quinta-feira, novembro 19, 2009

Artigo de Opinião de Leonor Pinhão

Pernoitar não é dormir

Sábado, 14 de Novembro
Excelente a escolha do Estádio da Luz para o Portugal-Bósnia. A nossa Federação pensa em tudo e pensa bem. A relva é apenas relva e o betão das estruturas é o mesmo betão corrente de outras estruturas. Ah, mas os postes e as traves do Estádio da Luz estão, ao que parece, mais do que abençoados!

1-0. Perfeito. Foi melhor o resultado do que a exibição. Não ter sofrido golos pode ter sido importante. Estiveram absolutamente impecáveis os postes e as traves quer na primeira quer na segunda parte. Na quarta-feira vai ser um duelo e peras. Ainda não podemos levar até à Bósnia o Cristiano Ronaldo na comitiva mas talvez não fosse má ideia levar o madeirame do estádio do Benfica. Abençoado!

Domingo, 15 de Novembro
Domingo sem futebol é um sossego para todos. Para todos? Não. Hoje, apesar de não ter jogo, o treinador do FC Porto esteve longe, com certeza, de desfrutar uma manhã sossegada. Isto se alguém lhe mostrou a primeira página do Correio da Manhã. É mais do que compreensível. Como terá reagido Jesualdo Ferreira à notícia de que as negociações entre André Villas Boas e o Sporting foram interrompidas após uma intervenção do FC Porto, supostamente interessado em assegurar os serviços do jovem técnico para a próxima temporada «ou já em Janeiro se as más exibições dos dragões continuarem»?

Um domingo sem futebol, afinal, também pode ser um desassossego.

Pelo meio da tarde a notícia sobre a intervenção do FC Porto, no caso Villas Boas, mereceu uma intervenção do presidente do FC Porto que aproveitou a presença de jornalistas na II Gala Anual dos Dragões de Leiria para pôr tudo em pratos limpos. Presume-se que a ideia de Pinto da Costa era muito acertada no sentido de devolver a Jesualdo Ferreira o sossego merecido com a paragem do campeonato e de garantir aos jogadores a plena confiança nas suas capacidades de recuperação do pequeno número de pontos já perdidos.

Mas, para dizer o que disse, não valeria mais ao presidente do FC Porto não ter dito nada? Por força de circunstâncias passadas e amplamente glosadas, em verso e em prosa, nos mais díspares elogios a Pinto da Costa e à sua grande escola de dirigismo desportivo, acabou por se tornar contraproducente a ironia do costume com que o presidente tentou travar os efeitos da notícia.

«Então o FC Porto desvia um indivíduo que está em Coimbra e vai para Lisboa?» — foi o que disse o presidente do FC Porto aos jornalistas.

Ora aqui está o problema. E o problema aqui não é a ironia. O problema é, precisamente, o do «costume». Foi, quase de certeza, por respeito ao sossego devido a Jesualdo Ferreira que nenhum jornalista se atreveu a interpelar Pinto da Costa. Assim:

- Então, sendo esse o caso presente, há alguns anos atrás quando José Mourinho estava em Leiria e ia para Lisboa, quem é que o desviou para o Porto?

Lembram-se? Em finais de 2001, o Benfica procurava desastradamente recuperar José Mourinho para a Luz e Octávio Machado era o periclitante treinador do FC Porto. Passou o Natal, passou o Ano Novo e todos os dias os jornais noticiavam como estava tremida a posição de Octávio Machado nas Antas. O próprio Octávio recorda o episódio no seu livro Vocês Sabem do que Estou a Falar, cujas páginas 252 e 253 passamos a transcrever, com a devida vénia:

«Fui então ter com o presidente a Espinho e ficou decidido que eu continuava a treinar o FC Porto. A caminho do parque de estacionamento, disse-me: 'Caso você se fosse embora não era o Mourinho que o vinha substituir (…).» O relato de Octávio Machado prossegue com a descrição de uma jura feita, incidindo tal jura presidencial sobre a saúde de terceiros, pelo que passemos adiante:

«(…) É importante referir que esta conversa decorreu em Janeiro. Porque tanto no livro do José Mourinho como no do próprio Pinto da Costa, ambos confessam que o contrato foi celebrado no dia do aniversário do presidente do FC Porto, que é a 28 ou a 29 de Dezembro. Basta consultar os livros. Ora como é que teve cara para me dizer, em Janeiro, que o Mourinho jamais me iria substituir? Ainda por cima jurando pela saúde (…)?» Adiante…

…Para o lamento final de Octávio: «Tive de suportar tudo isto. Foi um período de terrorismo psicológico que eu vivi nesse início de ano. Eu nunca fiz isto a ninguém.»

Octávio Machado, nem ironia, nem costume. Pudera…

Segunda-feira, 16 de Novembro
Falhada a operação Villas Boas, José Eduardo Bettencourt não perdeu tempo e Carlos Carvalhal é o novo treinador do Sporting. O treinador português não se alongou em discursos. Fez bem. Limitou-se a dar uma entrevista ao site oficial do Sporting. «Vou viver o Sporting 24 horas por dia», disse. E deixou um apelo aos sócios e adeptos do clube de Alvalade: «Não deixem adormecer o Sporting!» Ou seja, que façam como ele, Carlos Carvalhal, um treinador que vai estar desperto e actuante 24 horas por dia para se fazer merecer da justa oportunidade que lhe foi concedida: treinar um grande. Nada de dormir, nem um minuto de sono!

Terça-feira, 17 de Novembro
Então? Em que é que ficamos? Não dorme ou dorme? Lá estão os jornais a desestabilizar o Sporting?

«Carlos Carvalhal e adjuntos pernoitaram na Academia», lê-se hoje em A Bola. Chamei a atenção de um amigo sportinguista para este facto e obtive a seguinte resposta:

— Pernoitar não é dormir!

Sem dúvida, uma belíssima resposta.

Quarta-feira, 18 de Novembro
trigo Limpo, Farinha Amparo. 1-0, fora, como mandam as regras nestas coisas. Os disparates nacionalistas bósnios quase nos transformaram em pessoas normais. Celebremos esse facto e o golinho de Raul Meireles. Já está!

Quinta-feira, 19 de Novembro
Hoje, portanto. A Selecção regressa a casa esta madrugada sem dormir. Também Carlos Carvalhal não dorme. Há 120 horas.

1 comentário:

Jimmy Jump disse...

Hoje soube-se que o Figo aceitou, por 75 mil euros, vestir a camisola rosa mesmo no fecho da janela de transferências.
Um foguete comparado com as erupções de dinheiro que auferia com as transferências do passado mas que ainda assim não era de enjeitar, sobretudo se atentarmos à idade do jogador.
Este negócio só foi possível graças à persistência de Vara Valdano e ao engenho de Sócrates Perez.