sexta-feira, junho 02, 2006

Entrevista de Soares Franco - Mais promessas...

A Direcção do Sporting resolveu levar à assembleia geral (AG) uma proposta para delegar no Conselho Leonino a deliberação sobre venda de património não desportivo. Esta decisão resulta do quê?
FILIPE SOARES FRANCO Perdemos um pouco da oportunidade de venda do património no seu conjunto, com o chumbo da última AG e, depois, com a realização de eleições.
Tudo isto atrasou o processo em qualquer coisa como três meses.
Além disso, vamos entrar num período de férias, durante o qual, provavelmente, será mais difícil negociar o pacote por inteiro.
O que pode acontecer é, em vez de se vender tudo de uma vez, termos de alienar fracção a fracção. No fundo, o que se passa é que poderemos ter de retalhar o "bolo", sendo necessário haver alguém que sancione as condições em se efectuará a respectiva venda.
O que se pede aos sócios é uma autorização para vender – apresentando-lhes o valor global que se perspectiva encaixar com esses negócios (nunca menos de 50 milhões de euros). Além disso, como não é prático fazer uma AG todos os meses para analisar os termos de venda de uma fracção, pretendemos que os sócios concedam poder ao Conselho Leonino para este ajuizar sobre as condições indispensáveis para cada negócio.
P Portanto, a decisão tomada não decorre de qualquer receio de ver a proposta de alienação novamente chumbada em AG, é isso?
R Não, não, antes pelo contrário: esta é uma maneira de os sócios se pronunciarem praticamente duas vezes. Ao autorizarem a venda, delegarão no Conselho Leonino poder para este órgão avaliar as características da oferta para cada negócio e decidir sobre a alienação das fracções. Os próprios estatutos do Sporting contêm uma alínea que prevê que a AG pode delegar estes poderes no Conselho Leonino. Estamos a fazer tudo para que haja maior fiscalização sobre uma decisão do Conselho Directivo. A decisão de vender passa, claramente, pelos sócios – e mais do que uma vez, porque depois ainda será filtrada pelo Conselho Leonino, onde dois terços dos conselheiros terão de estar de acordo com as condições de venda.
P Com a venda de património, o clube poderá, enfim, renegociar o montante de mais-valias (5,5 milhões de euros) que a SAD tem sido obrigada a realizar nos defesos?
R O encaixe do dinheiro da alienação permite uma redução substancial dos encargos financeiros e isso, dentro de seis meses a um ano, terá repercussão no valor do financiamento bancário, fundamentalmente naquilo que custa o project finance, ao qual está associado o estádio. E como é que se paga esta infra-estrutura? Através de uma renda que a SAD paga à empresa veículo – que nesta altura se chama Sporting, Património e Marketing (SPM) –, para ela poder liquidar os empréstimos. Diminuindo os encargos financeiros, também a renda a pagar pela SAD será menor. Assim, não será necessário fazer tanto dinheiro em mais-valias de jogadores para equilibrar a exploração anual da empresa. Logo aí, haverá um impacto positivo. Para aumentar a consistência das receitas anuais, o Sporting tem de ter uma equipa competitiva no futebol profissional.
P Neste defeso, a SAD ainda sentirá o peso de tal constrangimento económico? Ou já não será forçada a fazer 5,5 milhões de euros através da venda de jogadores?...
R Espero que seja substancialmente reduzido. Talvez o valor dessa obrigação se possa cifrar em menos de metade.
P Significa que terá de realizar dois milhões de euros e, depois, tudo o que conseguir acima disso, poderá canalizar para investimento em reforços?...
R A política do Sporting não passa por fortalecer o seu plantel através da aquisição de passes muito onerosos. Hoje em dia, há outras formas de se conseguir boas operações no mercado com outro tipo de jogadores, que também dão boas garantias. Mas, em primeiro lugar, preocupamo-nos em reforçar a equipa com a manutenção dos nossos talentos. Quanto mais tempo cá estiverem, melhor será o entrosamento, o espírito de equipa e o entendimento com o treinador – e, com tudo isto, melhores serão os automatismos.
P Sendo o futebol a grande mola do seu projecto, já está definido o orçamento para a nova temporada? Na ordem dos 17 milhões de euros ou um pouco mais?... R Mais coisa menos coisa. É um dossier que ainda não está fechado. De qualquer maneira, o orçamento da SAD obedece a duas grandes linhas de força: a antevisão possível das receitas nas competições europeias – neste caso na Liga dos Campeões – e o projecto de que temos de vender todos os anos as gameboxes, assegurando, no início da época, as receitas de bilheteira.
P O que é que poderá ser a equipa do Sporting na próxima época?
R A melhor equipa portuguesa!
P Isso quer dizer o quê?
R Quer dizer que vai ser a melhor equipa portuguesa!
Paulo Bento tem reafirmado o desejo de continuar a contar com João Moutinho e Nani no plantel...
R Essa parte está garantida. Não vendo nem o Moutinho nem o Nani!
P Tem propostas para eles?
R Não tenho, nem quero ter! Quando não se quer vender, não se está disposto a ouvir qualquer proposta.
P Quanto é que o Sporting pode investir no reforço da equipa?
R Só posso responder a isso quando o orçamento estiver fechado. Talvez dentro de dez dias, antes de meados do mês...
P O treinador quer um defesa-central, dois médios e um ponta-de-lança...
R É natural que já haja alguns jogadores referenciados.
P Schmeichel e Jardel foram jogadores que ajudaram a vender muitas camisolas. A política comercial do Sporting, no futebol, pode incidir na aquisição de jogadores com nome?
R Isso está completamente fora de causa. Não compramos jogadores só para vender camisolas. Não sei quantas é que o Real Madrid vende por ano, mas, pelo que temos visto, a qualidade do balneário, do ambiente de trabalho, da pontualidade e do seu futebol tem deixado muito a desejar.
P Que se passa com a renovação de Polga? Nunca mais tem fim...
R Estamos numa fase de limar pormenores. Existem todas as condições para se fechar contrato com o Polga, desde que ambas as partes saibam ceder uma pequena quota-parte na recta final das negociações.
P Há alguma data estimada para a conclusão do negócio?
R É um processo que quero encerrar o mais depressa possível. Até podia ser ontem, não havia problema. Até porque estes dossiers não acabam bem quando ficam muito tempo em aberto. A SAD e o empresário do jogador, o sr. Gilmar Veloz, têm estado em contacto e devem encontrar-se brevemente.
P Crê que pode acontecer com Figo o que se passou com Rui Costa, que acaba de regressar ao clube que o projectou?
R Não faço ideia.
P Gostava que acontecesse?
R Só gostava se existissem três condições: que Paulo Bento achasse que era útil para o seu projecto; que o Figo se sentisse altamente motivado para vir "dar o litro" no Sporting; e que houvesse total receptividade da parte dele para ter um tratamento idêntico ao que é dispensado aos outros colegas. Temos tido o cuidado de criar um bom espírito de grupo, onde todos têm os mesmos direitos e obrigações.

3 comentários:

VermelhoNunca disse...

Não sei o que leva o administrador a fazer o cínico comentário de "mais promessas". Será que está habituado à linguagem dos pneus, agressiva e ditatorial?

Vermelho disse...

amigo vermelho nunca:
Como já aqui escrevi, a linguagem utilizada no mundo do futebol é universal.
Os lugares comuns, as promessas mais ou menos veladas de títulos e conquistas fantásticas, a aquisição dos craques mais emergentes do futebol mundial e a manutenção das estrelas mais reluzentes, fazem parte do discurso de todos os dirigentes do nosso futebol.
O que os diferencia são apenas aspectos relacionados com a forma.
A substância do discurso é igual.
Uns são mais eufemistas, outros são mais hiperbólicos, mas no fundo o discurso é o mesmo.
Por isso, quando vejo estas entrevistas não deixo de pensar que são apenas mais promessas, mais um conjunto de intenções.
Face ao estado catastrófico das finanças dos clubes portugueses, ninguém pode garantir o que quer que seja em relação à manutenção dos principais jogadores.
Basta aparecer a proposta, para que o jogador seja transaccionado.
O comentário não encerra qualquer ironia, mas simplesmente a constatação de uma realidade.
Abraço.

VermelhoNunca disse...

Talvez tenha interpretado mal as suas palavras, mas vi um sentido irónico nelas. De qualquer modo agradeço o seu esclarecimento.