domingo, outubro 31, 2010

Depois de treinador de Bancada, o árbitro de Bancada: Uma Evolução Natural - Ricardo Araújo Pereira

Confesso que tenho dificuldade em compreender os receios que rodeiam a hipotética greve dos árbitros na semana do Porto – Benfica. Não sei se ainda mantém em rigor a velha regra segundo a qual, na ausência do árbitro, deve ser recrutado um espectador na bancada para arbitrar a partida. S assim fosse, o mais provável seria que o árbitro do jogo acabasse por ser um adepto do Porto. Sinceramente, creio que ninguém daria pela diferença. Seria um Porto – Benfica perfeitamente normal. Já aqui recordei a noite histórica em que o Sr. Donato Ramos, depois de ter permitido que o Vítor Baía defendesse com as mãos fora da área, anulou um autogolo do Porto por fora-de-jogo posicional de um jogador do Benfica. Hoje, lembro o saudoso árbitro Carlos Calheiros (que é também o eminente turista José Amorim), que um dia assinalou um penalty contra o Benfica por uma razão que permanece misteriosa até agora. Na primeira repetição, José Nicolau de Melo descortinou (e José Nicolau de Melo descortinava como ninguém) uma falta de Mozer. Na segunda repetição, julgo que aventou uma mão de Hélder. E, na terceira repetição, concluiu que não existia falta nenhuma das infracções anteriores nem qualquer outra, mas optou por dar o benefício da dúvida ao árbitro. Gente maldosa comentou que o benefício da dúvida tinha sido o menor dos benefícios que o árbitro tinha recebido nessa noite. Acredito mesmo que qualquer adepto do Porto faria um trabalho mais isento.

Quanto à greve, não sei se tem razão de ser, mas não percebo a forma do protesto. Quando os trabalhadores da TAP fazem greve, não comparecem na TAP, que é a morada do patrão. Quando os funcionários da EDP fazem greve, abstêm-se de comparecer na EDP, que é a morada do patrão. Quando os árbitros fazem greve, ameaçam não comparecer no estádio do Dragão? Que esquisito.

Todos estes meses depois, o túnel da Luz continua a afastar o inigualável Givanildo da convocatória da selecção brasileira. Há, perversa infra-estrutura! Perversa e sectária, que o David Luiz passa lá todas as semanas e continua a ser convocado.

“ (…) é assustador verificar a frequência com que, graças a uma redacção voluntariamente ambígua da lei, são anuladas em julgamento as escutas telefónicas.”
MIGUEL SOUSA TAVARES
Expresso, 11 de Junho de 2007

“ Durante quatro semanas a fio, o jornal «Sol» levou a cabo, tranquilamente, a divulgação de escutas telefónicas recolhidas num processo em segredo de justiça e abrangendo até alguma gente que, tanto quanto sabemos, não é suspeita de qualquer crime. (…) E todos nós, mesmo os discordantes, fomos obrigados a ler as escutas e concluir a partir dos factos e indícios nelas contidos, sob pena de sermos excluídos da discussão pública”.
MIGUEL SOUSA TAVARES
Expresso, 25 de Março de 2010

Como já aqui tive ocasião de notar, há um grande consenso social em torno do fenómeno das escutas. Até gente de clubes diferentes se encontra no essencial, o que é notável e bonito. Por exemplo, eu concordo com o Miguel Sousa Tavares quando diz que é assustador o número de escutas telefónicas, algumas bem incriminadoras, que são anuladas em tribunal. E também me sinto obrigado a tomar conhecimento dos factos e indício nelas contidos, para não ser excluído da discussão pública. O que pretende quem deseja fingir que as escutas não existem é decretar a obrigatoriedade da hipocrisia. E isso, fiquem sabendo, Miguel Sousa Tavares nunca permitiria. E eu estou com ele nesta luta. Juntos venceremos, tenho a certeza.

“ Jornalista – O best seller de Carolina assume foros de escândalo. As críticas vêm até indefectíveis portistas.

Rui Moreira – O Sr. Jorge Nuno Pinto da Costa devia ter falado com os adeptos, devia ter falado com os sócios, sobre esta matéria. E devia ter-lhes pedido desculpa
(…)

Jornalista – As críticas aos administradores da SAD não se limitam à gestão.

Rui Moreira – À volta daqueles que são os grandes líderes, aquilo que acontece é que se começa a confundir a fidelidade com o cortesão. Perante o Sr. Jorge Nuno Pinto da Costa são absolutamente acríticas, mas nas costas do Sr. Jorge Nuno Pinto da Costa são as pessoas mais críticas. E esta tendência, que é típica dos cortesãos, como nós sabemos, aquilo a que se chama jogos de corredor, é típica também de uma instituição cuja a liderança se aguenta durante muitos anos. (…) Aquele passeio da fama que o FC Porto tem, Faltam lá alguns nomes, claramente.

Jornalista – Mas quem é que é o responsável por isso?

Rui Moreira – É a política de guerrilha”.

Numa interessante reportagem da RTP, disponível aqui: http://www.youtube.com/watch?v=5yjllkmd4wg&feature=related.
Tenho acompanhado com muito interesse o Trio D’Ataque na sequência do despedimento com justa causa de Rui Moreira. Por muito que me custe admiti-lo, o comunicado emitido pela SAD do Porto estava correcto: de facto, o novo elemento (além de ter a estanha mania de permanecer no estúdio durante toda a duração do programa, honrando o contrato que o liga à RTP), emite livremente opiniões que são da sua exclusiva responsabilidade. O novo modelo do programa faz lembrar o tempo em que Rui Moreira não era sequer candidato a sócio do ano, antes de ter percebido que as suas opiniões não eram as mais correctas, quer para as suas ambições inconfessadas, quer para a sua saúde. Espero que o estádio do Dragão tenha corredores espaçosos: há mais um jogador para albergar.

P.S. - Tanto Miguel Sousa Tavares (que esta semana nos obsequiou com uma excelente redacção subordinada ao tema A Caça aos Patos) como Rui Moreira (que fornece aos leitores informações interessantíssimas, como o facto de não ter visto um jogo por estar a entreter um Sr. Que até é comendador) insistem que eu não escrevo aqui sobre o que devia. O jurista que cita a declaração de independência pensando estar a citar a constituição americana considera que eu não sei do que falo; o comentador desportivo que foi despedido por não comentar tem reparos a fazer aos meus comentários. Vivemos num mundo estranho.

quinta-feira, outubro 28, 2010

Sport Luanda e Benfica - Rui Santos

Não está em causa nem o respeito por Angola nem o apreço pelos angolanos. Tem sido óbvia, todavia, a preocupação do atual presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira (LFV), em manter viva a relação do país liderado por José Eduardo dos Santos. Ou através de recorrentes deslocações a Luanda ou através da projeção da imagem de Mantorras enquanto “símbolo” e não enquanto jogador. Porquê?

Surge agora a declaração de LFV segundo a qual “o Benfica apresentar-se-á na máxima força” no jogo a realizar no dia 10 de novembro, inserido nas comemorações dos 35 anos de independência daquele país africano. Não sendo despiciendo, as relações diplomáticas (no plano desportivo) que os clubes podem e devem manter com os seus congéneres, designadamente no âmbito dos Palop, “por razões históricas” e não sendo LFV presidente da República, o que pode justificar um tão eminente relacionamento, quando o Benfica está empenhado em revalidar o seu título de campeão nacional, as dificuldades têm sido maiores do que se esperava e não deveria haver qualquer tipo de distração em relação ao foco principal, com o desgaste concomitante, ainda por cima sob a promessa (presidencial) de que o “Benfica apresentar-se-á na máxima força?”

Diz-se, à boca pequena, que são importantes os interesses de LFV em Angola. Poderão sê-lo, com toda a legitimidade. Diz-se, também, que interesses angolanos em Portugal podem ter passagem pelo Benfica. É nestes pontos que, sem dramatismos, se impõe o esclarecimento. Onde começam e acabam os interesses empresariais do cidadão Luís Filipe Vieira? Onde começam e acabam os interesses do Benfica nesta forte relação com Angola? A popularidade (agora minguada) de Mantorras não justifica tudo. A vocação diplomática dos clubes de futebol, enquanto embaixadores do país, também não. Principalmente quando o Benfica se vê em “palpos de aranha” para fazer a aproximação ao FC Porto. Seja qual for o resultado no Dragão, esta deslocação não deixa de ser inoportuna.

Vejamos: a viagem a Luanda acontece logo a seguir ao jogo no Dragão. Se o Benfica perder, dá a sensação que esta deslocação estava embrulhada numa atempada “confissão de incapacidade” para vencer o FC Porto. Se empatar ou ganhar, o Benfica tem de cerrar fileiras no sentido de dar “tudo por tudo” para alcançar e ultrapassar o seu rival. Algo não bate certo. Até porque a declaração segundo a qual se pode inferir que existe um compromisso para que a equipa faça alinhar os principais jogadores (seria ridículo colocá-los de início para alinharem 5, 10, 15 ou 20 minutos), não deveria ter sido proferida pelo presidente; é uma competência da equipa técnica e certamente LFV não estará a pensar em despedir Jorge Jesus “por desobediência”.

Era o que faltava, substituir o “Sport Lisboa e Benfica” pelo “Sport Luanda e Benfica”. SLB, em todo o caso. Lá vai Jesus ter de gerir...

NOTA: Alguém tem dúvidas de que, sob o manto do fair play, a FIFA tem sido grande responsável pela corrupção que fere de morte a credibilidade do futebol?!

NOTA 1: Agora o secretário de Estado do Desporto não diz nada sobre a natureza da intervenção das associações no processo de indicação de uma lista para o Conselho de Justiça? Tanta ética, tanto moralismo, tanto legalismo – e agora?!... – silêncio?

quarta-feira, outubro 27, 2010

Novembro de risco - João Gobern

Pouco ou nada adianta, passadas todas estas semanas sobre o início das competições, continuar a chorar a perda de Di María e de Ramires. De pouco vale o regozijo pela “ressurreição” de Roberto, que voou em linha direta de carrasco a herói. E já pouco dizem, a adversários como a adeptos, algumas bravatas extemporâneas do treinador do Benfica que, na presente época, parece ter o condão de encher o peito antes das partidas em que a equipa parece um imenso vazio (FC Porto na Supertaça, Schalke e Lyon na Liga dos Campeões). Sejamos honestos: por razões de estrutura ou de elenco, de conjuntura ou de atitude – cada um escolherá as suas favoritas, por mim não me custa juntá-las todas –, este Benfica ainda não trouxe de volta o espetáculo nem a eficácia com que brindou todos os espectadores na última temporada.

Éverdade que foi muito afetado por uma inexplicável “falsa partida” (derrotas com a Académica, o Nacional, o Vitória de Guimarães), depois de uma pré-época quase em pleno. Mas quando se fala de recuperação, é preciso saber ver: dos quatro triunfos consecutivos nas últimas rondas, as três vitórias mais recentes foram obtidas pela margem mínima. E, pelo meio, sem que nada o fizesse prever, o duplo deslize na Champions passou, de forma sólida, a imagem de uma equipa com oscilações de humor, com atletas decisivos à procura de sacudir o marasmo, com uma margem de erro que Jesus parecia ter erradicado há um ano. Convoco, mais uma vez, os números: o FC Porto de Villas-Boas (que só os mais desatentos ou facciosos podem teimar em não levar a sério e que já junta os aplausos aos resultados) tem tantos pontos de diferença para o segundo como os que se registam entre este e o… décimo segundo classificado.

Quer isto dizer que, em novembro e em três provas distintas, o Benfica não tem margem de erro. Na Liga dos Campeões, ao receber o Lyon e ao deslocar-se a Israel, só interessam dois triunfos. Tudo o resto será comprometedor para quem se assumiu “aspirante” na prova milionária. Na Taça de Portugal, idem, por ser a eliminar e porque o adversário se chama Braga. Na Liga, porque uma derrota no Dragão é – admita-se – sinónimo da entrega do título, a seis meses do final do campeonato. Ou alguém acredita que, embalado e com dez pontos de avanço, este FC Porto vai desatar a tropeçar daí em diante?

Éfácil perceber que o Benfica precisa de estabilidade, dispensando guerrilhas (sem prejuízo dos princípios), e necessita de aparecer (e comparecer) com mais alma e mais calma. As grandes batalhas estão aí à porta e não vão dar segundas oportunidades. Sobretudo a uma máquina com a dimensão do Benfica, com contas e receitas, que não pode gastar meio ano a ver passar os navios.

Jogos que valem 6 pontos - Luís Seara Cardoso

Como foi o triunfo do Benfica frente ao Portimonense? Curto no resultado, extenso na exibição. Tratou-se de uma afirmação categórica de superioridade que deixou entender muitas das coisas boas que assinalaram a trajetória vitoriosa da temporada passada.

Há um Benfica em crescendo? Penso que sim. Apesar da recente derrota na Liga dos Campeões, num jogo demasiado marcado pela inferioridade numérica do conjunto encarnado, parece adquirido que a equipa se aproxima dos melhores índices de rendimento.

Os três próximos jogos vão dar uma resposta cabal. A receção ao Paços de Ferreira tem de se traduzir por mais um triunfo. Depois, Lyon e FC Porto, na Luz e no Dragão, podem ser determinantes para o resto da época. Vencer a turma francesa é condição indispensável para prosseguir na Champions, objetivo que ainda não está hipotecado, apesar de a margem de erro ser inexistente. E na Liga nacional? Uma derrota com o FC Porto, na atual conjuntura, seria certamente fatal para a prossecução dos objetivos. Estes são, de facto, dois jogos que valem seis pontos cada.

Que Benfica nos próximos embates? O melhor Benfica tem todas as condições para vencer a etapa decisiva. Mas só o melhor Benfica, sempre o melhor Benfica. É nesse Benfica que os adeptos acreditam para prosseguir a campanha europeia, para relançar o campeonato. É desse Benfica que os adeptos precisam para reforçar a confiança, para fortalecer o entusiasmo.

Éesse Benfica, o melhor Benfica, que Jorge Jesus terá de garantir. Fá-lo-á? Não encontro razões para duvidar. Antes, encontro boas razões para acreditar.

terça-feira, outubro 19, 2010

Ziguezague - João Querido Manha

Quando o Benfica apareceu na primeira linha dos apoiantes do novo presidente da Liga, um ex-vice-presidente fundamental nos anos de sucesso desportivo e crescimento social do FC Porto, houve duas leituras díspares e grande perplexidade pela incoerência. Uns consideraram, com estupefação, um erro estratégico histórico, por tornar a águia refém para sempre do dragão predador. Outros acharam, em surdina, que a confiança inerente à conquista do título permitia ao Benfica arvorar-se em fautor da reconciliação nacional.

Todavia, como se depreende da algazarra profissional que anima as televisões a que o insuspeito Artur Agostinho chamou de “pirómanos” – ontem, neste espaço, cometendo um crime pela jurisprudência dos tribunais cíveis do Porto –, a bipolarização nunca esteve tão acesa. Tão perigosamente acesa.

De um lado, resguardando de confrontos menores o presidente peso-pesado, na linha do que já acontecera com o técnico dos anos apertados do Apito Dourado, é um treinador de cartão e cachecol que aguenta o primeiro embate, criando lastro para a entrada em cena, em momento mais oportuno, do último chefe do atual presidente da Liga e declarado inimigo dos “caceteiros”. Do outro, é a própria nomenclatura a envolver-se, com generais e almirantes precipitados em cavaqueiras de sargentos e praças, exteriorizando má avaliação da frente de batalha.

Ocaso do boicote aos jogos fora de casa é paradigmático. Nunca uma diretiva terá sido recebida pelos adeptos com tanto desdém como esta absurda intenção de pressionar outros clubes a desalinharem-se do pretenso “pacto” com o “atual estado do futebol português”, castigando-os onde mais dói.

Sem ter tido o cuidado de identificar claramente que pretendia isolar o FC Porto, enquanto espécie de “eixo do Mal”, e sem ter contado espingardas antes de tomar uma decisão impopular, o Benfica veio depois aumentar a confusão requisitando milhares de bilhetes para o clássico do Dragão, com a alegação de com isso apenas querer dar uma resposta à letra ao porta-voz designado, o perigosíssimo André Villas-Boas.

Atrapalhados pela inesperada derrapagem da equipa de futebol, única face benfiquista que recentemente, por escassas semanas, respirou os ares do poder, os gabinetes de estratégia e de comunicação da Luz e seus assessores externos sofreram uma crise de ideias e arriscam despertar a animosidade dos clubes pequenos, que nada têm a ver com esta guerra, a começar pelo Portimonense, e terminarem como na fábula do caçador caçado.

Ao menos, o silêncio perturbador do atual presidente da Liga, em linha com o de Pinto da Costa, relativamente à escalada de violência verbal e à iminência de uma guerra urbana, ajudará o Benfica a subentender o posicionamento, sem ambiguidades, do FC Porto e seus aliados quanto à candidatura de um benfiquista à presidência seja do que for. Contra!

Pretendendo ser visto e seguido como um líder esclarecido, fiável e aglutinador, o Benfica segue em ziguezague sem respostas coerentes para tantas frentes de combate, à medida que se aproxima o momento de revalidar os contratos televisivos com os parceiros de sempre – provavelmente a próxima “desilusão” no horizonte encarnado.

Luisão: "Medo? Jamais!"

Jesus: "Ganhar em Lyon é normal"

Jesus respeita decisão de Nuno Gomes

Jesus diz que quer ganhar mesmo sem Cardozo

Paulo Machado diz que o Benfica é superior

segunda-feira, outubro 18, 2010

Pai e filho - Miguel Góis

– Desliga o computador. Temos de ter uma conversa muito séria...

– Para quê tanto suspense? A stôra de Português avisou-me que ia falar contigo hoje.

– E então? O que é que tens a dizer em tua defesa?

– Nada.

– Nada? Portanto, o teu teste de Português está igualzinho ao teste do Vasco, que por sinal é o melhor aluno da turma, e tu não tens nenhuma explicação para isso.

– A stôra só veio com essa, porque estava à espera que eu tivesse outra nega para me chumbar.

– Eu vi os testes, meu menino. As respostas são textualmente as mesmas, palavra por palavra. É impossível não teres copiado. Sabes o que isto quer dizer? Dois meses sem semanada. DOIS MESES!

– Sim, mas como é que se prova?

– Desculpa?

– Como é que se prova que fui eu que copiei, e não o Vasco? Estás a entender a questão?

– Não estou a acreditar no que estou a ouvir. Quer dizer que não serviu para nada ter andado estes anos todos a gastar a minha saliva contigo sobre a importância de sermos honestos, sobre o valor da integridade e da...

– ... retidão moral. Eu lembro-me. Mas, ó pai, quando o Porto ganha o campeonato, não vamos para os Aliados festejar?

– O que é que isso tem a ver?

– Pai, eu tenho 11 anos: como todos os rapazes da minha idade, estou todos os dias no YouTube.

– No YouTube.

– No YouTube. Eu já não sou uma criança, pai. Sei como é que as coisas funcionam. E tu também sabes, há mais tempo do que eu. Desde que não sejamos apanhados, às vezes temos de dizer “toca a andar!”, temos de recorrer à “fruta de dormir” e ao “nosso juiz”, se queremos atingir os nossos objetivos. Queres que eu chumbe o ano? Queres ir outra vez à Liga Europa? Vá, que cara é essa? Anima-te, pai. Não me dás os parabéns pela nota a Português?

– Os parabéns? Bom, foi efetivamente uma boa surpresa.

– Obrigado, pai. Só mais uma coisa.

– O que é?

– Dava-me jeito que me desses a semanada agora...

– Vou buscar a carteira.

Mortal Kombat - Domingos Amaral

From: Domingos Amaral

To: Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira

Caros presidentes do FC Porto e do Benfica

À medida que se aproxima o jogo entre as duas equipas, no Dragão, o tom do confronto tem vindo a subir. Ele é ameaças, recordações de violências passadas, tudo numa grande caldeirada, como se viesse aí um combate mortal entre duas comunidades que se odeiam e guerreiam, e não apenas mais um jogo de futebol que existe todos os anos. Entrámos pois em espiral, numa escalada disparatada. Tem de ser assim sempre? Não, não tem. Pela minha parte, avanço com uma sugestão: todos os anos, antes da época começar, devia ser organizado um grande torneio de luta livre entre benfiquistas e portistas, algures num descampado, a meio do caminho entre Lisboa e Porto.

Na arena principal combateriam suas excelências os presidentes. Depois haveria arenas secundárias. Numa delas, a maior, defrontar-se-iam as claques, Super Dragões contra No Name Boys. Noutra, defrontar-se-iam Jesus e Villas-Boas. Mais ao lado, lutariam os vices Reinaldo Teles contra Sílvio Cervan. Depois haveria as arenas especiais, para os cronistas Manuel Serrão e António-Pedro Vasconcelos, e uma muito muito especial, e muito aguardada, para a refrega entre os televisivos Rui Moreira e Ricardo Araújo Pereira.

Seriam naturalmente combates até à morte, onde valia tudo menos tirar olhos, e desses combates estariam excluídos os jogadores, pois esses valem muito dinheiro e não são para estragar. Mas, se esse gigantesco Mortal Kombat existisse, pelo menos uma vez por ano, talvez a tensão descesse, e não passássemos o tempo nestas picardias desnecessárias e perigosas. Depois queixem-se.

domingo, outubro 17, 2010

Leões e Mouros - António- Pedro Vasconcelos

Perante o silêncio cúmplice com que a Direcção do SCP e a maioria dos comentadores afectos ao clube de Alvalade acompanharam, nestes últimos anos, os castigos do processo do Apito Final e as absolvições do Apito Dourado, muitas vezes me tenho perguntado: será que já não há sportinguistas decentes, que não confundem o RIVAL com o INIMIGO?

Nestes últimos anos, depois de Dias da Cunha ter denunciado o SISTEMA e ter chamado os bois pelos nomes, a cumplicidade com o FCP por parte das direcções que se lhe seguiram (Filipe Soares Franco e, agora, Bettencourt) foi demasiado evidente: o inimigo era o Benfica e tudo o que servisse para atacar o Glorioso era bem-vindo, nem que para isso tivessem que pactuar com a batota e associar-se ao clube cujo presidente se gaba de ter deixado Bettencourt de mão estendida e lhes levou o Ruben Micael, o Moutinho e mesmo o treinador que eles julgavam que iam exibir este ano como um D. Sebastião: o Villas-Boas. E tudo o Porto levou!

A cumplicidade era tão grande que houve quem julgasse que a sigla SCP queria dizer Sporting Clube do Porto! Até ao ano passado, o SCP calou-se: não comentou os escandalosos resultados do Processo, não falou das escutas, pactuou com arbitragens indecentes, porque teve o segundo lugar garantido, e porque alguns sportinguistas sem brilho nem brio preferiam um segundo lugar várias vezes do que um primeiro de vez em quando! Desde que o Benfica ficasse atrás!

Esta cegueira e esta obsessão reduziram o nosso grande rival a um clube de bairro, mergulhado numa crise de onde não se vê como vão sair, condenado a disputar um lugar na Europa ao Braga, ao Vitória de Guimarães ou ao Marítimo.

Mas, desde o ano passado, a coisa ganhou foros de delírio. Perante a evidência de um futebol brilhante, um treinador vitorioso e uma equipa confiante e ganhadora, que passeava a sua superioridade e sua classe pelos relvados, e que, sem batota, teria deixado os outros clubes muitos pontos atrás, era preciso arrasar o RIVAL, apoiando a vergonhosa campanha do FCP, matraqueada todos os dias com mentiras repetidas sobre os túneis e o andor, e que, à falta de argumentos, ressuscitava a indecorosa campanha contra o Calabote e reeditava a caluniosa campanha do “Clube do Regime”!

Nos tempos da Guerra Fria, os comunistas chamavam, com desprezo, aos que os apoiavam sem pedir nada em troca os “Idiotas úteis”.

E, desde o ano passado, houve comentadores que se prestaram miseravelmente a essa vassalagem. Ora, de há umas semanas para cá, quiçá por efeito da divulgação das novas escutas, houve alguns sportinguistas que acordaram e devolveram a decência à instituição: foi o caso do Jorge Gabriel, do Daniel Oliveira, do Alfredo Barroso e do José Diogo Quintela, que assinaram nos jornais e proclamaram na rádio que as escutas os indignavam e que, ao contrário do que outros vendem, a equipa do Sporting também foi prejudicada por arbitragens viciadas que a afastaram do título em épocas recentes. Aleluia!

É tempo de os sportinguistas, mesmo que a sua Direcção se cale, perceberem que só poderão voltar a ser um grande clube quando a VERDADE DESPORTIVA voltar ao futebol, e isso implica aliar-se ao Benfica na luta pela independência dos órgãos que irão superintender à Arbitragem e à Disciplina e à decência dos seus membros, na próxima estrutura da Federação!

Sem isso, os nossos clubes vão continuar a ter que redobrar o esforço desportivo e financeiro para ganhar no campo contra todas as forças que, dentro e fora dele (a violência à volta dos estádios, os corredores do poder, os túneis, o apito e as bandeirinhas) fazem todos os possíveis para incendiar Lisboa e manter o poder no Norte.

ACORDEM LEÕES! OU SERÁ QUE ACHAM QUE, PARA ELES, VOCÊS NÃO SÃO MOUROS?!

quinta-feira, outubro 14, 2010

Com a devida Vénia ao António Melo

O Caso Villas-Boas - Sacanas sem Lei

Todos na paz benfiquista - Luís Seara Cardoso

Não se fala no Benfica ou pouco se fala? Consequência de uma série de resultados positivos. Positivos e justos. A equipa está de novo na senda vitoriosa, nem outra coisa seria de esperar. Agora, já não se questiona Roberto, já não se discute David Luiz, já não se debate Cardozo, já não se analisa Jorge Jesus. Agora, já não se discutem opções, métodos, conceitos.

Ainda assim, não é possível esquecer os erros, alguns de palmatória, das equipas de arbitragem que dirigiram os primeiros embates da equipa encarnada. Não fosse uma sucessão de disparates e o Benfica estaria, no mínimo, colado ao líder da competição. Houve quem se insurgisse contra o alarido que o clube fez? E não se ouviram altissonantes as angústias do treinador e de outros responsáveis portistas só porque empataram em Guimarães? Até deu para ver (?) um penálti que não foi, até deu para um número pouco usual na atualidade desportiva, esse do dito por não dito…

Entretanto, a Seleção Nacional fez o pleno. Dois bons jogos, duas importantes vitórias na fase de qualificação. Também com a contribuição de uma dupla benfiquista. Fábio Coentrão, opção reiterada, é tão indiscutível como a própria… Seleção. Já Carlos Martins provou a justeza da sua convocatória. Não deveria ter integrado o lote dos jogadores que se deslocaram, em junho, à África do Sul? Penso que ninguém tem dúvidas, a despeito das suas preferências cromáticas no universo da bola. Paulo Bento não duvidou e fez bem.

Mais Benfica na Seleção resulta em melhor Seleção. Também outros combinados nacionais continuam a beneficiar do concurso de futebolistas benfiquistas. O caso de David Luiz, na canarinha é paradigmático. Está ou não ali o melhor central do Mundo a breve trecho?

O Benfica deve uma grande festa ao Jamor - Sérgio Krithinas

Apesar do fulgor perdido nos últimos anos, a Taça de Portugal é um objectivo que nenhum clube deve menosprezar. Muito menos os principais emblemas do futebol português, dominadores também na segunda prova do calendário nacional. Estranhamente, parece ter deixado de entrar nas contas do Benfica nos últimos anos: desde 1996, os encarnados apenas levantaram o troféu no Jamor por uma vez. Foi em 2004, quando a equipa de Camacho bateu o FC Porto por 2-1.

A crise que entrou na Luz nos últimos 15 anos não pode justificar números tão pobres. Afinal, os encarnados têm nos últimos 14 anos tantas Taças como Boavista, Beira-Mar e Setúbal, menos duas que Sporting e menos seis que FC Porto!
Um registo que deve envergonhar um clube que continua a liderar a lista de vitórias na prova.
E a festa do Jamor, nem que seja pela romaria religiosa dos adeptos do dia da final, merece um Benfica ao melhor nível.
A começar já pelo jogo de sábado, frente ao Arouca.

quarta-feira, outubro 13, 2010

FC Porto paga viagem a Calheiros e Federação arquiva caso - magalhaes-sad-slb.blogs.sapo.pt

Factura da viagem de Calheiros foi para às Antas por engano. Porto paga, manda devolver a factura, Ministério Público encontra provas de corrupção, mas... 'no pasa nada'. Federação arquiva e... amigos como dantes.

De Viana ao Brasil, com ‘escala’ no aeroporto do Porto, o árbitro Carlos Calheiros e família atravessaram o Atlântico e gozaram umas agradáveis férias – aproximava-se a nova época e era preciso descansar e encontrar alguma tranquilidade...

A factura das viagens foi paga pelo FC Porto, à Agência Cosmos, propriedade de Joaquim Oliveira e parceira do clube das Antas, nas deslocações do clube e seus representantes. Perante as provas (a factura emitida no nome de Carlos Calheiros e paga pelo FC Porto), a Justiça desportiva e civil só teria de condenar.

E o que aconteceu? As provas de nada serviram, porque nos bastidores circularam as promessas de fruta... Que bom seria se estas escutas viessem à baila... A Federação arquiva o caso e o Ministério Público confirma que existiram actos de corrupção.

Perante factos irrefutáveis, o FC Porto teria de se justificar... E fê-lo de forma brilhante... Argumenta que a factura foi devolvida, que não a pagou e que tudo não passou de um equívoco. Que chatice... Enviam uma factura de um árbitro para o clube das Antas!? Hum...

Foram 762 contos que Calheiros poupou. O que terá dado em troca? Quantos penáltis? Quantos golos? Quantas expulsões perdoadas? Quantos títulos corruptos ajudou a construir? O caso-Calheiros está escrito na história do futebol português.
Ninguém o apaga.

Manual de um corrupto no activo - magalhaes-sad-slb.blogs.sapo.pt

Como a corrupção domina a Imprensa. Terrorismo sobre jornalistas nas Antas. O poder editorial de Pinto da Costa sobre O Jogo. As jogadas de charme perante o poder político. Os dissidentes. Tudo sobre as estratégias corruptas que subjugam o futebol português.

Um sistema corrupto só pode funcionar se dominar a Imprensa. Razão? A Imprensa exerce um forte poder junto de todo o edifício da Justiça, ao divulgar, investigar, formar opinião pública. Sem a Imprensa na mão, os corruptos são apanhados facilmente.

Para Pinto da Costa, nunca foi difícil dominar a Imprensa. Em primeiro lugar, porque sempre foi idolatrado pelos adeptos. Depois, porque definiu uma estratégia que passava por instigar ao ódio pelos jornalistas mal amados. Além disso, criou manobras de charme a nível nacional, como a tradicional visita à Assembleia da República.

Comecemos pelo ódio... Nunca foi fácil exercer jornalismo nas Antas. O relato do rádio era seguido em directo e se o jornalista expressava uma opinião indesejada sobre um lance era insultado... em directo.

No final do jogo, se o Porto perdesse, havia agressões, quase sempre verbais, porque as barreiras impediam o acesso à zona de Imprensa. Havia um secreto desejo de que o Porto ganhasse, para que houvesse paz e respeito, na saída dos adeptos.

Pinto da Costa tem um órgão de Comunicação Social ao seu serviço e dá indicações directas sobre qual o destaque que cada notícia merece. Cria falsas notícias para exercer pressão sobre os órgãos de Justiça do futebol. Quem não se lembra da escuta do jornalista Tavares Teles?

Tavares Teles (jornalista de O Jogo): “Está escrita a história [falsa ameaça de boicote à selecção] do Deco. O Manuel Tavares [director de O Jogo] quer pôr aquilo em grande destaque...”

Pinto da Costa: “O quê? Não... Não põe nada...”.

Mas o poder dos corruptos estende-se a manobras de charme junto dos políticos. Os tradicionais encontros com deputados portistas, na Assembleia da República, conferem a Pinto da Costa uma falsa elevação moral. Limpa-se a imagem e descredibiliza-se quem o descredibiliza. Fácil e eficaz...

Os dissidentes políticos que não pactuam com a corrupção acabam por ser linchados em praça pública. Basta lembrar como foi tratado Rui Rio – o presidente da Câmara do Porto, que denunciou actos de gestão danosa em benefício do FC Porto.

Outro exemplo de dissidência política é Ricardo Bexiga, deputado da Câmara de Gondomar. Acabou agredido por homens encapuzados [coincidência: um amigo de Pinto da Costa acaba de ser detido com máscaras e armas], alegadamente a mando de Pinto da Costa, segundo Carolina Salgado.

“O que está em causa em Portugal é a separação entre servidão e liberdade", disse Ricardo Bexiga”. Esta frase deve ser lida, relida e repetida. Os corruptos dominam, criam servos e quem sai da linha corre risco de vida.

O sistema corrupto tem pessoas dentro dos órgãos do futebol – Liga e Federação – e tem um órgão de comunicação social dominado. Tem juízes “amigos”. Os chamados “nossos juízes”. Tem advogados e pessoas bem relacionadas com quem de direito. Tem políticos subjugados.

Prepara-se o assalto ao futebol, com Fernando Gomes na Liga e Vítor Baía na Federação. Ricardo Costa já foi varrido. O Benfica voltou a ser prejudicado de forma escandalosa, numa tentativa de afastar o campeão da luta pelo título. Os corruptos estão com força...

E por que razão continua com força? Porque a memória é curta e a Imprensa lava mais branco que o Omo...

terça-feira, outubro 12, 2010

Fulanizações e Penálties - Leonor Pinhão

Esta foi uma semana curiosa em que gente do futebol que há muito andava desaparecida dos altos galarins reapareceu para dizer o que lhe vai na alma.

Luís Duque, por exemplo, que foi um dirigente marcante do Sporting e que saiu incompatibilizado já ninguém se lembra muito bem com quem nem porquê, foi convidado a opinar sobre o momento do seu clube e não esteve com meias palavras: “O Sporting perdeu a alma”, disse sobre a situação de um modo geral e disse ainda, de uma feição mais particular, que “Costinha devia dispensar os tiques à FC Porto”.

Também António Boronha, que foi durante alguns anos vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol e que sempre primou por um estilo desassombrado, justiça lhe seja feita, concedeu uma extensa entrevista ao jornal “A Bola” e afirmou que para mudar o futebol português têm de mudar de pessoas: “Há quem diga que no futebol não se deve funalizar as questões. Mas se não funalizarmos não se vai a lado nenhum porque o sistema reside em pessoas”, disse Boronha.

Se olharmos para as declarações de Luís Duque e de António Boronha com ligeireza podemos considerá-las iguais a tantas outras de tantos outros fulanos que por aqui andam há décadas. Mas são bem diferentes.

O problema de Duque e de Boronha é o excesso de bom senso que detém e que, perante o quadro geral de insolvência mental, os coloca no campo dos marginais da bola, dos “freaks”, enfim, no campo do sempre temível anarquismo que ameaça as sagradas instituições.

O nosso futebol compraz-se com outros fulanos e com outros discursos, tomados por “normais”. Assim sendo, o ex-dirigente do Sporting e o ex-dirigente da FPF são apenas a excepção que faz a regra.

A regra para o Sporting é a submissão total aos devaneios do FC Porto, expressa em jogadores fornecidos e em apoio tácito e silencioso em todas as situações que melindrem os ex-campeões nacionais. Ainda recentemente foi possível ver num debate televisivo o comportamento devotamente solidário do representante do Sporting quando o representante do FC Porto, ofendido com a divulgação das novas escutas do Apito Dourado, abandonou o estúdio em sinal de protesto.

A regra para o futebol português é a perenidade de um corpo de dirigentes que já deveria ter sido substituído e, em alguns casos, irradiado por ponderosas e legítimas razões.

Não querer ver isto é não querer ver nada. É preciso saber ver até os mais ínfimos pormenores. Por exemplo, alguém duvida de que um árbitro com a competência de um Carlos Calheiros não conseguiria ver, mesmo do Brasil, aquela grande penalidade que André Villas Boas exigiu tão estridentemente em Guimarães?

27.000 DIAS DE RÁDIO - Especiais Antena 1 - Multimédia RTP

27.000 DIAS DE RÁDIO - Especiais Antena 1 - Multimédia RTP

domingo, outubro 10, 2010

Futebol, dos pés para a cabeça - Luís Freitas Lobo

Os jogadores mais influentes numa equipa detetam-se pela dimensão de espaço que eles ocupam nos seus movimentos habituais.
Os grandes jogadores, quando aparecem, marcam o seu território de uma forma incontestável. Numa explicação puramente morfológica, o futebol é um jogo atraente e quase enigmático porque é jogado com os pés e pensado com a cabeça, algo que coloca em contacto pontos extremos do corpo atlético. É um bom ponto de partida para pensar numa equipa, jogadores e jogo, evolução e dilemas. Penso nisso quando ouço Fábio Coentrão a falar sobre o seu crescimento como jogador, de rebelde incompreendido até estrela do Benfica: "Antes pensava só com os pés. Hoje, penso com a cabeça, os pés... com tudo. Hoje, sim, considero-me um jogador de futebol!" A cabeça e os pés, a distância física máxima. Eis o grande desafio de uma equipa (e jogadores). Cruyff dizia que o futebol é "um jogo para ser jogado com a cabeça" e, com isso, enquanto recordava as suas fintas e passes mágicos (com os pés), dizia a origem de tudo. O melhor futebol, no entanto, vive de emoções e sentimentos. Leio António Damásio e fixo-me quando diz que "para ter uma emoção não é necessário um sentimento. Para ter uma emoção, basta um objeto. Um carro que se despista provoca susto, sem se estar a ter sentimento nenhum, está-se apenas a responder emocionalmente a uma situação". Claro que quando falava sobre isto, Damásio não pensava em futebol. Mas quando depois diz que "os sentimentos confundem-se com o princípio da consciência" ou a "possibilidade de não ter só uma reação automática, mas de a partir daí construir conhecimentos, relações com determinados objetivos", não resisto a transpor todo este mundo de razões e emoções para o futebol, o jogador, a bola e o... jogo. Coentrão sempre teve emoção com a bola (os pés em ação). Faltava-lhe, porém, o sentimento (a cabeça). Ter consciência no jogo e não reagir apenas emocionalmente ao objeto (bola). A razão estará algures no meio disso. Como o bom futebol. Os jogadores mais importantes/influentes numa equipa podem ser detetados em função da dimensão/amplitude de espaço que, no jogo, eles ocupam nos seus movimentos habituais. Nesse sentido, Coentrão estará até a tornar-se um jogador demasiado importante no jogo do Benfica em busca da sua melhor expressão. Neste momento, Jesus não terá outra opção do que mantê-lo a extremo-esquerdo para devolver à equipa profundidade pelo flanco que perdeu Di Maria. Fica, porém, com um problema defensivo, que obriga Coentrão a correr mais para ocupar maior parcela de relva, recuando também para ajudar a defender (nessa visão coletiva, é de crer que Fábio Faria seja melhor defesa-esquerdo do que César Peixoto).

Sentiu-se isso na Alemanha, frente a um Schalke 04 que deu a maior parte do relvado ao Benfica e esperou o decorrer do jogo para perceber onde estariam espaços ou erros para lançar um ataque. Perante este tipo de estratégias, o Benfica tem tendência a acelerar sempre o jogo, só o entendendo em velocidade. A época passada via o adversário como um "grande mentiroso". Agora, "acredita" nele. E é facilmente atraído pelo "objeto". A solução não será a de tornar o jogo mais lento, mas antes gerir melhor os ritmos de jogo. É o que, taticamente, o atual futebol "encarnado" necessita. Ou seja, jogar mais com a "cabeça" e menos só com os "pés". Fazer, como equipa, o percurso de Coentrão. As melhores equipas são as que "mentem melhor" em campo. Mentiras com pés e cabeça, claro.

Futsal: Benfica 6-1 Freixieiro - Video

Hóquei: Benfica 5-2 Candelária - Video

Juvenis: Resumo Benfica 3-1 Torreense - Video

Rui e André - Miguel Góis

Recentemente, até os mais renitentes adeptos do FC Porto começaram a ter razões para acreditar que o futebol português é um caso de polícia. Na segunda à noite, foi uma grande penalidade que não apareceu. Na terça à noite, foi um comentador que desapareceu. Do ponto de vista dos protagonistas, o descontrolo emocional adquiriu diferentes contornos: enquanto André Villas-Boas queria falar de uma coisa que não aconteceu (costuma-se dizer, e agora confirma-se, que os mais novos têm muita imaginação), Rui Moreira recusava-se a falar de uma coisa que aconteceu.

Em termos comparativos, o pungente pedido do técnico do FC Porto à TVI é mais maquiavélico. Procurar um penálti não assinalado contra o FC Porto é uma tarefa para a qual basta um estagiário. Já mandar um estagiário procurar um penálti não assinalado a favor do FC Porto não é uma tarefa, é uma praxe: é a caça ao gambozino dos tempos modernos.

Seja como for, Rui Moreira venceu André Villas-Boas no capítulo da ambivalência. Por um lado, é contra a prática pidesca das escutas; por outro, é a favor da prática pidesca de tentar condicionar os assuntos sobre os quais os outros querem falar. Mas desdramatizemos: sem Rui Moreira, “Trio D’Ataque” melhorou substancialmente. Se Rui Oliveira e Costa também tivesse abandonado o estúdio, aí então teria sido um programa genial. Mas compreendo que tenha que ficar alguém para defender o ponto de vista do FC Porto. E não só: Rui Oliveira e Costa representa também no programa um terceiro grupo, o dos portugueses sem qualquer tipo de escolaridade: quando, por exemplo, se dirige ao moderador para lhe dizer “explicitastes claramente” e “fostes exemplar”. Enfim, as coisas são o que são. Uma laranjeira não dá nêsperas.

sexta-feira, outubro 08, 2010

Não se faz - Daniel Oliveira

Percebe-se a indignação de André Villas-Boas. Não é justo começar a treinar o Porto e haver um qualquer momento na grande área adversária que possa levantar alguma dúvida e a esse momento não corresponder uma grande penalidade. Quando é convidado para dirigir uma equipa um treinador faz contas. Mede os prós e os contras. E ninguém pode negar que a entrega de tantos árbitros à causa portista é uma vantagem a não negligenciar. É, por assim dizer, um direito adquirido.

Claro que, como foi assinalado por várias pessoas, houve um penálti por marcar em favor do Guimarães. Mas que Diabo, isso já faz parte das regras do futebol português. Penalidade contra o Porto só em casos extremos. Está na lei. O que realmente valoriza um árbitro é a marcação de penalidades inexistentes contra as equipas que têm de passar pelas mãos do Porto. Isso sim, é que é ter brio profissional. Isso sim, distingue os melhores.

Percebe-se a revolta de Villas-Boas: não foi para aquilo que ele assinou um contrato no Dragão. Querem lá ver que agora o Porto tem de começar a época só com 11 jogadores em campo? E a tradição, onde fica? Será que se acabou a fruta? Será que Pinto da Costa já não serve de GPS para árbitros que inadvertidamente passam perto de sua casa? Podem, se faz favor, voltar à normalidade? Villas-Boas é jovem, mas merece tanto respeito como qualquer antigo treinador do Porto. Senhor Pinto da Costa, pode voltar a fazer o que melhor sabe? Ou, se está a perder qualidades, pelo menos avisar o seu treinador que quando se vai destacado no campeonato o árbitro está dispensado das suas tarefas. Um homem, quando chega onde Villas-Boas chegou, tem expectativas que não podem ser defraudadas. E ainda por cima é multado. E tem de pedir desculpas. Está tudo doido?

quinta-feira, outubro 07, 2010

Peçam lá para Repetir o Jogo - Leonor Pinhão










Ninguém se demite?! - Rui Santos

Ninguém parece muito preocupado com o estado a que chegou a Federação Portuguesa de Futebol. Estado de ilegalidade, caducidade e vacuidade. Gilberto Madaíl não tem condições para continuar na presidência mas há quem pareça interessado na sua recandidatura. A recandidatura de Madaíl, a acontecer, é uma ofensa a todos aqueles que querem ver mudanças substantivas no paradigma do futebol em Portugal. Porque um presidente não pode ser apenas avaliado pelo número de vitórias, empates e derrotas da Seleção; Porque um presidente deve ser avaliado pelas reformas que consegue realizar no sentido de potenciar o crescimento do futebol nacional, a partir do investimento no “jogador português”; Pela articulação destas duas razões, porque já ninguém sabe o que é “o futebol português”, e porque o presidente da FPF também não deve ser nem uma espécie de espantalho no meio do milheiral nem um boneco articulado nas mais diversas mãos, Madaíl está esgotado.

Bem se sabe que Madaíl, pela longevidade do seu consulado na FPF, conseguiu alguma proximidade efetiva no âmbito da UEFA e da FIFA. Mas também se sabe que, quando se trata de questões mais ponderosas, como a arbitragem ou outras “operações de risco”, como a que envolveu o falhado “empréstimo” de Mourinho a Portugal (ai, santa ingenuidade...), lá vai o eterno “pronto-socorro”, João Rodrigues, em “missão humanitária”...

Quanto aos decantados méritos da atribuição da organização do Euro’2004 a Portugal, a questão é genericamente colocada ao contrário. Em vez de elogios aos cabouqueiros da megalómana cavalgada, deveríamos todos (contribuintes portugueses) pedir responsabilidades a quem nos deixou tão pesada fatura, que ainda estamos a pagar. A menos que muitos não se importem de tirar do seu bolso montantes absurdos para pagar um pedaço (efemeramente continuado) de emoção.

Agora, montados na vertigem propagandeada pela própria FIFA como um dos argumentos mais fortes da candidatura ibérica para o Mundial’2018 – esse mesmo, o TGV... –, todos parecem dispostos a esperar pelo dia 2 de dezembro, o que significa esperar que Madaíl faça o seu “número” de “passe de mágica”.

Entretanto, ou paralelamente, há contas para aprovar. E sobre as contas da FPF talvez seja importante responsabilizar quem faz contratos como aquele realizado com Carlos Queiroz (e anteriormente Scolari), e perceber quem vai pagar a (outra) fatura, se o ex-selecionador ganhar a sua causa laboral e, também, no âmbito do TAS... É que não basta despedir, “lavar as mãos” e “reunir as tropas”. É preciso assumir as responsabilidades. E esta FPF, sem rei nem roque, está habituada a disfarçar fraturas com a técnica de, ciclicamente, trocar de selecionador. Não basta! A atual direção da FPF demonstrou, nos últimos tempos, a sua mais profunda incapacidade para lidar com os assuntos do futebol português.

Eo que acontecerá se, a curto-prazo, o Conselho de Justiça apresentar a demissão? E, nesse cenário, qual vai ser a posição do Conselho de Disciplina?! Não há adequação de estatutos à lei, o Estado está num impasse e a FPF em bolandas.

Pois: vamos jogar, amanhã, com a Dinamarca e o importante... é mesmo ganhar!

Entrevista de Luís Filipe Vieira à Antena1 - Audio












quarta-feira, outubro 06, 2010

As dependências - João Gobern

O jogo que levou o líder do campeonato a Guimarães – na semana em que chegaram à Internet novos “capítulos” das escutas do Apito Dourado, que a justiça desportiva optou por desconsiderar, porventura chocada com o estilo do Português que por ali se pratica – chegou para provar várias coisas. Numa vertente exterior à partida, ficou patente a facilidade com que André Villas-Boas muda de tom e de discurso, consoante a sua equipa chega ou não ao triunfo. Acontece que os tiros do treinador do FC Porto foram todos de “pólvora seca” – ele viu (ou diz que os seus jogadores viram) um penálti “claro” contra o Vitória. Azar: foram poucos os comentadores que vieram dar-lhe razão. Ignorou um penálti, quase unanimemente reconhecido, de Fucile sobre Edgar. E lançou-se numa exaltada diatribe contra tudo e contra todos. Ora, se muito nos motiva a todos o direito à indignação, convém que este seja exercido em nome de factos visíveis – e não de fantasias moldadas pela conveniência do momento. Mais pedagógico teria sido ver Villas-Boas ter reconhecido que o FC Porto perdeu os primeiros pontos “por preguiça, por arrogância, por falta de atitude”, expressões escolhidas por Miguel Sousa Tavares para caracterizar a ocorrência. Infelizmente, a cultura de vitória não está, por imaturidade ou deformação, ao alcance de todos. Pena que o técnico portista se reclame discípulo de Sir Bobby Robson, que nunca se prestou a espetáculo semelhante, numa carreira longa e preenchida. Pode ser que aprenda.

Há, no entanto, outro sinal a explorar pelos adversários: a dependência que a equipa vem revelando face a Hulk. É evidente que o brasileiro foi, ao longo deste arranque de época, o jogador mais explosivo e gerador de desequilíbrios a atuar em Portugal. Mas fazer dele o “sentido único” fragiliza o coletivo. Hulk, sendo pontualmente arrasador e brilhante, ainda está longe da consistência – e, insisto, isso também passa pela forma como se desgasta em quezílias e reclamações. Neste jogo em particular, com Varela e Belluschi muitos furos abaixo do que já se lhes viu, com Falcão sem serviço e com Fucile a deixar-se dominar pela tremideira, Hulk ficou com todo o peso sobre os ombros. Respondeu bem na jogada do golo e em mais meia dúzia de lances. Mas desperdiçou muito, errou demais, deixou à mostra o seu exasperante egoísmo. Culpa própria? Claro que sim. Mas também responsabilidade de quem o elevou a herói por causa de duas sentenças distintas – mas ambas condenatórias – à saída… de um túnel.

Já se sabia da perene dependência que o FC Porto mantém relativamente a Jorge Nuno Pinto da Costa e aos seus contactos. Mais uma dependência pode ser perigosa, ou mesmo fatal, para quem quer ganhar tudo.

A Liga anima - Octávio Ribeiro

O FC Porto tropeçou finalmente e assim deixa a diferença para o principal rival encurtar para “apenas” sete pontos. Esta equipa que André Villas-Boas montou tem uma excelente dinâmica, agressividade coletiva, e Hulk. Argumentos bastantes para uma caminhada até aqui imaculada na Liga. Porém, no jogo de ontem, em Guimarães, o que sobressaiu foram os defeitos, que até agora tinham estado escondidos.

A dupla de centrais é a primeira em muitos anos que não tem um líder natural. Rolando pode ser um bom central mas não me parece que possa passar do estatuto de muleta eficaz. E na direita da defesa continua a estar Fucile. Um temperamental uruguaio a quem o FC Porto já pode assacar responsabilidade direta num punhado de maus resultados, mesmo além-fronteiras.

Para agravar o panorama, André Villas-Boas cedeu aos impulsos da juventude e deixou a equipa sem liderança técnica quando mais precisava dela. O empate de ontem em Guimarães dá um ótimo sinal para uma eventual animação do campeonato que só parece ao alcance do Benfica. Na Luz merece registo especial a ascensão de Carlos Martins: sempre teve tudo para ser um grande craque, agora até já dura os 90 minutos. Mais uma medalha para a lapela de Jesus.

Já o Sporting continua a deixar uma boa impressão nos momentos de ataque – a bola teima ainda em não entrar, está lá tudo menos a sorte –, mas na defesa alguém acaba sempre por comprometer de forma grave. Ontem coube a vez a Rui Patrício com aquele inaceitável frango.

Mão à palmatória – Na passada semana, atribuí erradamente o atraso na subida com a linha de defesa do Sporting, que tornou válido o golo do Nacional, ao trinco André Santos. Quem se atrasou na linha do fora-de-jogo foi o central André Coelho. O que torna o erro ainda mais grave.

Novo Filme de António-Pedro Vasconcelos

Taça da Liga com nova roupagem

Evo Morales num amigavel

Jogador 'acaricia' seio de árbitra

terça-feira, outubro 05, 2010

Liga (7ª J): Jogadas da jornada

Liga (7ª J): Blooper da jornada

Liga (7ª J): Falhanço da jornada

Liga (7ª J): Defesa da jornada

Liga (7ª J): Golo da Jornada

Especial Assistências de Saviola

Grande bisga - Marta Rebelo

A história faz as pazes com o passado muitas vezes. E Paulo Bento, com a sua convocatória a Carlos Martins, inspirou o número 17 do Benfica. Cabeça fria e coração quente, é a receita do Sr. Tranquilidade para o confronto com a Dinamarca. Ontem à noite, só ligaram os 22 à tomada na segunda parte. Na entrada em campo, viu-se estratégia, manha e muita tática. Servida a frio e com chuva: o Glorioso a jogar avançado no terreno e o Sp. Braga atrasado a apostar no contra-ataque; muita posse de bola para o Benfica, algumas jogadas rápidas e perigosas dos arsenalistas.

Foi um SLB irregular, o mesmo desta época, que jogou a noite passada. Mas com um Senhor Aimar e um Martins endiabrado, que fizeram o jogo e os três pontos. Grandes bisgas de Carlos Martins, na carreira de tiro. Aliás, este na ala direita, em rotação ao centro com Pablito, foi uma boa solução destra para esta partida. Bem dizia eu há uma semana que Coentrão tinha de recuar à defesa com o SCB, que este não era jogo para Peixotos (assobiado na entrada, a 5’ do fim). Mas Fábio ficou cá atrás, com uma parede bracarense a tapar-lhe as subidas. E sem ele, a velocidade ficou-se pelas pernas de Aimar que mete muita mecha nos primeiros 45’. Mas Carlos Martins compensou. É que cá atrás, Maxi continua a pagar a despesa física do Mundial e David Luiz continua muito nervoso. Já estávamos todos muito nervosos, aliás, quando, de pé canhoto, à oitava tentativa, um balázio de Martins dá 3 pontos. Saviola não concretiza, mas assiste como só ele.

Depois veio o turbilhão e 6 minutos de compensações. Quem é que Duarte Gomes queria compensar? Foram 6 para compensar os 5 pontos que Domingos queria levar de avanço, à saída da Luz? Paciência.

Kardec, tiveste a tua oportunidade de fazer de Tacuara. Continua à escuta e manda postais. Ai, escutas é que não.

Villas-Boas: faltou saber perder pontos - Luís Sobral

O primeiro ensaio de André Villas-Boas como treinador durão que não tem medo de ninguém saiu mal.


O treinador do F.C. Porto foi expulso, viu um seu jogador sair mais cedo (e muito bem) e perdeu pela primeira vez pontos, num jogo difícil que não saiu bem à equipa.
No dia em que pela primeira vez não ganhou, interrompendo um ciclo muito bom de vitórias, que demonstrou Villas-Boas? Algo simples: não estava preparado para a coisa.
E no entanto era evidente que um dia o F.C. Porto chegaria ao fim de um jogo sem vencer. Aliás, como disse na sala de imprensa, sete pontos de avanço à sétima jornada é uma vantagem muito boa. Qualquer treinador a desejaria.

Porém, o discurso na entrevista rápida e a insistência mais tarde, na conferência de imprensa, num lance sem relevância na área do Vitória de Guimarães, mais as referências pouco subtis a Vítor Pereira, demonstram que André Villas-Boas presta muita atenção às arbitragens.

Demasiada atenção? Parece.

Que um dirigente dispare sobre uma equipa de arbitragem é apenas lamentável. Que um treinador o faça soa quase sempre a desculpa fácil para esconder as falhas próprias da equipa que comanda.

Desta vez, vistas as coisas, Villas-Boas não tem qualquer razão de queixa e deveria ter sido capaz de demonstrar maturidade e encaixar com bom senso os primeiros pontos perdidos. Não foi capaz e passou uma imagem pouco própria de alguém que acha sete pontos uma boa vantagem à sétima jornada. Nem parecia.

Conclusão: a expulsão foi má, a flash-interview excessiva e a conferência de imprensa um ensaio tosco de pressão sobre arbitragem e media.

77:53 o tal minuto do Vilas Boas em Guimarães...

domingo, outubro 03, 2010

O Totobola da Opinião - Ricardo Araújo Pereira

«A Bola tem três cronistas portistas — o Francisco José Viegas, o Rui Moreira e eu próprio. E, fora os da casa, tem três benfiquistas: o RAP, o Sílvio Cervan e a Leonor Pinhão. Nós, os três portistas, todos aqui escrevemos que (apesar do túnel da verdade, de quase metade dos jogos terminados com superioridade numérica e tudo o resto), o campeonato do ano passado ganho pelo Benfica foi inteiramente justo, porque jogou o melhor futebol. (...) Mas alguém já viu algum dos cronistas benfiquistas reconhecer mérito (...) a uma vitória do FC Porto (...)? »
Miguel Sousa Tavares, 28 de Setembro de 2010

«Durante muito tempo, achei (…) que, com túnel ou sem túnel, o Benfica merecia ganhar este campeonato, porque era a equipa que melhor jogava (...). Mas a verdade é que um campeonato não são 15, nem 20, nem 25 jornadas: são 30 e o saldo final deve-se fazer às 30. E, no último terço do campeonato, desapareceu aquele Benfica que jogava mais e melhor»
Miguel Sousa Tavares, 11 de Maio de 2010

«O Fernando Guerra pode, pois, tomar nota desde já: dificilmente os portistas e os bracarenses irão reconhecer o mérito de um campeonato ganho pelo Benfica nestas circunstancias»
Miguel Sousa Tavares, 16 de Fevereiro de 2010

Não tenho outro remédio senão admitir que Miguel Sousa Tavares tem sempre razão. Ter sempre razão não é fácil, e MST consegue-o da maneira mais trabalhosa. MST não tem sempre razão por conseguir exprimir constantemente a opinião mais correcta, mas sim por exprimir uma grande variedade de opiniões sobre o mesmo assunto. Nisto das convicções, MST joga com múltiplas. Acerca do último campeonato, às segundas, quartas e sextas reconhece o mérito do Benfica; às terças, quintas e sábados assegura que o Benfica não teve mérito nenhum. Aos domingos, provavelmente, descansa a espinha dorsal, que deve chegar dorida ao fim-de-semana. No entanto, mais notável do que a capacidade para estar sempre certo é o talento para manter a mesma superioridade moral quando diz uma coisa e o seu rigoroso inverso. É muito raro uma trampolinice ser eticamente irrepreensível, mas para MST não há impossíveis. Nos dias em que garante que os portistas são os únicos que reconhecem o mérito dos adversários, MST tem a superioridade moral dos que aceitam a derrota com desportivismo; nos dias em que exige que fique registado que os portistas nunca reconhecerão o mérito dos adversários, tem a superioridade moral dos que não pactuam com fraudes. Quanto a mim, é evidente que não possuo arcaboiço para competir neste campeonato de moralidade com MST — quer com o que tem a nobreza de reconhecer méritos, quer com o que tem a dignidade de não reconhecer méritos nenhuns. Só posso prometer que, se o presidente do Benfica for apanhado em escutas a indicar o caminho para sua casa a um árbitro nas vésperas de um jogo, a Leonor Pinhão, o Sílvio Cervan e eu viremos aqui escrever que esse tipo de conduta nos envergonha. E daremos razão a todos os adversários que não reconhecerem mérito a títulos conquistados à custa desse modelo de dirigismo desportivo. É pouco, mas é o que tenho para oferecer.

«Realmente. Luis Filipe Vieira e Ricardo Araújo Pereira têm razão: o Hulk é uma banalidade. Deve ser por isso que tão empenhadamente manobraram para o tirar de jogo»
Miguel Sousa Tavares, 28 de Setembro de 2010

Como se não fizesse já demasiado, MST ainda tem a simpatia de ser meu arquivista. E dos mais competentes: tanto colecciona o que vou dizendo, como também arquiva o que nunca disse. Na verdade, eu nunca disse que o Givanildo era banal. Posso ter tido o atrevimento de pensar, como o seleccionador do Brasil, que não é inigualável. Talvez tenha a insolência de acreditar como, aparentemente, a generalidade do mercado —, que não vale 100 milhões de euros. Mas, no que diz respeito a críticas, nunca fui tão violento como o vigilante Rui Moreira, que ainda há um ano escrevia: «Hulk (...) não sabe jogar de costas para a área (...). Além disso, parece ter entendido mal os recados do treinador e o mais que dele se viu foi que se entreteve a adornar as jogadas, a tentar “quaresmices” e a simular faltas.» Nunca fui tão acintoso como o mesmo Rui Moreira, que dois meses depois acrescentou: «Gostei de ver Hulk sentado no banco. (...) talvez lhe devessem ter explicado que fora preterido por causa dos seus tiques e individualismo, das suas inócuas simulações. Talvez assim tivesse optado por uma outra atitude, logo que surgisse a oportunidade de jogar. Em vez disso, e como tem sido costume, Hulk foi de pequena utilidade quando entrou.» E nunca disse que, na época passada, as prestações do Givanildo estavam «a léguas do desempenho do ano anterior», como escreveu aqui MST escassos 40 dias antes de o jogador, talvez por causa do fraco desempenho futebolístico, ter resolvido dedicar-se ao pugilismo.

Por outro lado, sou dolorosamente forçado a reconhecer que MST me desmascarou quando revela que, em conluio com o presidente do Benfica, eu «manobrei empenhadamente para tirar o Givanildo de jogo». Normalmente, as teorias da conspiração consistem em palermices mais ou menos lunáticas, sem qualquer sustentação em provas. Não é o caso desta. A pujança da minha influência no futebol português é bem conhecida. As conversas conspiratórias que mantenho com Luís Filipe Vieira estão amplamente documentadas no You-Tube.
MST e Rui Moreira ainda tentaram enganar-me, escrevendo várias vezes que o rendimento do Givanildo era pobre, para que eu fosse levado a pensar que o jogador não era assim tão fundamental na manobra da equipa do Porto, na época transacta. Mas a mim ninguém passa a perna, e foi precisamente o Givanildo que eu escolhi para tirar de jogo através das minhas maquinações. Confesso: o castigo do Givanildo foi ideia minha. Por absoluta falta de espaço, deixo para a semana a confissão do meu envolvimento na morte do Kennedy.