito do Portugal/Holanda

"Até aqui Portugal ainda não tinha jogado no belo estilo CTT (Confusão,Traulitada e Teimosia) em que é campeão mundial. É uma arma secreta e convém não abusar dela.
Mas a Holanda, coadjuvada por um árbitro tempestuosamente desequilibrado que parecia fugido das páginas de Dostoievski, provocou os mestres e recebeu a lição que mereceu.
A rapaziada holandesa, como tinha faltado às aulas de futebol, tentou compensar a falta de habilidade com os movimentos aprendidos nas aulas de mergulho.
Bastava tirarem-lhes a bola para eles atirarem-se acrobaticamente como se de uma prancha olímpica.
Infelizmente o pobre árbitro, um personagem torturado que se convenceu estar a assistir a uma recriação do inferno, deixou-se convencer por três ou sete mergulhos e prejudicou os portugueses.
Estes, obviamente, sentiram-se insultados porque os mergulhos dos holandeses eram de um amadorismo ridículo, faltando-se a verosimilhança do verdadeiroprofissional de futebol, obrigatoriamente latino, que sabe o que é o teatro e fazê-lo como deve ser. E, de facto, aquilo não podia ficar assim.
Quando os holandeses, estimulados pela reacção aflita do pobre árbitro, decidiram reforçar o programa de fitas com um pequeno festival de porrada, o capitão Figo viu-se obrigado a decretar oficialmente o estilo CTT.
A partir dali, embora a equipa portuguesa sofresse peripécia atrás de peripécia, o resultado final nunca esteve em causa. Porque atrás dos CTT havia uma equipa que sabe jogar futebol (o facto de nem sempre o fazer é irrelevante).
Em contrapartida, os CTT dos holandeses eram a única coisa que sabiam fazer – e mal.
Esta vitória foi por isso dupla ou triplamente merecida e é neste contexto fandangueiro que se devem entender gestos aparentemente espúrios como a mão de Costinha ou a cabeçada do magnífico Figo.
A violência e a batota daHolanda foram chocantes e inesperadas.
Transformaram o jogo numa ópera bufa.
Os portugueses simplesmente aceitaram as alterações e mostraram que não só jogavam melhor futebol como tinham mais jeitinho para essas altas cavalarias cómico-histriónicas.
Há vitórias que sabem melhor do que outras. Esta soube muito bem, muito obrigados. Um bocadinho a pato e tudo! A coisa promete. E pode ser que depois de vencermos os ingleses venham os desafios realmente emocionantes!"

3 comentários:

Anónimo disse...

Artigo brilhante, este, do MEC, a fazer lembrar os velhos tempos dos seus artigos no Expresso, "A causa das Coisas", dos idos anos 80 (80, 81), quando muitos dos caros condóminos e o próprio Snr. Administrador ainda andariam a gatinhar num qualquer jardim de infância, a olhar por baixo das saias das respectivas educadoras.

Vermelho disse...

amigo Carlos:
Tens toda a razão.
Abraço

Mestrecavungi disse...

Estilo CTT.Brilhante.MEc no seu melhor.