terça-feira, agosto 31, 2010

114!!!

1 - Ronaldinho
2 - Victor
3 - Nenê
4 - Quaresma
5 - Gaitan - CONFIRMADO
6 - Dentinho
7 - Eduardo
8 - Diego Buonanotte
9 - Rosales
10 - Romero
11 - Anderson Lessa
12 - Bernardo
13 - Marcos
14 - Wendel
15 - Tiago
16 - Sivok
17 - Diego Cavalieri
18 - Monzón
19 - Marco Amelia
20 - De Gea
21 - Job
22 - Anderson
23 - Tiago Targino
24 - Doni
25 - Zezinho
26 - Giovani dos Santos
27 - Drenthe
28 - Garay
29 - Van der Vaart
30 - Huntelaar
31 - Simão
32 - Codina
33 - Adan
34 - Giovanni Moreno
35 - Diego
36 - Akinfeev
37 - Leto
38 - Jan Oblak - CONFIRMADO
39 - Marcos Alonso
40 - Diego Tardelli
41 - Roberto Jimenez - CONFIRMADO
42 - Rodrigo - CONFIRMADO
43 - Geromel
44 - Karvonen
45 - José Callejón
46 - Mc Gregor
47 - Alípio - CONFIRMADO
48 - Sebastian Blanco
49 - James Rrodriguez
50 - Pablo Sarabia
51 - Adriano
52 - Sosa
53 - Muriqui
54 - Jô
55 - Durval
56 - Mano
57 - Diego Ângelo
58 - Bordachov
59 - Elton
60 - Jermaine Beckford
61 - Desmarets
62 - Jara - CONFIRMADO
63 - Tinga (Ponta Preta)
64 - Jean-Armel Kana-Biyik
65 - Dino Drpic
66 - Adilson
67 - Diego Estrada
68 - Nikica Jelavic
69 - Belhadj
70 - Dario Conca
71 - Ochoa
72 - Mamadou Diarra
73 - Ádám Szalai
74 - Amauri
75 - Felipe Melo
76 - Mohamed Sissoko
77 - Raul Fernández
78 - Obraniak
79 - Michalis Sifakis
80 - Carrizo
81 - Andrés Guardado
82 - Fábio Faria - CONFIRMADO
83 - Gastón Ramírez
84 - Hugo Almeida
85 - Pedro
86 - Riera
87 - Adrián Colunga
88 - Damien Plessis
89 - Tiene Siaka
90 - Ben Arfa
91 - Elias
92 - Wesley
93 - Daniel Pacheco
94 - Hernanes
95 - Robinho
96 - Maylson
97 - Fernandinho
98 - Diogo
99 - Izmailov
100 - Sebastián Coates
101 - Salvio - CONFIRMADO
102 - Carlinhos Paraíba
103 - Armand traoré
104 - Willians
105 - Nilson
106 - Bracalli
107 - Dida
108 - Stojkovic
109 - Hleb
110 - Kingson
111 - Hildebrand
112 - Rensing
113 - Dudek
114 - Yannick Djaló

Liga (3ª J): Defesa e Falhanço da jornada


Liga (3ª J): Melhores Momentos da Jornada

Liga (3ª J): Golos da Jornada

Falhanço da Semana - Carlitos Tevez

A Sanita Humana...

segunda-feira, agosto 30, 2010

Pode um penalty ser um clique? - Alexandre Pereira

Jorge Jesus escolheu o caminho mais óbvio no jogo com o Vitória de Setúbal: tirou Roberto da baliza e entregou-a a Júlio César.

Quem acreditar em malhas tecidas pelo destino achará que a expulsão do brasileiro e o penalty defendido a frio por Roberto, ao minuto 23, foram parte de um guião escrito pelos deuses. Os mais terra-a-terra (dedo levantado) dirão que foi uma coincidência muito, muito engraçada. Diria mesmo poética, com a poesia a servir, aqui, para se gostar um pouco mais do futebol (quando acontecem coincidências destas nos lados mais importantes da vida também ficamos de bem com o mundo).

Roberto julgar-se-á, a esta hora, abençoado. Um golo do Vitória de Setúbal naquele momento não seria culpa dele, claro, mas poderia ter dado outra história ao jogo. Assim, tudo perfeito para o Benfica: vitória clara, poucos sobressaltos e aplausos frenéticos (poéticos?) para o guarda-redes espanhol que há uma dúzia de horas era o pesadelo do Terceiro Anel.

Mais importante que as emoções voláteis é, agora, perceber se o jogo deste sábado chegou para Roberto fazer a agulha no sue percurso de águia ao peito. Terá aquele momento mágico chegado para lhe dar a confiança que lhe falta desde o primeiro dia?

Jorge Jesus espera bem que sim, visto que no próximo jogo não pode contar com Júlio César e Moreira constitui, provou-se nesta convocatória, carta fora do baralho. Pelo que em Guimarães, depois da paragem da Liga, joga Roberto. Ou haverá guarda-redes novo, mesmo com esta defesa caída do céu?

Aquele abraço - Marta Rebelo

Salvio não salvou ninguém. Mas deu o peito à bala pela salvação da equipa. Eu não ocupei o meu cativo, podia lá eu! Estava a sul, a mais de 300 quilómetros, ainda que o “Mancha Amarela” não estivesse à baliza. Nem Moreira no banco. E quem diria que Júlio César, quase pondo em causa o resultado aos 25’, seria o melhor amigo de Roberto e lhe traria uma espécie de redenção?

Aquele abraço pareceu tomar as vezes dos 36 mil que estavam na Luz, e dos outros 6 milhões e tal que andamos pelo Mundo. Transportar a fé, já desgraçada, dos benfiquistas numa vitória ao Vitória que não podia falhar. E Roberto, de cinzento e não de amarelo, defendeu o penálti que Júlio César e Maxi Pereira fizeram e ao primeiro valeu o vermelho. E defendeu mais duas ou três bolas, com os pés, pelo ar. Seria do equipamento? Não acredito. Tal como não acredito que Roberto tenha chegado à redenção e seja imune ao curto passado que transporta às nossas costas e que já é tão pesado. O ideal seria emprestar o guarda-redes, mas se Roberto ficar por cá com outra fibra e segurança, que volte, então, às gloriosas malhas. Como parece ter voltado Cardozo, que finalmente em tempo oficial fez o gosto ao golo e cabeceou para dentro da baliza do Setúbal. Jesus diz que o coletivo está a recuperar do cansaço dos regressados do Mundial. Mas quem fez o serviço no sábado foi Pablito Aimar, que serviu dois golos e marcou um. E Gaitán, que cruzou para Tacuara marcar. E Fabito, que parece capaz de fazer 20 Mundiais e voltar e defender, assumir o corredor e deliciar-nos com as suas “madeixas de bola”.

Para mim, ninguém passa de besta a bestial numa hora. Cá estaremos para assistir aos próximos capítulos da vida de Roberto. O futebol é paixão irracional. Enquanto o Benfica faz recuperação técnica e tática – a ver se nos soltamos para o 4x3x3, ó míster! –, aproveitando a pausa para os jogos da Seleção, tudo se vai concentrar agora na “saga Queiroz”. Ou na falta dele.

E parabéns ao Braga, que está merecedor.

El uruguayo Urreta dejó muy buenas sensaciones en su debut

El uruguayo Jonathan Urretaviscaya 'Urreta', centrocampista del Deportivo, ha dejado muy buenas sensaciones en su debut en la Liga española ante el Zaragoza, frente al que los coruñeses no pudieron pasar del empate (0-0) en Riazor.

Su presencia en la alineación fue inesperada tanto porque su técnico, Miguel Ángel Lotina, había ensayado durante la semana con otro fichaje, el asturiano Saúl Fernández, en la banda derecha, como porque salía de una lesión muscular que le había impedido participar en los últimos encuentros de la pretemporada.

Urreta, que es diestro pero puede jugar en ambas bandas, se situó en la derecha del ataque deportivista, desde donde aportó a su equipo buena parte de la escasa verticalidad que tuvo ante el Zaragoza.

El uruguayo se entregó durante los noventa minutos, batalló en ataque y ayudó en las tareas de contención para que su equipo salvara un punto en el primer encuentro de la temporada.

Una de sus mejores acciones individuales se produjo a los 68 minutos tras robar el balón en campo propio, pasárselo a Manuel Pablo, recibirlo de Riki, dejar atrás a varios contrarios en su camino y centrar desde la banda derecha al mexicano Andrés Guardado, que dribló a su marcador pero estuvo lento en el disparo y la defensa se le echó encima.

Urreta, nacido el 19 de marzo de 1990 en Montevideo, fue incorporado por el Deportivo este verano cedido por el Benfica portugués, al que llegó en la temporada 2008-09 tras haberse estrenado en Uruguay con el River Plate.

Sus ganas por estar en el Mundial de Sudáfrica le llevaron de nuevo a Uruguay, donde jugó cedido en el Peñarol de Montevideo, con el que se proclamó campeón de liga, pero no pudo conseguir su objetivo de estar en la cita que conquistó España.

El Deportivo llamó a su puerta y consiguió su cesión por una temporada con una opción de compra que se antoja prohibitiva, quince millones de euros, pero que ante el Zaragoza ha comenzado a hacerla atractiva.

domingo, agosto 29, 2010

Um Brasileiro no "Inferno da Luz"

Pois bem, ontem tive a minha primeira experiência no estádio que eles denominam de “inferno da luz”…
O jogo era convidativo, 21h15 de um sábado bem quente… O Benfica pressionado por 2 derrotas no início do torneio… Julguei que não teria muita gente… Um amigo me convidou para ir com ele, e sem qualquer outra alternativa mais atraente (até porque estou sozinho por aqui), lá fomos nós…
O estádio antigo (capacidade para 120 mil) foi demolido e um novo foi construído, por ocasião da realização da EuroCopa de 2004. Se discutimos no Brasil hoje a construção de estádios, imaginem a construção de 3 novos no pequeno Portugal… Loucura! Até hoje eles descem a lenha nisso e dizem que ganharam um dinheiro largado por isso.

Enfim, voltando ao jogo, é tudo bem diferente. Os arredores são mais tranquilos (ou pelo menos estavam), estacionamento fácil, vários carrões andando por ali (Mercedez, BMW, Audi… se fosse no Brasil…), algumas barraquinhas, uns bares vendendo uma cervejinha… Dentro do estádio só cerveja sem álcool.
Após estacionarmos, fomos ali tomar umas, até porque o ingresso já estava comprado para a época (temporada) toda e o pai do meu amigo resolveu ir passar o fim de semana na praia e com isso sobrou uma vaguinha pra mim. Ficamos ali fora até 20 minutos para o início, chegando lá, tudo muito organizado, o estádio é de primeira: banheiros fartos e limpos (mas aqui acho que tem muito relação com a postura do povo que frequenta o estádio); vi muitas famílias juntas – pai, mãe, filhos, todos ali para torcerem pelos encarnados. Um monte de gente com camisas verdes, azuis, cores dos maiores rivais do Benfica. Se fosse no Brasil, já os fariam tirar tudo debaixo de gritos de intimidação, de copos de urina, porrada e o que fosse necessário. Fiquei impressionado com aquela calma das pessoas.
Eu, como bom torcedor brasileiro, estava lá de bermudinha branca, com camisa vermelha.
Na entrada, filas bem organizadas, com catracas eletrônicas de sensor – não prcisa enfiar o ingresso, basta chegar perto e pronto – bem mais rápido e fácil; lugar marcadinho, tranquilo, nenhum palhaço sentado lá dizendo que eu deveria ter chegado mais cedo.


UM VERDADEIRO ESPETÀCULO!

Os times sempre aquecem no campo, um locutor fica o tempo todo entoando cantos chamando a torcida ao aplauso. Por dentro o estádio é maravilhoso, bem iluminado, com o campo pertinho, boa visão de vários locais. O ponto alto daquele pré-jogo é quando um garotinho vai ao centro do campo, e chama a águia Vitória (símbolo do Benfica)… E lá vem ela, voando em redor do estádio todo. A portuguesada fica maluca com aquilo, o espetáculo é sensacional, singular, único! Não existe nada igual por aqui e nem por outros lados. Realmente, o show é maravilhoso e ela tem o local certo de pousar. Se erra o alvo a torcida já fica preocupada, achando que algo vai dar errado. Mas ontem ela acertou direitinho!

Depois os times entram em campo e aí foi engraçado, o locutor invoca a todos para cantarem o hino e como não podia deixar de ser, o hino é um fado português. Coisa estranha, pois estamos acostumados a algo mais marcial, mais cativante. Efim, cada um com sua cultura…

ESTAMOS INFINITAMENTE LONGE DISSO TUDO!

Não tratamos os jogos como espetáculos (aliás, quem quer que vá ao teatro né?).Nossos estádios são arcaicos e olha que ne estou falando dos mais poderosos. Imagino os da Inglaterra, mais atuais.
No campo, o jogo é fraco, os times de Portugal são muito diferenciados.

O Vitoria de Setubal não oferecia resistência e não fosse uma burrada do goleiro Julio Cesar, que fez um penalti e foi expulso, não teríamos grandes emoções. O espanhol Roberto, contratado por 8,5 milhões de euros, tem errado muito e os benfiquistas estavam cheios de medo. E o cara entra e pega o pênalti! Aquilo sim podia ser chamado de “inferno da luz”!

Depois de uma certa pressão o Benfica retoma o jogo e ganha fácil por 3×0, com boa exibição de David Luiz (o novo xodó da zaga brasileira) e de Fabio Coentrão, pra mim um dos melhores laterais esquerdos do mundo na atualidade, jogou uma barbaridade. Para mim, no fim da época (isso se já não for agora), dará adeus ao Benfica junto com o David Luiz…
Fim de jogo, todos felizes, uma saída tranqüila, sem qualquer problema e estava eu em casa cerca de 30 minutos depois, contando com a saída do estádio, pegar o carro e vir embora.

Enfim, com tudo planejado, fica fácil e prazeroso ir a um estádio de futebol.

Aí vocês podem dizer que devia ter pouca gente, mas não, tinha 37.000 espectadores, isso com o time em baixa.


Para o Emerson: a um preço médio de 20€, o que chamou a atenção é o número de torcedores que compram ingresso para toda a temporada. Para um local igual ao da cadeira cativa inferior do Morumbi, paga-se 300€ por ano. Mais acima, 350€; na cadeira cativa mesmo, 2.000 a 3.000€, e um custo anual de 450€ pelos ingressos, sempre válidos apenas para a Liga Sagres (o Campeonato Português).

As competições europeias – Champions e Liga Europa – são oferecidas prioritariamente para esses donos de cadeiras . No caso do meu colega, o pai dele pagou os 300€ e na época dos jogos da Champions ele recebe uma SMS indagando se quer ingresso, o preço (cerca de 30€) e o código para o pagamento via multibanco (debito bancário), com o que o seu cartão será carregado e ele poderá entrar tranquilamente no estádio.

ESTAMOS LONGE DISSO.

Não consigo entender a razão de no Brasil não se vender ingresso antecipado para a temporada. Nesse caso, estando na Libertadores, receberia a mesma mensagem com a prioridade; um prêmio pela fidelidade.


Enfim, UM GRANDE ESPETÁCULO, DENTRO E FORA DE CAMPO, prova de que organização e respeito pelo público trazem retorno.

Ahh, o cuidado das pessoas com aquele patrimônio faz com que ele dure mais e fique sempre preservado, pronto para uma nova utilização.
EU GOSTEI!”

S. Roberto saltou do banco - Luís Óscar

Depois de um arranque de época pífio – um prolongamento da pré-temporada, como admitiu Jesus –, o Benfica entrou decidido a mostrar as credenciais de campeão frente ao V. Setúbal e conseguiu. Logo aos 4 minutos, Cardozo deu a vantagem e a tranquilidade necessárias para o campeão poder tentar explanar o futebol a que todos se habituaram na última época. O treinador apostou em duas caras novas para ajudarem a mudar o rumo preocupante: Salvio e o guarda-redes Júlio César. Curiosamente, nenhum deles teve relevância no primeiro triunfo de 2010/2011. A meio da primeira parte, um desentendimento entre Maxi Pereira e o guardião brasileiro implicou a expulsão deste e resultou num penálti que haveria de fazer regressar ao relvado o “proscrito” Roberto, o bode expiatório de todas as desgraças benfiquistas até este sábado redentor.

O que se passou a seguir já há poucos que não sabem. Roberto defendeu o remate de Hugo Leal dos 11 metros e segurou a vantagem de 1-0, numa altura em que a equipa ficou reduzida a 10. Obviamente, a Luz sublinhou o feito com um enorme aplauso, algo que saíra dos melhores sonhos do guardião espanhol depois de se ter sentado (pela primeira vez em jogos oficiais) no banco de suplentes, ao que tudo indica à espera de ser transferido para outras paragens.

É verdade que o Benfica já mostrara futebol para estar em vantagem, é igualmente verdade que depois justificou ampliá-la (mesmo em inferioridade numérica) sem precisar de grandes intervenções do guarda-redes. Mas é absolutamente inegável que aquele momento em que S. Roberto – sim, saiu do inferno e entrou no céu – defendeu o penálti deu-lhe crédito para, pelo menos, relançar a discussão sobre a sua continuidade no Benfica. A inesperada última oportunidade a que teve direito não foi desperdiçada por Roberto. Mesmo depois de uma semana para esquecer.

SL Bipolar - Miguel Góis

Há umas semanas, fez-me alguma confusão ouvir Rui Oliveira e Costa no “Trio de Ataque” responder à pergunta sobre como tinha assistido à estreia de João Moutinho com a camisola do FC Porto da seguinte maneira: “Eu, nessa matéria, não tenho estados de alma”. É uma resposta política, bem sei. Mas quando os adeptos – e é nessa condição que Rui Oliveira e Costa se encontra no programa – começam a falar como os presidentes dos conselhos fiscais, sinto que se está a deixar de falar de futebol (não deixa de ser curioso, em todo o caso, que o Sporting tenha nesse programa um adepto que fala como um dirigente, e tenha na presidência um dirigente que fala como um adepto).

Eu admito que, no que diz respeito ao futebol, a única coisa que tenho são estados de alma. Quando o meu clube ganha, tenho um estado de alma. Quando perde, tenho, feito parvo, outro estado de alma. Se o Nuno Gomes se transferisse para o FC Porto, era capaz de ter uns quinze ou vinte estados de alma ao mesmo tempo. Numa duvidosa opção, guardo a frieza emocional para matérias como o preenchimento do modelo B do IRS. Se bem que até isso consegue ser, para o meu contabilista, uma montanha-russa de emoções.

Se há coisa com que nós, benfiquistas, não pactuamos no futebol é a temperança. No seguimento das últimas quatro derrotas seguidas do Benfica, comecei outra vez a dormir à noite agarrado a um urso de peluche, e sempre com uma luz de presença. A facilidade com que no Benfica um estado de profundíssima euforia dá lugar a um estado de profundíssima depressão é um dos grandes patrimónios do clube, que deve ser preservado. Por outro lado, é mais fácil manter-se a serenidade em Alvalade e nas Antas, cujos estádios costumam estar às moscas, do que na Luz. Toda a gente sabe que é mais comum instalar-se o pânico onde há multidões.

4x4x2 forever - Domingos Amaral

From: Domingos Amaral

To: Jorge Jesus

Caro Jorge Jesus

As grandes equipas que nos últimos anos têm dominado o futebol europeu, como o Manchester, o Barcelona, o Milão ou o Chelsea, não têm dúvidas sobre o sistema tático em que jogam. O Manchester joga há vinte anos em 4x4x2, e mesmo quando perdeu Ronaldo (na altura o melhor do Mundo) não alterou o sistema. Apenas mudou o jogador, como se ele fosse uma peça de um puzzle. Com o Barça passou-se o mesmo: saiu Ronaldinho, entrou Henry, saiu Eto’o, entrou Ibrahimovic, mas continuou o 4x3x3.

Sendo assim, não compreendo como, depois de um ano tão bem-sucedido, em que o Benfica foi enorme, jogando num 4x4x2 que lhe está na genética, tu tiveste dúvidas. Em equipa que ganha não se mexe, é o que se diz sempre, e por isso estranhei ver-te a experimentar Jara e Saviola nas linhas, onde rendem bem menos, e Aimar e Martins a interiores, onde menos rendem. O Benfica não deve ter dúvidas e deve jogar, sempre, em 4x4x2. Ontem foi o que se viu: Salvio e Gaitán nas alas, dois avançados móveis, um número 10 a sério, e o regresso da dinâmica imparável da época passada. Simples, não é? Portanto, espero que as tuas dúvidas tenham terminado ontem. O Benfica nem sempre vai ganhar, há jogadores melhores e outros piores, e Roberto continuará a ser um problema, apesar do penálti defendido. Mas o importante é não hesitar na questão de fundo. Ontem, e para sempre, 4x4x2, e ainda vamos ter muitas alegrias este ano. Acredita em mim, que eu também acredito em ti.

sábado, agosto 28, 2010

SLBenfica 3 V. Setúbal 0 O Herói mais do que Improvável






Júlio César e Roberto, o cúmulo da ironia
O futebol tem destas coisas. Às vezes veste-se com a mais fina das ironias e transfigura o destino de um jogador. Foi o que aconteceu de forma acentuada no jogo desta noite no Estádio da Luz. A carreira de Roberto na baliza do Benfica parecia ter sido subitamente interrompida com a deslocação para o banco de suplentes. Uma oportunidade de oiro para Júlio César, ovacionado pelos adeptos, agarrar o lugar. O brasileiro estava a ter uma noite descansada, com o Benfica a carregar na frente e tinha saído apenas uma vez de entre os postes para anular um cruzamento com segurança. Tudo se precipitou ao minuto 23. Um desentendimento com Maxi obrigou o brasileiro a fazer falta sobre Zeca, proporcionando um penalty para o Vitória e, para cúmulo, o regresso de Roberto à baliza. A oportunidade do brasileiro esfumou-se em três tempos e, em simultâneo, o espanhol ressuscitava com a defesa da grande penalidade. Determinado, Roberto voou na direcção certa para desviar o pontapé de Hugo Leal, levando a Luz ao delírio. O espanhol teve depois de uma noite descansada. Voltou a arrancar aplausos com a intercepção a um cruzamento tenso e fez uma defesa com os punhos já nos descontos. E agora? Quem o tira da baliza?

Aimar, o melhor «mágico» da nova época
A melhor exibição do argentino esta temporada. Encaixado entre dois compatriotas (Salvio e Gaitán) foi a imagem da determinação e inconformismo da equipa, aparecendo em todos os sectores do terreno e com influência directa nos três golos. No primeiro, inventou a abertura que permitiu a Gaitán destacar-se na esquerda e cruzar para o golo de Cardozo. Um movimento perfeito a fazer lembrar o melhor Benfica da temporada passada. No final da primeira parte, já com o Benfica reduzido a dez, marcou o canto para o golo de Luisão. Na segunda parte coroou a sua exibição com o terceiro golo que matou definitivamente o jogo. Jogou solto e mostrou-se disponível até final, com uma forma física fulgurante.

Gaitán, finalmente em destaque
Outro argentino em bom plano fazendo-se notar no primeiro golo com um cruzamento perfeito para Cardozo a fazer lembrar Di María. Mas a acção do médio contratado ao Boca foi mais decisiva quanto o Benfica ficou reduzido a dez. Trabalhou de forma intensa para manter o equilíbrio da equipa e voltou a aparecer em destaque no lance do terceiro golo, com o primeiro remate que permitiu a Aimar marcar na emenda. Foi rendido por Carlos Martins sob uma chuva de aplausos.

BENFICA: Júlio César; Maxi, Luisão, David Luiz e Fábio Coentrão; Javi García, Eduardo Salvio, Gaitán e Aimar; Saviola e Cardozo.
Suplentes: Roberto, César Peixoto, Sidnei, Rúben Amorim, Salvio, Franco Jara e Weldon.

V. SETÚBAL: Diego Costa; Ney, Ricardo Silva, Anderson do Ó, Collin e Miguelito; José Pedro, Hugo Leal, Zeca e Silva; Sassá.
Suplentes: Getúlio Vargas, Michel, François, Regula, Jaílson, Pimenta e Henrique.

Agora sem Mãos - Ricardo Araújo Pereira



sexta-feira, agosto 27, 2010

quinta-feira, agosto 26, 2010

Calendário: Liga e Champions

Guimarães - Benfica (4ª Jornada LS - 12-09-2010)
Benfica - Hapoel (1ª jornada CL - 14-09-2010)
Benfica - Sporting (5ª Jornada LS - 19-09-2010)
Marítimo - Benfica (6ª Jornada LS - 26-09-2010)
Schalke – Benfica (2ª jornada CL - 29-09-2010)
Benfica - Sp. Braga (7ª Jornada LS - 03-10-2010)
Portimon. - Benfica (8ª Jornada LS - 10-10-2010)
Lyon – Benfica (3ª Jornada CL - 20-10-2010)
Benfica - P. Ferreira (9ª Jornada LS - 31-10-2010)
Benfica – Lyon (4ª Jornada CL - 02-11-2010)
Porto - Benfica (10ª Jornada LS - 07-11-2010)
Benfica - Naval (11ª Jornada LS - 14-11-2010)
Hapoel – Benfica (5ª Jornada CL - 24-11-2010)
Beira M.- Benfica (12ª Jornada LS - 28-12-2010)
Benfica - Olhanense (13ª Jornada LS - 05-12-2010)
Benfica - Schalke 04 (6ª Jornada CL - 07-11-2010)

Comi$õe$ - Rui Santos

A pergunta anda no ar: quem ganha com as inúmeras transferências de ativos (na linguagem do “futebol económico-industrial”) que se realizam, época após época, no chamado desporto-rei?

Os dinheiros envolvidos nessas transferências entram nas contas dos respetivos clubes e/ou SAD e, também, de acordo com as comissões contratualizadas e legais, nas contas dos “agentes FIFA”? Ou as transferências são inflacionadas para pagar a uma corte de intermediários, maior ou menor consoante a natureza das circunstâncias, e da qual não há registo nem rasto?

A pergunta anda no ar: os dirigentes negoceiam e ganham verbas decorrentes dessas transferências? E os treinadores, resumem a sua intervenção à ação de treinar ou também se envolvem nessas operações?

É importante achar resposta para estas perguntas e para outras que envolvem, alegadamente, altos quadros da FIFA. A questão das comi$õe$ não declaradas não constitui um problema exclusivo do futebol em Portugal, mas há países mais suscetíveis à criação de mecanismos de controlo e fiscalização e outros a considerar que esse é um assunto que importa aprofundar apenas quando a maioria dos países europeus não deixar espaço de manobra à subversão. Não será fácil porque está instalada a ideia de que o compromisso com a lógica das “economias paralelas” continua a dominar, e não apenas na indústria-futebol.

A questão, em Portugal, não deixa de ser particularmente premente, porque se os contribuintes devem ser chamados a pagar os seus impostos, o sistema não pode ter dois pesos e duas medidas, para aqueles que nunca paga(ra)m, para os regimes excecionais (difíceis de entender, numa perspetiva social) e para aqueles que dominam o reino dos paraísos fiscais (off-shores).

Quando as operações de transferência de jogadores são comunicadas à CMVM, a informação pública é escassa, designadamente no que diz respeito às comi$õe$ envolvidas nesses negócios. A questão coloca-se apenas no momento em que elas servem de mecanismo de fuga ao fisco – e há uma zona mais obscura em que alegadamente o futebol serve para “lavar” dinheiro (branqueamento de capitais).

Para o clima de suspeição não se adensar ainda mais – uma vez que há um conjunto alargado de aquisições cujo valor desportivo não combina com os custos económicos – é importante que os clubes, as SAD, os seus presidentes e dirigentes, treinadores, exijam maior investimento na transparência, mas infelizmente, sobre esta matéria, o silêncio tem sido dominante. Porquê?

Há quase dois anos a ANAF (Associação Nacional de Agentes do Futebol) fez chegar à FPF uma lista de agentes não licenciados. Que é feito do processo? Em que gaveta se encontra?

Consciente de que se trata de matéria sensível mas importante para a transparência do futebol, chamei a atenção para a importância da criação da Casa das Transferências. Houve um protocolo (envolvendo o Estado)... não assinado. Quem tem medo de quem ou do quê?

Está aí alguém? João Sanches

Com exibições desequilibradas que, por um lado, intranquilizam os colegas e, por outro, dão ânimo e fé ao adversário para atirar de todos os lados, Roberto tem andado nas bocas do mundo, mas também alinho no coro daqueles que defendem que o espalhanço do espanhol não é a única razão para o manto de insucesso que envolve a equipa neste início de caminhada.
Não, nem sequer discuto - porque é notório, pelo menos para quem aceita enxergar - a repercussão que um conjunto de intervenções aselhas de guarda-redes pode ter num colectivo, mas, nesta altura em que toda a gente parece tentada a bater no homem que encarna o maior investimento encarnado de sempre para tapar a baliza, parece-me justo que os holofotes da crítica também apontem na direcção de Cardozo.
Ele é o goleador, mas embora o seu nome tenha sido inscrito nas fichas dos três jogos oficiais realizados, o que se tem visto dele é pouco mais do que uma sombra arrastada de um matador.
Porquê? Por ter a preparação atrasada pelo Mundial? Por não ter saído? Por não ter sido aumentado? Que faz falta, isso é limpinho.

quarta-feira, agosto 25, 2010

De mãos a abanar - João Gobern

Nem os portistas mais convictos nem os benfiquistas mais céticos, do alto das suas conjeturas e adivinhações, poderiam prever que os do Norte consumassem, ao encerrar da sua jornada, uma vantagem pontual que já pode considerar-se bastante interessante (seis pontos é mais coisa de segunda metade de campeonato), e que os do Sul contabilizassem já – nos mesmos dois jogos – um número de derrotas semelhante ao de toda a prova a época passada. Se a dupla vitória do FC Porto nada tem de anormal, até porque Villas-Boas parece gozar da estrelinha dos predestinados para começar a ganhar ainda antes de mostrar serviço (exceção feita à Supertaça, em que manietou o Benfica), a dupla derrota do campeão nacional veio lançar nuvens sobre “o novo ciclo” e dúvidas sobre algumas das mudanças operadas por Jorge Jesus.

É verdade que Gaitán e Jara (este um jogador de fibra e de combate, como qualquer adepto gosta de ver) ainda estão longe de fazer esquecer Di María e Ramires. Não é menos certo que, até à próxima terça-feira, 31, ainda pode haver quem sonhe com outras paragens e, fundamentalmente, com outros ordenados, acabando por se deixar afetar. Depois, há que ter em consideração as novidades (um sistema 4x3x3 mas à moda de Jorge Jesus) e as falhas (a pressão alta que tantos frutos deu no passado recente) da responsabilidade de Jorge Jesus. Dirão os mais entusiastas que o fator sorte não tem ajudado e que as bolas que entravam antes ficam agora “à porta”. Pode, também, começar a fazer-se coleção dos penáltis que ficam por marcar a favor do Benfica, enquanto são assinalados a favor dos rivais.

Com tudo isto, o alvo mais imediato para o “tiro ao boneco” é mesmo Roberto. Quero acreditar que uma gestão vitoriosa e corajosa não teve um assomo de loucura quando decidiu pagar 8,5 milhões por um guarda-redes. Acredito que, com tempo e com muito trabalho nos treinos, Roberto possa ainda vir a “justificar os cacaus”. Acontece que não só foi a contratação mais cara da época benfiquista como lhe cabe em sorte a substituição de Quim, que (injustamente) nunca terá sido um bem-amado mas soube ir conquistando o respeito até dos que não eram seus fãs. A comparação é desastrosa para o espanhol, que grita de mais, treme de mais, hesita de mais, enerva-se de mais, enerva de mais os outros, paralisa de mais… e sofre golos a um ritmo insuportável para o Benfica. Que, como já se percebeu, não tem mais tempo para o levar ao colo, sob pena de todos os prejuízos com os insucessos da época se juntarem à fatura do guardião.

A ideia de um empréstimo de Roberto com regresso lá mais para diante e a descoberta de um experiente que dê garantias imediatas parece a melhor solução. Mas ainda será possível?

Olho clínico - João Querido Manha

A história de Roberto no Benfica seria difícil de imaginar como ficção e é originalmente incrível como realidade. Muitos observadores, por respeito à lógica e à experiência, mantiveram durante quase dois meses uma pressão enorme no sentido de ajudar o treinador Jorge Jesus a corrigir o erro invertendo a sua opção. O efeito, todavia, foi contrário, revelando a teimosia do treinador, com prejuízos desportivos, quer na Liga Europa da época passada quer no início da presente temporada.

Procurando retificar a reputação de mau avaliador de guarda-redes, fundado no desdém por atletas abaixo dos 1,90 metros, arriscou demais com as apostas em Júlio César, cujas carências técnicas já eram conhecidas dos tempos do Belenenses, e em Roberto, um desconhecido. Curiosamente, apesar de cumprirem os requisitos atléticos, ambos sofrem do mesmo defeito penalizador de deficiente leitura tática e descoordenação coletiva, nos lances de bola parada.

Apesar da evolução tecnológica e da imagem moderna de leitura de vídeos e estatísticas como princípios norteadores do trabalho dos treinadores de última geração, sem esquecer as "entrelinhas", as "transições" e as "basculações" que lhes adornam o discurso, é da capacidade de interpretação dos dados que advêm os bons resultados. Não adianta afogar-se em números, esquemas e powerpoints catitas, quando não se tem discernimento para privilegiar a análise em detrimento do "feeling", no momento de tomar decisões.

Ora, a catástrofe que está a alagar o terreiro do campeão estava escrita nas estatísticas dos jogos do Benfica desde o início da pré-temporada. O avolumar da coluna dos erros, muitos deles primários, na ficha de Roberto e do sector defensivo, em contraste com a quase total alvura da soma dos "pontos ganhos" e da eficácia atacante, foi fazendo crescer na equipa o sentimento apavorante de dúvida que sempre acompanha a lei de Murphy, como uma caminhada imparável no sentido do abismo. Jorge Jesus não leu os sinais de que o seu guarda-redes cometia erros e acabaria inevitavelmente por repeti-los da pior maneira, no pior momento e causando o maior estrago possível: tudo o que podia correr mal, correu.

Iniciando agora a Liga com seis pontos negativos, muito dificilmente o Benfica poderá revalidar o título, não obstante possa parecer prematura tal conclusão, a 28 jornadas do fim. Os otimistas acreditam que a partir daqui o Benfica não voltará a perder, não voltará a jogar mal, não voltará a acusar a descrença numa série de erros de gestão desportiva que lhe provocaram o pior começo de época de que há memória, mas a história diz-nos que tal é impossível de acontecer.

Um comentador da praça televisiva dizia há tempos que quem analisa com base em estatísticas não percebe nada de futebol. E Jorge Jesus está a provar deste veneno inebriante, que elege génios da bola apenas pela forma como perspetivam o jogo, com base em pressentimentos e olho clínico.

O instinto de Jorge Jesus disse-lhe que Roberto era uma solução, as estatísticas afirmavam, sem margem para dúvida, que era um problema – a intuição contra a razão. Para mal do Benfica, o treinador cedeu à emoção.

A visão e a mão - Octávio Ribeiro

Depois de ver e rever os muitos lances em que Roberto já falhou de forma clamorosa na baliza do Benfica – e vários não acabaram em golo –, questiono se o verdadeiro problema do guardião não estará numa acentuada e rápida perda de visão.

Não, caro leitor, não estou a fazer humor.

Os lances que comprometem Roberto têm quase todos em comum bolas altas. Na maioria dos casos, bolas projetadas de longe. Uma vez que os 8 milhões e meio já voaram, o Benfica não tem nada a perder se, discretamente, levar o seu guardião a um bom oftalmologista.

Ótimos guarda-redes já usaram lentes de contacto sem que lhes caíssem os parentes na lama ou as bolas da trave. No início de agosto, deixei escrito nesta página que Jesus passaria rapidamente Roberto de “terceiro melhor da Europa” a terceiro melhor do plantel. Os erros que Roberto acumulara já só deixavam como mistério os contornos da sua caríssima contratação.

Agora que o desastre está à vista de todos – mesmo dos mais míopes –, não sinto conforto no engrossar da turba que exige a cabeça do jogador. Claro que Roberto não pode voltar à baliza do Benfica nos jogos mais próximos. Mas a consulta num bom especialista poderá operar o milagre. Acredito a sério nesta hipótese!

É que, se o problema de Roberto não reside numa súbita quebra da capacidade para acertar com as mãos em bolas altas, então, das duas uma: ou foi Jorge Jesus que perdeu o golpe de vista para descobrir talentos e logo ficou diminuído para divisar vitórias; ou, se o caso Roberto não se resolve com lentes, é mesmo muito grave.

domingo, agosto 15, 2010

A andorinha e a Primavera - Ricardo Araújo Pereira

O principal acontecimento desta semana deve ter intrigado a generalidade dos comentadores – quer os cronistas que escrevem colunas de opinião, quer os que preferem publicar opiniões que não são as suas com o objectivo de interferir nos jogos espicaçando jogadores.
O fenómeno é simples: a equipa que acabou de ganhar brilhantemente o campeonato passou a ser péssima no espaço de uma hora e meia. Não é fácil. Requer talento. A metamorfose do Porto, que se transformou na melhor equipa do mundo no mesmo lapso temporal, não é tão impressionante.
É certo que, até ao passado sábado, a equipa do Porto era um conjunto de jogadores pouco ambiciosos, à imagem do amorfo JesuaIdo Ferreira, e precisava urgentemente de reforços se queria fazer melhor que o justíssimo terceiro lugar em que tinha terminado a época. Mas só às segundas, quartas e sextas. Às terças, quintas e sábados, o Porto era uma equipa que, se não tivesse sido injustiçada pelas punições sofridas por jogadores inocentes que, coitados, se limitaram a participar em espancamentos, teria sido campeã com 30 pontos de avanço – ou não fosse treinada pelo competente Jesualdo Ferreira.
O próprio André Villas Boas que, além de ser o mais novo vencedor da Supertaça, é o primeiro treinador do mundo a usar por quatro vezes a palavra «exacerbação» na mesma conferência de imprensa – recordou, aliás de forma um pouco exacerbada, que o Porto do ano anterior só não tinha ganho por causa das injustiças, observação que constitui uma crítica a Pinto da Costa pelo despedimento de Jesualdo Ferreira, o que acaba por ser razoavelmente exacerbador. E é assim que a equipa que, ainda não há seis meses, levou três secos daquele Sporting que acabou a 28 pontos do primeiro, se encontra no topo do futebol português.
Pelos vistos, no futebol, por morrer uma andorinha acaba a primavera. E por morrer um abutre acaba a exacerbação.
Quanto ao Benfica, se é possível encontrar algum aspecto positivo mo meio desta horrível hecatombe que foi o facto de termos perdido um jogo, talvez seja consolador registar que, num jogo em que tudo nos corre mal e não jogámos mesmo nada, o pior que nos pode acontecer é perdermos 2 – 0 com o Porto. O Braga entrou na nova época com uma vitória clara por 3-1.
À atenção do Porto: a luta pelo segundo lugar vai continuar a ser dura. Talvez não seja boa ideia voltar a emprestar jogadores ao principal rival em Janeiro. Fica a sugestão.

quarta-feira, agosto 04, 2010

O Benfica já é Super - António Magalhães

O Benfica confirmou no Algarve que continua uns furos acima dos seus grandes rivais. No terceiro jogo em cinco dias, a equipa de Jesus somou nova vitória, que lhe garantiu o quarto troféu do Guadiana, e confirmou que os métodos de Jesus estão bem assimilados.

Talvez seja melhor dizer que esses princípios não foram esquecidos, uma vez que na equipa inicial apenas alinharam dois reforços, sendo que um é guarda-redes e o outro (Jara) mostrou ter talento para se encaixar na perfeição numa máquina que já montada.

Apesar de se partir com a natural convicção de que não haveria motivos para que a onda benfiquista quebrasse, a verdade é que as saídas de Di María e, agora, a iminente transferência de Ramires, dada a qualidade dos jogadores em causa, poderia abanar a estrutura.

Se em relação ao argentino o Benfica parece ter encontrado solução no mesmo berço (Jara e Gaitan já deram essas provas), para o lugar do brasileiro, a avaliar pela capacidade com que o clube se tem movido no mercado, é de acreditar que encontre alternativas entre os nomes que tem em carteira.

Por outras palavras, nada parece abanar a confiança dos benfiquistas, sejam eles dirigentes, treinadores, jogadores ou adeptos. E quando assim é, só com uma oposição muito forte é que podem soçobrar.

Terão o FC Porto e o Sporting a capacidade de fazer vacilar estrutura tão poderosa?

O FC Porto vai ser o primeiro a medir forças com o campeão em título e já no final desta semana.

Os dragões perderam em dois dias seguidos no torneio de Paris mas mais do que os resultados o grande motivo de preocupação para Villas Boas só pode ser o sector defensivo. Ou por se sentir já órfã de Bruno Alves ou porque a incerteza da sua permanência retira confiança aos que lutam por ficar com o seu lugar, o certo é que a linha mais recuada dos portistas treme por todos os lados.

terça-feira, agosto 03, 2010

O favoritismo da águia - Luís Pedro Sousa

A menos de uma semana da decisão da Supertaça, o Benfica surge como claro favorito à conquista do primeiro título da época.
Os encarnados têm uma equipa mais arrumada, fruto de menores mudanças ocorridas no defeso, e o mesmo treinador, enquanto que o FC Porto, não dispondo de um plantel inferior, debate-se com diversos problemas para se organizar a tempo de disputar a partida de Aveiro.
André Villas-Boas começou a trabalhar há pouco mais de um mês e é natural que as respetivas conceções de jogo demorem a serem assimiladas.
Por outro lado, os casos de Bruno Alves e Raul Meireles estão a tornar-se verdadeiros empecilhos na programação da época dos azuis-e-brancos.
Ontem, diante do Bordéus, o novo técnico do FC Porto deu a clara sensação de não saber se deveria ou não colocá-los em campo. Devido a esta complexa questão, não é só a Supertaça que está em causa, é a própria temporada que começa aos solavancos. Apesar das hesitações do mercado, os dragões não podem esperar muito mais para definirem se os dois internacionais portugueses, e figuras de proa da equipa, fazem ou não parte das contas.

O teórico favoritismo dos encarnados para a partida de sábado é também resultante das exibições realizadas na pré-época.
É óbvio que os jogos em causa constituíram pouco mais do que meros treinos e, de um modo geral, o FC Porto confrontou-se com equipas melhor apetrechadas ou em fase mais adiantada de preparação.
Contudo, enquanto os encarnados patentearam os princípios de jogo da temporada passada, os azuis-e-brancos pareceram ainda à procura de um modelo e, pior do que isso, de uma equipa titular, muito por culpa da tal indefinição ditada pelo mercado de transferências.
Aliás, frente ao Aston Villa, Jorge Jesus deu-se mesmo ao luxo de testar um esquema que utilizará com pouca frequência, a não ser que, face à saída de Ramires, o treinador do Benfica opte por um sistema tático mais ousado. Colocar, em simultâneo, Carlos Martins, Pablo Aimar, Jara, Saviola e Cardozo só vai acontecer, por certo, em encontros a disputar no Estádio da Luz, frente a adversários que adotem uma atitude demasiado defensiva.
De qualquer forma, este modelo foi colocado em prática com o Aston Villa com resultados extremamente positivos.
Apesar de os ingleses estarem ainda muito longe da melhor forma, ganhar-lhes por 4-1 não está ao alcance de qualquer equipa.

Tomasson: «São realmente bons»

Jon Dahl Tomasson deixou o Torneio do Guadiana com boa impressão da formação de Jorge Jesus.

“Têm uma equipa muito boa e praticam um excelente futebol. Possuem jogadores de muita qualidade e podem fazer uma boa carreira na Champions. Não vão ganhar a Liga dos Campeões, isso não [risos], mas são realmente bons”, disse o avançado de 33 anos do Feyenoord, sentindo dificuldade em apontar o ponto forte das águias: “Têm uma boa defesa, um bom ataque. Gosto da equipa enquanto conjunto, sendo complicado referir-me a um sector específico.”

Um duo ficou, porém, na retina do nórdico. “Gosto bastante de Cardozo e Luisão, mas podia mencionar mais alguns jogadores. O Cardozo é um grande ponta-de-lança. Pode jogar ao mais alto nível, pode atuar em qualquer liga”, frisou o atacante.

domingo, agosto 01, 2010

O Goleador Atípico - Luís Avelãs

Consta que Óscar Cardozo ficou algo desiludido por, após excelente temporada ao serviço do Benfica, não ter despertado a séria cobiça (falou-se apenas em sondagens ou propostas que não satisfizeram as pretensões dos encarnados) dos emblemas mais poderosos do Velho Continente. Parece que o futebolista sonhava com outra liga e também com um ordenado mais simpático no final de cada mês. É normal.

Sabendo-se que a cláusula de rescisão está cifrada em 60 milhões de euros, ninguém acreditava que, numa Europa em crise, surgisse uma proposta tão alta, ao nível das maiores estrelas mundiais. A solução para mudar de ares passava (e passa, tendo em conta que o mercado está aberto até ao final do mês) por os eventuais interessados conseguirem negociar o passe com o Benfica. Porém, sendo certo que a última palavra nestes assuntos pertence a Luís Filipe Vieira, Jorge Jesus sempre fez questão de demonstrar que o avançado faz parte do seu núcleo duro, o que equivale a dizer que conta com ele para o ataque à revalidação do título, assim como para a afirmação da equipa a nível internacional via Champions.

Ao constatar os recentes desempenhos de Cardozo na pré-época, arrisco dizer que a provável continuidade no plantel encarnado – tal como o próprio prometeu aquando do regresso a Lisboa – não mexeu com o avançado. O sul-americano só marcou presença em três dos embates de preparação das águias mas, feitas as contas, soma já quatro remates certeiros. E nem precisou de alinhar sempre 90 minutos. Bem pelo contrário, pois face à presença no Mundial da África do Sul, a gestão da sua condição atlética tem sido feita com todos os cuidados, não o obrigando a cargas muito fortes.

Na época passada, em 47 jogos ao serviço do Benfica, Cardozo apontou 38 golos, sendo de destacar os 26 conseguidos na Liga e os 10 na Liga Europa. Mesmo desperdiçando vários penáltis – continuo a considerar que o jogador sente em demasia a necessidade de aproveitar os castigos máximos quando a sua equipa está em igualdade ou desvantagem –, o dianteiro passou a temporada a provocar dissabores aos defesas contrários, marcando golos de cabeça, com os pés ou na sequência de lances de bola parada.

O mais curioso é que Cardozo, pese a sensacional veia goleadora, não é um “matador” que encante os adeptos, que leve ao delírio as multidões. Não estou com isto a dizer que a Luz não rejubila quando o paraguaio acerta, mas creio que já todos repararam que o avançado não é dos principais ídolos dos adeptos, muito mais rendidos à arte de Saviola, Aimar, David Luiz ou Luisão. Aliás, até na sua terra natal isto é uma evidência. O jogador vai tendo oportunidades na seleção, mas está longe de ser um titular indiscutível ou de entusiasmar toda a nação.

A forma de jogar de Cardozo não é, realmente, das mais brilhantes. Todos conhecemos avançados mais dinâmicos, rápidos ou tecnicistas. A questão é que, mesmo perante o olhar desconfiado de muito boa gente, o sul-americano tem desenvolvido um importante hábito: marcar golos. Com as devidas diferenças chega a fazer lembrar o caso do brasileiro Jardel, também ele um dianteiro algo atípico mas que, no seu auge, marcava golos de todas as formas e feitios. E isso, apesar da opinião contrária de alguns puristas, é o essencial para ser figura na modalidade.

A sina de Carlos Martins - Rui Dias

1 Dele se diz, há anos e com leveza por vezes escandalosa, que é frágil psicologicamente – como se todos quantos o acusam fossem especialistas da matéria e partissem do pressuposto de que estão imunes a acusações semelhantes. É a saída fácil do lugar-comum para os que não entendem a essência do mundo que os rodeia e do fenómeno em que, de uma ou outra forma, estão inseridos. Carlos Martins cumpre os requisitos habituais da irregularidade numa função de grande exigência criativa e na qual só os génios conseguem passar meses e meses ao mais alto nível sem quebras de rendimento. Se tem qualidade acima da média (e tem), com soluções para problemas que poucos são capazes de resolver, cabe ao treinador conquistá-lo para a causa, enquadrá-lo no coletivo e dar-lhe todas as condições para se expressar. Encontrou por fim o paraíso de uma carreira marcada pelas oscilações. Confirmando o que dizia Joaquim Meirim, sempre que o tema das conversas resvalava para casos semelhantes, “o treinador deve ter em conta os seus jogadores dos pés à cabeça”.

2 Jorge Jesus fez dele uma estrela da Liga e peça fundamental na estrutura e no funcionamento do campeão nacional. Só agora Carlos Martins cumpriu parte da esperança com que chegou ao topo do futebol português, sob o comando de Augusto Inácio, na época 2000/2001, tinha apenas 18 anos. No balanço de uma década aos altos e baixos, de dúvidas, respostas, conflitos, desistências e reconhecimento, processo mil vezes concluído e reiniciado, consolidou competências e acrescentou outras ao vasto reportório em que assenta como futebolista desde os primeiros pontapés na bola.

3 Porque o talento está sustentado em emoções tão vulneráveis ao desalento como ao entusiasmo, Carlos Martins aprendeu que, enquanto não chega a inspiração que o eleva à dimensão de artista, está obrigado a correr como qualquer um e a trabalhar como operário. É um dos médios-centro portugueses com técnica individual mais exuberante e um dos mais temíveis na aproximação à baliza, principalmente pelo fabuloso tiro de média e longa distância, com bola parada ou corrida. Mas não só. Também pelo modo como interpreta o jogo combinado e pela sumptuosidade com que encontra espaços milagrosos onde poucos se atrevem a imaginá-los – mesmo que olhasse, a maioria veria pernas e corpos em movimento, nunca uma solução plausível para o golo.

4 O destino de Carlos Martins tem sido viver a montanha-russa de sensações exteriores que provoca à sua volta; apetrechar-se emocionalmente para reagir aos elogios que o acompanham até ao ponto mais alto da escalada e aos seus antónimos quando desce, de uma só vez, aquilo que tanto lhe custou a subir. Triste sina a de quem, ao fim de tantos anos, não encontrou ainda um porto de abrigo que o qualifique definitivamente e lhe dê serenidade para viver com estatuto consolidado o empolgamento dos bons momentos e a depressão dos maus. O seu destino é, afinal, viver num patamar abaixo das grandes figuras do seu tempo e passar a vida a conceber e executar obras-primas que não chegam para ser reconhecido como talento assombroso do futebol português, mas para obter a concessão máxima, e ao mesmo tempo minimalista e injusta, que outros lhe oferecem: o benefício da dúvida.