sexta-feira, maio 26, 2006

Derrota parte II ou o Remake de uma morte anunciada

Portugal perdeu, ontem, pela segunda vez consecutiva no Euro sub/21.
Agostinho "capachinho" Oliveira mexeu e remexeu na equipa, mas este movimento foi meramente aparente.
Mudaram as caras, mas mantiveram-se os pecadilhos evidenciados na primeira partida.
A defesa foi quase na totalidade alterada.
Filipe Oliveira e Diogo Valente substituíram Nelsón e Nuno Morais nas laterais.
Nada de novo aportaram à equipa, antes pelo contrário.
Alas de formação, Filipe e Diogo demonstraram que os seus processos de adaptação a funções mais defensivas não se acham, ainda, completos.
Revelaram-se sempre incapazes de suster defensivamente os adversários e ofensivamente nunca produziram desequilibrios.
Aliás, penso que a sua inadaptação defensiva condicionou a sua prestação ofensiva.
Receosos de serem apanhados em contra-pé ou de deixarem autênticas avenidas abertas nas suas costas, pouco arriscaram no apoio ao ataque, ainda que, neste particular, Diogo Valente se tenha revelado mais afoito.
Nas raras vezes em que transpuseram a linha de meio-campo, os seus cruzamentos saíram, invariavelmente, defeituosos.
Em suma, mudanças sem pinga de eficácia.
No eixo, surgiu Semedo.
Melhor, muito melhor que Rolando.
Foi mesmo o melhor da defesa - seguro, concentrado, autoritário, foi expulso quando procurava corrigir erros alheios.
No meio-campo mais do que caras novas, uma nova arrumação táctica.
Todavia, com resultados praticamente nulos.
A bola circulou melhor, com mais fluidez, mas emergiu de novo uma falta de organização, de fio de jogo e de sentido colectivo demasiado gritantes.
Portugal não tem um plano de jogo, ofensivamente os jogadores jogam cada um para si, esperando assim resolver os problemas que o inexistente colectivo não consegue.
Aliás, só se pode chamar equipa a esta selecção porque todos os seus elementos alinham com o mesmo equipamento.
Inexiste qualquer sentido colectivo de jogo, quer ofensivamente, quer defensivamente.
Cada um desempenha a sua tarefa sem ter presente qual a função dos companheiros, numa desorganização caótica.
Jesualdo Ferreira, numa notável entrevista ao programa "Trio d´Ataque", disse (e com ele concordo inteiramente) que Portugal não é, nem nunca foi uma potência ao nível de selecções de sub/21, na medida em que neste escalão não é apenas o talento que faz a diferença, mas sobretudo o sentido colectivo do jogo e a sedimentação dos princípios básicos do jogo.
Nos escalões de formação, o conhecimento do jogo e seus princípios básicos mostra-se, invariavelmente, insipiente, rudimentar e padronizado por baixo.
Aí, quem tem mais talento vence, pois que os aspectos tácticos surgem, inevitavelmente, menorizados.
No patamar sénior, sucede o inverso - talento sem enquadramento táctico conduz ao insucesso.
Por isso é que estes jogadores quando enquadrados nos seus clubes por outros mais velhos apresentam níveis de rendimento substancialmente superiores.
Falta-lhes conhecimentos do próprio jogo.
Em Portugal, a formação é mais do que tudo prospectiva.
Procuram-se talentos.
Uma vez encontrados, busca-se o seu rendimento imediato por forma a possibilitar a conquista deste ou daquele título.
Neste processo omitem-se etapas fundamentais no processo formativo dos jogadores.
Repare-se no caso de Quaresma ou Ronaldo só para citar os mais recentes.
Quando saídos dos juniores, já "comiam" a bola e mostravam-se capazes de fintar 20 indivíduos dentro de uma cabina telefónica.
Mas, não eram ainda jogadores de futebol.
Nos escalões de formação, não foram corrigidos, não aprenderam os timings de soltar a bola, desconheciam quaisquer preocupações tácticas, não lhes foi transmitido o sentido colectivo do jogo.
Um e outro começam agora a completar fases do seu processo formativo como jogadores que já deviam ter finalizado faz muito tempo.
Ronaldo foi para Manchester e aí absorveu um conjunto de conhecimentos sobre o jogo, que o catapultaram para patamares de excelência mundial.
Quaresma, após ter falhado em Barcelona (exactamente pelo seu processo de formação ainda não se achar terminado), conheceu com Adriaanse novas e diferentes perspectivas do jogo.
Cresceu como futebolista pela aprendizagem de algumas das mais básicas matizes de qualquer desporto colectivo.
Bastou a Quaresma ter percebido que o jogo só faz sentido se encarado colectivamente para se projectar para outra dimensão qualitativa. Aliás, parece-me que nesta selecção Quaresma está a regredir. Até agora temos visto o Quaresma pré-Adriaanse.
Estamos a formar mal ou, pelo menos, de forma incompleta.
Limitamo-nos a descobrir talentos, sem que sejamos capazes de os formar verdadeiramente.
Diga-se, contudo, em abono da verdade, que a ausência de competitividade nos escalões de formação em muito contribui para este estado de coisas.
O grau de exigência, com excepção das fases finais, é tão reduzido que não motiva a aprendizagem.
Urge alterar esta realidade (o passo dado no sentido da criação de um campeonato nacional de juniores foi positivo, mas ainda insuficiente).
Neste sentido, a qualidade individual dos jogadores poderia ter sido suficiente para alcançarmos a vitória.
Individualmente considerados a grande maioria dos nossos jogadores possui competências capazes de resolver um jogo.
Houve três momentos chaves na partida:
A perdida de Nani, na 1ª parte, quando isolado após passe magistral de Quaresma;
O falhanço inacreditável de Hugo Almeida a um metro da linha de golo na segunda metade;
O golo sérvio após a brilhante defesa de Bruno Vale no penalty.
Estes lances, cada um na sua medida, contribuiram decisivamente para um desfecho, que, diga-se, se revelou inteiramente ajustado à prestação das equipas.
Mas a par destes momentos, cumpre não olvidar as circunstâncias em que aconteceram os golos sérvios.
O primeiro, numa infelicidade de Zé Castro, que ao abordar de forma deficiente a bola, introduziu-a nas suas próprias redes.
O segundo num momento de desconcentração inadmissível em alta competição, após exaltação colectiva capaz de catapultar a equipa para a desejada "remontada".
Tudo ponderado, somos equipa a menos para a potencialidade dos nossos jogadores.
Esse seria o trabalho de Agostinho e seus pares...

17 comentários:

VermelhoNunca disse...

Uma equipa engendrada por Agostinho Peruca Oliveira assente em dois marretas de betão, Zé Castro e Hugo Almeida. São dois jogadores banais, que "entopem" todo o jogo da selecção, pois Castro despeja bolas para o basquetebolista Almeida.
Quaresma- porque não vai à selecção A? Talvez por agredir adversários a pontapé, como ontem voltou a fazer.

VermelhoNunca disse...

Gostei de Manuel Fernandes, acho que também jogou razoavelmente. O seu problema, amigo Ex, é não ter visto o jogo todo, e se calhar o que viu, viu mal. No 1º jogo eu não me alonguei nos comentários, uma vez que vi muito mal o desafio.
Quaresma cigano é miúdo e julga-se uma vedeta, daí ter atitudes como a de ontem. E essa de ser o melhor jogador da SuperLiga ...é a sua opinião. Para mim, e pode verificar aquando do post do amigo Vermelho, foi Helton.

Anónimo disse...

O que aconteceu nos dois jogos que a nossa (?) selecção já disputou é mau de mais para ser verdade.
Como é possível uma equipa ganhar dez jogos seguidos na fase de qualificação, marcar 29 golos, e surgir na fase final do campeonato, em casa, a jogar daquela forma?
Como é possível que uma equipa que tem dos melhores talentos do Mundo seja posta a jogar com pontapé para a frente e balões para a grande área?
Que se passa na cabeça do Capachinho Oliveira?
Mas será que o gajo é burro que nem uma porta?
Não viu, durante o jogo, o que já devia ter antevisto antes? Que a selecção da Sérvia/Montenegro era formada por jogadores com mais 10 centímetros de altura, em média, do que os nossos jogadores, e que com cruzamentos para a área os defesas dos montenegrinos ganhavam todas as bolas?
E manteve esse sistema durante todo o jogo, como aliás já tinha feito contra a França: bola bombeada para a frente, cruzamento para a cabeça do Hugo Almeida e corte da defesa adversária.
Foi assim durante os dois jogos que Portugal já realizou.
Com a agravante de o Hugo Almeida estar completamente sózinho, e não haver sequer ninguém perto dele para ganhar as segundas bolas, e estar, pareceu-me, completamente em baixo de forma - se é que ele tem alguma forma.
Onde esteve o futebol de passe curto, com a bola no chão, com progressão em direcção à área, com fintas para cima dos adversários, com entrada na área com a bola controlada?
Que tristeza de futebol, desgarrado, sem fio de jogo, sem "equipa". E o treinador sem imaginação, sem autoridade, sem intervenção no jogo.
O que se passa com os jogadores? Porque não seguram a bola?
Porque não sabem fintar, não sabem cruzar, não sabem rematar, não sabem passar?
Não me parece que tenham desaprendido a jogar futebol em 15 dias.
Logo, a razão só pode estar em dois factores: a forma como decorreu o estágio - algo se deve ter passado - e a consequente falta de preparação dos jogadores para o campeonato, e a má preparação táctica da equipa para os jogos.

Apenas se safou, deste descalabro colectivo, o Bruno Vale, que me pareceu, de facto, um bom guarda redes.

samsalameh disse...

Ontem acho que ficou bem patente por que razão aquele que muitos chamam de "Mágico" não foi convocado por Scolari.
Viu-se bem (quer dizer, já no primeiro jogo se tinha visto!) o jogador indisciplinado que é Ricardo Quaresma, para além de ser o mais individualista dos que ontem estiveram em campo.
O cigano até pode ser um grande jogador no FCP mas na selecção é que o homem não tem lugar.
O mesmo, quanto a mim, se pode aplicar a Simão, que enquanto no Benfica é uma referência na selecção nunca o foi.
Outra questão prende-se também com este Oliveira: por que razão o Custódio não é titular??? Por que razão os laterais não são titulares nas equipas onde jogam??? Não há mais em Portugal???
Zé Castro, provavelmente hoje, já não teria ido para os "colchoneros"...O homem está uma verdadeira Menina Amélia, tipo Nuno Gomes...a mãozinha sempre no cabelinho, etc. e tal.
Na selecção dos miúdos devia estar um técnico como o Passarella que na Argentina proibiu os seus jogadores de usarem mariquices nos cabelos e de os cortarem como se de guerreiros indíos ou braveheart's se tratassem!!!

Um lamentável fim para este europeu organizado em Portugal.

Por fim, quero apenas dizer que um dos centrais da Sérvia, que de momento não me recorda o nome, vai sair deste Europeu para algum clube de renome depois das actuações que teve ontem e contra a Alemanha.

VermelhoNunca disse...

O Zenhor Ex está confundido. Não me move nada contra o cigano por ele estar no seu clube de bairro. Aliás pode verificar que eu elogio a exibição de um jogador do benfica. O que se passa é o cigano dos brincos é um miúdo, e tem muito que aprender. Tenho na memória a imagem do cigano e pedir ao público de Barcelos o apoio, em vez de se preocupar em jogar à bola, e não agredir adversários( deu um pontapé ao jogador adversário, isso é indiscutível).

VermelhoNunca disse...

E Zenhor Ex, a 2ª parte não tem 60 minutos!!!

VermelhoNunca disse...

O amigo Salame refere o nome de Custódio. Tem toda a razão! O meio campo precisava de músculo, de peso e altura, mas o senhor Peruca Oliveira não vê nada disso( deve-lhe cair o cabelo para os olhos).

samsalameh disse...

Acho que pela primeira vez estamos de acordo, Sr. Unca!

Aquele Oliveira não tem gabarito para tomar as rédeas destas mini-mini-vedetas!

VermelhoNunca disse...

Fale-nos desses prémios...diga-nos quem mais foi premiado.

VermelhoNunca disse...

E Zenhor Ex, adepto de clube de bairro, o facto de alguém ser premiado, é de realçar, mas eu não sou membro de nenhum rebanho, como você parece ser quando se trata do FCPorto. Daí ter a minha opinião. Custódio era o jogador de meio campo que mais força daria à equipa, não está em causa ser deste ou daquele clube. Alguém aqui falou no Sporting? Porque vem com esse seu tom agressivo, acusar-me de falsos testemunhos!

Vermelho disse...

amigo Zex:
Cá estou eu!
Nada tenho a acrescentar ao post, por isso me mantive em silêncio.
Concordo com as apreciações às exibições do Zé Castro e do Hugo Almeida.
Só estranho a, pelo menos, aparente fixação que demonstras no exacerbar de algumas características físicas de jogadores e treinadores de futebol.
Ontem os lábios de Paulo Bento.
Hoje as orelhas do Zé Castro.
Explica-me.
Será sintoma de alguma coisa?
Abraço.

VermelhoNunca disse...

Dever ser influência do adepto do clube regional, o sr. Emplastro...

Anónimo disse...

Condóminos Zex e Vermelhunca:
Creio que com mais Custódio ou menos Custódio, mais Lourenço ou menos Nelson, mais Filipe Oliviera ou menos Zé Castro, a selecção de sub 21 não ia passar do que foi ontem.
O problema não creio estar nos nomes que entram de início na equipa mas na táctica e estratégia que a selecção tem ou não tem.
Nos dois jogos realizados, vi sempre o mesmo: equipa desgarrada, sem organização, sem fio-de-jogo, sectores separados, cada um a jogar por si, culminando com lançamentos longos para o Hugo Almeida.
Nem durante os jogos nem de um jogo para o outro se viu alterar este sistema de jogo.
Por outro lado, vimos também eficácia zero na marcação de lances de bola parada, o que denota falta de trabalho específico neste capítulo.
Uma miséria.
Parecia que estes jogadores se tinham juntado pela primeira vez para jogar futebol.
Isto e tudo o mais que aqui já se disse, aponta num só sentido: Capachinho Oliveira.

É por isto que tenho visto agora e já vi noutras ocasiões - Mundial do México e Mundial da Coreia/Japão - que valorizo o trabalho do Scolari, por muito que o meu amigo Vermelho discorde.
o Scolari soube formar uma EQUIPA com os jogadores que dispunha, expurgando da selecção alguns jogadores que julgavam ter ali lugar cativo e fazendo orelhas moucas às "ordens" vindas da imprensa.
Os argumentos que tenho visto contra Scolari são: Perdeu o Euro 2004, pois a jogar em casa, com aquele público e os jogadores que tinha e todo o ambiente formado à volta da selecção, tinha obrigação de ganhar.
Pois bem.
Repete-se o cenário com os Sub-21 e é o que se está a ver.

Vermelho disse...

amigo Carlos:
Já ontem o disse e volto a repeti-lo.
Os erros de um não servem para justificar os erros dos outros.
Considerei imperiosa a vitória no Euro 2004, como a considero neste Euro sub-21, para que se possa falar em sucesso.
Por outro lado, as criticas a Scolari não se cingem ao aspecto que referes, são bem mais amplas, mas susceptíveis de se resumirem numa só ideia - falta de trabalho.
O homem vence 200,000€ mês e não faz nenhum. Zero.
Abraço.

Vermelho disse...

amigo Prof.Venceslau:
Seja bem regressado.
Não imagina o prazer que nos dá a todos o seu regresso.
É o regresso das prosas de excelência, da verborreia de elevado quilate e do humor refinado.
Obrigado.
Um forte abraço.

Anónimo disse...

Bem retornado seja, Prof. Venceslau, caso seja o genuíno.
Também gosto de o rever, embora não seja caso para tanto prazer como aquele que o Snr. Administrador anuncia.
No dizer de João Moutinho, não terão jogado contra 2, como o caro amigo diz, mas contra três, pois na opinião do Moutinho foram roubados pelo árbitro.
Esta opinião do Moutinho, e, bem assim, o comentário do Capachinho Oliveira após o jogo com a França -onde, na sua opinião, o empate era o resultado mais justo - diz bem da reponsabilidade e noção que têm, jogadores e treinador, do que têm andado a fazer.

Anónimo disse...

E o extraordinário o_borbas também retornou.
Que engraçado!....
Benvindos a ambos.
E fiquem por cá, não fujam de novo.