Aqui transcrevo um artigo de David Borges com o qual concordo na íntegra:
"Já estava à espera da manhosice dos prémios livres de impostos.
Conhecendo o espírito miudinho que reina no futebol lusitano, e de cima a baixo, ou de baixo a cima, só podia mesmo estar à espera desta reivindicação sustentada na ideia peregrina, e muito alimentada pela patrioteirice de uma comunicação social que à selecção chamou de tudo, heróis, conquistadores de chuteiras, filhos da Nação, dos bons serviços prestados à Pátria…
A ideia do dever cumprido não chega, nem chegará qualquer medalha ou comenda que seja pendurada no peito ou do pescoço da ilustre representação nacional no último Mundial da Alemanha.
Como, está visto, não chega o prémio financeiro atribuído pela Federação Portuguesa de Futebol. Mais do que o dever, a medalha ou a comenda, o que interessa aos ilustres futebolistas é uma isenção fiscal, afinal uma gotinha de água no oceano das suas remunerações, evidentemente ampliadas pelo sucesso mundialista que lhes abre portas para mais proventos.
Não passou por nenhuma das pensadoras cabeças federativas a ideia de que não é esse o caminho para manter afectos e alargar o respeito.
A selecção cumpriu, com mérito, uma tarefa, e não poucos outros portugueses realizam com o mesmo mérito, ou talvez com o mérito superior que resulta do seu envolvimento anónimo em alguns dos poucos sucessos lusitanos que nos fazem esboçar o pequeno sorriso de orgulho que é característico dos raros momentos de felicidade do povo infeliz deste país que resiste à possibilidade de ser feliz.
E estes não reclamam, ao contrário da selecção que quer contornar o que constitui o mais básico e indiscutível dever de cidadania – o pagamento de impostos.
O governo já disse que não, e eu espero que esse não seja para valer.
Mas parece que Gilberto Madail pretende insistir, e se o fizer estará a agredir todos os que, sem qualquer isenção fiscal, se mobilizaram para o apoio à selecção – os emigrantes que viajaram pela Europa em direcção à Alemanha, os adeptos que gastaram centenas de contos para não faltarem nos estádios e a enorme legião de portugueses que, durante um mês, iludiu, com mais ou menos bandeiras, o sentimento de uma triste vida no país onde o principal objectivo daqueles que muito ganham parece ser o de, legal ou ilegalmente, se isentarem de impostos… "
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