Aqui fica um post de um artigo do JN sobre a realidade da Académica:
"Briosa, Académica e a publicidade enganosa.
Maio é o mês do coração e por isso o mês ideal para falar da Académica.
Falar do que ela é hoje, ou parece ser, e não da Académica da Academia, daquela equipa de futebol inteligente, irreverente, com personalidade, estilo próprio de jogo e que vestida de negro fazia um futebol sem tropeções, sedoso, estético e vivo de cor.
Também não merece a pena falar da Académica comprometida com valores e utopias, que garantia haver futuro e que, para além do futebol, defendia e praticava a formação humana, cívica e académica.
Hoje esta Académica não existe.
O romantismo no futebol acabou restando a saudade, a memória e o mito que a transformou na Briosa.
A ambição de compatibilizar futuro, presente e passado e sobretudo a angústia de ver perder a sua mística já levaram à realização de congressos e a intensos e criativos debates, contudo não se conhece um desenho e uma vontade consequente que responda aos seus problemas e lhe dê futuro salvando o essencial do seu passado.
Na verdade, nos últimos anos, temos assistido a uma degradação galopante das suas especificidades e singularidades e mais dia, menos dia, a continuar assim, assistiremos ao enterro da sua alma.
Desportivamente, vimo-la desfigurada, sem fio de jogo, igual a qualquer outra equipa do fundo da tabela. Aliás, nos últimos anos vimo-la transformada numa placa giratória de jogadores, especialmente brasileiros, a modos que trazidos em voos low cost.
Não consta que sejam estudantes, nem que tenham vindo pelo Programa Erasmus.
Vieram como profissionais, para mostrar o seu futebol, como dizem, e passaram a ser classificados como "activos".
Claro que depois vimos uma equipa entrar em campo com oito ou nove destes jogadores, formados numa escola totalmente diferente, aos quais nem há tempo para explicar o que foi a Académica e que jogam e se comportam aqui como o fariam em qualquer outra equipa.
É verdade que esta é a realidade do nosso futebol e não apenas da Académica, mas o que tornou a Académica especial foi ter sabido ser diferente e não assumir o futebol como fim em sim mesmo, como as outras equipas, mas protagonizar uma atitude interventiva na vida cultural, cívica e até política da cidade e do País e com este modelo isso não é possível.
Hoje a Académica está desligada da Academia, perdendo por isso, a cada dia que passa, parte da sua futura base nacional de apoio e mostra-se incapaz de encontrar uma solução desportiva e de gestão adequada à preservação da sua história e do seu passado.
Protagonizando um processo de contentamento geral através do método de inclusão politico-partidária, onde estão todos de todos os lados, como se a concertação partidária fosse uma necessidade académica à sua subsistência, acomodou-se ao poder económico e passou a integrar os círculos de negócio daquilo que é chamado como a indústria do futebol, normalizando-se e transformando-se num clube e numa equipa do sistema.
Neste momento a ideia é de que a Académica não passa de uma marca comercial que o marketing utiliza para vender uns jogos e valorizar uns jogadores que alguém, depois, se entretém a comercializar.Acabado o campeonato e na preparação para um próximo ano de sofrimento, seria bom, porque ainda há espírito académico, veteranos, alguns jogadores referência que transportam o ADN da Académica e adeptos entusiastas, poder ver surgir um projecto global para a Académica, em que se inclui o projecto desportivo, e ter a convicção de que chamar Briosa à Académica não é publicidade enganosa."
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