quarta-feira, novembro 25, 2009

Artigo de Opinião de Fernando Guerra

Aviso à navegação

Escreveu ontem Santos Neves, no seu Editorial, que há já quem tenha percebido como se trava a avalancha ofensiva do Benfica.
Afinal, o Vitória de Guimarães apenas confirmou o que ficara em suspenso há uma semana, no jogo com a Naval.
Para mim, a verdade é incontornável: os adversários, com treinadores minimamente hábeis para o desempenho da função e com dose suficiente de argúcia, tiveram tempo de sobra para esmiuçar, como é moda dizer-se, as concepções tácticas de Jesus na primeira dezena de jornadas, o que significa um acréscimo de dificuldades para quem se sente obrigado a ganhar e, ao invés, um maior conforto para quem, sem essa exigência a pesar-lhe, se limita a investir no desgaste do opositor e... sonhar com um golpe de sorte.
Foi isso o que Paulo Sérgio fez.
Estudou as movimentações das peças mais influentes da estrutura benfiquista e, aproveitando com subtileza a qualidade humana disponível, tratou de colocar os jogadores certos nos lugares devidos, todos com a lição estudada.
Revelou perspicácia ao curto-circuitar as principais linhas de comunicação adversária e firmeza, embora com elevada dose de felicidade à mistura, no esquema como conseguiu sobreviver ao massacre vermelho.
HÁ um ano, mais ou menos por esta altura, o Benfica sofreu humilhante derrota na Grécia, com Olympiakos (1-5), e em vez de se promover reflexão ampla e despretensiosa para descortinar as causas de inqualificável desempenho e medir as suas consequências no futuro imediato, optou-se pela decisão mais cómoda, que foi a de passar uma esponja sobre o assunto, colando-lhe imprudentemente, como a realidade veio a demonstrar, o rótulo de ocasional.
Então, a 27 de Novembro de 2008, com nove jornadas cumpridas, o Benfica estava no segundo lugar, com 21 pontos, menos um que o líder, Leixões, e mais quatro que o FC Porto. Repare o leitor nas semelhanças...
Perder com o V. Guimarães correspondeu ao afastamento da Taça de Portugal, troféu que o Benfica não ergue desde 2004.
Vai ter de esperar, portanto, mas por aquilo que foi sendo dito, antes e depois, não me parece que se tratasse de uma prioridade.
Senão ter-se-ia assumido claramente a candidatura, sem meias palavras, e evitava-se aquele discurso envergonhado, de concorrente do meio da tabela, em que o objectivo supremo se esgota na aquisição do bilhete para a festa no mítico palco do Jamor. O Benfica, pela sua grandeza, pelo seu prestígio internacional, pela sua história, não pode ficar contente por desembarcar no apeadeiro. Deve ir até ao fim da linha. Ao título!
Foi no jogo de Braga que tudo começou.
A primeira derrota na Liga e a prova do que seria possível, nas circunstâncias actuais, interferir no sistema de jogo normalmente utilizado por Jorge Jesus, um treinador merecedor da confiança da nação benfiquista mas, como todos os treinadores que se prezam, prisioneiro dos seus caprichos, ideia de que gosto e que roubei a Medeiros Ferreira, quando ele se esforçava por descodificar as invenções de Quique Flores. Caprichos esses que nem sempre resultam e costumam sair caro aos clubes, nos percursos desportivos ou nos investimentos financeiros.
Foi Domingos Paciência o primeiro a fazer riscos nos desenhos tácticos de Jorge Jesus. Augusto Inácio imitou-o. Paulo Sérgio fez o mesmo e voltou a experimentar a eficácia da medida. Resultado? Duas derrotas e uma eliminação no espaço de três semanas. Acontece, mas a prudência reclama muita humildade na descoberta do que não está bem e igual disponibilidade na invenção de outras soluções. E de outras mais se necessário for. É este o fascínio do diálogo competitivo entre dois treinadores: um quer vencer, o outro não quer perder.
Aqui fica, pois, este singelo aviso à navegação, apenas isso: que não se repita o erro de há um ano e que de cada tropeção saiba Jesus extrair ensinamentos que permitam à equipa erguer-se e prosseguir na sua caminhada, mais forte e mais determinada.

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