segunda-feira, maio 22, 2006

Treinador do SLB - Realmente uma surpresa, mas desagradável

No passado Sábado foi apresentado o novo treinador do SLB - Fernando Santos.
Para mim uma surpresa.
Uma desagradável surpresa.
Escrevi que o novel treinador benfiquista, provavelmente, não sairia do lote dos putativos eleitos pelos media.
Enganei-me.
Não me satisfaz a escolha.
A escolha não pode ter assentado em razões de competência técnica, científica ou académica.
Nem sequer no seu currículum desportivo.
Fernando Santos é um símbolo de uma geração de treinadores portugueses, pré-Mourinho, cuja base de conhecimentos é tributária da sua experiência enquanto praticantes.
Mas, mesmo aí, Fernando Santos perde para os demais treinadores da sua geração.
Não foi um futebolista de eleição, longe disso.
Engenheiro de formação, enveredou pela carreira de treinador, a full-time, apenas nos finais da década de 80, princípios da década de 90.
Conheceu relativo sucesso no Estoril e no Estrela, sendo que o seu percurso neste clube o catapultou para o FCPorto.
Aí, foi campeão, conquistando o 5º título consecutivo do clube nortenho, o que lhe valeu o epíteto de "Engenheiro do Penta".
Duas Taças de Portugal e duas Supertaças depois, saiu para a aventura grega.
Na Grécia, num clube de mediana dimensão, o seu trabalho foi merecedor dos mais rasgados encómios, ao ponto de ter sido contratado pelo todo poderoso Panathinaikos.
Quatro jornadas apenas bastaram para o despedimento.
Ano quase sabático e eis que se torna treinador principal do Sporting.
Êxitos zero, terceiro lugar no campeonato e despedimento.
Regresso à Grécia e ao AEK.
Num clube em reconstrução, no qual a fasquia das expectativas era nula, trabalho meritório com o alcançar de um lugar na Champions.
Se citei o percurso profissional de Fernando Santos foi, por um lado, para demonstrar a sua mediania ao nível das conquistas e, por outro, para enfatizar que os seus maiores sucessos aconteceram quando ao serviço de clubes de pequena e média dimensão.
E esta circunstância permite perceber o que é Fernando Santos enquanto treinador.
Fernando Santos, tal como a generalidade dos treinadores da sua geração, procura jogar em função do adversário, explanando tacticamente a sua equipa por forma a neutralizar as mais valias do oponente.
É temeroso, conservador e pouco ambicioso.
Ou seja, pensa e age como treinador de equipas de menor dimensão.
Não é de estranhar se olharmos ao seu percurso profissional enquanto jogador e treinador.
Fernando Santos é "filho" de uma determinada forma de pensar o jogo própria dos treinadores portugueses da sua geração e do seu percurso profissional.
O sucesso ou relativo sucesso (pois que sempre em função da dimensão dos emblemas que orientou) que conheceu ao serviço do Estoril, Estrela e AEK decorre, exactamente, do modo como encara o jogo.
Nessas equipas, a sua forma de ver o jogo, assente na expectativa, nas transições rápidas, na marcação cerrada, casa bem.
Em equipas de outra dimensão, é complicado.
Fernando Santos não tem cultura de vitória, não tem cultura do risco, não sabe armar tacticamente as equipas que orienta para assumirem o comando do jogo.
Não tem e não sabe, mas dificilmente poderia ter.
E aqui voltamos ao seu percurso profissional.
Por outro lado, como supra disse, Fernando Santos não tem background académico.
Como já escrevi em outras ocasiões, um treinador deve comportar uma mescla de conhecimentos académicos e práticos.
Ao nível do treino e é aqui que as capacidades adquiridas em estudos superiores se revelam realmente importantes, Fernando Santos é pobre.
Reproduz os exactos mesmos métodos de há vinte anos.
É manifestamente curto.
Esta lacuna poderia ser suprida pela contratação de um treinador adjunto de base universitária.
Nem isso acontece - Chalana e Rosário são tudo menos isso.
Sou partidário de equipas técnicas multi-disciplinares, constituídas por profissionais de diferentes proveniências e com saberes distintos e complementares.
A equipa técnica do Benfica é mais do mesmo.
Ao nível das cúpulas, os três elementos são tributários do mesmo saber de experiência feito.
Quando supra me alonguei sobre o percurso profissional de Fernando Santos, aparentemente olvidei a referência ao título de campeão nacional conquistado ao serviço do FCPorto.
Foi propositado, pois que penso que foi um acaso fruto de circunstâncias excepcionais.
Mário Wilson disse um dia que quem treinasse o Benfica arriscava-se a ser campeão nacional.
Era, precisamente, isso que acontecia naqueles tempos no FCPorto.
Foi Fernando Santos como poderia ter sido o Zé dos Anzóis.
A única virtude de Fernando Santos ao serviço do FCPorto foi não ter inventado, não ter mexido na estrutura que acabara de conquistar 4 títulos consecutivos.
Depois começou a mexer e foi o que se viu (culminando com a eliminação da Taça face ao Torreense).
Aliás, os seus despedimentos de Sporting e Panathinaikos, dos quais saiu sem honra, nem glória, dizem bem do acaso que constitui o penta.
Mas, então por que raio foi escolhido Fernando Santos??
Primeiro, não foi escolhido!
Os constrangimentos orçamentais e a urgência na decisão "impuseram-no".
Mostrava-se necessário encontrar um sucessor e rapidamente, as diferentes alternativas foram-se esfumando na penumbra das dificuldades financeiras e Fernando Santos emergiu como a única alternativa.
Eriksson, Zaccheroni e Queirós são demasidado caros.
A fasquia de um treinador com currículum de campeão exigia Fernando Santos.
Não havia outro disponível a baixo custo.
Depois, sempre se podia esgrimir com o título conquistado no FCPorto e com o puro benfiquismo desde o berço de Fernando Santos.
Á míngua de argumentos de competência, sobram sempre os sentimentais.
Então, toca a puxar do benfiquismo do homem que as massas vão, pelo menos, dar-lhe o benefício da dúvida.
A emoção tende a toldar a razão.
Por fim, Fernando Santos apresenta uma vantagem inegável do ponto de vista de José Veiga - é um "yes man".
Com ele não existirão conflitos quanto às contratações, dando roda livre a Veiga para pôr e dispôr da composição do plantel, não reivindicará jogadores de gabarito internacional e não exigirá condições de treino e logísticas.
Aceitará o que lhe derem, tão agradecido que está de se terem lembrado dele.
Um treinador de tarimba internacional, por certo, que exigiria este ou aquele jogador, o centro de estágios e formação a funcionar e, acima de tudo, exigiria ser ouvido antes da tomada de decisões.
Veiga não conviveria com tal realidade. Por isso, Camacho ou Eriksson nunca poderiam ser treinadores do Benfica com Veiga ao serviço do clube.
Caso o Benfica consiga o apuramento para a fase de grupos da Champions e não conheça o sabor amargo da derrota nas primeiras jornadas do campeonato, os ânimos irão serenar e o capital de confiança de Fernando Santos subirá.
Caso suceda o contrário, então tudo se complicará e a porta de saída será inevitável.
É o que dá contratar treinadores fragilizados à partida.
Espero e desejo que me engane, mas lá que o panorama não é animador, não é.

5 comentários:

VermelhoNunca disse...

Para mim nada surpreendente. Fernando Santos traz-me à memória más recordações aquando da sua passagem pelo Sporting. Desejo que o mesmo aconteça no vosso clube. Sonhavam com os maiores do Mundo, contentam-se com um engenheiro, que tem como grande referência o penta do FCPorto, mas como disse o Zenhor Ex conseguiu, com Jardel na equipa, perder o campeonato para o Sporting.
Ninguém Pára o benfica!

Anónimo disse...

Vou represtinar um comentário que aqui postei no fim de semana, no sossego do meu domicílio, após ter tomado conhecimento de quem seria o treinador do Benfica.
E que é o seguinte:

Quanto ao Fernando Santos, e curiosamente, foi esse o primeiro nome que eu e o condómino Vermelhunca avançámos neste blog para treinador do Benfica, logo a 9 de Maio.

E passo a citar:

VermelhoNunca said...
Fernando Santos, nome que poderá vir a treinar o benfica

10:50 AM

carlos said...
Aposto também em Fernando Santos.
Benfiquista desde pequenino, acabou de anunciar hoje que não continuará no AEK.
O que parece mais do que uma coincidência fazer tal anúncio logo hoje, depois da saída do Koeman do Benfica.

Desta vez, acertei nas minhas previsões.

Trata-se, de facto, de um treinador apagado, antiquado, e que, tirando o Penta conseguido ao serviço do Porto - onde o difícil teria sido não ganhar o campeonato esse ano - nada mais fez de relevo ao serviço do FCP e do SCP.
A sua passagem pelo SCP, aliás, foi bastante tristonha e amorfa, à sua imagem.

Após terem sido avançados nomes sonantes da alta roda do futebol para trienar o SLB, tais como Zacaroni, Erikson e Queirós, o Fernando Santos surge assim como que um FIAT PUNTO em lugar de um FERRARI.
Sabe a pouco.
Não tem carisma, não apresenta curriculo e não é, sequer, colunável.
Depois dos treinadores de prestigio internacional como foram, inegavelmente, Camacho, Trapatoni e Koeman, o Benfica vai ter agora um treinador sem cartel.
E vai enfrentar um balneário em turbulência - por mais que digam que não.
O Simão que quer sair, o Rocha que quer sair, a guerra Moreto-Quim, o ordenado do Robert, o Geovani que querem mandar embora, a equipa do Camacho que está a ser desmantelada.
E não creio que o Fernando Santos tenha pulso e carisma para lidar com todas estas guerras de balneário.
Para esta ausência de carisma do Fernando Santos contrapõem, contudo, os dirigentes benfquistas com o nome de um jogador que é tem sido o D. Sebastião do Benfica, e que é o Rui Costa.
Se este jogador vier, de facto, para o SLB, ficará, de certo modo, diluída a desilusão que foi, para os benfiquistas, a contratação do Fernando Santos.
Vejamos se tal contratação será suficiente para resolver os problemas internos da equipa.

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
samsalameh disse...

Infelizmente também para mim, não gostei da contratação como treinador do Sr. Eng. para o Benfica.
Tenho pena que tenham escolhido a 24ª opção...
Vamos ver no que isto vai dar.
O que o Benfica precisava neste momento era de um treinador com punhos de ferro e que pusesse aquela cambada a correr e a jogar um bom futebol.
Fernando Santos é um treinador muito manso, muito songa, provavelmente bons condimentos para se ser treinador do FCP (tem um Presidente que mete os jogadores na linha!), mas nunca do SLB.
Tenho pena que não tenha sido o Ericsson, mas pode ser que este Fernando Santos ainda possa trazer algumas surpresas aos clubes rivais. A ver vamos...

Vermelho disse...

amigo samsalameh:
estou pouco crente, mas esperemos que se concretize a tua profecia...
Abraço.