Na época passada, e pela primeira vez na história da Académica, o número de jogadores estrangeiros ultrapassou o de portugueses.
Algo impensável num clube com a tradição da Briosa, intolerável para os românticos que subsistem em Coimbra. Mas a tradição já não é o que era e este ano o filme repete-se.
O português é e será sempre a língua predominante no plantel da Académica — só mesmo por causa dos brasileiros... —, mas há alguns anos seria impensável prever que no seio do sagrado balneário da Briosa a nacionalidade portuguesa ficaria em desvantagem numérica perante a soma de todas as outras. Assim foi na época passada, pela primeira vez em Coimbra, e assim será na que está para começar.
Em 2005/06, 13 portugueses estiveram às ordens de Nelo Vingada, que dispôs ainda de 14 brasileiros, um espanhol e um senegalês.
Em 2006/07, apesar de por ora o número de brasileiros ter sido reduzido para dez, são apenas 13 os portugueses (Fausto, que rodará no Tourizense, entra nestas contas, bem como Medeiros, nascido em França...), mas ainda há um argentino, um colombiano, um senegalês e, se Sonkaya vier mesmo, um turco.
Contas feitas, 13 contra 14, perdem os lusos.
Há muito que esta tendência se verifica no futebol português, mas a Académica, até há poucos anos, resistiu a esta invasão, muito por culpa do seu tradicionalismo, que, verifica-se agora, está cada vez mais esbatido.
Muitos podem ser os motivos apontados para justificar esta tendência, que suscita discussões e insatisfações nalguns círculos de Coimbra, mas um há que pode ser considerado como nuclear: no que ao principal escalão concerne, as características do mercado só permitem a aquisição de portugueses a custo zero para as bolsas menos abonadas, pois quando sob contrato os passes são inflacionados.
Assim, quando o dinheiro não estica recorre-se à importação, sobretudo ao Brasil, onde se compram três pelo preço de um.
3 comentários:
Manuel Machado poderá ter dedo nisso, influências do Nacional da Madeira?
amigo vermelho nunca:
infelizmente, não.
Trata-se da política empreendida pela direcção, que esquece ou faz por esquecer as singularidades que fazem da Briosa um clube diferente.
Abraço.
amigo zex:
a Briosa sempre foi um clube diferente no contexto do futebol nacional.
Primeiro, pela ligação à academia.
Depois, pela forma diferente de estar, sentir e viver o fenónemo futebolístico.
Tudo isto se apagou de forma quase integral.
A Académica de hoje é em tudo igual aos demais clubes de futebol.
Apenas difere na ideia que o imaginário colectivo dela criou e num ideário mínimo de valores que, ainda assim, penso perdurar.
Mas, não devemos olhar para esta realidade como uma fatalidade.
Devemos, todos os académicos, procurar construir um futuro diferente.
Não devemos olhar impassíveis para a destruturação de uma instituição secular.
Resta-nos preservar os valores e os princípios de uma história secular.
Pouco resta, mas o que ainda não se perdeu, cumpre respeitar e cultivar.
Foi sendo difundida uma certa ideia de superioridade, que os verdadeiros academistas só podem rejeitar.
Aliás, essa pseudo-superioridade constituiu o caldo cultural potenciador do afastamento da Cidade em relação à instituição.
A rejeição dos "futricas", a par da glorificação dos "doutores", para além de ter descaracterizado a Académica, deu-lhe um cunho elitista, que a sua história nunca admitiu.
Não digo que fosse desejável que a Briosa regressasse às décadas de 60 e 70, mas parece-me urgente repensar o clube.
Pensar o papel futebolístico, mas também social e cultural da Briosa.
Traçar um rumo. Navegar à vista como agora é que não.
Abraço.
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