terça-feira, maio 09, 2006

Política desportiva - um mau exemplo

Com a devida vénia, aqui deixo um texto do meu amigo e grande académico José Viterbo, actual treinador do Sourense.
Concordo, na íntegra, com as reflexões aqui expostas e julgo que as mesmas são extensíveis à generalidade dos clubes portugueses (vide Belenenses e Guimarães).
"Pare, escute e Olhe...
Estas são as palavras que frequentemente lemos quando chegamos perto de uma passagem de nível.
Sem pretender ensinar a “missa ao padre”, escolhi este título por considera-lo adequado ao actual momento da Académica.
Depois de alcançado o grande objectivo, achei por bem fazer um pequeno balanço, ou se quiserem uma pequena reflexão sobre as ultimas épocas. Sobretudo desde Janeiro de 2003.
Porquê? Bom, porque acho ser este o momento ideal para falarmos sobre um aspecto extremamente importante. Política desportiva. E esta o que é?
Na minha modesta opinião, significa tão só, ter um rumo, um ideal, um projecto.
Nomeadamente (no que toca ao futebol profissional), sobre dispensas, contratações, renovações, formação, etc.
Desta forma, será bom relembrarmos o nosso passado recente, não permitindo assim que alguns dos erros cometidos se voltem a repetir. Até porque neste momento, temos um director desportivo, logo, um rosto!Vamos então aos factos:
Após janeiro de 2003 foram contratados (aqui não incluo jogadores da equipa b) 52 jogadores, dos quais 26 são Brasileiros. A saber: Marcos António, Esquerdinha, Filipe Alvim, Delmer, Dionatan, KáKá, Joeano, Flávio Dias, Fávaro, Rafael Gaúcho, Luciano, Danilo, Marcel, Brum, Lira, Exequias, Âlcantara, Fernando, Gelson, Pedro Silva, Zada, Serjão, William, Wallace, Bruno Leite e Wilton (estes quatro últimos nunca jogaram).
Foram também contratados 18 Portugueses. Para conhecimento de todos: Vítor Vieira, Manuel José, Carlos Martins, Pedro Oliveira, Pedro Henriques, Rodolfo, José António, Zuela, Paulo Sérgio, Fábio Felício, Vasco Faísca, Ricardo Fernandes, Kenedy, Hugo Leal, Andrade, Filipe Teixeira, Pedro Fontes e Chano (estes dois últimos nunca foram utilizados).
Para finalizar, foram ainda contratados oito jogadores estrangeiros:Fouhami, Ricardo Perez, Buzáky, Fiston, Kenny Cooper, Dani, N`Doye e Beaud (este nunca jogou).
Entretanto emergiram da equipa B: Zé Castro, Nuno Piloto, Rui Miguel, Eduardo, Vitor Vinha e Sarmento.
Os números valem o que valem e sobre a qualidade destes jogadores não me pronunciarei. Apenas e só por uma questão de ética.
Contudo, se fizermos contas ao dinheiro pago pelos passes de alguns deles, ao numerário contractualizado bem como ao dinheiro desperdiçado em indemnizações, facilmente chegamos á conclusão que houve de tudo, menos política desportiva.
É portanto, este o momento ideal para de uma forma corajosa, inverter o percurso.
COMO?
1º Escolhendo criteriosamente o próximo treinador. Caso seja novamente o Professor Nelo Vingada deverá este ter outra responsabilidade na escolhas dos jogadores.
2º Definir claramente o futuro, olhando mais para a formação.
3º Escolher os jogadores de acordo com um perfil que os leve rapidamente a identificarem-se com a nossa filosofia de clube.
4º Fazer um esforço por contratar (de preferencia mais portugueses) jogadores já familiarizados com os nossos quadros competitivos.
5º Dar corpo a um gabinete de prospecção sério e dinâmico, com o objectivo de lançarmos as bases para os próximos anos.
6º Racionalizar os custos e não inflacionarmos o mercado.
7º Fazer contratos, com base muito mais em objectivos concretos.
8º Baixar significativamente os vencimentos dos atletas e oferecer prémios de jogos consentâneos com a qualidade competitiva dos nossos adversários.
9º Melhorar as nossas condições de treino das nossas camadas jovens.
10º Criarmos condições objectivas para a curto / médio prazo, fazermos novamente um investimento sério na construção de uma equipa B, permitindo assim baixar drasticamente o número de jogadores na equipa principal.
Para que tal aconteça, torna-se urgente elaborar, acreditar, desenvolver e dinamizar um projecto desportivo que assente numa política rigorosa e que não dependa apenas e só da bola que entra ou não na baliza.
Depois é necessário coragem para não ceder a pressões e acreditar que a qualidade tem um preço. Fundamentalmente se conseguirmos rentabilizar os nossos activos.
Têm várias semanas para preparar o futuro.

Sem comentários: