Da convocatória de Scolari, como muito bem ontem enfatizou o condómino Carlos, constam 8 jogadores formados no Sporting, a saber Miguel (a parte inicial da formação, tendo sido posteriormente dispensado), Nuno Valente, Caneira, Hugo Viana, Luís Boa Morte, Simão, Luís Figo e Cristiano Ronaldo.
Daqui resulta a constatação de um trabalho inegávelmente meritório ao nível da formação encetado há mais de duas décadas pelo clube leonino.
Se analisarmos a proveniência formativa dos restantes jogadores, deflui que 4 jogadores iniciaram a sua carreira no FCPorto, 2 no Boavista e Braga, 1 no Benfica, 1 no Guimarães, 1 no Setúbal, 1 do Montijo e 3 cujo percurso nas camadas jovens se espraiou por vários clubes.
A convocatória de Scolari reflecte a qualidade do trabalho de formação que os clubes grandes têm desenvolvido nas últimas décadas em Portugal.
O Sporting surge, naturalmente, à cabeça, acolitado pelo Porto e seguido a longa distância pelo Benfica.
Uma rede integrada de "olheiros" "caça-talentos" com dimensão nacional e um quadro de técnicos de reconhecida capacidade conjugados com meios materiais e logísticos capazes, fazem dos sectores de formação leonino e portista casos ímpares no panorama do futebol nacional.
A diferença entre ambos tem residido, apenas, no maior ou menor número de jovens talentos descobertos.
E se nos detivermos no número de títulos conquistados, então a equivalência emerge reforçada.
A formação do SLBenfica sofreu um duro golpe durante o consulado de Vale e Azevedo, que, pura e simplesmente, destruiu a rede de olheiros que existia, extinguiu as equipas B de cada um dos escalões e destituiu de condições logísticas as camadas jovens.
Destarte, o Benfica cavou um fosso enorme para os seus rivais, o qual se evidencia, agora, na lista de convocados de Scolari.
Avisadamente, Filipe Vieira procurou inverter esta tendência e recuperar o tempo perdido ao imprimir uma nova dinâmica na formação, a qual será, certamente, potenciada com a entrada em funcionamento do Centro de Estágio e Formação do Seixal.
Todavia, se este é o retrato da formação em Portugal, constatamos que à qualidade no processo formativo não corresponde o seu aproveitamento e capitalização nas equipas seniores.
Na verdade, principalmente o Sporting não tem vindo a rentabilizar o excelente trabalho realizado ao nível das camadas jovens.
E isto de um ponto de vista desportivo, mas também financeiro.
Com excepção de Hugo Viana, os restantes jogadores convocados por Scolari cujo processo de formação ocorreu no Sporting nunca foram campeões nacionais seniores pelo clube.
Tais jogadores não alinharam mais do que duas a três épocas na principal equipa leonina.
Saíram do clube quando o seu processo formativo ainda se encontrava em fase de maturação e, como tal, o aproveitamento desportivo das suas capacidades surgiu diminuido.
O Sporting, fruto do crónico deficit orçamental em que vivem os clubes portugueses e graças a algumas asnáticas opções de gestão, cedo, muito cedo procurou transaccionar os jovens talentos emergentes, cerceando-lhes a possibilidade de concluírem o seu processo formativo no clube e, assim, retirando ao clube a capacidade de os rentabilizar desportivamente.
Por outro lado, também de um ponto de vista financeiro, a formação leonina tem sido mal potenciada.
Como tem, sistematicamente, alienado logo à nascença os activos provenientes da formação, a sua valorização mercantil resulta enfraquecida.
Um jogador que tenha concluído o seu processo de formação e que tenha participado numa grande competição internacional seja ela ao nível dos clubes, seja ao nível de selecções, apresenta um valor de mercado incomensuravelmente superior a um outro que ainda esteja a dar os primeiros passos na alta roda do futebol profissional.
Imagine-se o valor da transferência de Ronaldo caso o Sporting o tivesse mantido nas suas fileiras até ao Euro 2004 - 50 milhões? mais?
Vender cedo implica custos desportivos e financeiros que deveriam ser ponderados.
Voltarei a este tema da formação numa próxima oportunidade, por forma a abordar outros aspectos, mormente relacionados com os quadros competitivos e a precoce profissionalização dos praticantes de futebol em Portugal.
4 comentários:
Condómino ZEX:
Esses jogadores do Porto de que fala foram vendidos, se não erro, todos eles (exceptuando o Derlei), por 20 milhões de euros, ou seja, 4 milhões de contos.
Sendo que nenhum deles foi formado no FCP (não representando, pois, custos de formação), tendo sido contratados a custo zero ou pouco mais que isso.
E jogaram quase todos eles 3 ou mais anos na equipa principal do FCP.
Ora, comparando estes dados com o que tem sucedido no SCP e com os valores pelos quais o SCP vendeu aqueles seus jogadores - lembre-se o caso do Figo e do disparate que foi a sua saída do SCP para o Barcelona por 300 mil contos!) -facilmente chagamos à conclusão que o SCP tem aproveitado muito mal os seus valores, quer desportiva quer financeiramente.
Estou de acordo com a leitura feita pelo Zenhor Ex. E concordo plenamente com a questão de que vender jogadores campeões europeus não é comparável com vender jovens jogadores. Não podemos misturar as coisas. O Sporting nem nenhum clube português tem estrutura para aguentar muito tempo nas suas fileiras algum jogador que seja desejado por um clube europeu de nomeada, ou por algum clube dominado por um qualquer mafioso russo.
Snr. Zex:
Concordo consigo, mas ainda assim creio que os jogadores do SCP que citei, a serem produtos das escolas do FCP ou a jogarem neste clube, renderiam muito mais dinheiro e seriam muito melhor aproveitados do que o foram no SCP.
O Figo nem sequer chegou a ser vendido.
Assinou pelo Barcelona sem autorização do SCP - depois de uma recambolesca cena em que teria assinado previamente pela Juventus - tendo depois o Barcelona acabado por pagar uma indemnização ridícula ao SCP, muito inferior, já à data, ao real valor do jogador.
O Caneira saiu sem qualquer contrapartida, fruto de uma guerra de empresários, ao que penso.
O Simão, o Ronaldo e o Quaresma foram vendidos cedo demais.
E com o Futre aconteceu o que todos sabemos.
O SCP tem vendido apressadamente os seus jovens talentos, que são muitos e muito bons, sem deles retirar o devido aproveitamento desportivo e sem auferir os encaixes económicos correspondentes ao real valor dos jogadores.
Ou, então, por razões várias (Futre, Figo e Caneira) tem deixado fugir jogadores de grande nível por má gestão.
amigos:
Pergunto eu inocentemente:
Se os principais clubes portugueses diminuissem os seus plantéis, o decrescimo de custos daí resultante não chegaria para aumentar os vencimentos das jovens estrelas, por forma a cativá-los a permanecerem mais dois ou três anos nos clubes formadores?
E quando digo plantéis falo em termos latos - os que integram o grupo da equipa principal e a corja de emprestados.
Os grandes clubes tão apertados que estão, quando lhes aparece uma potencial fonte de receitas (e é assim que os presidentes vêm as estrelas emergentes)nem pensam duas vezes - é preciso vender e depressa.
Os próprios jogadores se vissem a sua condição salarial melhorada, estou certo que ficavam de bom grado mais dois ou três anos nos clubes.
Eles próprios conhecem dezenas de experiências mal sucedidas fruto de saídas precoces.
Muitos receiam que a sua juventude os leve a falhar no estrangeiro.
Haja vontade dos dirigentes que os jogadores ficam.
Aliás, a grande maioria deles quando saiem têm ainda vários anos de contrato com os clubes.
A voracidade dos dirigentes, muitos deles ávidos de comissões, é que os empurra para a saída.
Abraço.
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