A uma jornada do final da época, é já possível ensaiar uma avaliação das contratações realizadas pelos três grandes para a temporada em curso.
Hoje avaliarei as do Benfica e nos dias que se seguem as de Porto e Sporting.
O Benfica adquiriu, no conjunto da época, 12 jogadores, a saber Moretto, Anderson, Léo, Nélson, Beto, Karagounis, Karyaka, Marco Ferreira, Laurent Robert, Manduca, Marcel e Miccoli.
Moretto chegou à Luz em Janeiro proveniente do Setúbal e logo se afirmou como titular indiscutível.
Do seu percurso na Luz, destacam-se as exibições nos jogos contra o Porto na Luz e contra o Barcelona.
Guarda-redes dotado de condições físicas invejáveis para a posição, demonstrou, contudo, pouca escola e dificuldades em lidar com a pressão inerente a jogar num clube da dimensão do Benfica.
O nervosismo que revelou diz bem das dificuldades que viveu na adaptação a uma outra realidade.
A sua escolha para titular motivou grande controvérisa, principalmente pela forma como Koeman desconsiderou Quim.
Numa avaliação quantitativa do acerto da contratação direi que, numa escala de 0 a 10, se situa no patamar 6.
A próxima época será decisiva para a confirmação do seu valor, assim colmate as suas deficiências técnicas.
Na defesa encarnada entraram Anderson, Léo e Nélson.
Se o percurso de Anderson se pautou pela regularidade na chamada ao onze titular, já Léo e Nélson viveram os seu períodos de ocaso.
A valia de Anderson é indiscutível.
Internacional brasileiro chegou à Luz com o Brasileirão nas pernas e isso fez-se notar em algumas oscilações de rendimento vivenciadas.
Das suas qualidades avulta o bom jogo aéreo, capacidade de marcação, posicionamento, concentração, leitura de jogo e capacidade de desarme.
Compensa uma certa falta de velocidade com o seu excelente posicionamento e capacidade de desarme, mormente fazendo uso do "tackle" deslizante.
Quando em pior momento físico tende a cometer faltas desnecessárias.
Constituiu uma importante mais valia como os jogos da Champions o demonstraram, designadamente as partidas com o Liverpool.
Contratação no patamar 8.
Léo apareceu na Luz quase como um desconhecido, muito embora fosse internacional brasileiro e um jogador conceituado no seu país.
Não obstante as lesões que lhe condicionaram o início de época e a intermitência com que Koeman o elegeu como titular, o certo é que se guindou a plano de destaque.
A desconfiança inicial com que foi visto, especialmente devido à sua baixa estatura e à sua idade, desvaneceu-se por completo.
Trata-se de um lateral esquerdo de excelente técnica, capaz de fazer todo o corredor a elevado ritmo durante os 90 minutos.
A sua excelente condição física, a sua capacidade de penetração e de condução de jogo pelas alas, a par de uma razoável capacidade de efectuar cruzamentos, fazem dele um dos melhores defesas esquerdos que passaram pelo Benfica nas duas últimas décadas.
Destaca-se mais pelas suas capacidades ofensivas do que defensivas, se bem que nestas consiga disfarçar de forma capaz as suas lacunas.
Serve-se da experiência para compensar o seu deficit de estatura.
Num campeonato como o português em que raras são as equipas que exploram o jogo aéreo, a sua baixa estatura não emerge como pecadilho a considerar.
Na Europa, todavia, a situação é diversa e aí Koeman viu-se forçado a optar por outros jogadores.
Contratação no patamar 8.
Nélson foi contratado num golpe de asa de Veiga (coisa rara).
Com a venda de Alex, necessário se tornou adquirir um substituto e Veiga, que de há muito tinha apalavrada a contratação de Nélson, no mesmo dia, fechou contrato com o jogador.
Início de época empolgante, pletórico de força e de energia.
Se Léo demorou a entrar no onze, Nélson rapidamente se fez titular .
A sua velocidade, capacidade de drible e a sua habilidade natural para cruzar, entusiasmaram tudo e todos.
Contudo, a rotação de posições a que foi sujeito fizeram empalidecer a sua estrela.
O seu rendimento baixou e do céu ao purgatório foi um passo.
Princípios de pubalgia ainda mais o condicionaram e remeteram-no para o banco no último terço do campeonato.
Valor a confirmar na próxima época, situando a contratação no patamar 6.
No meio-campo central benfiquista entraram Beto, Karagounis e Karyaka.
O brasileiro vindo do Beira-Mar confirmou os predicados exibidos no clube da Ria, mas também todo um conjunto de limitações.
Força, pulmão, vontade e garra eram qualidades conhecidas de Beto.
Falta de qualidade e critério no passe curto e longo e dificuldades em conduzir a bola eram defeitos já sobejamente evidenciados.
Foi útil em determinados momentos da época e conheceu o ponto mais alto da sua carreira quando desfeiteou Van der Sar fazendo o segundo golo com que o Benfica derrotou o Manchester na Luz.
Face às suas limitações técnicas muito fez.
O problema foi a sua utilização desmesurada e muitas vezes despropositada por parte de Koeman.
Deveria ter sido um jogador cirurgicamente utilizado, apenas nas ocasiões em que as suas características constituissem uma mais valia, mas Koeman abusou da sua utilização e expôs de forma flagrante as suas limitações.
Contratação no patamar 4.
Karagounis, juntamente com Miccoli, foi a mais sonante das contratações.
A sua precária condição física nunca lhe permitiu exibir, na pleinitude, as qualidades com que vinha rotulado.
Ainda assim, por períodos curtos, geralmente a partir dos 60 minutos de jogo, explanou o perfume do seu futebol rendilhado, feito de dribles curtos em progressão.
Espero e desejo que para o ano se apresente em outras condições, agora que os três anos de ocaso em Milão se mostram ultrapassados.
Contratação no patamar 5.
Karayaka chegou, viu e venceu.
Estrela maior da pré-época benfiquista, em muito devido ao ritmo que trazia do campeonato russo.
Como se achava em competição, emergiu na pré-época.
Aos poucos foi desaparecendo, até que uma entrevista mal explicada a um periódico russo acabou de vez com a sua aura.
Possuidor de boa técnica e de boa leitura de jogo, a indefinição posicional que viveu e a falta de velocidade e agressividade que demonstrou, limitaram-lhe o seu percurso no Benfica.
Um golo ao Estrela na Luz e um passe para o segundo golo no Dragão foram os momentos mais reluzentes da época.
Contratação no patamar 3.
Nas alas entraram Marco Ferreira e Laurent Robert.
Quer um, quer outro foram flops.
Se no caso de Marco era já previsível, no de Robert havia a expectativa de rever o jogador que encatou o Parc dos Princípes e motivou o Newcastle a desembolsar mais de 3 milhões de contos na sua contratação.
Marco Ferreira é um jogador gasto, muito distante daquele que encatou o Bonfim.
Não se percebeu a sua contratação ou por outra percebeu-se, mas não por motivos estritamente desportivos.
Fez dois jogos a titular, nos quais confirmou, em absoluto, o que dele se esperava - ausência de velocidade e de capacidade de drible essenciais para o desempenho cabal das funções de extremo.
Robert, para além do golo contra o Porto e um ou outro pormenor, demonstrou que está na curva descendente da sua carreira.
Falho de vontade, de nervo e de velocidade, não patenteou as condições necessárias para jogar ao mais alto nível.
Está velho e acabado.
O seu desempenho em lances de bola parada cingiu-se ao golo contra o Porto, o que constitui fraco pecúlio para tão afamado especialista.
A qualidade do seu pé esquerdo está lá, o seu virtuosismo não se perdeu, mas na voracidade do tempo perdeu tudo o resto que é necessário para a alta competição.
O seu comportamento fora dos relavados, também, não foi condizente com as exigências de um futebolista profissional.
Saída nocturnas frequentes debilitaram-no ainda mais.
Contratações no patamar 0.
No ataque entraram Miccoli, Manduca e Marcel.
A qualidade do italiano é indubitável, mas as lesões que o apoquentaram ao longo da época não lhe permitiram explanar todas as suas virtudes.
Rápido, incisivo e dotado de uma excelente capacidade técnica e de um excelente remate de meia e longa distância, demonstrou ser um avançado de nível europeu.
A sua capacidade de desmarcação, de jogar entre linhas e o seu faro pelo golo são qualidades maiores do baixinho italiano.
Acaso as lesões o tivessem permitido, Miccoli teria sido, certamente, um dos melhores marcadores da Liga.
Os golos frente a Lille e Liverpool foram os pontos altos da época.
Espero e desejo a sua permanência em definitivo.
Contratação no patamar 6.
Manduca revelou-se a mais acertada contratação de Inverno.
Chegou de mansinho, quase sem se dar por isso, mas provou valor para ser uma belissíma alternativa para as mais diversas posições do ataque.
Capacidade de drible, de condução de bola e de jogar entre linhas foi o que evidenciou no Benfica.
As suas diagonais das alas para o centro são já umas das suas imagens de marca.
Não se trata de um predestinado, mas na ponderação rentabilidade/custo, o seu ratio é francamente positivo.
Contratação no patamar 7.
Marcel foi uma aposta claramente falhada.
Chamado à titularidade por algumas vezes, nem um golo fez na Luz.
Pouca mobilidade, pouca agressividade e nula capacidade goleadora foi o que apresentou.
Nem a sua capacidade de remate evidenciou na Luz.
O pior de Marcel na Briosa foi o que trouxe para o Benfica.
Contratação no patamar 0.
No balanço direi que Anderson, Léo, Miccoli e Manduca foram apostas claramente ganhas, Moretto, Nélson, Karagounis são valores a confirmar e Beto, Karyaka, Marco Ferreira, Laurent Robert e Marcel apostas falhadas.
Me parece que se torna imperioso acertar mais na próxima época.
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