Como forma de prosseguir a discussão em torno do Benfica/Sporting, aqui ficam excertos de três artigos de opinião:
1. Em defesa de Fernando Santos 20.04.2007, Bruno Prata in “Público”
“A cabeça de Fernando Santos, mais do que posta a prémio, foi
praticamente degolada pela imprensa desportiva no dia a seguir ao empate
cedido pelo Benfica frente ao Braga. Trabalhos semelhantes publicados nos
jornais A Bola e Record afiançavam não só que o técnico apenas escaparia ao
despedimento caso garantisse o apuramento directo para a Liga dos Campeões
(e o Record acrescentava que mesmo isso "pode não chegar"...), mas também
pormenores relativos à preparação para a próxima época: que haverá mais
dinheiro disponível, que será contratado um ponta-de-lança de primeira água,
que Miccoli e Derlei vão sair, que Simão é inegociável, que Luisão está no
mercado, que Rui Costa só não jogará mais um ano se não quiser (e nesse caso
até poderá continuar noutras funções) e que Veiga poderá (ou não) regressar.
O conteúdo uniforme das duas notícias e as justificações idênticas para o
"pré-anúncio" de despedimento de Santos não deixam dúvidas: as fontes dos
dois jornais, se não foram as mesmas, parecem pertencer ao mesmo círculo
benfiquista. Que é como quem diz, há muito boa gente no interior do Benfica
que pretende despedir o treinador a todo o custo. E que, para isso, nem se
importa que a divulgação prematura de um rol de intenções para a próxima
época (verdadeiras ou falsas, mais tarde se saberá) possa prejudicar o
rendimento de alguns dos alvos das notícias e, com isso, afectar também os
objectivos desportivos que ainda estão em equação.
“(…) Permito-me discordar de algumas das teorias que sustentaram a notícia de que a Fernando
Santos não vai ser dada a oportunidade de cumprir o segundo ano do seu
contrato.
Apenas quem não conhece bem Santos é que pode dizer que ele foi permeável
quando lançou em campo Mantorras alguns minutos mais cedo do que é habitual
- essa análise primária não tem, por exemplo, em conta que Miccoli estava
lesionado e que, por isso, havia menos uma alternativa disponível. Se há
coisa em que Santos é inflexível é nas questões de disciplina.
(…)De resto, Mantorras não cometeu qualquer acto de insubordinação, limitou-se a dizer
que treina como os outros e que, por isso, queria jogar mais. Aproveitou
ainda para desmentir que o seu joelho continue a condicionar a sua
utilização. Por que carga de água havia Mantorras de ser
acusado de delito de opinião numa situação em que se limitou a defender-se
de quem há anos o apelida de "jogador coxo"?”
“(…) Santos foi também acusado de gerir mal o plantel. Numa ou noutra situação
até pode ser verdade, sendo o caso mais flagrante o de Miguelito (jogou
apenas 365"). Mas também eu arriscaria jogar quase sempre com os mesmos se
as alternativas se chamassem Manú, Paulo Jorge, Marco Ferreira e Beto.
“Por isso, seria mais lógico que se criticasse Santos por ter escolhido um
plantel desequilibrado, em termos de variedade e qualidade.”
“Em apenas 15 dias, o Benfica estragou a carreira europeia e comprometeu a
corrida ao título, deixando ainda complicado o apuramento directo para a
Liga dos Campeões. Mas é bom ter também em conta que o mesmo Benfica
efectuou esta época 14 jogos europeus, mostrou muita qualidade durante
vários períodos da época, tem mais cinco pontos do que Ronald Koeman tinha
há um ano e só falhou o título nacional porque não conseguiu melhor do que
um empate na Luz com o FC Porto (alguém duvida de que com uma vitória nesse
jogo jamais o Benfica sairia da liderança?). O balanço está longe de ser
positivo. Mas podia ser melhor numa equipa em que o ponta-de-lança (Nuno
Gomes) precisa de 313 minutos para marcar cada um dos seus parcos seis
golos?”
2. Artigo de Paulo Sousa, no jornal “A Bola” em 23/04/07.
“Fala-se muito da derrocada do Benfica após o jogo com o FC Porto na Luz.
Muitos atribuem as últimas exibições negativas do Benfica à «má preparação
física da equipa», ou à «incapacidade» dos pupilos de Fernando Santos
aguentarem a «sobrecarga de jogos» a que a equipa foi sujeita. Alguns
defendem até que era melhor o Benfica ter ficado por terra na Champions, não
participando na Taça UEFA, pois assim ter-se-ia focalizado apenas no
objectivo campeonato. Custa-me a acreditar nestas teorias. Para além da
experiência que passei como jogador, as equipas inglesas e espanholas
ajudam-me a justificar uma teoria oposta. Manchester United, Chelsea,
Valência, por exemplo, tiveram sobrecarga de jogos muito superior à do
Benfica. Durante a época disputaram mais jogos e o grau de dificuldade
desses mesmos jogos foi superior ao realizado pelas equipas portuguesas.”
“Os problemas do Benfica surgiram da conjugação de inúmeros factores inerentes ao seu modelo
de jogo. E o modelo de jogo é algo muito complexo, que engloba dimensões
várias em constante interacção como, por exemplo, as características e
quantidade dos jogadores do plantel, a conjuntura social que envolve o
clube, a ideia de jogo do treinador, a operacionalização dessa mesma ideia
ou a metodologia de treino adoptada.”
O Chelsea e o Manchester United estão numa luta titânica para vencer as
competições mais importantes do futebol mundial no momento. São de
facto as duas melhores equipas nesta época 2006/2007. Já realizaram uma
série impressionante de jogos desde o início da época. E continuam com
frescura para jogar e ganhar cada desafio que se aproxima.
Seria curioso verificar como é gerido o processo de treino destas duas equipas. Quantas vezes treinam por dia? Quanto tempo duram as
sessões de treino? A que intensidade treinam? De que forma é contemplada a
recuperação dos jogadores? A rotatividade é processada de que maneira?
A top, ambição e sensibilidade para gerir/calibrar todo o processo relativo
a uma equipa, são características fundamentais para conseguir resultados
como os que Chelsea e Manchester United apresentam.”
3. Artigo de Miguel Sousa Tavares, no jornal “A Bola” em 23/04/07.
“Não creio que Jesualdo Ferreira exagere nas cautelas a falar do título, que agora está só a três vitórias de distância. Pelo contrário, acho que ele tem razão, porque nada ainda está decidido a favor do FC Porto — por razões próprias e por razões da concorrência.
Entre as razões próprias, avulta aquela estranha e crónica ambivalência da equipa: é uma coisa nas primeiras partes dos jogos, quase sempre boas, e outra radicalmente diferente nas segundas partes, em que a equipa morre sistematicamente. Que há ali um evidente problema ao nível da preparação física, parece-me indesmentível. Mas que também há um problema psicológico, de atitude, começa-me a parecer também evidente.
Há ali uma incapacidade de dar o Xeque-mate, ou ao menos de gerir tranquilamente os resultados, que é preocupante. É verdade que tem havido demasiadas bolas na trave, demasiados golos fáceis desperdiçados e demasiadas ocasiões em que o adversário consegue marcar na primeira oportunidade para tal. Mas um pouco mais de fé e de convicção talvez conseguisse inverter a sorte, por arrasto. Paralelamente, eu que, regra geral tenho apreciado o trabalho feito por Jesualdo Ferreira desde o início da época (e apreciado muitíssimo, se o comparar ao do louco do Co Adriaanse…), devo dizer, contudo, que às vezes tenho a sensação que Jesualdo Ferreira é um pé frio, quando se trata de mexer na equipe durante os jogos: ou não mexe quando devia e antes de as coisas se complicarem, ou, quando mexe, resulta quase sempre pior. Não me parece que a arte de ler o jogo em andamento e de influir sobre ele esteja entre os seus principais atributos.”
Sábado, no Bessa, o FC Porto tem um jogo terrível: como todos os portistas sabem, o Boavista pode não estar a jogar nada, como é o caso, pode, como quase sempre, facilitar a vida aos grandes de Lisboa, mas bater-se contra o FC Porto como se se tratasse de uma questão de vida ou morte, isso eles não falham. Espero que Jesualdo Ferreira tenha uma estratégia pensada e lógica para ganhar o jogo — o que, entre outras coisas, passa, por exemplo, por não pôr o Jorginho em vez do Anderson ou em não insistir com o Marek Cech como médio. E espero, sobretudo, que a equipa se aguente 90 minutos a jogar para vencer.
(…) Nos factores externos que podem ainda impedir o FC Porto de ser campeão, o principal é, obviamente, o Sporting — a uma vitória e um empate de distância. Quando digo que o Sporting, pé ante pé, chegou aqui a lutar pelo título, fico espantado por constatar o pouco ou nada que sobre ele escrevi ao longo do campeonato. E a razão é simples: não sei muito bem o que pensar do futebol do Sporting. Reconheço que tem um treinador que tem feito um trabalho notável com o que tem ao seu dispor; que tem alguns grandes jogadores, embora nem sempre de produção regular, como o são um Quaresma ou um Simão; e reconheço que a equipa tem muitas vezes uma atitude e estratégia pensada para a vitória, na forma linear e eficaz como procura o golo quando precisa e como aguenta quando tem de aguentar. Mas a verdade também é que não me lembro de um jogo em que o futebol do Sporting me tenha enchido o olho.
Ao invés do FC Porto, acho que o Sporting tem sabido procurar a sorte, mas caramba, ela não lhe tem faltado! Recordo os últimos jogos que vi:
— venceu no Dragão, no jogo que relançou a equipa na luta pelo título, depois de um jogo em que foi superior ao FC Porto, mas sem criar grandes oportunidades, acabando por marcar o único golo através de um livre frontal que, em minha opinião, não existiu, e beneficiando, no último sopro, de um penalty perdoado graças ao síndrome Apito Dourado;
— venceu em Braga, depois de uma primeira parte muito boa, seguida de outros 45 minutos em que só defendeu e que, com um pouco menos de sorte, teria consentido o empate;
— venceu o Marítimo em dez segundos, como um golo incrivelmente oferecido por uma defesa e um treinador suicidas;
— venceu o Beira-Mar, para a Taça, com duas ofertas do guarda-redes nos primeiros oito minutos, e o resto do tempo dormiu;
— e venceu a Naval da mesmíssima forma.
Ou seja: torna-se difícil perceber o que vale verdadeiramente uma equipa e como é que ela é capaz de ultrapassar as dificuldades, se os adversários entram em campo dispostos a entregar-lhe o jogo, quanto mais depressa melhor.
Eis a razão maior das minhas dúvidas: se o factor sorte vier a ter um papel importante neste desfecho de campeonato, as hipóteses do Sporting parecem-me bem maiores do que as do Porto.”
15 comentários:
Curiosa esta visão do MST de que o SCP tem conseguido aproximar-se do FCP por sorte.
Curioso achar que o SCP ganhou ao Marítimo, com sorte - apesar de reconhecidamente, ter feito talvez uma das melhores exibições da época e de o resultado de 4-0 não se dever à sorte;
curioso achar que ganhou ao FCP com sorte, apesar de ele próprio reconhecer que o SCP foi superior;
curioso achar que ganhou ao Braga com sorte, apesar de reconhecer que fez uma primeira parte muito boa;
curioso achar que ganhou com sorte à Naval, num jogo em que o resultado - de novo 4-0 - afasta qualquer ideia de que só por mera fortuna o ganhou.
Tem razão numa coisa: o SCP precisa, neste momento, de sorte para ganhar o campeonato. Precisa que o FCP em 4 jogos ganhe apenas dois - o que, convenhamos, será muito difícil de acontecer - e precisa de ganahr todos os seus jogos até final - o que também não será tarefa fácil.
Concordo em absoluto com o MST...
jc: este artigo enfoca a sorte que o sporting tem tido e, que vai ter até ao final do campeonato, e que de alguma forma lhe poderá possibilitar vencer a liga. É também sobre isso este artigo!
jc: Mais uma achega, o "pé-frio" do jesualdo f. pela sua maneira de "orientar" a equipa do fcp, também poderá ser uma boa ajuda ao sporting!!
Força Paulo Bento!!
Froça SCP!
Esse B. Prata não é nada lampião:
"não conseguiu melhor do que
um empate na Luz com o FC Porto (alguém duvida de que com uma vitória nesse
jogo jamais o Benfica sairia da liderança?)" Isto é digno de um marreta/fanático que já não tem nada onde se agarrar, e já entrou no campo das fantasias (deve ser para não ficar mais doido).
Este posicionamento deve ser semelhante ao que o Cavu tem...
A Bola, na sua edição on line, noticia:
"Benfica
Simão OK para o «derby»
Boas notícias para Fernando Santos. Na contagem decrescente para o «derby» com o Sporting, Simão integrou o treino desta quinta-feira sem limitações, deixando indicações claras de que estará recuperado para o importante compromisso de domingo, no Estádio da Luz."
Contudo, no desenvolvimento da notícia, diz-se o seguinte:
"Com a tendinite no joelho esquerdo quase ultrapassada, o «capitão» dos encarnados cumpriu os habituais exercícios de aquecimento juntamente com o restante grupo, participando na sessão de trabalho sem quaisquer limitações, mas sempre sob vigilância médica.
Os próximos dois dias serão muito importantes para avaliar a reacção do jogador ao esforço dispendido no treino de conjunto."
Fico na dúvida: Simão está ou não apto para o derby?
Só ao fim dos próximos dois dias se saberá?
Ou está mesmo OK?
amigo jc:
como é habitual, nestas ocasiões, o tabú persistirá até à hora do jogo.
tenho para mim como boa a convicção de que está apto.
abraço.
Caro Amigo Vermelho:
Concordo contigo.
Penso que Simão vai recuperar a tempo de participar no derby.
Mesmo que não esteja a 100%, ainda assim acho que irá ser incluído na equipa, tal a sua importância (indiscutível) no onze benfiquista.
Acho que Simão irá jogar e ,finalmente, apanhar o 5º amarelo.
Condómino N´Kama,
O Bruno Prata é adepto do FCPorto !
Vi Simulão na 2ª feira, que me cumprimentou, não sei porquê, e penso que irá jogar, uma vez que se encontrava a ser tratado por fisoterapeuta de renome, às escondidas do Benfica. Pareceu-me totalmente recuperado. Aposto que vai jogar ! O carro do senhor é que não é coisa que se apresente. "Em duas palavras: impressionante".
Caro Zex:
Não deu um pontapé na canela do Simulão para o impedir de jogar contra o SCP?
Amigo JC, sei que gosta de estar informado.
" O assistente Tiago Trigo vai acompanhar Pedro Henriques no derby lisboeta. Para quem não sabe, Tiago Trigo, tal como Pedro Proença, também é sócio do Benfica e companheiro habitual de Proença nos jogos do clube da Luz.
Tiago Trigo chegou a internacional por influência directa do seu amigo e companheiro de “route”, Pedro Proença, que vai apitar o Guimarães e ver o seu Benfica por satélite... ou de camarote
amigo nunca:
dá credibilidade a esse blog?
abraço.
Estou a investigar a fonte amigo Vermelho. Não me custa nada a acreditar assim seja. Afinal o Benfica tem quase 200.000 sócios.
Quero no entanto referir-lhe que gosto do militar. Penso que quando erra não o faz por encomenda, ao contrário de Paulo Batista, Lucílio e outros do género.
Quero ainda dizer-lhe, amigo Vermelho, que não visitei nenhum blog. A informação chegou-me via mail, portanto nem sei qual a fonte. Quando digo que vou investigar a fonte, refiro-me ao emissor do mail que me chegou às mãos.
Mas Amigo Vermelho, sempre mais atento ao fenómeno desportivo, confirma ou desmente que o senhor referido como associado do benfica, costuma emparelhar com o senhor Proença?
amigo nunca:
desculpe o atraso na resposta.
o blog de que falo é o blog da bola, um blog especulativo e anónimo, cuja credibilidade é duvidosa.
quanto à questão que me colocas desconheço, mas vou investigar.
abraço.
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