quinta-feira, dezembro 23, 2010

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Ano sabático - João Querido Manha

O ano está quase pronto a dar entrada nos arquivos como o do regresso do Benfica à linha do sucesso, com toda a pompa, mas são legítimas as dúvidas sobre a circunstância e inúmeros os que observam o trajeto da equipa de Jorge Jesus como um fenómeno conjuntural, bastante facilitado pela fragilidade psicológica dos protagonistas envolvidos nos julgamentos, judiciais, desportivos e populares, do processo conhecido pelo absurdo nome de "Apito Dourado".

Openálti que abriu caminho ao triunfo da União de Leiria na Figueira da Foz é um daqueles lances emblemáticos, a levantar a ponta do véu. As equipas de Bartolomeu e Pinto da Costa somam 12 penáltis em 14 jornadas, ou seja, um terço (33%) do total da 1.ª Liga. Um "must"!

Assistimos a um regresso às origens, com o grupo dos figurões a voltar pelos "bons" motivos à primeira linha das notícias, faltando apenas no ramalhete o abandonado "compagnon de route" do Boavista. Os sinais de impunidade que os arquivamentos sucessivos foram passando, ao mesmo tempo que a Liga se reposicionava internamente, elegendo para líder uma figura "acima de toda a suspeita", foram chancelados em particular pelo Benfica, inebriado pelos vapores do sucesso, sem dar conta de quão efémero ele era.

Dentro das quatro linhas, viveu-se o paralelismo simbólico dessa grande operação de retoma, com a reorganização desportiva do FC Porto, em contraste com o relaxamento e descuido dos recentes campeões. A entrada firme na nova época foi fundamental e remeteu para um procedimento clássico e comum na maioria dos títulos dos últimos 30 anos, assegurados normalmente nas primeiras dez jornadas com intervenções cirúrgicas nos próprios jogos e nos dos adversários.

Afinal 2010 não será o ano da águia e pode vir a ser visto mais tarde como um insignificante incidente do longo percurso dessa força descomunal que o líder natural descrevia ontem de modo muito honesto: "depois, a jornada acaba sempre com uma vitória nossa".

A estabilidade de todo este processo, incluindo os intervalos para recarga de energias após o esgotamento dos treinadores que não conseguem sobreviver a mais de dois anos de sucesso, é garantida pela fragilidade psicológica e operacional dos adversários, com o Sporting, enfeitiçado primeiro e desvitalizado depois por uma associação perversa com um adversário que lhe era inferior, e com o Benfica, sempre inebriado com a grandeza e as glórias do passado.

Os últimos três meses foram horríveis para o Benfica, descendo das nuvens em círculos estonteantes, como uma águia Vitória a baixar do 3.º Anel, voo sobre voo, até à aterragem final. Todos os altos voos caíram por terra: a regeneração desportiva, o controlo da vontade dos adeptos, a Liga dos Campeões, a liderança dos clubes "bons", a luta absurda com a tutela governamental e, provavelmente, a revolução da discussão dos direitos televisivos. Depois de um quadro favorável que lhe permitia sentar-se no lugar do condutor, o Benfica constata em poucos meses que não consegue catalisar vontades e que eventuais apoios externos vacilam perante a notória retomada dos poderes instituídos. 2010 não terá então passado de um período sabático do líder natural.

O voo da águia - João Gobern

Gosto, no que ao futebol diz respeito e em boa parte da vida, que se respeitem tradições que fazem sentido, que distinguem e que valem como componentes de um espetáculo que só vistas curtas entendem que se limitam ao jogo. Ninguém de bom senso põe em causa a importância e o arrepio que nascem dos cânticos com que as claques inglesas brindam as suas equipas. Do mesmo modo, quem tenha visto um jogo entre rivais cariocas no velhinho Maracanã, sabe que um dos grandes momentos da tarde ou do serão passa pela libertação de papéis multicoloridos (com as cores dos clubes), de todos os formatos, para saudar a subida dos jogadores ao relvado. Em Portugal, se excetuarmos algumas coreografias no Dragão, vistosas e impressionantes, a ocasião mais distintiva de espetáculo vinha cabendo ao Benfica com o voo de uma águia a emocionar os adeptos, a espantar adversários e visitantes, incluindo jogadores, a encantar os mais novos que, anos passados, ainda recordam a magia daquela descida circular, com aterragem em local previamente determinado.

No último fim-de-semana e por força de incidentes cujas versões são naturalmente desencontradas, a águia “Vitória” não voou. E, para os quase 40 mil que rumaram à Luz, foi pena. Primeiro, porque esse capítulo imperial e tradicional teria calhado bem com a exibição dos jogadores que quiseram despedir-se do ano, deixando a esperança como mensagem pela partida que realizaram. Depois, porque quem visita aquele estádio já tem como garantido aquele preâmbulo que aproveita a elegância e a eficácia de um animal para começar a agitar a pulsação clubística. Ao que parece, o Benfica e o tratador da águia “Vitória” passam, a partir daqui, a ser partes irreconciliáveis. Neste quadro, cabe à direção do clube trabalhar – e tão rapidamente quanto lhe for possível – para que se descubra um reforço que permita que a ausência daquele segmento do show tenha interrupção apenas temporária. Do ponto de vista simbólico mas também em função das razões práticas já enunciadas, ele é muito mais importante do que pode parecer à primeira vista. Até porque a grandeza de um clube não se mede apenas pelos resultados e valores, também se avalia em função da diferença e da singularidade.

Ora, por razões de Natureza, a águia pode garantir ao Benfica algo a que os rivais nunca terão acesso. Em tempos, o Sporting ainda exibiu um leão enjaulado antes dos jogos – triste espetáculo, até pelos paralelos que suscita. Quanto ao FC Porto, nem Jorge Nuno Pinto da Costa, milagreiro noutras frentes, consegue assegurar o concurso de um dragão. De resto, a relação – mesmo que fosse possível – iria chocar com a História. Não foi São Jorge que matou o dragão? Bom Natal para todos.

Voa Benfica! - Luís Seara Cardoso

Frente ao Rio Ave, na última ronda do ano civil, já foi possível ver um Benfica próximo da sua real valia. O jogo teve momentos exaltantes, sobretudo no plano ofensivo. É este o verdadeiro Benfica? Só pode ser. Uma equipa compacta, desequilibrante, capaz de gizar vários lances suscetíveis de redundarem em golo.

Acabou a crise nos resultados? Este Benfica tem sido inconstante, ferido também por arbitragens demasiado adversas. Ainda assim, a julgar pelo desempenho ante o Rio Ave é manifesta a qualidade do conjunto e a sua capacidade para atingir patamares capazes de projetaram a equipa para títulos que estão ainda em aberto.

E na Liga nacional? A vantagem do FC Porto é dilatada, muito também em virtude de alguns favores arbitrais. O Benfica pode anular a distância? Superar o seu principal antagonista? A tarefa é muito complicada, mas a equipa não pode renunciar a esse propósito. Não pode nem vai, certamente, fazê-lo.

A segunda volta do campeonato vai ter um Benfica mais enérgico, mais ganhador. Os triunfos dão tranquilidade à equipa. Os triunfos empolgam os adeptos. Os triunfos trazem... triunfos.

A Vitória deixou de voar. Lamento o sucedido, tanto mais que, há anos, então vice-presidente do clube, tomei a decisão de apadrinhar a águia e o seu delicioso número no Estádio da Luz. É uma questão que gostava, por acrescidas razões, de ver solucionada com a serenidade que se impõe, até pela consideração que devemos ter pela história. Pela vitória, também com a Vitória, é indiscutível que o Benfica voa mais alto.

terça-feira, dezembro 21, 2010

Leituras de Natal para os técnicos dos três grandes - Carlos Ferro

Em vez de analisarmos as "guerras" em que o futebol português é fértil, hoje deixamos três conselhos, em estilo de livro, para os treinadores de Sporting, Benfica e FC Porto lerem nas próximas duas semanas de férias. Ao técnico do Sporting, Paulo Sérgio, não faria mal passar os olhos por Os Magos do Futebol, de Luís Freitas Lobo. Sempre pode ler citações como esta: "Quando o massagista comunicou a John Lambi, treinador de Partick Thistle, que o avançado-centro, após o choque com um defesa, perdera a memória e nem sabia quem era, o técnico respondeu: 'Perfeito, diga-lhe que é o Pelé e que volte rapidamente para o campo." Retirada do livro Do I Not Like That, de Groff Tibballs, esta frase certamente será compreendida pelo técnico quando alguns atletas da sua equipa jogam.

Já Jorge Jesus devia ler A Solidão de Um Treinador, de Cecília Carmo. Aqui ficam duas ideias para Jesus reflectir: "Há uma expressão terrível no futebol, é a pior coisa no futebol, que é 'dar confiança ao treinador'. É meio caminho andado para pôr o treinador na rua." O autor, Humberto Coelho, não estava a referir-se ao Benfica, mas depois de o presidente, Luís Filipe Vieira, ter vindo dizer que o técnico vai manter-se, este "fantasma" certamente que paira na mente de Jesus.

Para o fim, a tarefa mais fácil: o portista André Villas-Boas. Tranquilo e imbatível até ao momento, resta aconselhar-lhe uns momentos de diversão. Sugerimos o livro 30 Anos de Mau Futebol - As Gran-des Frases (e as mais disparatadas) do Futebol Portu-guês", de João Pombeiro. Do vasto lote de tiradas incríveis fica uma da "sombra" de que tanto foge Villas-Boas: José Mourinho, em Julho de 2004: "Se quisesse ter um trabalho fácil (...) teria ficado no FC Porto, numa bonita poltrona azul, troféu da Liga dos Campeões a meu lado, Deus, e, depois de Deus, eu."

Benfica-Rio Ave: devia ser sempre assim - Luís Sobral

Se eu pudesse pedir, os jogos da Liga portuguesa seriam todos como o Benfica-Rio Ave, com esse luxo de ter duas equipas.

Acho que essa foi a grande diferença, sábado à tarde. Na Luz, duas equipas.

O Benfica, mais forte, com melhores jogadores e com a felicidade adicional de ter encontrado duas vezes a baliza ainda antes dos dez minutos.

Do outro lado, uma equipa também. Com uma mistura interessante entre experiência e vontade de mostrar serviço, nunca se desequilibrou e acreditou sempre que podia levar dali qualquer coisa. Tudo montado em cima de um «onze» onde cabiam nove portugueses, um luxo que devia pôr a reflectir outros emblemas. (já agora, o Benfica tinha apenas um, por ironia formado no Rio Ave, Fábio Coentrão)

Quem viu o jogo sabe que ele terminou bem com 5-2. Mas se tivesse ficado 4-3 também faria sentido. Sobre o jogo poderá ler mais aqui.

Este texto é sobretudo uma oportunidade de elogiar o compromisso das duas equipas com o bom futebol. O Benfica a fechar o ano com os melhores 35 minutos da temporada. Ainda por cima frente à equipa que lhe permitiu, em Maio, voltar a festejar um título.

O Rio Ave a explicar que ter um orçamento baixo não é necessariamente um problema quando se sabe formar um plantel, liderá-lo e se gosta de jogar bem.

Por último, três destaques individuais:

João Tomás. Pelos golos que marcou, pelos golos que leva na Liga, mas sobretudo pelo exemplo que é, no campo e fora dele.

Salvio. Por ter aproveitado a oportunidade. O Benfica precisa de quem acelere como ele. É verdade que lhe falta muito do que Carlos Martins e Ruben Amorim possuem, mas em algumas partidas poderá ajudar a decidir.

Roberto. Depois de tudo o que passou nas primeiras semanas, no sábado assinou uma das defesas da primeira volta, frente a João Tomás. Está seguro, concentrado e perto de equilibrar as contas com a equipa: começa a devolver o que tirou.

Falar Verdade - Domingos Amaral

From: Domingos Amaral To: Jorge Jesus

Caro Jorge Jesus

Churchill disse um dia que a verdade era a primeira vítima de uma guerra, e sendo o futebol uma espécie de jogo de guerra, é natural que poucas vezes os seus intervenientes digam, pelo menos em público, a verdade. Os discursos de treinadores, jogadores ou presidentes, ou são estratégias de motivação das equipas ou tentativas de desestabilização dos adversários ou dos árbitros. Contudo, em certos momentos é essencial falar verdade.

Ora, finalmente, e ao fim de cinco longos meses, desceste da torre de marfim e reconheceste o óbvio: subiste demasiado as expectativas, por um lado, e a equipa ainda não está bem, por outro. A euforia depois do título cegou-te, e foi doloroso o choque da realidade, com derrotas atrás de derrotas, mas o teu teimoso estado de negação só adiou as coisas. Foi tardia esta verdade, mas só ela pode libertar a equipa, e tentar relançá-la. Embora ainda perca muito facilmente o controlo dos jogos (final da primeira parte com o Rio Ave), desconfie de si própria, e não saiba estar a perder sem se angustiar, reconhecer tais verdades só fortifica o Benfica.

Só identificando as fraquezas se pode trabalhar para as eliminar, como se fez, e bem, no caso do Roberto, que parece outro. Desejo-te boas férias de Natal, e espero que as aproveites para distinguir o trigo do joio e revitalizar o balneário.

Se fores lúcido e motivado, pode ser que ainda seja possível mordermos os calcanhares ao FC Porto. Em meados de 1942, também ninguém acreditava que Churchill ganhasse a guerra, mas ele reconheceu a verdade, e as coisas mudaram…

Vitória - Marta Rebelo

Em tarde de regresso à gloriosa goleada e eficácia bonita da época passada, a Vitória não “abençoou” a partida com o seu habitual voo. Salvio foi herói mas a nossa águia foi a grande ausente. Perdemos o nosso símbolo desde a inauguração da nova Catedral, há 8 anos. Ensombrou-me a partida...

O Benfica brindou-nos com uma exibição das antigas, do antigamente do ano passado. Como é que a equipa que jogou uns tremendos 30 minutos e uma segunda parte ainda mais argentina, se humilhou frente ao Hapoel há apenas semana e meia? Estruturalmente a mesma, alguma coisa mudou com a (entediante) vitória na Taça. Pela primeira vez esta época JJ teve estratégia, óbvio quando “mandou” Coentrão engonhar e levar o vermelho. Pela primeira vez esta época, JJ realizou que a gestão de expectativas é fundamental, e deixou-se de prognósticos de glória pela Europa fora, quando comentou o adversário que nos calhou na rifa para a Euroliga, o Estugarda. E, pelos vistos, estas novidades colheram frutos no balneário. E em campo.

As saudades que eu tinha de celebrar efusivamente logo aos 4 minutos, de sofrer até ao fim mas pela goleada e não pelos 3 pontos. Na primeira parte fizemos bonito pela esquerda, com Coentrão e Gaitán finalmente entrosados; na segunda mais pela direita, com Salvio de ouro; e durante os 90 com Aimar e Saviola, porque Cardozo foi uma nulidade absoluta. Saiu aos 63’, e saiu tarde. Eu sei que o adepto embandeira em arco com 90 minutos de glória. Eu celebro mas aguardo: pela confirmação de Salvio, tão intermitente; pelo Ano Novo, na esperança que Jesus consiga reproduzir a receita do fim-de-semana; pela certeza da mudança; pela defesa sem David Luiz, que pode ter feito a última partida pelo SLB. Além da jogada magistral do primeiro tento, que ofereceu a Aimar, ele bem tentou o golo da despedida. Lamento, mas está na hora de deixar o rapaz voar ainda mais alto.

Silêncio - Miguel Góis

Esta semana, Sousa Tavares escreveu na sua crónica que Jorge Araújo foi um “treinador de basquetebol, que deu ao Benfica vários títulos nacionais, antes de rumar ao FC Porto”. Como é evidente, Jorge Araújo nunca treinou o Benfica, não cumprindo assim um dos requisitos necessários para se vencer vários títulos por esse clube. Sousa Tavares escreveu isto, mas - salvo uma única exceção (cuidadinho, Leonor!) - ninguém o desmentiu.

Esta semana, Sousa Tavares escreveu também: “Insisto: o futebol é um jogo simples de entender. Basta um mínimo de conhecimento do assunto e um mínimo de experiência de observação para distinguir um bom jogador dum mau jogador.” No entanto, a 9 de março não era “preciso ser nenhuma luminária para perceber que o Belluschi tem pose de pavão mas a eficácia em voo de uma avestruz”, e até que o jogador é “uma fonte de despesas e frustrações sem fim”; e, a 30 de novembro, já era um dos “bons jogadores” do plantel portista, e o único “médio de ataque à altura das necessidades”. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o confrontou.

Esta semana, Sousa Tavares escreveu ainda, referindo-se ao jogo contra o Setúbal, que “o FC Porto ganhou, de facto, com um penálti que não terá existido, mas só ganhou porque o Vitória, que dispôs da mesma oferta, a desperdiçou e o FC Porto não”. Posta a questão nestes termos, há quase, no desfecho da partida, um sabor a justiça, e quase nos esquecemos que justo, mas mesmo justo, seria que nenhum dos penáltis tivesse sido assinalado e o jogo acabasse 0-0. Sousa Tavares escreveu isto, mas ninguém o desmascarou. Assim é que é bonito.

sexta-feira, dezembro 17, 2010

Benfica Quick To Scratch Seven Month Itch? - Simon Curtis

If you have an itch, and Sport Lisboa e Benfica has been known to have one, a big loathesome one, every year or two, you have to scratch it. The Stadium of Light is like a cat’s basket full of nits at the moment. Having gone through almost every trainer realistically available to Portuguese top flight football (and one or two, it must be said, from outside the box), the powerbrokers at the Estadio da Luz last year landed on someone else’s saviour, Jorge Jesus, and quickly whisked him away from the flourishing experiment he had been conducting up in the arctic wastes of Braga for a longer period than those employed in the capital are used to. Sure enough, the trick worked. In his first season in the big smoke, Jesus performed the miracle of the twelve players and how to use your loaf. It was a water to wine moment down by the muddy margins of the Tagus, if ever there was one.

Suddenly, sloppy lethargic signings looked neat and incisive, interested even. The thousands of empty seats began to fill up at Luz and the media began to dust off their hyperbolic stanzas. Even the great statue of Marques de Pombal was reinforced in preparation for the traditional mass invasion of the biggest roundabout in central Lisbon, the traditional site for car horn tooting anf flag waving into the early hours after one of the local teams has brought back a treasured trophy. There has been little activity there in recent years, bar the omnipresent go-for-broke taxi drivers.

The title was delivered to the “Encarnados” for the first time in 6 years by the long-haired Jesus. Trapatoni’s triumph in 2004 was preceded by a drought dating back to 1992 and the days of the great dinosaur Toni. At last the capital could bask in the sunlight, sure that Porto had for once been left licking their wounds in the shadows. Nobody could have foreseen how swiftly the star of Jesus would fall, however. After 13 games this season, he already carries the air of the condemned man that no last supper will save. Benfica lie, almost prone, eight points adrift of Porto in second spot. On the face of it, this is not a calamatous position, there is still hope that an upturn can save the season for the red devils, but consider this: we are talking about a club with legendary impatience when it comes to managing to resist fiddling with the trigger of the gun marked “Manager”.

In a land where 2nd place is nowhere and 3rd is like being thrown into the wilderness, an eight point deficit at this point is a gulf that Moses would do well to bridge. Add to that some of the lacklustre, supine and heartless performances and Jorge Jesus is facing the music turned up high. If the Champions League was meant to offer the club salvation, there was a nasty wake-up call waiting there too, culminating in Benfica being two minutes from missing out on the dubious booby prize of dropping into the Europa League. The irony that far to the north a goal scored by Lyon’s ex-Porto striker Lisandro Lopez against Hapoel helped save Benfica’s bacon, shuffling Hapoel into 4th place and elevating Benfica into 3rd, was both blunt and cutting. That they had managed this on the back of a lifeless performance against Schalke, losing hopelessly and listlessly, whilst Lyon and an ex-rival pulled them from the steaming wreck of their Champions League campaign, only served to sharpen the media and supporter barbs the day after.

From the legendary Toni to the legendary Manuel José, Benfica’s managers have been confronted by administrators with always itchy trigger fingers. At Luz shooting for the stars often becomes shooting at the trainer and shooting at your foot is a presumed precursor to all of this wild and misdirected gunfire.

As many still maintain, this is the same man who lead the club to an astonishingly pert opening period last year, won them the title and brought light back to Luz. He didn’t turn sour overnight. He is the same man with the same players. Patience, it must be said is a virtue not held highly in these parts. Take a look at this impressive list of frightened incumbents, who quickly found the red carpet of welcome moving under their feet:

Tomislav Ivić 1992 1992
Toni 1992 1994 (1 League Title, 1 Cup)
Artur Jorge 1994 1995
Mário Wilson 1995 1996 (1 Cup)
Paulo Autuori 1996 1997
Manuel Jesus 1997 1997
Mário Wilson 1997 1997
Graeme Souness 1997 1999
Jupp Heynckes 1999 2000
José Mourinho 2000 2000
Toni 2000 2002
Jesualdo Ferreira 2002 2002
José Antonio Camacho 2002 2004 (1 Portuguese Cup)
Giovanni Trapattoni 2004 2005 (1 League Title)
Ronald Koeman 2005 2006 (1 Supercup)
Fernando Santos 2006 2007
José Antonio Camacho 2007 2008
Fernando Chalana 2008 2008
Quique Flores 2008 2009 (1 League Cup)
Jorge Jesus 2009 — (1 League Title, 1 League Cup)

It doesn’t need a decorated historian to point out a critical ring-pattern in this withered old oak. Impatience will eventually kill the great institution that is Benfica, unless president Liuis Filipe Vieira holds to his promise of keeping his ammo dry for once.

quinta-feira, dezembro 16, 2010

A WikiLiga - Pedro S. Guerreiro

O Wikileaks está a pôr o mundo em choque. A revelação de milhares de telegramas secretos da diplomacia americana, na Internet e nos jornais, está a trazer escândalos e bisbilhotice. Lembra-se do Caso da Fruta?...

Sim, o futebol português já teve o seu Wikileaks: a publicação, primeiro escrita e depois dos próprios registos sonoros, de escutas telefónicas. Deu no que deu: na contestação pública de um processo arquivado pelos tribunais.

Caso da Fruta, Apito Dourado, Apito Final, Envelope, o Túnel da Luz, o de Braga... O futebol tem sido fértil em casos barulhentos, mas esse da “wikifruta” foi mais longe e foi longe de mais. A violação do segredo de justiça é justiça pelas próprias mãos. É uma cobardia: suspeito não é arguido e arguido não é culpado. Só que culpado nem sempre é condenado – daí que as fugas de informação do sistema judicial português aconteçam porque o próprio sistema se descrê – e prefere uma condenação na praça pública a condenação nenhuma nos tribunais. O problema é que mesmo quem assim pensa foi à Internet, como eu fui, ouvir as gravações. Tirou conclusões. E comparou-as com as dos tribunais.

O Wikileaks tem muitas destas características, incluindo ter milhares de informações irrelevantes sobre os citados, se são pândegos, obstinados ou espirituosos. Mas o Wikileaks é uma fuga de informação diplomática, não judicial. E estão a ser revelados segredos de Estado que deviam ser julgados por tribunais. O Wikileaks é uma forma, arriscada, que a democracia encontrou para se soltar de Governos que a aprisionam.

Ao ouvir escutas de futebol, prefiro achar-me incompetente para julgar do que suspeitar de quem julga. No dia em que acreditarmos que a justiça portuguesa é orquestrada por alguma política, nem valerá a pena “wikiliquidá-la”, mais vale emigrar.

A macieira - Rui Santos

Foram 11.360 sócios que elegeram José Eduardo Bettencourt (JEB) como o 36.º presidente do Sporting e o 1.º como presidente profissional. Há um ano e meio. O tempo passado dentro e na periferia da “estrutura do futebol” e principalmente o perfil de dirigente sereno e discurso estruturado, nas cirúrgicas aparições públicas que protagonizou, a par da fama granjeada ao serviço de um banco, conferiam-lhe um halo de respeitabilidade à partida para um primeiro mandato à frente dos destinos do clube leonino.

Um conjunto de declarações absolutamente desastrosas, algumas das quais “non-sense”, a contrastar com a imagem construída durante anos, e a ausência de resultados desportivos, contribuíram para uma rápida perda de credibilidade. A esperança esvaiu-se num mar de erros e contradições que se foram acumulando a um ritmo vertiginoso. Três treinadores em menos de dois anos, um dos quais herdado e os restantes contratados, três “diretores para o futebol”, exatamente nas mesmas condições, e um naipe de aquisições e dispensas que, feito o balanço, não pode considerar-se positivo. A forma como o Sporting perdeu João Moutinho, que realizou em Alvalade maior número de jogos consecutivos do que Vítor Damas e Oceano, só para citar dois exemplos de “raça de leão”, diz muito sobre alguma incapacidade para resolver os problemas de gestão desportiva que se lhe depararam nos últimos tempos. Nem a disponibilidade revelada pelo “mago” dos “agentes-FIFA”, Jorge Mendes, para tentar “ajudar um amigo” (Costinha) serviu para contraditar a lógica de anti-espectáculo futebolístico que se instalou em Alvalade no “pós-Peseiro”. Não é só a falta de dinheiro e a dependência da banca. Também falta liderança. É preciso perceber, em primeiro lugar, por que razão o Sporting ficou totalmente refém da banca, como é que o passivo aumentou exponencialmente com pouco investimento na área desportiva, por que motivo se colocou numa posição de subalternidade perante a Olivedesportos e questionar os últimos 5 presidentes da agremiação sportinguista por que não souberam ou não quiseram procurar as causas de uma derrapagem financeira que se acentuava de uma forma preocupante e dramática. Falamos, como sempre, da auditoria externa, essa “bruxa má” que ninguém, estranhamente, quer ver por perto. Quem tem medo do quê?

Este ponto é vital porque sem ele, sem o devido apuramento de responsabilidades, é muito difícil aferir tudo o resto. Há quantos anos o Sporting não tem dinheiro para contratar um treinador com perfil ganhador, à altura da dimensão histórica de Alvalade? Há quantos anos o Sporting não consegue fazer uma “grande venda”, sem reforçar os plantéis dos adversários? Há quantos anos o Sporting não consegue fazer uma grande contratação? E o argumento do clube-formador não colhe como “solução de modernidade”, porque o Sporting sempre foi, desde o tempo do Passadiço, um clube-formador.

Não estava JEB preparado para ser presidente de um clube com a dimensão histórica do Sporting? Não estava Costinha preparado para ser, fulminantemente, diretor do futebol? Não estava Paulo Sérgio preparado para ser, em função da conjuntura criada, treinador do Sporting? Parece evidente. E é evidente que o presente está muito marcado por quem ajudou a criar a miniatura. O Sporting não é isto – e é tempo de olhar para a macieira.

quarta-feira, dezembro 15, 2010

Luz: A conexão perdida - Luís Freitas Lobo

Um golo pode festejar-se de diferentes formas, mas há algumas que são quase como ‘espelhos da alma’. A cara fechada de Luisão, o olhar para o banco, para os adeptos, para os colegas, para o vazio, é uma imagem que, subitamente, após 90 minutos de angústia, entrava no mais profundo sentir do atual futebol benfiquista. Era um golo que já não adiantava nada. Por isso, a imagem ainda mais metafórica se tornava. Sobretudo vinda de um jogador que, com voz grossa, sempre melhor incorporou em campo o grito da equipa.

Este Benfica vive uma crise existencial. A ideia que fica, vendo-o jogar, é que perdeu capacidade de comunicação. A todos os níveis. Isto é, jogadores, adeptos, treinador e direção, deixaram de ter um diálogo sincronizado. Não vejo um conflito. Vejo é todas essas peças da máquina encarnada desconectadas. É estranho. Sobretudo porque ainda há pouco tempo a empatia era total. O que mudou? Mudaram os vínculos.

A primeira tentação é ver nisto mais um efeito (dos maus resultados) do que uma causa. Não é bem assim. Porque Jesus não é hoje, na essência, um treinador diferente do que era a época passada. Ninguém muda assim num ano.

Num clube órfão de referências (e títulos) nos últimos anos, a tentação de rever num homem esse novo Messias foi demasiado forte. Irresistível mesmo. Ao ponto de o imaginar acima da estrutura. Ao ponto de esta, alucinada com vitórias e elogios, se lhe entregar nas mãos. Nenhum treinador pode ser maior do que o clube. Nem Cruyff o foi em Barcelona. Nem Mourinho, apesar das aparências, o tenta em nenhum lado. O que consegue é meter-se no meio da estrutura, ler-lhe os pensamentos e, sem nunca perder o seu lugar, impor ideias (controlando corredores e influências). Por isso é o melhor. Os seus presidentes (Pinto da Costa, Abramovich, Moratti) sempre souberam, porém, com quem estavam a lidar. Nunca lhe entregariam o clube nas mãos. Só a equipa (balneário). É muito diferente.

No Benfica, Jesus recebeu esta época as duas coisas (clube e equipa) numa bandeja. Despediu um guarda-redes campeão na televisão, contratou quem quis (o clube segurou outros) e fez crer que o mais difícil (resgatar a aura vencedora) estava feito. Pura ilusão. Faltava todo o clube perceber o momento e transformar uma época conjuntural num ciclo estrutural. Isso nunca deveria ser missão prioritária do treinador. Teria de ser do clube (sua estrutura). O Benfica fez o inverso. E, num ápice, toda essa aura se desmoronou.

Em vez de mais confiantes, os jogadores surgiram mais convencidos. As táticas são outro debate (manter um sistema para o qual deixara de ter os jogadores fundamentais e insistir noutros totalmente diferentes para o repetir). Uma posição não faz uma equipa, mas pode contagiá-la. Dentro e fora do campo. A aposta em César Peixoto desafia não só a dinâmica tática como os limites da relação com os adeptos. Entretanto, Coentrão (único jogador capaz de dar profundidade ofensiva pela faixa) continua preso a lateral-esquerdo. Ver a equipa perdida em campo e, ao mesmo tempo, ver Aimar sentado no banco, torna toda esta comunicação tática e emocional ainda mais complexa. Quando entra, porém, são mais os problemas do coletivo a invadi-lo do que ele a atacá-los.

O treinador ficou na berma do precipício. Mais do que a tática, a solução de Jesus passa por recriar esses vínculos. Perceber as novas circunstâncias, conceder nessas relações e colocar-se numa zona intermédia para reinventar o seu lugar/papel no edifício benfiquista. Não são pontes, são cruzamentos de competências. Presidente, diretor desportivo e treinador. Em suma: o(s) poder(es) nos sítios certos.
II Liga Europeia

Foi mesmo impossível o sonho do Braga na Ucrânia. Portugal abandonou a Champions e as suas quatro equipas (FC Porto, Sporting, Benfica e Braga) vão disputar a Liga Europa, uma espécie de II Liga europeia. É este o espelho competitivo do atual futebol português?

Em termos globais, cruzando fatores financeiros com desportivos, é a que melhor reflete a sua realidade. Sucedeu o mesmo a holandeses, gregos e turcos, países da mesma divisão, a chamada ‘segunda linha’ do futebol europeu. Circunstancialmente, quando as razões desportivas ultrapassam as financeiras, um desses clubes (no nosso caso, tem sido o FC Porto) podem furar essa dimensão. Só com políticas desportivas/financeiras cirúrgicas na gestão e contratação é possível essa fuga à realidade futebolisticamente filha de um ‘deus menor’.

Na Liga Europa é outra história. Todos podem mesmo ambicionar ganhá-la (como Shakhtar e Atlético Madrid nas últimas duas épocas). A prova surge, neste momento, à medida certa da dimensão das nossas equipas.
Penálti choque

O treinador como que pressente o que vai acontecer. A imagem de Manuel Fernandes no banco do Setúbal na hora do segundo penálti de Jailson diz tudo. É uma ‘monografia’ sobre emoções no futebol. No primeiro, esperara de pé, exultara com o golo, desesperara quando viu o árbitro mandar repetir o pontapé. Nesse segundo, já não o viu de pé. Sentou-se e esperou, olhando impotente para o que receava (e pressentia) ir acontecer. E aconteceu. O mesmo jogador que antes marcara tão bem o penálti, dera agora um ‘chutão’ por cima da barra. Manuel Fernandes nem esboçou a reação. Apenas fechou os olhos e encostou a cabeça no banco. Controlar a respiração e o… coração. Aumento de batida cardíaca maior não existiria. Os penáltis não são para cardíacos.
Teoria dos estímulos

O FC Porto sobreviveu a um penálti (ou dois) no último minuto e continua no comando com oito pontos de avanço. É impossível manter 30 jogos com o mesmo nível exibicional, mas a quebra de jogo da equipa frente ao Setúbal revelou sobretudo, desde o início, uma quebra de estímulo competitivo. Jailson não aproveitou. Do primeiro para o segundo penálti, a baliza, na sua cabeça, ficou muito mais pequena. O receio de falhar, no segundo remate, tomara conta da esperança de marcar, que o estimulou no primeiro. Aqui estão, da exibição coletiva cinzenta do FC Porto até à ‘bipolaridade’ de Jailson na hora do(s) penálti(s), duas versões da teoria dos estímulos. O futebol, equipas e jogadores, vive (e depende) muito disso.

O treinador, nesse sentido, deve ser como um ilusionista. Falar ‘contra a corrente’. Otimista na derrota, pessimista na vitória. É a melhor forma de ajustar o estímulo competitivo da equipa à realidade. Sem depressões. Sem deslumbramentos.

Neste momento, a pergunta que o ‘mundo benfiquista’ faz é simples: como será possível o FC Porto perder tantos pontos para o Benfica ainda sonhar com o título? A maior possibilidade seria o ‘mundo azul e branco’ perder a consciência da realidade referida no parágrafo anterior. A outra, será duvidar da qualidade do plantel para substituir eventuais baixas do onze titular. É um pensamento que nasce de ver como Pereira se tornou um jogador fundamental nas dinâmicas defesa-ataque-defesa do flanco esquerdo portista (Emídio Rafael luta bem, mas não garante a mesma intensidade/qualidade). Villas-Boas tem sabido esquivar-se a ambas. Sabe, porém, que ainda falta mais de meio campeonato. Uma boa dúvida é um sinal de sabedoria, mas os treinadores nunca podem cometer o erro de a demonstrar publicamente.

Respirações - João Gobern

Estão cada vez mais rápidos os ciclos de confiança e de alerta no futebol português – que o digam Jorge Jesus e Paulo Sérgio, outra vez protagonistas do fim-de-semana e outra vez pelas razões opostas. Quatro dias depois de uma humilhante derrota caseira no fecho da participação benfiquista na Champions, o treinador campeão parecia outro. Voltou a fazer as suas corridas rápidas ao longo da linha lateral, a gesticular mais e melhor do que os antigos polícias sinaleiros, a usar a voz de comando para orientar posições defensivas e para estimular movimentos ofensivos. Será coincidência, mas a verdade é que nunca a superioridade do Benfica frente ao Braga esteve em causa e percebeu-se cedo que os golos seriam mesmo uma questão de tempo.

Ochoque vitamínico de Jesus chegou pela voz de Luís Filipe Vieira, entre os dois jogos. Dir-se-á que o tom de crédito de confiança ao técnico também se ficou a dever a terceiros (sim, o milagre de Lyon, que manteve o Benfica na Europa). Mas Vieira soube falar no tempo certo e no sentido que se espera de quem tem de decidir racionalmente. Chegou, até, a sublinhar erros do passado para declinar a hipótese de os repetir. Sem percalço frente ao Rio Ave, o Benfica vai para o Natal com um capital de confiança externo que lhe permite respirar e recomeçar. Já perdeu a Supertaça, já caiu na liga dos milhões, tem atraso considerável no campeonato. Mas sabe que, sem estabilidade (e não só emocional), arrisca-se a perder tudo o resto. É a diferença entre o revés e a catástrofe.

Já Paulo Sérgio começa a ver reduzida a margem de manobra e, afastado da Taça, vai precisar de se alimentar muito da Europa. Só que o problema do Sporting parece diferente – com aquela matéria-prima, a qualidade não estica e, sobretudo, parece insuscetível de se traduzir em estabilidade e consistência. Num dia bom, os leões podem ganhar a qualquer dos rivais. Mas, num dia mau, podem perder com qualquer adversário. O mais fácil (e o mais praticado) é culpar o técnico mas, no caso particular de Paulo Sérgio, julgo que se trata de uma enorme injustiça. Ele já apresentou vários tipos de omeleta, mesmo sem ovos no cesto – não pode é servi-la todos os dias. Ainda assim, no final, estou em crer que a época do Sporting acabará por ser menos aflitiva e menos medíocre do que na temporada passada. A menos que cortem o oxigénio a Paulo Sérgio.

Uma nota final para André Villas-Boas: em fase de recordes e em estado de graça, ele fala como respira. Mandaria a prudência que não gastasse o ar todo, porque pode vir a precisar de fôlego, se a coisa se complicar. Até Mourinho sabe que o silêncio, de quando em vez, é o melhor remédio para evitar o desgaste e o cansaço. Está em espera.

"Ponto de ordem" - José António Saraiva

Escrevi uma primeira versão desta crónica com o título Os Coveiros, onde lamentava que os benfiquistas vaiassem os seus próprios jogadores, como tem acontecido com César Peixoto. E adiantava que os coveiros do Benfica estão a ser os seus adeptos.

Luís Filipe Vieira também percebeu isso. E, numa atitude inteligente e oportuna, veio apelar à massa associativa para apoiar a equipa, dizendo-lhe, com firmeza, que Jorge Jesus é para continuar. Esta intervenção deu frutos – e o comportamento dos adeptos, no jogo com o Braga, já foi diferente.

As massas associativas têm de começar a perceber que os clubes não podem despedir treinadores ao sabor dos assobios e que as chicotadas psicológicas pertencem cada vez mais ao passado. Só a estabilidade – e não a ansiedade – pode trazer resultados.

O problema do Benfica passa pela falta de confiança, individual e coletiva. No jogo com o Braga, teve 10 situações de golo possível. Cardoso e Saviola tiveram falhanços incríveis. Em sucessivos cantos, a equipa não criou uma única situação de perigo – enquanto o Braga, em três ou quatro, só não fez um golo por milagre. E tudo isto porquê? Porque os jogadores jogam sobre brasas, têm pavor de errar – e isso é meio caminho andado para as coisas saírem mal.

Daí a importância do “ponto de ordem” de Vieira. Ao dizer que a cabeça do treinador não está a prémio e que não haverá grandes mudanças no plantel, o presidente explicou aos adeptos que não adianta assobiar.

E àqueles que dizem que a equipa tem de ganhar para os adeptos voltarem a apoiá-la, convém lembrar que o contrário também é verdade: para a equipa voltar a ser o que já foi, os adeptos têm de puxar por ela.

terça-feira, dezembro 14, 2010

Ganha bem, mas não alegra - Rui Tovar

Podia ser um grande jogo – havia até quem dissesse, com exagero, que se tratava de uma final antecipada – mas não foi assim. Por um lado, porque o Benfica está a milhas do “outro” do ano passado e reeditar a excelência do seu futebol não foi, por isso, mais uma vez, possível; por outro, porque o Braga, sem sete dos seus habituais titulares, também não podia dar corpo ao verdadeiro arsenal de outras contendas.

A única coisa que ainda se aproximou do passado recente foi o nervosismo de alguns intérpretes no momento do regresso às cabinas, ao intervalo. Naquele que ficou conhecido como o episódio do túnel. Aí, temeu-se o pior, já que, minutos antes, tinha havido um desentendimento entre Coentrão e H. Viana que alastrou de imediato aos restantes. A pronta intervenção de Rui Costa e outros responsáveis dos dois emblemas evitou, porém, males maiores.

Então já o Benfica ganhava, com excelente golo de Saviola, curiosamente obtido numa altura (38’) em que o Braga começava a denunciar maior atrevimento ofensivo, depois de Domingos haver constatado que a sua equipa, de recurso como já se disse, tinha no fim de contas aguentado o balanço inicial de um Benfica nada convincente: muito mexido no meio, sim, mas pouco perigoso na frente de ataque.

A saída precoce de Luisão, após remate muito intencional a que Artur Moraes se opôs bem, terá também pesado nessa decisão mais aventureira dos bracarenses, embora o substituto Sidnei se tivesse mostrado à altura. Mas a esse empertigamento, se bem que intermitente, do Braga soube responder, de igual modo “soluçante” o Benfica, impulsionado ora pela magia de Aimar, ora pelo arreganho de Carlos Martins (cujos excessos não se recomendam) a que Cardozo, desta vez, não deu seguimento.

A perder pela tangente, o Braga tentou na parte final forçar o prolongamento. Esteve bem perto de o conseguir, num desvio de Alan, a obrigar Júlio César à defesa da noite. Mas seria o Benfica a chegar ao 2-0, aproveitando precisamente o adiantamento do adversário no terreno, com Salvio no papel de desequilibrador. Na sequência do lance, Aimar faria então o golo do descanso.

Vitória, portanto, merecida do Benfica, pelo seu maior caudal de jogo e oportunidades criadas mas, importa sempre sublinhá-lo, frente a um Braga sem mais de metade dos seus habituais “guerreiros”. E o facto de o Benfica ter registado o triplo de faltas (21 contra 7) também é capaz de querer dizer alguma coisa...

Como Ressuscitou Jesus - Luís Pena Viegas

O jogo de domingo, com o Braga, para a Taça de Portugal, mostrou que Jorge Jesus... está vivo.

O técnico do Benfica voltou a ser aquele espectáculo à parte no acompanhamento do jogo e nas ordens à equipa, eléctrico como há algum tempo não se via, deixando a atitude conformada e quase passiva dos últimos encontros. Uma mudança de comportamento que se explica com o conjunto de factores que O JOGO a seguir decompõe, quando a posição de Jesus era insistentemente colocada em causa - havia até o rumor de que o treinador campeão nacional nem chegaria ao Natal, antecipando-se o fim de uma ligação válida até 2013.

Os votos de confiança de Luís Filipe Vieira, que pelo prisma do fatalismo até poderiam ser entendidos como prenúncio de despedimento, fortaleceram, porém, Jesus, uma vez que foram repetidos em curto espaço de tempo e com clareza por parte do presidente do Benfica. Começou aí a alteração de atitude do técnico de 56 anos, que segundo dizem a O JOGO mostra-se mais expansivo e exuberante precisamente quando se sente confiante - em contrapartida, os nervos é que o deixam quieto e escondido no banco. Depois, a promessa de contar com reforços de Inverno, já em Janeiro, deixou-o também mais optimista e com a convicção de que a segunda metade da época será melhor, até porque há atletas capazes de render mais com o passar do tempo.

O volte-face neste jogo da Taça, que garantiu o apuramento para os oitavos-de-final, foi ainda estimulado pelo facto de ser uma partida a eliminar e uma prova em aberto - o Benfica já foi eliminado da Champions e está longe do líder FC Porto -, tratando-se também de um sonho de Jesus. O treinador das águias já esteve numa decisão (em 2007), com o Belenenses, e nunca escondeu o desejo de triunfar no Jamor, enriquecendo o currículo e homenageando o avô.

A mudança de comportamento de Jesus entronca ainda numa nova estratégia de comunicação. Desde logo porque, pela primeira vez, o técnico fez um mea culpa, reconhecendo que pôs a fasquia demasiado alta quanto à Liga dos Campeões, exagero que acabou por ter influência no seio do grupo, à medida que as derrotas apareceram. Essa mesma instabilidade seria também assumida pelo treinador, que vê agora a equipa "menos ansiosa e mais confiante". E essa confiança é precisamente o combustível de um Jesus de regresso ao passado. Igual a si próprio.

O astral na Luz... - Marta Rebelo

Continuamos na Taça. Eu não sou do contra, derrotista nem tão-pouco tenho sede de sangue. Não tenho um prazer masoquista em sofrer e criticar. Mas tenho muita sede de golos e saudades de exibições gloriosas. E a de ontem à noite foi triste, cinzenta, monótona.

Só em quatro momentos houve agitação: aos 38’, quando Saviola quebra o entorpecimento e marca o primeiro golo da noite; aos 61’, quando Coentrão se cansa da falta de cor e, endiabrado, arranca do meio campo e só depois de uma tentativa falhada e de, na recarga, ganhar o canto é que sossegou; aos 88’ Júlio César salva a noite, naquele que é o momento mais feliz do Benfica... outro seria o cântico se aquela bola entra...; e aos 93’, com o 2-0 por Aimar, um golo obtido na segunda recarga. É uma grande verdade que a bola teimou em não entrar. Mas nós teimámos em não entrar no jogo. E se o Braga se apresentasse na Luz com os sete titulares que não marcaram presença? É que nós jogámos com o nosso onze titularíssimo, pelo menos até à saída prematura de Luisão. E se o Benfica tivesse sido eliminado ontem?

É provável que se tornasse muito difícil à direção encarnada segurar Jesus. Mas houve eficácia. O Glorioso segue em frente, e os resultados têm de seguir para cima. Pede-se inteligência no mercado de Inverno, livrar-nos do lastro e investir em verdadeiros valores. Para as posições que estão desfalcadas. As contratações do Verão foram a pobreza que se vê em campo. A de Gaitán à parte (e Roberto, a baliza já serenou), que precisa de ser recolocado no terreno (faria, idealmente, o lugar de El Mago, e como Aimar só ele). O balneário precisa de repouso, por mais que nos digam que não... estava a equipa, suplentes e banco a festejar a vitória no relvado e JJ, à margem, já na entrada do túnel. Há um ano, o Guimarães eliminou o Glorioso da Taça, em casa. E mesmo perdendo por 0-1, o astral na Luz era outro. Que 2011 nos traga os momentos vibrantes que, afinal, aconteceram há menos de 6 meses...

segunda-feira, dezembro 13, 2010

(In)gratidão - João Malheiro

Há dias, num café, uma criança, para aí com 11 anos, dirigiu-se-me, queria saber uma coisa sobre o Benfica. Esclareci de pronto e fiquei à espera de lhe matar outras curiosidades da bola. Espanto meu, a menina perguntou-me qual era o sentimento que mais abominava. Creio que utilizou a expressão «que menos gostas». Não hesitei, fui lesto na resposta. É a ingratidão, disse-lhe de forma categórica.


A minha interlocutora não objectou, pareceu-me ter ficado satisfeita. Ainda assim, insisti no propósito de lhe explicar o fundamento da minha opção. É que sentimentos há tantos, mesmo para o universo infantil. De que exemplo me socorri? A criança era benfiquista, falei-lhe de Jorge Jesus.


«Sabes quem é o treinador do Benfica?» Claro que sabia. «Sabes que foi campeão no ano passado?» Claro que sabia. «Sabes que, esta época, como as coisas não estão a correr bem, há quem queira mandar embora o Jesus?» Claro que sabia. «Sabes o que se chama a isso?» Claro que tive de explicar. «Chama-se ingratidão.» Ela entendeu.


Falei-lhe num treinador português com um trajecto feito a pulso, com recentes passagens de grande qualidade no Belenenses e no Braga. Falei-lhe num treinador português que, chegado ao Benfica, prometeu conquistar o título nacional e foi bem-sucedido logo na primeira experiência. Falei-lhe de um treinador português que tem muito para ganhar no clube que representa.


«Eu gosto do Benfica e gosto muito do Jesus», foi o que ela me disse. Disse-me gratidão. Num jeito garoto, numa forma crescida e até comovente.

Sete caminhos para transformar os pecados da Liga em virtudes - Bruno Roseiro

Não há salários em atraso
É o principal problema do futebol português nos dias que correm. Ainda antes do Natal começam a surgir notícias de meses de salário em atraso, de dificuldades em cumprir os contratos, de jogadores a rescindirem com justa causa e de clubes das duas divisões profissionais a porem em risco a capacidade de terminar a época sem fechar portas. Todos os anos são prometidas soluções para evitar o flagelo, todos os anos se repete o filme.

Que fazer? Criar regulamentos para punir com penas mais pesadas os clubes que não cumprirem todos os compromissos, ameaçando-os, por exemplo, com a descida automática à 2.ª divisão. A nível financeiro, criar uma regra que obrigue os clubes a depositarem uma caução equivalente a dois meses de ordenado - assim, caso algo falhe, os jogadores, treinadores e restantes elementos ficarão salvaguardados. A partir daí podem rescindir de forma unilateral com justa causa, sabendo que receberão os salários devidos. A nível regulativo, pedir a todos os clubes informações detalhadas sobre as receitas e despesas da época de modo que o risco de incumprimento seja menor.



Assistências médias dos jogos aumentam
Uma jornada em que os três grandes joguem fora pode ter uma média de sete/oito mil espectadores por encontro. Pouco, muito pouco. Uns queixam-se da ditadura que a televisão instalou nos horários, outros da falta de segurança em determinados estádios, todos do preço elevado dos bilhetes. A verdade é que, dos maiores aos mais pequenos na massa adepta, há poucas excepções neste cenário de queda generalizada. Todos os anos são pensadas soluções, todos os anos se repete o filme.

Que fazer? O preço dos bilhetes é muitas vezes inflacionado devido à venda de lugares anuais, mas o actual cenário de crise terá de ser acompanhado pelos próprios dirigentes, que poderão conseguir a mesma receita mas com estádios mais compostos. Os dias e horários dos encontros deverão ser revistos, com o estabelecimento de limites (20h00, por exemplo), de jogos-piloto disputados de manhã e do regresso da "febre de domingo à tarde", como na década de 80 e 90 (com reflexo nas assistências). Em relação à segurança só há um caminho – em vez de "multas pesadas", interdição dos estádios por uso de pirotecnia, petardos ou qualquer outra ameaça à integridade física dos espectadores ou atletas.



Passivo dos clubes desaparece
O aparecimento das SAD só veio piorar o endividamento dos clubes. Nem a venda dos principais activos consegue minorar o buraco (até porque grande parte desses fundos é usada para colmatar as vagas) financeiro comum a todos. As derrapagens de tesouraria, o investimento em estádios ou os reforços sem olhar a meios agudizam o problema. Todos os anos são tentadas soluções, todos os anos se repete o filme.

Que fazer? Estabelecer tectos salariais tendo em conta o valor total de receitas da última época, criar uma espécie de "Plano Mateus" mais abrangente ou garantir que se os clubes não cumprirem o abatimento de uma percentagem fixa da dívida também não poderão inscrever jogadores. Mas há mais para tentar, sobretudo no que diz respeito aos patrocínios nos estádios, à melhoria no merchandising e à exploração de novos mercados, como as casas de apostas, em franco desenvolvimento.



Número de jogadores portugueses aumenta
Portugal tem uma longa tradição nas camadas jovens mas esta década saíram menos jogadores e os resultados caíram. O aumento do número de atletas estrangeiros na formação é um fenómeno em crescendo com ligação directa a este decréscimo, mas nota-se que muitos clubes das duas divisões profissionais ainda preferem apostar no mercado sul-americano e tapar vagas de talentos a emergir com salários menores. Todos os anos são ponderadas soluções, todos os anos se repete o erro.

Que fazer? Antecipar medidas que já andam a ser pensadas pela FIFA, criar uma quota de obrigatoriedade de jogadores nacionais nos plantéis e no onze, bem como a regra de promover pelo menos um/dois jogadores da formação à equipa principal todos os anos. Fazer regressar e estimular as equipas B dos grandes, podendo estas subir à Liga de Honra. A médio prazo, e seguindo o exemplo francês, criar uma regra que obrigue todos os clubes a terem um estádio e um centro de estágios/academias caso queiram competir na divisão principal.



Média de golos por encontro e qualidade dos jogos dispara
O golo ainda não está em vias de extinção mas cada vez é mais raro. No entanto, mais golos trazem mais gente, mais emoção, mais espectáculo, mais receitas. Voltar aos anos dos 25 golos em média por jornada melhoraria a competição e evitaria o espectáculo agora habitual de jogar para os pontos a queimar tempo. Todos os anos são comentadas soluções, todos os anos se repete o filme.

Que fazer? Olhar para as restantes modalidades e retirar lições. Muitos defendem a redução das equipas na Liga para aumentar a qualidade. Mas há outras formas de promover o espectáculo sem beliscar os regulamentos internacionais. Por exemplo, bonificações por golos marcados (râguebi) ou pontos extra por derrotas com "x" golos marcados (voleibol).



Interrupções diminuem, tempo de jogo útil cresce, menos suspeitas
Os jogos do campeonato português mais parecem concertos de apito quando comparados com outras ligas europeias de patamar maior ou semelhante. Razões? É mais fácil controlar um jogo assim (visão dos árbitros). A nossa cultura também foi sempre assim (visão de todos) – ao mínimo toque, é falta. E há outro problema: para a maioria, os erros têm sempre algo por trás – reflexo de uma cultura de desconfiança. Todos os anos são faladas soluções, todos os anos se repete o filme.

Que fazer? Melhorar a formação dos árbitros, seguindo o exemplo de outras ligas, e enraizar o culto de uma arbitragem melhor e com critério mais largo (mas igual para todos). Aumentar o número de minutos nas compensações: se uma parte de 45 minutos teve apenas 20/25 de jogo jogado, porquê só mais 3/4 minutos extra? Repensar a nomeação dos árbitros, recuperando a hipótese de sorteio semicondicionado, com classificação prévia dos jogos (alto, médio e baixo risco) e nomeação de juízes internacionais com mais experiência.



Dirigentes deixam de fazer manchetes: os artistas são os jogadores
Seja pelas críticas aos rivais (sobretudo este ponto), pela defesa de um treinador ou apenas para transmitir uns recados aos associados, os dirigentes continuam a ser os principais protagonistas nas capas dos jornais, em detrimento dos verdadeiros artistas que fazem realmente o jogo – os jogadores. Portugal não é caso único (em Itália chega a ser pior) mas destaca-se pela negativa, o que também está relacionado com as políticas restritivas e condicionadoras da comunicação. Todos os anos são revistas soluções, todos os anos de repete o filme.

Que fazer? Mudar a mentalidade em vários quadrantes. Na comunicação, abrir horizontes e não ver fantasmas de possíveis perturbações em toda e qualquer solicitação. Nas direcções, apertar a malha no controlo de declarações públicas (sobretudo as que possam ter reflexos negativos em jogo), punindo todos os que desestabilizem o normal funcionamento da competição. No contexto desportivo, falar sobre a hipótese de aumentar as aparições públicas de jogadores em conferências ou zonas mistas abertas à imprensa.

domingo, dezembro 12, 2010

Em defesa de Jesus - Miguel Góis

Posso estar em negação (isso explicaria por que razão estou convencido que o mau futebol do Benfica não passa de um plano diabólico para desencorajar os adeptos a irem assistir aos jogos fora). Mas a verdade é que me recuso a pensar na hipótese de Jorge Jesus ser despedido. Em termos racionais – e eu peço, desde já, desculpa por estar a amalgamar neste texto assuntos tão díspares quanto “racionalidade” e “futebol” – não faz sentido termos por fim encontrado um treinador capaz e competente, depois de décadas a tolerar treinadores razoáveis e medíocres, e agora demiti-lo por não estar a ter sucesso nos últimos meses. Sejamos razoáveis: se, até 2037, Jorge Jesus não puser a equipa a jogar como na época passada, apontemos-lhe então a porta de saída com maus modos.

Jesus perdeu o balneário? É simples: compre-se-lhe um novo balneário. Quem está com o nosso treinador, fica. Quem não está, é excomungado. Custa-me dizer isto, mas o Benfica tem muito a aprender com a forma como a Igreja Católica lidou, no passado, com a dissensão: quem não acreditar em Jesus, deve ser castigado. Mas sem aquela parte das acendalhas.

Uma referência final à forma energúmena como alguns adeptos do Benfica têm tratado o campeão nacional César Peixoto. Eu não me esqueço quem é que, no ano passado, marcou Hulk na Luz, de forma exemplar. E também não me esqueço quem é que, na época passada, foi o melhor jogador em campo no Sporting 1 - Benfica 4, referente às meias-finais da Taça da Liga. Mas isso sou eu, que não gosto de dar tiros no pé.

Picareta falante - Domingos Amaral

From: Domingos Amaral To: André Villas-Boas

Caro André Villas-Boas

Algures na década de 90, Vasco Pulido Valente batizou genialmente António Guterres como “picareta falante”. Quando penso em ti, é disso que me lembro. Calado tantos anos à sombra de um gigante, chegaste a Portugal com uma necessidade infinita de afirmação e uma vontade irreprimível de palrar. Com a excitação juvenil de quem abandonou recentemente uma estranha prisão, a tua língua soltou-se.

Em pouco mais de um ano, ouvi-te arengar sobre tudo e mais alguma coisa. Discursas sobre o Benfica, muito, mas também sobre o Sporting, sempre em picanço; teorizas as falhas da Liga Europa, explicas a teoria do caos no futebol, gabas as metodologias dos treinos, defendes a primazia do coletivo sobre o individual, classificas os clubes que vêm da Champion como “frustrados”, reforças os grandes méritos de Jesus (dias depois de o ter humilhado), relembras os castigos da época passada, e opinas sobre arbitragens, Vítor Pereira, Benquerença, Jorge Silva ou Elmano Santos. Munido de mil e uma ideias, raciocínios e pontos de vista, peroras aos microfones, lançando bicadas à direita e à esquerda, como a picareta falante.

A princípio, isto irritava-me. Depois, passou a cansar-me, e só me apetecia perguntar, como o rei Juan Carlos fez certo dia a Hugo Chavez: “Por que no te calas?”. Mas, agora já te acho graça. Na verdade, perante a penúria que tem sido este campeonato, se não fosses tu e as tuas inventivas teses, esta época não tinha ponta por onde se lhe pegasse. Bem hajas, por entreter o povo com a tua retórica malabarista.

sexta-feira, dezembro 10, 2010

O grande desafio de Jorge Jesus - Bruno Prata

Contra o que eram as expectativas gerais, o Benfica transformou-se, esta época, num “case study” em que é muito difícil encontrar um nexo de causalidade para tamanha acumulação de fracassos. E a ausência de justificações suficientemente razoáveis para tantas exibições medíocres acaba por ser a principal fragilidade de Jorge Jesus. Não fora o golo marcado pelo Lyon ao cair do pano e estar-se-ia talvez já a falar no fim do ciclo do técnico benfiquista - talvez não ainda no sentido do despedimento imediato, antes na probabilidade de nem começar a próxima época. Por isso, o pontapé certeiro do jovem francês Lacazette tanto poderá significar a abertura de uma nova janela de oportunidade como o estertor final de quem ainda há seis meses, numa reunião de treinadores de elite da UEFA, se auto-intitulava como “mestre da táctica”.

O diagnóstico vem recolhendo unanimidade. Num piscar de olhos, o Benfica deixou de ser uma equipa estilista, perdeu o seu poder de intimidação e a capacidade de transformar os adversários em bonecos. Evaporou-se pouco a pouco. E, ao contrário da época passada, em que sofria de incontinência goleadora, parece uma equipa mal cozida e sempre dependente da genialidade de alguns dos seus jogadores. Não se vêem movimentos de rotura nem a mesma organização colectiva do jogo. Defensivamente, há uma flagrante incapacidade de reduzir os espaços e de pressionar, qualidades em que se distinguia há meio ano. E, no ataque, falta-lhe capacidade de explosão, escolhendo invariavelmente o corredor mais central. Tudo ao contrário do que se lhe viu na última época.

Os efeitos desta estranha e surpreendente metamorfose são também conhecidos. O Benfica perdeu nove dos 21 jogos oficiais realizados, segue a oito pontos do líder da liga portuguesa e sofreu quatro derrotas nos seis jogos da Champions, a sua pior participação de sempre em sete presenças na fase de grupos, o que não joga nada bem com o forte investimento realizado e o discurso ambicioso em termos europeus. Além de ser a única das quatro equipas portuguesas que não assegurou o estatuto de cabeça de série no sorteio da Liga Europa que terá lugar no próximo dia 17, o que poderá ser perigoso, denotou ainda uma incapacidade flagrante para jogar fora de casa frente a adversários com alguma dimensão. Na Liga dos Campeões, perdeu por 2-0 em França (Lyon), baqueou pelo mesmo resultado na Alemanha (Shalke 04) e por 3-0 em Israel (Hapoel). Acrescente-se-lhe o 5-0 com que saiu do Dragão, para a liga portuguesa, e o 2-0 com que foi derrotado em Aveiro, também frente ao FC Porto, na Supertaça. No total, imagine-se, dá um score de 14 golos sofridos e nenhum marcado…


Este quadro negro - parece hoje claro - não pode ser apenas relacionado com as saídas de Di Maria e Ramires. Nem com o facto de o FC Porto (que venceu 20 dos seus 23 jogos oficiais) ser actualmente a única equipa invencível na Europa. No máximo, pode questionar-se até que ponto o Benfica foi certeiro nas ordens de compra. Não pelo lado da categoria dos jogadores contratados, porque salta à vista que Gaitán pode não ser um jogador à imagem de Di Maria, mas tem uma qualidade indiscutível, enquanto Kardec, Jara e Airton são também jogadores acima da média. Mas Gaitán e Jara têm apenas 22 anos e são os mais velhos daquele lote.

Mesmo sabendo-se que os jogadores não atingem a maturidade na mesma altura, é notório que nenhum deles atingiu ainda a plenitude das suas capacidades. O problema é que o Benfica, por limitações orçamentais, precisa de investir em jovens promessas que mais tarde resultem em mais-valias financeiras. Neste ponto, não é sequer uma situação muito diferente daquela que se vê no FC Porto. Os portistas também investiram bom dinheiro em Otamendi (22 anos), Souza (21), Walter (21) e James Rodriguez (19) e Emídio Rafael (24), tendo ainda feito regressar Ukra (19) e Castro (22). Entre todos eles, só o central argentino parece ter atingido já a “fase adulta”, o que não invalida que todos os restantes pareçam boas apostas de futuro. No Benfica, é hoje evidente que Roberto (24 anos) é o reforço com rendimento mais elevado e consistente, o que não deixa de ser curioso. Serve para demonstrar o quanto estavam a ser precipitados todos os que ridicularizaram o seu valor. Serve, ainda, para confirmar o quanto estavam certos todos aqueles que seguiram ou se informaram sobre a sua carreira em Espanha. Mas serve, também, para provar quão volúvel pode ser o futebol: Roberto teria, quase de certeza, sido despachado da Luz se, frente ao Setúbal, Júlio César não tivesse sido expulso e se o guarda-redes espanhol não tivesse tido a felicidade de defender um penálti. Numa indústria tão cara, custa a acreditar que as coisas se possam passar com tamanha leviandade.

Ainda sobre os reforços, a diferença do Benfica relativamente ao FC Porto é que este não tem dependido em demasia dos contributos das suas jovens promessas, garantindo-lhes assim um período tranquilo de adaptação e crescimento. Isto porque o rendimento das primeiras figuras tem estado de acordo ou até acima das expectativas.

No Benfica, ao invés, os reforços entram já em campo condicionados pelo facto de saberem que estão permanentemente a ser avaliados e julgados à luz de quem já lá não mora. E isso é tremendamente injusto porque Di Maria, por exemplo, precisou de dois anos de tarimba antes de o seu valor merecer a unanimidade. Quando se olha para os reforços do Benfica, no máximo pode discutir-se se houve suficiente cuidado em resolver as principais debilidades. E, aí, parece óbvio que Jesus teria outras armas se não tivessem falhado as tentativas de contratação de Leto ao Panathinaikos e, principalmente, de Wesley ao Santos (entretanto transferido para o Werder Bremen). Da mesma forma, o Benfica perdeu ainda há dias a possibilidade de entrar no negócio que lhe garantia a cedência de Elias, do Corinthians, agora a caminho do Atlético de Madrid. Qualquer um deles podia assumir a responsabilidade de dar capacidade de explosão ao meio-campo benfiquista.

Mais do que o fracasso dos reforços, parece cada vez mais claro que o Benfica está a pagar principalmente o rendimento medíocre de muitas das suas vedetas já com alguns anos de casa. E, aí, a responsabilidade tanto pode ser dos próprios jogadores como do treinador. Ou de ambos, como é mais provável. O onze titular é quase o mesmo que ainda há seis meses funcionava sobre os adversários como um ciclone. Hoje, apenas Coentrão, Carlos Martins e, por vezes, Aimar mantêm um rendimento de acordo com o seu estatuto. Os restantes, ou lidaram mal com o sucesso, ou ficaram inebriados com a possibilidade de se mudarem para ligas mais tentadoras financeiramente.

Depois de uma época em que recebeu justificados elogios, Jesus também parece ter ficado algo diferente desde que foi assediado pelo FC Porto e conseguiu renovar e multiplicar o ordenado. Contra si terão funcionado, no balneário, as notícias sobre o prémio gordo que recebeu pela conquista da liga. Tal não deveria ter criado polémica atendendo ao ordenado baixo que até aí recebia, não fora o caso de os prémios dos jogadores não terem sido atempadamente estabelecidos e terem acabado por ser menores do que eram as suas expectativas. Aí, quem terá falhado foi a gestão de Luís Filipe Vieira, mas ao treinador pode-se apontar o dedo noutras situações. Não foi capaz, por exemplo, de inverter nenhum resultado negativo e tomou várias opções tácticas discutíveis, a começar pela aposta em César Peixoto, que já leva o rótulo de suplente para dentro do campo.

Mas Jesus falhou ainda noutros capítulos. Juan Lillo disse um dia que um treinador deve ser como Deus: estar em todos os sítios, mas nunca visível. Jesus fala demasiado na primeira pessoa. José Mourinho costuma dizer que “é na conferência de imprensa antes do jogo que a partida começa”, porque desviar a pressão dos jogadores “é uma característica que um líder nunca deve perder”. Jesus não o consegue com os “monólogos” na Benfica TV. Alex Ferguson garante que um dos segredos para o seu sucesso é a gestão dos seus subordinados (“Se perder o controlo sobre os multimilionários do balneário do Manchester, estou morto”). Jesus deixou que o seu discurso quase sempre rude se gastasse prematuramente.

Mais do que reforços, o Benfica precisa de encontrar rapidamente algo que tenha um efeito balsâmico capaz de resolver esta fase depressiva. Esse é o grande desafio de Jorge Jesus.

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Regime de podridão - Rui Santos

A arbitragem de Elmano Santos no Dragão é um sinal preocupante do estado a que chegou o futebol português. O regime da podridão aí está, soberbo e desajeitado, sem pedir licença para se instalar. Um labéu contra o FC Porto? Acima de tudo, a verificação de que a bola indígena não quer regenerar-se e usa a arbitragem para expor os seus ditames, as suas forças e também as suas fraquezas.

Elmano Santos é apenas uma marioneta comandada pelos sinais que vão sendo emitidos pela(s) respetiva(s) “torre de controlo”. Um árbitro fraco, sem classe, desprotegido perante os vícios sistémicos de um futebol artesanal com tiques de “indústria”, que marca um penálti contra o V. Setúbal apenas vislumbrado pela confabulação dos seus temores e que, mais tarde, torturado pela sua má consciência, assinala uma outra grande penalidade, agora contra o FC Porto, cuja conversão anulou para mandar repetir, com o argumento de que ainda não tinha apitado.

Para tranquilizar, desde já, os espíritos mais perturbados, quero dizer, sem sofismas, que os mesmos lances, exatamente com as mesmas características, poderiam ter acontecido no Estádio da Luz, a outra “torre de controlo”, agora atingida pelo atómico e prometido despertar do Dragão.

Se o jogo fora das quatro linhas não existisse (ele ainda aí completamente desconjurado em quase todos os segmentos da sociedade), o presidente do FC Porto não teria afirmado, porventura sem dar conta da importância da sua afirmação, de que o êxito desportivo do Benfica só aconteceu porque, “mea culpa, mea culpa”, houve quem tivesse adormecido.

Quer dizer que Elmano Santos é materialmente corrupto? Não necessariamente. Quer dizer que os árbitros se deixam corromper materialmente para favorecer este ou aquele clube? Pode não ser isso de que se trata, mas de uma corrupção intelectual e de uma coação psicológica sem rosto, resultante daquilo a que chamo os vícios sistémicos da bola indígena. E como é que se combatem esses vícios? Com práticas discursivas e com comportamentos que conduzam à expulsão daqueles que não pugnam pela ética e não são capazes de um laivo de desportivismo. Onde estão essas pessoas? Talvez demasiado comprometidas, talvez com medo de aparecer, talvez com a sensação de que não vale a pena combater este “monstro” que está a matar o futebol.

O “monstro” que não quer saber da qualidade do jogo, da violência, do preço dos bilhetes, do monopólio dos direitos televisivos que a todos condiciona, das contas pouco transparentes, das transferências sem controlo, das SAD que foram um engodo, do despesismo, da desresponsabilização, do assalto à galinha que ainda põe um ovo.

Talvez não seja possível nem com Pinto da Costa nem com Luís F. Vieira, por diversas razões. Mas o problema está aí: é preciso tornar possível, sem cinismos, sem estratégias armadilhadas, o diálogo entre FC Porto e Benfica, diálogo institucional, à margem das rivalidades. Se não houver essa consciência e a certeza de que a arbitragem não pode continuar neste caminho (incompetência, juízos aleatórios e não monitorizados), então preparemo-nos para o funeral. Os estádios estão vazios porque já são poucos aqueles que acreditam no jogo. O futebol vai morrer, se o SOS não for captado.

O fim da Sporting - Pedro S. Guerreiro

Não é gralha: há “o” clube e há “a” sociedade desportiva (SAD). Ou melhor, havia. Porque a do Sporting está a caminho do fim da sua primeira vida, deixando um rasto de prejuízos.

Pedro Baltazar é, como muitos, doido pelo Sporting. Mas é, como poucos, acionista fundador da SAD. A sua empresa, a Nova Expressão, vai vender a posição de 11,7% ao próprio Sporting, para permitir ao clube continuar maioritário na SAD e, assim, viabilizar a reestruturação financeira. Vendeu com uma forte perda, o que chamou de demonstração do seu sportinguismo. Fica-lhe bem dizê-lo. Mas não é por sportinguismo que os bancos alinharam. É porque é assim que se age com as empresas incapazes de pagar o que devem. Na prática, o BCP e o BES darão um volumoso perdão de dívida ao Sporting.

A reestruturação passa pelo que se chama de “operação harmónio”: redução seguida de aumento de capital; integração do estádio e da academia; emissão de obrigações convertíveis. No fim da jigajoga, o Sporting ficará a controlar três quartos da SAD, o BCP e o BES ficarão com cerca de 15%, Joaquim Oliveira (que já teve 20%!) fica com cerca de 2% e os sempre maltratados pequenos investidores guardarão umas ações de baixo valor.

José Eduardo Bettencourt extingue, na prática, a participação de investidores na SAD. Talvez por opção, certamente por resignação: para manter o próprio clube. Depois disto, o Sporting não fica pronto para um ciclo de investimento, apenas liberto da pressão de tesouraria.

Não foi para isto que se criaram estas sociedades – foi para ter um modelo de gestão empresarial e de negócios. Acabar como veículo de ativos e passivos é o mesmo que nada. Todos perdem. Sobretudo os que acreditaram na SAD: os credores e os investidores, a quem agora dizem: “Para o ano é que é”. Mas será?

Tudo isto é triste - José António Saraiva

O jogo FC Porto-Vitória de Setúbal teve três grandes protagonistas: o treinador do Vitória, Manuel Fernandes, o treinador do Porto, André Villas-Boas, e o árbitro Elmano Santos.

Manuel Fernandes admitiu deixar o futebol e não é caso para menos: jogar no campo de um adversário muito mais poderoso e, depois de equilibrar o jogo, ser derrotado pelo árbitro, é muito triste.

Villas-Boas estava castigado e assistiu ao jogo na bancada. Mas passou todo o tempo a falar pelo walkie-talkie com o adjunto sentado no banco. Para que servem então os castigos aos treinadores? Para assistirmos a estas farsas?

Finalmente Elmano Santos. Com todo o respeito, creio que não estava na posse de todas as suas faculdades. Para lá de outros erros ridículos, marcou um penálti contra o Vitória por uma falta que ele próprio não viu e anulou um golo ao Vitória por razões que só ele conhece.

Se não tivesse marcado o penálti que deu a vitória ao FC Porto ninguém se queixava: nem a suposta “vítima” da falta. E se tivesse validado o golo que dava o empate ao Vitória também ninguém se queixava: todos os jogadores, guarda-redes incluído, se fizeram ao lance, ninguém dando por que ele não tinha apitado.

Aqui, julgo que se passou o seguinte: primeiro, ele precipitou-se e marcou o penálti; depois arrependeu-se de o ter feito; finalmente, quando viu a bola lá dentro, assustou-se e mandou-o repetir.

Pela sua cabeça passou um filme a 100 à hora. E respirou fundo quando, na repetição, viu a bola sair por cima.

Enfim, foi um jogo para esquecer. Mas por que razão, nestes jogos, o FC Porto será quase sempre o beneficiado?

Esforços e reforços - João Gobern

Seria útil que Jorge Jesus tivesse utilizado os vinte minutos em que, ontem, o Benfica esteve matematicamente afastado da continuidade nas competições europeias para repensar as suas intervenções públicas. É certo que fazer confluir para um só homem as culpas de uma exibição desastrada e abúlica, tão arrastada como se do resultado não dependesse o (relativo) equilíbrio financeiro e a salvaguarda da última fatia do prestígio amealhado na época passada, assume foros de injustiça – afinal, o treinador não pode entrar em campo para empurrar os jogadores… Do mesmo modo, é verdade que, nas declarações do técnico de um grande clube, há que contar sempre com uma percentagem reservada à motivação do plantel e ao empolgamento dos adeptos. Mas o grave, neste caso, está no abismo que emerge entre o que se diz e o que se vê.

Sejamos honestos: com exceção de uma hora frente ao Lyon, na partida da Luz, a participação do Benfica na Liga dos Campeões fica abaixo do medíocre, tanto pelas exibições como pelos resultados. O que fica para a história são quatro derrotas em seis jogos e a desvantagem no marcador face a todos os oponentes: 1-4 frente ao Schalke 04, 4-5 na soma com o Lyon, até 2-3 nos desfechos com o Hapoel. Mais: os benfiquistas que suspiraram de alívio com o golo de Lacazette não vão esquecer que a sua equipa entrou a depender de si própria e acabou a rezar pelo milagre em Lyon. Antes de mais esta pintura esborratada, já Jorge Jesus tinha defendido que o Benfica poderia chegar mais longe na Liga Europa do que fez na época passada. Só para avivar a memória: o campeão nacional despediu-se nos quartos-de-final. O que levanta a questão – a jogar assim, sem pressão, alta ou baixa, sem velocidade, alta ou baixa, sem eficácia, ao invés da última época, alguém acredita na verosimilhança deste objetivo?

É preciso mudar muita coisa, a começar pela atitude. Como é indispensável desvendar o grande mistério da temporada benfiquista: se os jogadores são praticamente os mesmos (e Jesus teve tempo e dinheiro para substituir à altura Di María e Ramires), de onde vêm tantas diferenças? Vem aí o mercado de Janeiro e a tentação pelos reforços é grande, mesmo tendo consciência de que é muito mais difícil fazer bons negócios no Inverno. Talvez por isso, se troque o reforço pelo esforço: sem a resolução das maleitas internas, os que vierem podem alinhar no lado dos problemas e não das soluções. Acima de tudo, o Benfica precisa jogar mais e melhor. Caso contrário, ficará a falar sozinho, quando protestar contra os Elmanos desta vida. Claro que a reclamação é justa, nas primeiro é necessário fazer pela vida dentro de campo. Chama-se autoridade moral, se não me engano.

terça-feira, dezembro 07, 2010

Mínimo europeu e mau fim de 2010 na Liga - Luís Sobral

O Benfica despediu-se da Liga dos Campeões, em 2010, com uma derrota pouco habitual com uma equipa alemã na Luz. Entrará, em 2011, na Liga Europa graças aos bons ofícios do Lyon, que em França salvou a equipa portuguesa da vergonha de ser afastado das competições europeias por um clube israelita. Mesmo sobre a hora.

Jorge Jesus começou por falar em ganhar a Liga dos Campeões. Terminou, seis jogos depois, à espera de ouvir uma boa notícia vinda de França. Em poucas palavras, o essencial sobre esta campanha europeia: acho que o treinador do Benfica avaliou mal o grupo, demonstrou excesso de confiança e, enfim, faltou-lhe competência para estar entre os melhores, quanto mais ganhar.

Dito isto, amanhã já ninguém na Europa lembrará a forma como o Benfica se manteve na UEFA.

As questões são outras, até porque o Benfica está distante do líder no campeonato português. Eis algumas:

1. Jesus é o treinador certo para guiar a equipa na Europa?

2. Jesus ainda mantém o relacionamento certo com jogadores e dirigentes?

3. A direcção deseja o quê na segunda metade da época? Lutar pela competição europeia? Lutar pelo Campeonato, Taça de Portugal e Taça da Liga e garantir pelo menos o apuramento para a Liga dos Campeões?

4. Para o objectivo definido para os primeiros seis meses de 2011, este plantel é suficiente?

Os próximos dias ajudarão a esclarecer estas e outras dúvidas. Fica a minha opinião, como observador externo.

1. É pelo menos o treinador que existe e já ficou evidente (em Liverpool e nesta Liga dos Campeões) que lhe falta qualquer coisa quando anda na Europa. Mas isso não é razão para mudar. É esperar que, humildemente, aprenda as lições.

2. Esta é a pergunta essencial. E a mais difícil de responder para quem está de fora. Os sinais que a equipa passa não são saudáveis e isso costuma ser sintoma de que falta química. Algo que não se resolve com discursos em defesa do grupo ou do treinador. Resolve-se deixando a alma em campo, coisa que não sucede esta época da forma que se via em 2009/10. Quanto à direcção, a única maneira de demonstrar apoio seria renovar com Jesus. Estará Luís Filipe Vieira em condições de o fazer?

3. A Europa, por estranho que pareça, é a aposta certa. Em Portugal, garantir a Liga dos Campeões, cumprir os serviços mínimos e colocar a pressão possível sobre o F.C. Porto. Na Liga Europa, com a aproximação correcta, intensidade e sorteios favoráveis, o Benfica tem plantel para deixar a sua marca. Apesar da lamentável prestação na Liga dos Campeões. Sim, apesar disso.

4. O melhor «onze» possível com este plantel só inclui futebolistas que já estavam no clube, exceptuando o guarda-redes: Roberto; Maxi, Luisão, David Luiz e Coentrão; Javi Garcia, Ruben Amorim, Aimar e Carlos Martins; Saviola e Cardozo. Mas como não se joga apenas com onze, sim, se puder o Benfica deverá ir ao mercado procurar outros alas.

Resumindo: esta noite o Benfica apurou-se para a Liga Europa. Mas a forma como tudo sucedeu trouxe novas perguntas e nenhum motivo para festejar.

(Des)ordem - João Malheiro

Até poderia ter olhado de viés para o recorte, não me fosse entregue pelo amigo António Simões. Esse mesmo, o mais jovem campeão europeu da história. Deu-me a ler a lista dos 100 desportistas para os 100 anos da República. Iniciativa? Da Confederação do Desporto de Portugal. Pretexto? A realização de uma gala, no caso a 15ª da conhecida instituição.


A iniciativa até que foi louvável, nada mesmo a obstar. Já o critério da escolha é surpreendente. Quem assume a responsabilidade? Claro que há nomes incontroversos, verdadeiras unanimidades nacionais. Que dizer de Eusébio, Joaquim Agostinho, Livramento, Carlos Lopes, Rosa Mota, outros mais que integram a casta dos nossos melhores desportistas de sempre?


E no futebol? Especificamente no futebol? Para além de Eusébio, também Peyroteo, Travassos, Coluna, Matateu, Fernando Gomes, Luís Figo, Vítor Baía, Rui Costa, Cristiano Ronaldo. Treinadores contemplados foram José Maria Pedroto, Artur Jorge e José Mourinho. Todos merecem a distinção? Claro que sim, jogadores e treinadores. Os mencionados foram ou são responsáveis por momentos inolvidáveis.


A questão tem a ver com os ausentes. Nem todos poderiam ser escolhidos? Ainda assim, percebeu-se, de forma demasiado flagrante, o propósito de equilibrar o… bem. Por onde? Pelas três grandes aldeias da bola lusa, Benfica, FC Porto e Sporting. O critério obedeceu, em primeira instância, a motivações de ordem clubista. Por essa razão, não foi justo. Pior, é reprovável.


Não sei se subscreveriam a indignação, mas apetece falar de Pinga, José Águas, Germano, José Augusto, Simões, Damas, Bento, Humberto Coelho, Chalana, Paulo Futre, Fernando Couto, João Vieira Pinto. Mais? Mais ainda, que a injustiça foi demasiado flagrante…

Priceless

"No fim do jogo ouvi os adeptos do FC Porto chamarem gatuno ao árbitro. Se calhar têm razão." - Manuel Fernandes

Descanso com bola - João Querido Manha

Espectáculos pobres, público distante, emoções dormentes e a lei dos mais fortes a prevalecer com o mínimo de esforço – eis a síntese honesta de um fim-de-semana que não deixa lembranças. Parafraseando André Villas-Boas, foi uma jornada em que os clubes principais "descansaram com bola", jogando em velocidade baixa, apostando nos erros dos adversários e sem correr riscos.
O Benfica esperou pelo erro de Moretto, o Sporting foi impiedoso para a ingenuidade do Portimonense e o Porto, sem liderança no banco, contou primeiro com um árbitro prestimoso para um penálti ridículo e depois com o erro clamoroso de Jailson na transformação de outro penálti que dava o empate (88’).

O Inverno antes de tempo acabou por ser o protagonista, de tal forma a intempérie interferiu, quer na realização de algumas partidas, provocando adiamentos inesperados, quer pela dificuldade que as equipas mais fortes sentiram para conjugar o desgaste dos elementos atmosféricos com o dos compromissos internacionais. Mas os principais perdedores foram os parceiros minhotos, principais candidatos ao quinteto da frente, junto com os três grandes, estes alinhados pela primeira vez nas suas posições de referência. O Vitória de Guimarães foi mais penalizado, porque perdeu em casa dois pontos frente a um adversário de nível inferior, um resultado que pode ter como consequência a perda de contacto definitiva com o 2º lugar.

Muito mais longe que isso ficou o Sporting de Braga, irreconhecível na competição que liderou largas semanas na época transacta. O nervosismo, traduzido em expulsões e castigos múltiplos, foi traiçoeiro em Leiria, mas também denunciou uma abordagem pouco realista, atendendo a que enfrentava a equipa-sensação desta fase da prova, uma U. Leiria que, todavia, ainda está longe de assegurar estrutura para poder manter o lugar que ocupa actualmente.

segunda-feira, dezembro 06, 2010

Não podia estar mais de acordo...

"Os campeões fazem-se assim..." - Vítor Pereira, Treinador-Adjunto do Porto

Que Liga ibérica? - António Magalhães

Ganha força a ideia de uma Liga Ibérica.

No Reino Unido, há muito que é desejo do Celtic e Glasgow Rangers, por exemplo, integrarem a liga inglesa.

Por outro lado, a Rep. Checa e a Eslováquia estudam a possibilidade de fundirem os dois campeonatos. No fundo, seria o regresso da Checoslováquia.

Algo que eventualmente faria sentido também com a Bélgica e Holanda. Têm, aliás, estado juntos na promoção da organização de acontecimentos desportivos, nomeadamente o Euro’00 e do Mundial’18. Não seria de estranhar ver o Anderlecht e o Standard Liège competirem com o Ajax e o PSV.

O último caso de duas ligas que se fundiram aconteceu quando se deu a reunificação alemã. Então, a Bundesliga foi formada com uma quota reduzida de clubes da Oberliga (RDA) - apenas o Hansa Rostock (campeão da Alemanha Democrática) e o 2.º classificado Dinamo Dresden ganharam direito a entrar na Bundesliga que sofreu alargamento de 18 para 20 clubes.

No caso de uma Liga Ibérica, que modelo competitivo poderíamos imaginar?

Arrisco este:

- A liga portuguesa seria disputada por 12 equipas o que corresponde a 22 jornadas

- Ficaria concluída em meados de Fevereiro

- Seriam apuradas as 4 primeiras para disputar a Liga Ibérica com as 4 melhores classificadas do campeonato espanhol o que resultaria em mais 14 rondas

- Os restantes 8 clubes (classificados entre o 5º e 12º lugares) disputariam um campeonato entre si (14 jornadas), sendo que estes partiriam para a prova com os pontos somados durante a fase regular da Liga portuguesa.

É um mero exercício feito aqui sobre o joelho.

Agora, quem seria o campeão nacional? E como seria o apuramento para as competições europeias?

Aceitam-se propostas e abre-se espaço ao debate de ideias.

Saber perder - Domingos Amaral

From: Domingos Amaral

To: José Mourinho

Caro José Mourinho

Notável, a forma como reagiste à maior derrota da tua carreira, a goleada de segunda-feira em Camp Nou. A digestão foi fácil, disseste, porque a tua equipa jogou muito mal e o Barcelona muito bem; e também porque não houve razões de queixa da arbitragem ou bolas ao poste. Tiro-te o meu chapéu, em dose tripla. Primeiro, porque é verdade, o Real esteve muito fraco e o adversário muito inspirado. Depois, porque discutir as vitórias alheias, barafustando contra árbitros ou alimentando polémicas estéreis, é a melhor forma de encapotar as fraquezas, negando a realidade, e isso é o mais habitual, principalmente entre os lusitanos. Ao surpreenderes toda a gente com a verdade, mataste qualquer discussão. Apenas cinco dias depois do jogo, já passou, não ficou nenhum trauma ou celeuma. Foi brilhante a forma como retiraste a pressão à tua equipa, diluindo a dor de 5 golos em 5 minutos. E, em terceiro lugar, tiro-te o meu chapéu porque ao dizeres o que disseste, provas que és mesmo o melhor do Mundo, pois evoluíste. No Porto, no Chelsea, mesmo no Inter, havia sempre em ti um perfume de mau perder. Agora, há maturidade e verdade. Como dizia Darwin, quem sobrevive não são os mais fortes, mas os mais adaptáveis…

A diferença cá para os nossos é abissal. Jesus, depois de levar 5 do FC Porto, só falava em Hulk, justificando-se, metendo os pés pelas mãos, vergado e humilhado. Villas-Boas, por seu lado, por cada empate enlouquece e é expulso, levando-nos a questionar o que faria se tivesse perdido. Que diferença…

O penitente - Miguel Góis

“Saber jogar (...) em campos inclinados é uma velha tradição do FC Porto”. Ainda que não tenha sido essa a intenção, Rui Moreira pode ter aqui encontrado a única frase que todos os benfiquistas e, ao mesmo tempo, todos os portistas subscrevem. Trata-se, portanto, de um notável esforço no sentido da pacificação no futebol português. Tragicamente, Rui Moreira pode ter feito um mau serviço a si próprio, porque – logo ele, que tem um apego tão grande a discussões livres e abertas, sem qualquer tipo de condicionamento – pode ter delineado o fim dos programas de debate desportivo:

Portista – Fique sabendo que saber jogar em campos inclinados é uma velha tradição do FC Porto.

Benfiquista – Então, eu não sei disso... Não podia estar mais de acordo.

(E é nesta altura que o comentador afeto ao Sporting fica sem saber o que dizer, porque se, por um lado, quer concordar com o portista, faz-lhe confusão não discordar do benfiquista).

Seja como for, o encanto da frase está no seu caráter dúbio: escrita por um comentador afeto ao FC Porto, a frase pode revelar ou uma honestidade desarmante, ou uma torpeza inaudita. E para aqueles leitores que defendem que, por se tratar de Rui Moreira, nos devemos inclinar sem demoras para a hipótese “torpeza”, devo dizer que não me revejo nesse julgamento precipitado, e até difamatório, com o qual me recuso a pactuar. Na minha opinião, depende de que Rui Moreira estamos a falar. Por exemplo, o Rui Moreira de outrora, crítico em relação aos métodos de Pinto da Costa, poderia perfeitamente revelar uma honestidade desarmante. Em contrapartida, o Rui Moreira atual já teria alguma dificuldade nessa matéria, uma vez que se encontra em pleno processo de penitência. E, como sabem os crentes, a penitência implica atos como jejuns, peregrinações e vigílias. Isso mesmo: vigílias. Começa tudo a fazer sentido...

quinta-feira, dezembro 02, 2010

Com Xau, lavam mais branco

No final do jogo de Aveiro, no momento daquela coisa que se convencionou chamar flash-interview, o profissional do microfone de serviço, não contente com os pormenores do jogo e com o desfecho do resultado, que foi favorável ao Benfica, entendeu levar a conversa com Jorge Jesus para o âmbito das relações entre o treinador e os jogadores e entre o treinador e o clube.
Embora o regulamento daquela coisa a que se convencionou chamar Liga de Clubes, e que é a entidade organizadora dos jogos, desautorize os profissionais do microfone de serviço de levarem as suas questões para além do âmbito do jogo a que acabaram de assistir, não é de todo invulgar, nem muito menos suspeita, a curiosidade dos jornalistas pelas circunstâncias mais gerais.

Foram tão pouco invulgares as questões do profissional do microfone a Jorge Jesus como também não foi em nada surpreendente a primeira resposta do treinador do Benfica, impacientando-se com o jornalista, remetendo-o para o tal regulamento da Liga que só permite aos jornalistas cingirem-se à matéria de facto dos 90 minutos de jogo em causa.

À segunda investida do repórter, Jorge Jesus perdeu definitivamente a paciência e com um popular e em nada acintoso «então, xau!» pôs-se a andar dali para fora. Fez muito bem o treinador do Benfica que se poupou, e nos poupou, a um diálogo menos urbano optando pelo silêncio que não ofende nem embaraça ninguém.

O assunto morreria ali se o profissional do microfone, sem o adversário por perto, não resolvesse terminar a sua exibição com uma graça a despropósito, como qualquer velho e competente jornalista lhe reprovaria, qualquer coisa do género: isto aqui não é «a Benfica TV», o que lhe era absolutamente dispensável porque só veio reforçar a justeza da retirada de Jorge Jesus perante um repórter do tipo engraçadinho e, francamente, sem maneiras. Sem maneiras de jornalista, obviamente.

Há jornalistas, sempre houve, que se queixam muito de coisas sem importância nenhuma.

Na noite de domingo, por exemplo, durante a transmissão do jogo de Aveiro os comentadores de serviço queixaram-se o tempo todo do frio que sentiam, acrescentando pormenores sobre a descida do mercúrio nos termómetros e as aflições que os rigores do Inverno lhe estavam a causar. Depois, quando o jogo acabou, como também sabemos, veio mais um jornalista da TVI, em jeito de rábula, queixar-se de que o treinador do Benfica não lhe respondia às perguntas que trazia escritas de casa.

São os ossos do ofício, sempre ouvi dizer quando fui jornalista. Se está frio, paciência, aguentem-se porque os leitores ou os telespectadores não têm nada a ver com isso. Se os entrevistados não nos respondem como gostávamos, outra vez paciência, para próxima teremos de preparar melhor o nosso trabalho. Mas sempre poupando o público que nos lê ou que nos ouve às agruras inevitáveis de qualquer profissão.

No dia seguinte, este incidente na flash-interview produziu, pelo final da tarde, uma série de pequenos acontecimentos em cadeia.

Sem que a TVI tenha denunciado ou protestado algum comportamento inconveniente ou de cariz violento perpetrado, no rescaldo do «então, xau», por algum funcionário do Benfica sobre o seu funcionário-jornalista, correu a notícia de que tal teria acontecido o que motivou o FC Porto a redigir, através do seu gabinete de comunicação, um comunicado acusando a actual gerência da Luz de um comportamento igual «aos dos filmes sobre gangsters».

Reagiu com uma rapidez que, este ano, tanto tem faltado ao nosso meio-campo, o gabinete de comunicação do Benfica com um comunicado que mais não é do que o elencar de uma série já com duas décadas de tropelias e actos de violência ou ameaças perpetradas contra treinadores, jogadores e jornalistas, a última à porta de um tribunal no Porto e que consistiu de um ensaio de atropelamento e fuga de um repórter fotográfico, documentado por imagens e sons num registo que, na altura, teve o merecido destaque informativo.

Provavelmente nunca se saberá se o jornalista que foi vítima dessa gracinha automobilística apresentou queixa na polícia. É de crer que não tenha apresentado. Como já foi referido, actualmente, tal como num passado não muito distante, há sempre profissionais da informação mais inclinados a queixarem-se do frio ou da chuva, que são os ossos do ofício, do que da pancada, que são os ossos mesmo a sério.

Entra assim para a pequena história dos energúmenos do futebol português o jornalista da TVI a quem Jorge Jesus disse «então, xau!». Não sendo certo que tenha sido molestado fisicamente - o Benfica desmente o incidente e a TVI não o confirma - é mais do que certo de que é o primeiro jornalista a ser defendido, em comunicado pelo FC Porto, o que é obra quase tão cómica quanto a bucha final do referido jornalista - a referência à Benfica TV - no seu diálogo interruptus com o treinador do Benfica.

Quanto ao comunicado do Benfica, vê-se bem que foi escrito à pressa, o que se lastima.

É de todo compreensível o facto de o FC Porto tentar fazer uma lavagem do seu passado histórico, através do seu gabinete de comunicação onde, provavelmente, até trabalham pessoas que ainda nem tinham nascido quando apareceram os primeiros jornalistas queixando-se de forte pancadaria.

Mas já não é nada compreensível que o Benfica, na urgência de uma resposta bem pensada mas muito mal medida, tenha colaborado nessa mesma lavagem apresentando uma short list, ou seja, uma lista muito resumida de nomes, de factos e de situações que, algumas, conseguiram mesmo o notável feito de ultrapassar o âmbito exclusivamente desportivo.

Foi, de facto, uma pena perder-se uma oportunidade destas.

E toda esta nervoseira apenas porque, no fim-de-semana, o Benfica conseguiu baixar de 10 para 8 não menos épicos pontos a distância a que se encontra do líder do campeonato. Se alguma vez se chegarem aos 6 pontos de diferença… ninguém sabe o que se poderá passar no país.

Em termos de comunicados, obviamente.

Até lá, então, xau.

E com Xau, lá vão lavando mais branco.

SEMPRE que não ganha um jogo, André Villas Boas faz-se expulsar do banco pelo árbitro.

Aconteceu em Guimarães e aconteceu em Alvalade. No entanto, esta semana, o treinador do FC Porto não conseguiu fazer da sua expulsão um caso cuja ressonância abafasse a semana toda em nome das injustiças a quem o seu emblema é sujeito.

Mais uma vez José Mourinho roubou-lhe o protagonismo e sentou-o no seu devido lugar.

O que vale isso de ser expulso pelo Jorge Sousa comparado com levar 5 do Barcelona em Nou Camp?

Can Jesus save Benfica's season? - Imscouting

Benfica Lisbon are the most decorated team in Portugal.

But the team that have won 32 league championship titles, 24 cups, and twice won the European Cups are not having the best of times.

Over the last 25 years. FC Porto took over as the dominant team in the league, winning 17 league championship titles to Benfica's five.

Last season, against the odds, Benfica won the league, finishing eight points above Porto, who ended up finishing in third place.

But the Eagles' great talents weren't hidden from the biggest clubs in the world, and last summer they lost arguably their two best players. The first was Argentine star Angel Di Maria, who joined Real Madrid for €25 million, and the second was Brazilian midfielder Ramires, who was sold to Chelsea for €22 million.

Benfica are renowned for their good connections with Argentinean football, and they purchased two great talents from the South American country in the summer - left winger Nicolas Gaitan joined from Boca Juniors for €8.4 million, and Franco Jara, who came in from Arsenal de Sarandi for €5.5 million.

Together with Roberto Jimenez, a talented goalkeeper who was signed from Atletico Madrid for €8.5 million, the newcomers should have ensured Benfica a good start to this season, despite the summer departures.

But four months in, Benfica have lost their chance of getting into the last 16 of the UEFA Champions League, and after 12 games in the Portuguese league, they are eight points behind Porto, who are top.

And to make matters worse, one of Benfica's four league defeats was a 5-0 reverse against their bitter rivals.

Formation and tactics

Benfica play in a 4-4-2 diamond formation, with one defensive midfielder - usually Javi Garcia. Benfica's left side is particularly strong, with left midfielder Nicolas Gaitan and left-back Fabio Coentrao , providing plenty of explosive, fast football. Both players have great dribbling ability and link up very well.

On the right of midfield, Eduardo Salvio, who joined in the summer on-loan from Atletico Madrid, usually vies for the spot with Carlos Martinez. Together with full- back Maxi Pereira, Benfica have good right side, but the left is much stronger, and most of their attacking moves come from there.

Pablo Aimar is the playmaker of the team, using his great experience as well as his excellent vision and passing to feed the two strikers - target man Oscar Cardozo and support striker Javier Saviola .

Benfica's playing style is mainly short, quick one-touch passing on the ground, and with the help of support striker Saviola they try to avoid playing too many long balls. Both their central defenders - Lusiao and mainly David Luiz - can play as sweepers.

Strengths

Aside from the left, with Coentrao - one of the best left-backs in the world - and Gaitan, another dangerous aspect of Benfica's game are dead-ball situations. They have players who are great in the air, one of them being Luisao. The Brazilian central defender goes up for each corner or free kick, and with his natural height, great leap and heading accuracy he poses major problems for opposition defenders.

Cardozo's heading is also very impressive, and besides his height, he has great positional sense in the box, turning crosses into great opportunities for himself.

As well as the understanding between Coentrao and Gaitan, another great Benfica combination is between Saviola and Aimar. Playmaker Aimar is very familiar with Saviola's movements, and always appears to know where he is going to be.

The Argentinean combination is certainly going quite well. Last season, Saviola found the net 17 times and provided seven assists, and this term he has scored two and set up five. Aimer scored five and set up nine last term, and so far has a tally of two goals and as assist this season.

Weaknesses

Both of Benfica's centre-backs, David Luiz and Luisao, are considered by many to be the best defenders in the league. However, neither player is very fast (particularly not Luisao), and if an opposing team attacks with fast forwards, they can cause Benfica a lot of problems.

Despite Benfica's attacking strength at dead-balls, they have difficulties defending such situations. There are still problems with the coordination between the defenders and new goalkeeper Jimenez, and many of the goals Benfica have conceded this season have been from free-kicks or corners.

Another weakness of Benfica is their weak character when they go a goal down. In such situations, the players appear to lose their confidence very quickly and their playing style switches from short passes to long balls into the strikers.

Key Players

David Luiz

Deemed by many to be the best defender in Portugal. Luiz plays like a sweeper from time to time and likes to go up to the attack. He is strong, tall and fast, while possessing good control for a central defender. Luiz recently made three appearances for the Brazilian national team.

Fábio Coentrão

One of the best left backs in Europe. Coentrao is fast, has great dribbling and crossing abilities and likes to cut into the centre when he bursts forward. He combines very well with left-winger Gaitan. But Coentrao is also excellent defensively, and has improved that aspect of his game. He has good positional sense, and his strength and pace make him very difficult to beat.

Pablo Aimar

Despite losing some of his pace in recent years, Aimar is still considered the engine of the team. Most of Benfica's moves go through him, and with his amazing game vision and experience he is a very important player. When Aimar is tightly marked, Benfica's game gets a bit stuck.

Óscar Cardozo

Last season Cardozo was the best striker in the country, with 36 goals in 42 matches in all competitions, and has scored six and set up one this term. Cardozo is very strong and possesses good heading abilities. His excellent positional sense inside the box compensates for his lack of speed. He packs a powerful shot, and takes some of the side's free-kicks.

The coach

Jorge Jesus joined Benfica last season and won the league at his first attempt. However, this season has started very badly for him, with three defeats in his first four league games. Despite getting out the crisis in the league with Benfica shooting up to second place, Jesus' status at the club is still uncertain, mainly due club chiefs' disappointment in the team's failure to qualify for the Champions League knockout stages. In fact, Benfica haven't event assured themselves of the third place that would send them into the Europa League, and they could be pipped by Hapoel Tel Aviv.