terça-feira, janeiro 20, 2009

Livro de Reclamações - A Realidade Nua e Crua do Futebol Português

A propósito do Benfica-Belenenses de Sábado passado, Vítor Serpa escreveu um artigo debruçando-se sobre as razões da fraca afluência de espectadores às partidas de futebol em Portugal.
Em 10 de Janeiro de 2006, publiquei um texto que julgo retratar a triste e inexorável realidade do futebol português.
Ambos confluem no diagnóstico e na panaceia.
Bom seria que outros, os que decidem, partilhassem destas ideias!

"Um sucesso à luz do sol

Por Vítor Serpa

MAIS de trinta e cinco mil espectadores na Luz, num jogo transmitido em directo pela televisão, numa competição ainda sem história e que tem demorado a ganhar expressão no quadro competitivo do futebol português.
O sucesso ficou, essencialmente, a dever-se à hora do jogo (quatro da tarde) e ao critério realista do preço dos bilhetes.
A partir de agora, só por manifesto interesse de terceiros, que não o do espectáculo de futebol e dos seus espectadores, se insistirá no exclusivo de jogos nocturnos, jogados fora de horas, em condições, por vezes, tão impróprias e tão desconfortáveis para os adeptos, que mais parece ter por objectivo tirar as pessoas dos estádios e obrigá-las a ficar em casa (...)."

"(...)Chegados ao inicio do século, a crise era uma realidade nua e crua, mas apenas discutida em surdina.
O advento do Euro-2004 surgiu, então, como mais uma tábua de salvação - modernizava-se o parque desportivo, garantiam-se mais e melhores condições de conforto para os espectadores, alienavam-se os terrenos nos quais se achavam edificados os antigos estádios, urbanizavam-se as parcelas remanescentes, edificavam-se superfícies comerciais, criavam-se novas formas de receitas, a renumeração de sócios, os cativos, os lugares anuais, enfim, toda uma panóplia de novas formas de financiamento das tesourarias.
Todavia, ainda que tais receitas tenham sido reforços substanciais para os clubes "participantes" no Euro, certo é que todo o restante País desportivo permaneceu intocado, imóvel.
Por outro lado, continuou sem existir uma visão estratégica para o futebol português, que a Liga devia dinamizar.
A mediocridade dos nossos dirigentes desportivos mostra-se incapaz de pensar o futebol como negócio, conservando modelos de gestão herdados do passado, os quais redundaram na actual situação.
Veja-se o exemplo dos bilhetes - cada vez o seu preço é mais elevado e o número de vendas mais reduzido.
Não seria de pensar em campanhas promocionais que atraissem mais pessoas ao futebol, novos nichos de mercado.
Por que não pensar em bilhetes família ou em Pack´s de conjunto de jogos (um grande juntamente com dois ou três pequenos).
O investimento de hoje seria a rentabilidade de amanhã. Pensa-se curto e pequeno.
Aliás, esta é a imagem do empresariado português.
Discute-se muito o horário dos jogos como sendo, a par do preço dos bilhetes, uma das razões para a desertificação dos estádios nacionais.
Contudo, tal revela-se uma discussão estéril.
Com os direitos televisivos já vendidos há muito, quem determina os horários dos jogos são os detentores de tais direitos. É virtualmente impossível impor outros horários.
A ditadura das televisões condiciona os dias e horas das partidas. É a face mais mercantil do futebol.
Com as receitas dos direitos televisivos há muito utilizadas, com as receitas de bilheteira a serem cada vez mais insignificantes, com as receitas provenientes das quotizações a serem cada vez mais escassas, com a recessão económica do País, com o decrescimo das receitas dos bingos e das apostas mútuas, com os subsídios autárquicos a serem cada vez menores, o volume global dos proventos desceu consideravelmente.
Por outro lado, as despesas essas mantém-se ao nível de anos anteriores e em alguns casos situam-se mesmo num patamar superior.
Assim, tudo conflui para o agravar da crise financeira.
É urgente criar um sistema de licenciamento para participação nas Ligas profissionais, dotando-se a Liga de mecanismo rigorosos de sindicancia da verdade orçamental.
Obrigar os clubes a demonstrarem as receitas que suportam cada rubrica orçamental e exigir-lhes a prestação de uma garantia bancária no valor de 20 a 30% do orçamento, accionável em caso de incumprimento.
Quando no início da época se determinou o encurtamento das Ligas profissionais, que de tal só tem o nome, muitas foram as vozes que se ergueram repudiando tal medida.
Todavia, face ao panorama actual do futebol português o encurtamento será natural - decorrerá da extinção de um conjunto alargado de clubes.
Quem demonstrar saúde financeira permanece, quem não o provar cingir-se-á às competições não profissionais ou às camadas jovens.
Assim será o destino Darwiniano do futebol português."

18 comentários:

Unknown disse...

Também creio ser este o caminho a seguir: jogos ao Domingo à tarde e bilhetes a preços acessíveis.

E nem se diga que apenas foi possível meter 35.000 espectadores no estádio por se tratar do Benfica - clube que tem, reconhecidamente, uma enorme massa de adeptos.

Já há cerca de dois anos, no Municipal de Coimbra, estiveram mais de 20.000 pessoas (penso mesmo que o estádio encheu) a assistir a um Académica-Marítimo jogado à tarde e com entrada gratuita.
Mesmo tratando-se de um jogo decisivo, onde a Briosa jogava a permanência na "1ª Divisão", nunca teria ido tanta gente ao estádio se o jogo não tivesse decorrido num Domingo à tarde e se o preço dos bilhetes fosse o habitual.

E também o SCP, já esta época, encheu o estádio num jogo para a Liga - penso que com o Marítimo - em função da hora a que o jogo decorreu e graças a bilhetes a preços muito acessíveis.

É este, sem dúvida, o caminho a seguir, se se pretende voltar a levar os espectadores aos Estádios.

VermelhoNunca disse...

Amigo JC, ontem colocou uma questão sobre o goal-average, que tenho ideia não lhe foi respondida.
Qual o goal-average de uma equipa que concluiu uma prova com o 2-0?
A fazer fé na definição de goal-average( número de golos marcados a dividir por número de golos sofridos) será 0?

Vermelho disse...

Amigo JC:
Nesse AAC-Marítimo estiveram 28 mil pessoas.
Aliás, nessa época as assistências em Coimbra rondavam os 8 mil espectadores.
Jogos à tarde e bilhetes a preços acessíveis.
Hoje, situam-se abaixo dos 5 mil.
Não sei de que jogo do Sporting falas, mas este ano a melhor assistência em Alvalade foi no Sporting-Leixões com 36.550 espectadores, que penso ter sido o "jogo dos núcleos" com bilhetes a preços mais acessíveis.

p.s. Eu, tu e o Vítor Serpa partilhamos de um ideário de mudança, mormente quanto ao dia e hora dos jogos e preço dos bilhetes.
Sucede que tanto eu como o Vítor Serpa não acreditamos que tal venha a suceder.
E tu?

Vermelho disse...

Amigo Nunca:
Já agora, qual a tua opinião sobre a questão?
É que, ontem, muito se falou sobre o assunto, mas tu nada disseste.

p.s. tenho estado a tentar encontrar resposta para a questão colocada ontem pelo JC.
Debalde até ao momento.
Darei notícias.

Unknown disse...

Amigo Vermelho:
Exactamente, foi esse jogo do SCP com o Leixões.
Três jogos com equipas diferentes e em diversos estádios - e mesmo para competições diversas - que comprovam esta tese.

Mas também não creio que tal venha a suceder num futuro próximo.

Amigo Nunca:
A média seria de 0, o que é ridículo.
Por esse conceito de goal avarage levantar problemas como esse é que foi abandonado e criado o conceito de goal diference, como o Amigo Vermelho referiu ontem.

VermelhoNunca disse...

Sobre qual questão, amigo Vermelho?
Se for sobre os bilhetes e horários de jogos, direi que o Sporting realizou este ano uma sondagem, para a qual fui contactado telefonicamente, sobre a matéria.
Para mim, jogos à tarde, 15 horas ou 16 horas. A questão dos bilhetes e o seu preço, no meu caso não á fácil de gerir, pois ao ter um lugar especial ( de duração de 20 anos) em Alvalade, na bancada junto ao relvado, e lugar central, estou sempre sujeito a levar com preços mais elevados.
O Sporting vendeu até hoje 27.368 game-boxes. Abaixo do previsto, mas um número mesmo assim considerável, face aos tempos que correm. Quanto a mim o problema maior para os jogos de Alvalade têm mesmo a ver com a hora dos jogos.
Quanto à polémica goal-average, pouco a dizer. Uma vergonha na organização da prova, mas que , pelos vistos, os clubes aprovaram e não sabiam também como funcionava o sistema de goal-average, pois se assim não fosse, o Belenenses não se tinha dado como derrotado logo no final do jogo contra o Paizão, que decorreu no Curral.
Ou seja, desconhecimento da parte de todos, desde a organização, aos clubes e aos jornalistas, sobre o que é o goal-average ( que pelos vistos também tem questões pertinentes, como a que aqui colocámos do 2-0).
Enfim, confusão instalada, mas quanto a mim será o Guimarães a dever ser apurada, pois os clubes estavam convencidos que a diferença de golos é que marcava o apuramento.

Vermelho disse...

Amigo Nunca:
Ainda vivemos num Estado de Direito!
Não posso perfilhar a teoria do comunicado da Liga segundo a qual o conceito goal average necessita de um interpretação actualista que, simplesmente, o corrompe ao ponto de o fazer coincidir com o goal difference.
É uma interpretação que excede e muito a letra da lei.

VermelhoNunca disse...

Entendo os seus argumentos, amigo Vermelho. À luz da lei, por exemplo, o Estádio da Luz, não existia. Nunca tinha sido construído. Mas foi!
À luz da lei o Belenenses tem razão. A questão prende-se com o facto de, tanto o Guimarães como o Belenenses, saberem que não estavam a jogar no pressuposto que um goal-averaga impõe. Ou seja, todos os clubes jogaram no pressuposto da diferença de golos.

VermelhoNunca disse...

Devemos deixar os árbitros à vontade. Eu passo ao lado disso, concentro-me no futebol», disse o jogador, em conferência de imprensa: «Os árbitros são seres humano, também erram, tal como nós. O importante é agir com convicção.»

Segundo o Bicuda, o importante é agir com convicção...

Jimmy Jump disse...

Totalmente de acordo com o teu artigo amigo Vermelho.
É de facto repudiante constatar que o passar dos anos deixou tudo na mesma. É o marasmo total, consequência do nepotismo e da incompetência que todos conhecemos.
Dá arrepios concluir que na esfera dos decisores há ninguém com capacidade ou com vontade de consumar mudanças estruturais na gestão do futebol português.
Para além do que referiste porque não um benchmarking da Liga Inglesa com as devidas adaptações à realidade nacional?
E os PALOP aqui tão perto, uma oportunidade imperdível de expansão e divulgação so nosso futebol.
etc.
O que há a mudar está à vista de todos.
Se não for assim tão óbvio consulte-se os adeptos.
Haja vontade e competência.

VermelhoNunca disse...

Em relação aos Palop, que aqui falou o condómino Saltitão, não foi notícia no blog a formalização da Nova Academia Sporting, na África do Sul. E uma das vertentes da Academia, que será criada no país que vai receber o próximo Mundial de Futebol,é abarcar atletas de Moçambique.
Claro está que isto não é importante..
"...projecto, que nascerá na província de Free State, e as primeiras imagens da infra-estrutura, que terá quatro campos relvado e um sintéctico; 116 camas divididas em quartos duplos, ginásio, centro médico e de hidroterapia, auditório, biblioteca, salas de reunião e de estudo, bem como uma ala profissional, que será ocupada pelo Bloemfontein Celtics, clube que equipa «à Sporting», e que milita na primeira divisão do futebol sul-africano.

Jimmy Jump disse...

"Fica a ideia de que há um cozinhado na Taça da Liga e o FCP não deve participar em cozinhados".
Palavras de Rui Moreira a sugerir a falta de comparência do Porto em Alvalade que eu muito sinceramente fico sem perceber porquê?
Que eu saiba os moldes da competição foram definidos no início da temporada.
Se na altura o homem nada disse não é de todo pertinente vincar agora o seu desagrado. Parece-me uma atitude ridícula e oportunista.
Dizer apenas que já o tive como pessoa integra e idónea.
Saiu do armário aquando do processo apito dourado e agora que caiu do pedestal e bateu com a cabeça perdeu a lucidez.

antes morto que vermelho disse...

artigo bullshit, artigo de marreta que critica, mas que faria o mesmo se fosse ele a mandar.
não faz sentido nenhum, que os jogos voltem a ser ao domingo ás 15h e ás 16h, na medida em que os clubes precisam do dinheiro das televisões e neste raciocinio, têm que dar algo em troca.
veja-se espanha itália e inglaterra e até frança.

e a nova escarreta: portugal e Espanha querem organizar o proximo mundial de futebol, a seguir ao da africa do sul...
mais tachos para alguns, mais protagonismo para outros, mais dívidas a serem contraídas, mais merda para o país, onde é que isto faz sentido num país como portugal??!! só mesmo na mona do madail... vá lá que o min. das finanças disse que isto era uma fantochada!! utilizem-se essas verbas na saude, na construção de casas, num sitema de ensino decente, na criação de postos de trabalho, na reforma da magistratura , entre outras

VermelhoNunca disse...

Macaco, que verbas são essas? Onde vai buscar essa ideia que vamos ter de investir balúrdios, se viermos a ganhar a realização do Mundial 2018?

VermelhoNunca disse...

E sobre as transmissões televisivas, Macaco, em Inglaterra, ao sábado e domingo não há jogos à noite e são tranmitidos pelo menos 4 jogos por jornada. À hora do almoço. às 15h00 e às 17:30, com estádios quase sempre cheios.
Só que quando falamos em estádios cheios, dizemos , por exemplo, que Anfield Road leva 42.000 espectadores, o Fulham 20.000 , etc, etc.
Ou seja, os estádios estão dimensionados em proporção à grandeza dos clubes e do futebol em questão. Daí MU, Arsenal, e no futuro Liverpool, teram estádios grandes. Quantas pessoas leva o estádio do Chelsea? 45.000?
Cá , queremos tudo pela grande, também em virtude do Euro 2004, é um facto, mas não se justifica um curral para 62.000,nem Alvalade e POrto para 50.000.

antes morto que vermelho disse...

nunca: mas se as televisões é que mandam, quando é que quer os jogos?
em inglaterra as pessoas estão habituadas aos jogos a toda a hora, em portugal também, só que no sofá.
e o poder economico da libra, não tem nada a ver com o do euro português...

então organizar um mundial, não implica a portugal investir balurdios... muito me conta, a organização sai de borla... os estádiso 8abandonados) estão preparados para receber jogos... e se alguém quer cagar no estádio do algarve?

VermelhoNunca disse...

Macaco, os estádios que se fala para o MUndial são apenas o Dragão, o Curral, e talvez Alvalade ( uma vez que é na mesma cidade, eventualmente só o Curral servirá). Talvez o estádio do Algarve, que teria que aumentar a sua capacidade, para 40.000 pessoas.
O grosso dos estádios, nomeadamente os grande, serão sempre em Espanha.

VermelhoNunca disse...

Seria isso sim, um aproveitar dos estádios que existem, apenas os que referi anteriormente.
Na minha opinião é uma excelente ideia.