quinta-feira, junho 01, 2006

Euro Sub-21, A Visão de Custódio

Custódio já analisou a eliminação de Portugal no Euro sub-21 e só espera que todos consigam aprender com a má experiência.
Em entrevista ao Maisfutebol o médio analisa o que se passou.
Maisfutebol: Este foi o segundo Europeu sub-21 onde esteve presente e em ambos teve de fazer contas, mas neste não passou às meias-finais...
Custódio: Sim, sem dúvida. Ainda ontem comentava com uns colegas que nós neste Europeu tínhamos tudo para triunfar. Até o próprio grupo era fenomenal. Nunca vi um grupo a dar-se tão bem. O pessoal comunicava, ria, brincava... Tínhamos todos um bom relacionamento. Eu estive no outro Europeu (2004) em que ficámos em terceiro lugar e o grupo era um pouco mais problemático do que este. Até por aí não se compreende o nosso insucesso.
Sente que este lote de jogadores que esteve na selecção sub-21 sai derrotado deste Europeu?
Sem dúvida. Saímos com uma enorme tristeza e decepção. Todos temos que assumir essas responsabilidades. Temos de agradecer a todo o público que nos apoiou de uma forma exemplar e não mereciam isto. Mas, a vida continua e temos que continuar a trabalhar para trazer êxitos para Portugal no futuro.
Esta eliminação pode ajudar alguns dos jogadores a crescer?
É uma grande lição. Quem conseguir compreender o que pode haver de positivo no que houve de negativo consegue uma grande lição para o futuro. Espero que a maioria consiga entender isso e que guarde esta lição para sempre.
O que é que mais guarda na memória da noite da desilusão?
Guardo a tristeza do grupo. Penso que foi isso que marcou o final do jogo com a Alemanha, ainda para mais sendo aplaudidos por toda a gente. Quando vi os adeptos a apoiarem-nos e a baterem-nos palmas no final do jogo senti que não merecíamos aquelas palmas ou aquela ovação, pois durante o Europeu não fizemos nada para merecer. Mas, mais uma vez os portugueses demonstraram o amor que têm pelo futebol, demonstraram fair-play e isso é bonito.
O que é que se passou neste Europeu sub-21 ? Houve a suspeita, antes do arranque da competição, que o Custódio poderia não estar lesionado como se pensava, antes do primeiro jogo. Estava ou não lesionado?
Eu penso que no primeiro jogo não iria jogar, mas não me passaria pela cabeça inventar uma lesão. Isso é ridículo. A verdade é que os médicos da selecção sabem que eu nem conseguia andar, pois levei uma pancada na canela, tinha uma inflamação. Consegui recuperar para o segundo jogo, onde fiquei de fora, não por lesão mas por opção.
Mas houve dois dias em que não treinou e depois, nas vésperas do jogo com a França, treinou com muitas limitações. O seleccionador quis colocá-lo no decorrer desse jogo, mas disse-lhe que não estava em condições.
O mister mandou-me aquecer e eu confrontei-o.
Eu penso que na selecção há uma coisa que para mim é impensável haver num clube.
Penso que não há o melhor elo de ligação entre o staff médico e os treinadores. Pareceu-me isso. Às vezes parece que têm medo de falar das coisas, enquanto nos clubes é tudo claro como a água. Penso que foi isso que me aconteceu. Quando o mister me disse para aquecer disse-lhe como me sentia, mas também lhe disse que se fosse mesmo preciso entraria e suportaria as dores.
Por que é que acha que não há esse elo de ligação?
Não sei. Parece que as pessoas têm medo do diálogo e do que os outros pensam.
Na minha opinião, para tudo funcionar as pessoas têm que ser mais abertas ao diálogo, têm que ser mais esclarecidas nas explicações das coisas e é uma enorme mentira pensarem que inventei qualquer lesão e que estive em risco de ser dispensado. Isso nunca aconteceu.
Os médicos sabiam o que você tinha. Agostinho Oliveira é que poderia não saber? Para haver essa dúvida toda só se foi isso. Os médicos sabiam.
No terceiro jogo, frente à Alemanha, sentiu-se bem?
Sim.
Como é que viu os outros dois jogos do banco de suplentes?
Penso que, pelo talento, nós somos uma equipa que sabe atacar. Mas como equipa não tivemos equilíbrio defensivo nos dois primeiros jogos como existiu no terceiro.
Não quer dizer que tenhamos melhorado do 8 para o 80, mas fomos muito melhores no terceiro jogo, a nível de equipa e em termos defensivos, do que nos anteriores. Contra a França fomos mais dominados, mas com a Sérvia e Montenegro tivemos bastantes oportunidades para marcar mas não conseguimos. Vi depois o vídeo desse jogo e fiquei com a sensação que dominámos, mas não o controlámos em certos momentos e isso foi-nos fatal.
O que lhe passou pela cabeça quando viu o segundo golo da Sérvia e Montenegro? Pensei: Lá estamos nós a fazer contas e a precisar de um milagre para passar. Foi isso que pensei [Risos].
Pensa que se tivesse jogado nos outros dois jogos a campanha de Portugal poderia ter sido outra?
Não. Nunca ponho as coisas dessa forma. Penso que quem entrou nesses jogos tinha qualidade suficiente para resolver as coisas a nosso favor. São opções do treinador e respeito sempre as opções. Penso que perdemos o lugar nas meias-finais frente à Sérvia. Depois do jogo com a França tínhamos dois jogos para vencer e passar. Depois do jogo com a Sérvia e Montenegro só um milagre nos poderia fazer passar. Não dependíamos só de nós.
Durante a recta final da época falou-se muito dos jogadores que poderiam ou não ir ao Mundial. Alguma vez se englobou nesse lote de possíveis convocados?
Não. Tínhamos o Europeu de sub-21 e apenas por uma vez tinha sido chamado à selecção A. Não fazia lógica pois tínhamos o Costinha e o Petit que são grandes jogadores e jogam como trincos, por isso nunca me passou pela cabeça. Ainda para mais tínhamos o Europeu sub-21 e eu estava concentradíssimo nessa competição. Na minha forma de ver as coisas, era ser realista e não valia a pena inventar.
Pensou que Tonel ou Moutinho pudessem ser chamados para o Mundial?
Sem dúvida que como adepto, pois não alimento polémicas, sempre pensei que o Moutinho iria ao Mundial, pela grande época que fez.
Não foi por decisão do mister e temos que respeitar isso, pois ele tem feito um excelente trabalho na selecção e não pode ser criticado por isso.
Em relação ao Tonel, penso que também fez uma grande época, toda a gente diz que também merecia ter ido mas foi mais uma decisão no seleccionador. Ele é que manda e é que sabe o que é melhor para o grupo. Decidiu o que decidiu e temos que apoiar a selecção e desejar que façam uma grande campanha na Alemanha.

1 comentário:

VermelhoNunca disse...

Este ainda continua no Sporting, ou seja, a sua formação como homem está a decorrer dentro da normalidade, daí ter um discurso ponderado, moderado, mas critico. Comparar as palavras de Custódio com o cigano trivela...