sexta-feira, julho 07, 2006

Triste, mas orgulhoso

Ontem, devem ter estranhado a minha ausência.
Todavia, foi premeditada.
Penso que a frio se analisam melhor os insucessos.
Perdemos, fomos eliminados, mas o saldo da nossa participação tem de ser considerado francamente positivo.
Ontem, talvez não fosse capaz de o dizer tão claramente.
No jogo da nossa tristeza fizemos aquela que terá sido a nossa melhor exibição, mormente na primeira metade do desafio.
Entrámos algo nervosos, mas cedo nos recompusemos.
Tomámos as rédeas do jogo e com um futebol enleante produzimos os melhores momentos futebolísticos da nossa participação.
Boa posse de bola, boas trocas de bola, progressão, sentido de baliza, boa organização defensiva e ofensiva.
Dominámos a partida, até que chegou o lance do penalty.
Contra a corrente do jogo, a França viu-se em vantagem.
O penalty deixa algumas dúvidas, mas sejamos francos a esmagadora maioria dos árbitros em lances semelhantes assinala grande penalidade.
Ricardo Carvalho toca em Henry e ainda que se possa considerar que tal toque não é causal da queda, o certo é que existiu.
Quando assim é, os árbitros, por via de regra, assinalam penalty.
Sentimos o golo, mas ainda assim procurámos reagir.
Construímos dois lances em que ficou a dúvida sobre a existência de grande penalidade.
Sinceramente, naquele em que, após cruzamento de Figo, Ronaldo cai, não me parece que tenha existido motivo para penalty. Ronaldo já vai em queda quando Sagnol lhe põe a mão sobre as costas.
Neste lance, aliás, sucede o inverso do lance do penalty assinalado contra nós - a maioria dos árbitros ignora estes contactos no interior da área, não os punindo como penalty.
É quase uma regra não escrita da arbitragem.
Um outro lance, esse sim, me pareceu merecedor de grande penalidade, quando o mesmo Ronaldo é agarrado por Abidal no interior da área francesa.
Aí sim, Abidal abraça Ronaldo não o deixando disputar a bola.
Na segunda parte, os franceses adoptaram a mesma postura que os ingleses quando se viram em inferioridade numérica - contenção e mais contenção, com dez elementos atrás da linha da bola e com os dois trincos imóveis em frente à defesa.
Portugal não encontrou soluções para ultrapassar tão cerrada defesa.
Aliás, este é um problema de sempre do futebol português - perante adversários que se fecham no seu meio-campo, a nossa incapacidade de penetração e de criação de ocasiões de golo é imensa.
Assim, com excepção de um livre de Ronaldo, que Barthez não conseguiu segurar, permitindo a Figo uma cabeçada por cima da trave, Portugal limitou-se a circular a bola entre os seus jogadores e a procurar entrar na área através de sucessivos cruzamentos.
Nem sequer demonstrámos capacidade para alvejar a baliza de Barthez de fora da área, tal a exiguidade dos espaços concedidos pelos franceses na sua zona central.
A França cingiu-se a acções defensivas, procurando controlar os movimentos lusos, sem que tenha sequer espreitado o contra golpe (com excepção de dois lances no dealbar da segunda parte, a França não existiu ofensivamente).
Portugal porfiou, mas não conseguiu materializar o seu domínio em golos.
Mas, quando se tem na frente um jogador como Pauleta tudo se torna ainda mais difícil.
Pauleta sofre do complexo Mamede. Tal como o antigo recordista do Mundo dos 10.000 metros, Pauleta sucumbe à pressão nas grandes competições.
Quando se tem um Deco em clara ruptura física, saturado de tanta competição, as dificuldades ainda se acentuam mais.
Tal como no Euro-2004, Deco não se apresentou em forma física capaz. A qualidade do seu futebol obviamente que se ressente. Nunca vi um jogo tão fraco de Deco.
Por outro lado, a maioria dos jogadores portugueses demonstrou claros problemas físicos na segunda parte do jogo. A lesão de Miguel ocorre, precisamente, devido à exaustão.
Por fim, aquele que se havia cotado como o baluarte da nossa defensiva cometeu um erro, erro esse decisivo no desfecho da partida.
Ricardo Carvalho fez um Mundial extraordinário, mas nesse lance foi infeliz.
Ricardo Carvalho atinge na selecção um nível bem superior ao evidenciado no Chelsea, talvez pela liderança que exerce no comando da linha defensiva.
No Chelsea, é Terry que desempenha esse papel e Ricardo não se dá bem com posições de subalternidade.
A actuação do árbitro pautou-se por uma clara dualidade de critérios. Mas, entendo que não devemos ir por aí. Não foi pelo árbitro que perdemos. Fossemos mais competentes em certos aspectos do jogo, tivéssemos jogadores mais frescos e mais inspirados, e a vitória, certamente, que não nos fugiria.
Até pelo brilhantismo da nossa participação, penso que nos deveríamos ter abstido de recorrer à velha desculpa dos árbitros.
A nossa participação excedeu, claramente, as expectativas mais optimistas.
O saldo é muito, mas muito positivo.
Em 4 presenças em fases finais de Mundiais, temos duas presenças em Meias-Finais, o que não pode deixar de constituir motivo de forte orgulho e regozijo.
Fomos grandes, bem maiores que nós próprios suponhamos poder ser.
Alegremo-nos por isso.
Orgulhemo-nos por isso.
Viva Portugal!

17 comentários:

Anónimo disse...

Excelente análise do jogo por parte do Snr. Administrador.
Tocou em todos os pontos-chave que conduziram Portugal à derrota com a França:
Eclipse de Deco;
Ocaso de Pauleta;
Cansaço físico;
Erro defensivo no lance da grande penalidade a favor de França.
Neste lance da grande penalidade, aliás, creio que o erro nem é só do Ricardo Carvalho.
Houve uma nítida descompensação da manobra defensiva de Portugal, que na sequência de uma jogada a meio-campo, ficou com 4 defesas para 4 atacantes da França.
Tal descompensação levou a que Henry surgisse sózinho perante o Ricardo Carvalho, sem ninguém a fazer a dobra, e o jogador francês, inteligentemente, caiu em cima do Ricardo Carvalho e provocou o penaltie - indiscutível, a meu ver.
Portugal sentiu imenso este golo e o cansaço físico veio ao de cima.
Até ao intervalo, vimos uma equipa cansada e sem capacidade de reacção, e o reínicio da segunda parte não trouxe melhorias neste aspecto.
Penso que foi neste período que mais se sentiu a falta do Deco ao seu nível.
Importava existir alguém que organizasse o jogo da equipa portuguesa e seria Deco quem deveria exercer tais funções.
De qualquer forma, a França remeteu-se à defesa e foi Portugal quem foi fazendo as despesas do jogo, e, na segunda metade da 2ª parte, chegou mesmo a dar a sensação que ainda poderia empatar a partida.
E esteve, de facto, muito perto, fosse Figo um bom cabeceador.
Acabou-se o sonho, mas foi deveras positiva e entusiasmente a nossa participação neste Mundial.
Se no início do Campeonato nos propussessem o acesso directo ao jogo de disputa do 3º lugar em vez de tentar chegar à final, creio que a esmagadora maioria dos adeptos aceitaria essa proposta de braços abertos.
Resta-nos agora tentar ganhar à Alemanha, tarefa que se afigura muito complicada.
A Alemanha tem mais um dia de descanso do que nós, são uma equipa poderosíssima em termos físicos e jogam perante o seu público.
Curioso que, a partir dos 0itavos de final, vaticinei que Portugal jogaria com a Alemanha a final.
Acertei, em parte, neste vatícínio: Portugal joga de facto com a Alemanha mas não a final.
Faço votos para que seja o melhor jogo do campeonato.

Vermelho disse...

amigo Mínimo:
Com Jordão não tenho dúvidas que seríamos campeões.
Que saudades.
Abraço.

VermelhoNunca disse...

Acho que estamos todos de parabéns. O que mais merece é sem dúvida Scolari, que conseguiu criar um grupo que deixa enormes saudades a quem o abandonar. Fala-se que Scolari pode abandonar. É uma péssima notícia. Claro que poderá alegrar a alguns, talvez aos adeptos do clube do senhor Zex,e ao seu presidente em especial, que tantas saudades têm de mandar na selecção. Espero que assim não seja, e que Scolari continue a combater estes mafiosos.
Quanto ao jogo, penso que na 1ªparte estivémos muito bem, após 10 minutos iniciais da França. Destaco Ronaldo, que fez a sua melhor exibição. Pela negativa Deco e Pauleta. Simulão entro mal no jogo, tal como Postiga( mas este já é habitual). Nuno Gomes? Lembram-se de ver Nuno Gomes, após o jogo da Holanda, a recusar-se a falar aos jornalistas, na zona mista, quando todos os outros jogadores extravasavam a sua alegria e orgulho pela vitória! Scolari é homem para não perdoar esse comportamento de menino mimado, que está habituado a ter todos a seus pés, no benfica. É apenas uma suposição minha, claro...

Vermelho disse...

amigo Costa:
Não vejo no seu post qualquer utilização gratuita de vernáculo.
Abraço.

Vermelho disse...

amigo Costa:
A sua inteligência permite-lhe verbalizar a sua/nossa ira de outras formas.
Abraço

VermelhoNunca disse...

Mais um palhaço disfarçado...Nuno Gomes ,um dos melhores avançados do Mundo... enfim. O palhaço disfarçado se necessitar de tradução peça ao Broas, esse génio de emigrante...

Vermelho disse...

amigo silvain:
cumprimentos ao Broas.
Já agora, não saberá, porventura, do paradeiro do malogrado/ressuscitado/desaparecidoProf. Venceslau?
Abraço

Vermelho disse...

amigo Silvain:
só uma dúvida - não seria borbas o nome do emigrante que pretendia citar?
Abraço.

VermelhoNunca disse...

Esse sim amigo Vermelho...o pai da Vanessa...que vai e vem, que aparece, desaparece. Volta Fernandes, volta Venceslau, mas assumido, pois assim disfarçado não tens piada.

Anónimo disse...

Pois é Prof. Venceslau, digo, Saltitão, digo, Borbas, digo, Silvain, digo mais não sei quê.....
Melhor seria que retornasse à sua versão inicial, ou, pelo menos, à veste de Borbas.

VermelhoNunca disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
VermelhoNunca disse...

Quem se referiu a si, Broas, foi o francês Jump Silvino, que disse que você o ajudou na tradução. Portanto fale com o seu amigo, ou, eventualmente, olhe-se ao espelho.

VermelhoNunca disse...

Atenção amigo Mínimo, eu estou pela França!

VermelhoNunca disse...

Condómino Broas: o amigo está enganado, repito que quem se referiu a si foi o Silvino da França-leia o post dele-"C'est ce ami, qui vos autres le connait comme Broas, qui m'a traduit le texte du Monsieur L'Administradeur et les textes des blogeurs."
Está esclarecido?

Anónimo disse...

Amigo Mínimo: Referia-me a O_Borbas, que pelos vistos, voltou.

Anónimo disse...

Que p*** de confusão!!!
Chiça!!!!!

Mestrecavungi disse...

Amigo Vermelho:
Resignado, mas muito orgulhoso.
Um abraço