Análise à Jornada

Como estive no ECC e não possuo o dom da ubiquidade, não vi os jogos de Benfica e Sporting, apenas os resumos.
Em Paços de Ferreira, o Benfica terminou o campeonato vergado ao peso de uma derrota que é espelho fiel de uma temporada medíocre.
Incoerência táctica, estratégica e na formulação do onze titular.
Koeman, uma vez mais, deu de si uma imagem pobre, de um treinador à deriva numa equipa cujo balneário não domina há muito.
É inconcebível conceder a titularidade a um jogador que não joga desde Dezembro.
O proscrito Karyaka reapareceu e a alinhar num lugar que já se viu não pode ser o seu.
Na ala, Karyaka não rende, simplesmente porque não pode, não possui características para tal.
Se a intenção era justificar a dispensa, então Koeman desempenhou o seu papel na perfeição.
Mas, não foi só por aí que a equipa falhou.
Falhou, também, na abordagem ao jogo e na esquematização da equipa.
Como escrevi, o Benfica não pode fazer alinhar, em simultâneo, três médios de contenção nas competições nacionais (salvo em alguma situação esporádica e devidamente justificada).
Com a inclusão de Beto, Petit e Manuel Fernandes cercea-se a capacidade criativa da equipa, subjugando-a a um modelo de transição assente no pontapé longo.
Entre os médios e Miccoli criam-se, pelo menos, uns bons 30 metros de distância, reduzindo a capacidade de construção e de finalização da equipa.
A par destas incongruências tácticas e estratégicas, o Benfica surgiu na Mata Real descrente, falho de motivação, ausente de vontade. E isto quando ainda havia um objectivo a disputar...
Da conjugação de tudo isto, o insucesso emerge como consequência natural.
A vantagem ao intervalo não premiava qualquer superioridade benfiquista, mas sim a fortuna de um lance ocasional numa primeira parte enfadonha, em que as equipas se recearam mutuamente.
No dealbar da segunda parte, Moretto num lance inenarrável, de tão caricato que foi, ofereceu o empate ao Paços.
Inacreditável o erro de Moretto. Já vi muito frango, mas como este nunca.
Daí até final, viu-se um Paços pletórico de vontade de vencer, de garra frente a um Benfica abúlico, apático, sem chama e sem garra.
Venceu o Paços e bem.
Da derrota há que retirar o que de positivo poderá encerrar, a saber a saída de Koeman.
O holandês chegou ao fim da linha, o seu espaço de manobra é nulo e a saída inevitável.
Iniciar a próxima época com Koeman ao leme seria um suicídio, tão fragilizado que está o técnico.
Como se viu com Jesualdo aquando da sua passagem como técnico principal do Benfica e com Peseiro este ano no Sporting, começar uma época com a massa associativa descrente das capacidades do treinador acarreta que ao primeiro desaire a paz podre reinante venha à tona e daí ao descalabro seja um pequeno passo.
Vejamos como Veiga irá resolver este problema, sabendo-se que o Benfica não pode suportar os custos financeiros da demissão de Koeman.
Em Alvalade, o Sporting venceu bem.
Foi melhor, quis ganhar e fez por isso.
Foi mais agressivo e mais competente que o Braga.
Marcou um golo e remeteu-se, como sempre, a uma postura de contenção, não permitindo a criação de ocasiões de perigo por parte dos bracarense (com excepção de um lance no final da partida em que João Tomás ganhou nas alturas a Ricardo e Delibasic atirou por cima).
Atingiu o 2º lugar com todo o merecimento, ainda para mais quando o seu adversário directo não apresentou qualidade futebolística mais do que mediana e pautou as suas exibições por uma inconstância atroz.
Parabéns a Paulo Bento por ter construído uma equipa da manta de retalhos que lhe deram.
No Bessa, um Boavista em perda e um Porto de segunda protagonizaram um fraco espectáculo de futebol, no qual apenas o golo de Lizandro e alguns lances de João Pinto e Anderson se salvaram.
Desfecho justo e natural, numa clara partida de fim de época.
Nos restantes jogos, discutia-se a permanência.
Sem surpresa Guimarães e Rio Ave acompanharam Penafiel na descida e com surpresa o Belenenses juntou-se-lhes.
Sofri a bom sofrer, ontem, no ECC.
A 15 minutos do fim, a Briosa estava na Liga de Honra.
Jogo impróprio para cardíacos (como eu gosto desta expressão e ontem foi-o literalmente para um indivíduo que se encontrava uma fila atrás de mim), no qual a AAC conseguiu milagrosamente o empate salvador.
E digo milagrosamente porque a qualidade da exibição da Académica foi confrangedora.
Não fôra o crer, a raça e vontade de vencer evidenciados após os dois golos do Marítimo e a Briosa teria saído derrotada.
Com 0-2 no marcador, a mole humana que praticamente enchia o ECC achava-se mergulhada na mais profunda descrença.
Ansiava-se por um nulo em Penafiel.
Eis senão quando, Joeano "inventa" um golo.
Numa jogada de insistência, Joeano acredita que consegue chegar à bola, antecipa-se a Van der Gagh e, perante Marcos, não perdoa.
Renascia a esperança.
O público empolgou-se e a equipa acompanhou-o.
Pressão imensa sobre os insulares e numa recuperação de Brum a meio-campo, este isola Alcantâra que é derrubado no interior da área.
Penalty indiscutível que Joeano não desperdiçou.
Uma sensação de alívio perpassou pelo ECC.
Numa má época, o sofrimento foi até final.
Nos restantes jogos, destaque para a vitória e salvação do Gil Vicente.
Quando parecia impossível, Paulo Alves encetou uma recuperação notável que desaguou no sucesso de ontem.
Pelo contrário, Couceiro, de hesitação em hesitação, desceu de divisão pela segunda vez.
Aliás, ainda que mantenha uma aura de bom treinador, o certo é que no seu curto percurso como treinador principal acumula já duas descidas.
Porém é justo dizer que a descida do Belenenses ficou-se muito mais a dever à instabilidade directiva e financeira vivida no clube do que à acção de Couceiro enquanto treinador principal.
Erros na construção do plantel, ausência de uma liderança clara e ordenados em atraso conjugaram-se entre si para o insucesso verificado.
Por seu turno, a descida do Guimarães assentou mais em aspectos desportivos.
Atraso e inc0mpletude na escolha do plantel, dispersão pelas competições europeias, instabilidade no corpo técnico, desequilíbrios vários no plantel e a distinta filosofia de jogo e matriz táctica dos técnicos que comandaram a equipa ao longo da temporada, constituiram o caldo necessário ao desenlace sucedido.
Desta vez, a pressão dos adeptos teve efeito contrário - se em múltiplas situações no passado, a massa associativa do Vitória catapultou a equipa para as vitórias, esta época os jogadores não souberam lidar com a pressão diária exercida pelos adeptos.
Findo o campeonato, glória aos vencedores, honra aos vencidos.