Cada vez que os meus filhos se recusam a comer uma banana no final de uma refeição, lá começo eu a contar a história verdadeira de um guarda-redes do Benfica que, não há muito tempo, durante um jogo na Luz, aproveitou a bola estar no meio-campo adversário e, sentindo uma súbita quebra de energia, retirou da sua mochila, colocada atrás da baliza, uma banana, que engoliu ali à frente de toda a gente, em poucos segundos. A moral da história é: até um jogador do Benfica, às vezes, precisa de se alimentar. A partir daí, nunca mais se lhes ouviu quer um protesto, quer um queixume, em relação à banana. Pelo contrário, passaram a comê-la em silêncio, como se de um ato solene se tratasse. Esse guarda-redes, o homem da banana, era Robert Enke.
Não só lhe devo, portanto, o facto de ter evitado que Carlos Bossio tenha representado mais vezes o Benfica em jogos oficiais, como também a surreal preponderância que conquistou nos hábitos nutricionais da minha prole. (Ainda que, por vezes, sinta algum ressentimento por ele não ter também optado por ingerir uma sopa de legumes aos 57' do Benfica-Desportivo das Aves da época 2000/2001. Não lhe tinha custado nada, e a mim facilitar-me-ia bastante a vida doméstica.)
Anteontem, a tragédia abateu-se. E a minha história - que, admitamos, já não era espetacular - passou a ser ridícula. O homem que comia bananas a meio dos jogos para ganhar energia foi incapaz de tomar antidepressivos para reconquistar o ânimo.
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