Nos países do Sul da Europa e na América Latina, as modalidades ditas amadoras encontram albergue no seio dos clubes tradicionais.
É secular a tradição ecléctica dos clubes.
A fundação das agremiações desportivas tinha por escopo principal a prática desportiva indiscriminada das várias modalidades.
Não se formaram clubes de futebol, basquetebol, voleibol ou andebol, mas tão só clubes desportivos destinados ao incentivo e à disseminação social da prática desportiva.
Estavamos longe, muito longe do profissionalismo.
Os fundadores assumiam, simultaneamente, o papel de dirigentes, praticantes e sócios.
A hodierna realidade dos clubes é profundamente distinta.
Os clubes especializaram-se, assumindo como natureza primacial a sua condição de clubes de futebol.
Criaram-se as Sad´s como forma de "legalizar" essa autonomia.
Os aspectos económico-financeiros sobrelevam-se aos demais.
Nesta nova lógica de funcionamento dos clubes desportivos fará sentido a existência de modalidades ditas amadoras?
Penso que sim, embora funcionando sob um modelo diferenciado do actual.
Com o advento das Sad´s os clubes portugueses deixaram de ter existência futebolística (para lá das camadas jovens).
SLBenfica, FCPorto e Sporting não competem mais no campeonato nacional de futebol, substituídos que foram pelas respectivas Sad´s.
As Sad´s assumem natureza jurídica distinta dos clubes que as constituíram e que se assumem, apenas, como seus accionistas de referência.
Assim, as modalidades constituem a principal razão de ser da subsistência dos clubes.
Acaso se excluissem as modalidades ditas amadoras do seio dos clubes portugueses, estes desapareceriam das competições profissionais.
Os clubes tais quais os conhecemos perderiam a sua natureza associativa ou, pelo menos, vê-la-iam substancialmente diminuída.
As Sad´s são dos accionistas.
Os sócios dos clubes apenas participam da sua gestão indirectamente, através da natureza societária do seu accionista de referência.
A consideração da extinção das modalidades nos clubes protugueses emerge, única e exclusivamente, do pesado encargo financeiro que constituem.
Ora, se assim é, a sua sobrevivência passa pela alteração do modelo de gestão.
Haverá que desonerar os clubes dos custos financeiros, sem que se percam as mais valias ao nível da identificação e da massificação social da imagem dos clubes que as modalidades, indiscutivelmente, aportam.
Assim, o futuro das modalidades assenta num sistema de "franchising" ou "naming".
Os clubes limitar-se-ão a "emprestar" o seu nome e instalações, associando-se a patrocinadores que suportaram financeiramente a actividade das modalidades.
As vantagens de tal sistema são óbvias - os clubes cumprem o seu papel fundador e social, continuando a usufruir do estatuto de utilidade pública desportiva e desoneram-se dos encargos financeiros.
Este modelo, aliás, não é novo na Europa.
Mostra-se implantado em Itália vai para vinte anos, com resultados assinaláveis.
Os clubes que competem em Itália nas modalidades ditas amadoras, ano sim ano não, mudam de designação, fruto das parcerias que os clubes vão encontrando.
Em Portugal, ensaiou-se essa solução, nos meados dos anos 90, no Basket.
Surgiram os primeiros clubes cuja denominação se iniciava pela marca patrocinadora.
Esta prática mantém-se, mas mostra-se vazia de conteúdo.
Não significou qualquer alteração do paradigma de gestão, os clubes continuaram a suportar o grosso dos encargos financeiros, surgindo a "sponsorização" como mera adjuvante.
Tudo nos moldes tradicionais - Orçamento elaborado, procura-se patrocinador para ajudar a suportar as despesas.
Copiam-se soluções, mas só na sua aparência.
A essência permanece intocada.
Em Portugal, nos clubes grandes, apenas o Benfica ensaia trilhar esta solução.
A secção de Futsal do Benfica funciona nos termos supra descritos.
É um primeiro passo, embora pequeno.
4 comentários:
O tema escolhido foi sugerido por um dos participantes neste blogue.
A antevisão do FCPorto/Sporting será feita amanhã, tal como sucede sempre que os jogos se realizam à quarta-feira.
Os restantes temas sugeridos já se mostram abordados no post que sucede a este.
Abraço.
Li com atenção o seu post. Não tenho a sua lucidez para diferenciar as modalidades amadoras-clube do futebol-Sad's.
Para mim como adepto conta o Sporting. Compreendo e concordo com o modelo de gestão que indica. Aliás refere-se ao futsal do benfica nesses moldes, mas, por exemplo, o hóquei sénior do Sporting existia nesses moldes. O Sporting apenas dava o nome, sendo toda a gestão entregue a empresas ou indíviduos que se responsabilizavam por tudo.
Sou adepto das modalidades amadoras, assisto ao vivo a várias, incuto esse espirito nos meus filhos e sou totalmente contra a sua extinção. Modelos de financiamento, ginástica financeira para as mesmas se tornarem autónomas do clube em si, é perfeitamente possível. Dou o exemplo do ténis de mesa do Sporting: este ano abriu-se a sua participação aos pais e filhos, com aulas 2x por semana; o equilibrio financeiro aconteceu, pois as aulas contam com 70 participantes, o que dá para subsidiar a equipa semi-profissional. As modalidades são a essência dos clubes, sendo o futebol profissional o grande aglutinador dos adeptos. Veja-se o caso do ciclismo do benfica há poucos anos atrás: era uma romaria de adeptos atrás dos ciclistas, a adquirirem material do benfica. Essa é outra vantagem das amadoras- chegam ao adepto que por este ou por aquele motivo não tem nunca hipótese de ter um contacto mais directo com o seu clube.
Senhor Holtreman:
Engana-se quando diz que eu não vou ao andebol. Fale apenas do que sabe.
Senhor Jorge Mínimo: Concordo com Zex quando levanta a questão " se os conhece...".
O futsal é a modalidade e futuro. Uma modalidade que apresenta 20.000 euros de prejuízo anual não pode acabar. A seguir ao futebol é a modalidade com mais horas de transmissão televisiva actualmente.
Senhor Zex: Claro que falo com o coração, mas dá-me prazer e gozo saber que , por exemplo, o Sporting foi há 4 anos atrás campeão europeu de clubes em atletismo. Dá-me gozo falar de nomes como Carlos Lopes, Joaquim Agostinho, Livramento, etc. O Sporting sempre foi um clube de referências nas modalidades ditas amadoras. Nomes como Moniz Pereira-atletismo, Reis Pinto-ginástica, Ferraz-boxe e actualmente Carlos Cruchinho-natação são referências para qualquer desportista. Há uns anos atrás falava-se em ginástica e o nome Reis Pinto era comum, quantos de vós não fizeram ginástica ministrada por ele? Por isso o ecletismo do Sporting é fundamental. Digo-lhe ainda que a natação do Sporting tem 3.600 praticantes, porventura a maioria dos quais são sócios do clube.
As modalidades amadoras, apenas devem existir no SL Benfica se forem autosuficientes.Caso contrário devem ser extintas.Representam apenas despesa.E depois contece como noutros clubes em que se não forem alguns "Lampiões" as modalidades pura e simplesmente não exsistem.Alguém conhece a equipe de ciclismo do Arsenal?
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