E à segunda fez-se luz.
Depois, de um fim de semana marcado pela fraca qualidade do futebol praticado, eis que das trevas emergiu um excelente espectáculo, mormente na primeira parte.
Emoção, velocidade, qualidade e incerteza predicados maiores de um jogo singular no contexto do futebol português.
Quem não conhecesse as equipas em confronto, seria, muito provavelmente, tentado a pensar que se trataria de uma partida da Premier League, tal a velocidade, o ardor e a emoção postos na luta pelos dois oponentes.
Pena foi que o resultado não tivesse traduzido a superior qualidade do jogo.
O Benfica apresentou-se estruturado no já habitual 4x4x2 em losango.
Karagounis foi, com toda a naturalidade, o eleito para substituir Nuno Assis, com Rui Costa a ficar no banco pois, tal como revelou Fernando Santos, ainda não tem condições para jogar os 90 minutos.
A Académica, por seu turno, optou pelo previsível 5x4x1, ainda que a dinâmica dos seus “carrilleros”, Brum e Lino, alterasse bastas vezes esta configuração táctica, transformando-a num 3x6x1.
Brum foi, aliás, a principal novidade de Manuel Machado, não pela sua condição de titular, mas sim pelo lugar que ocupou.
Esperava-se que fosse Paulo Sérgio a alinhar como lateral direito, mas, no fim de contas, foi Brum que surgiu nesse posto. A sua superior mobilidade e velocidade terão sido factores decisivos na escolha de Manuel Machado, em atenção à marcação a Simão.
O triunfo do Benfica foi sofrido, muito sofrido, mérito da Briosa que realizou a sua melhor exibição da época.
O seu principal pecadinho foi, uma vez mais, a falta de eficácia na zona de finalização.
Infelizmente, quem tem Gyano e Alvarez como pontas de lança, dificilmente, a mais pode aspirar.
Mas, voltemos à história da partida.
Moralizado com a recente conquista do Torneio do Dubai, o Benfica entrou a todo o gás, obtendo o seu golo logo ao segundo minuto de jogo.
O golo madrugador do Benfica alterou, por completo, a disposição das equipas.
Na abordagem à partida, o modelo da Académica passaria por um jogo de paciência, entregando a iniciativa ao Benfica e procurando explorar, em rápidas transições, o contra-ataque.
Ao invés, o modelo do Benfica assentaria no assumir da condução do jogo, numa matriz de ataque continuado.
O golo de Ricardo Rocha tudo modificou (golo este irregular, pois que Rocha beneficiou de uma situação prévia de fora de jogo para lograr o tento).
Os modelos inverteram-se e a Académica viu-se empurrada pelo Benfica para assumir o jogo, optando os encarnados por se postar atrás da linha da bola, numa atitude de expectativa e de busca do aproveitamento do erro adversário.
A Académica não enjeitou o convite encarnado e partiu para o jogo sem temores, em busca da igualdade.
O Benfica assumiu a tal postura de expectativa e passou a basear o seu processo ofensivo em transições rápidas e contra-ataques.
E com isto ganhou inegavelmente o espectáculo.
Foi magnífica a reacção da Académica ao golo de Rocha.
Foi um constante carrossel de emoções, com oportunidades de golo cá, oportunidades de golo lá, num vaivém incessante.
Um verdadeiro hino ao futebol.
Aos 23 minutos, Machado acentuou, ainda mais, esta mudança de postura da Académica ao retirar Danilo fazendo-o substituir por Miguel Pedro, passando a equipa a actuar num 4x3x3 que potenciava a exploração dos flancos.
Este 4x3x3 apresentou-se muito dinâmico e com uma superior ocupação dos espaços.
Com efeito, o processo ofensivo da Briosa assentou na incorporação de Brum e Lino na linha intermediária, fazendo todo o corredor, deixando a defesa entregue, apenas, a Litos e Káká, “vigiados” de perto por Alexandre.
Assim, beneficiando da estruturação em losango do meio-campo benfiquista, o qual abre espaço a penetrações verticais dos laterais, a Académica logrou obter, sempre, vantagem numérica sobre as alas.
Essa vantagem, por sua vez, conduziu os médios interiores e o trinco benfiquistas a bascularem sobre o ala com bola, “criando”, deste modo, espaços livres sobre a zona central, nos quais entravam Filipe Teixeira e Dame.
A Académica explorava os espaços concedidos pelo Benfica nas alas, mormente na esquerda, fruto da sua estruturação táctica e potenciado pelo deficiente posicionamento de Karagounis, excessivamente central.
Simultaneamente, o Benfica procurava aproveitar essa mesma exploração que a Briosa fazia das alas, ao buscar os espaços deixados livres nas costas por Brum e Lino.
Este jogo de desequilíbrios conferiu uma configuração anárquica à partida.
Os sistemas foram mandados às malvas e os jogadores entregaram-se à paixão do jogo.
Momentos houve em que parecia estarmos perante um qualquer jogo de rua entre miúdos.
Contudo, não há bela sem senão.
A velocidade, a “alma”, a vontade que os jogadores emprestaram ao jogo retirou-lhes discernimento para finalizarem a preceito às jogadas que foram desenhando.
Muitos passes de ruptura, muitos últimos toques, muitos remates fatais foram falhados ao longo do encontro, precisamente, porque se jogou muito, mas mesmo muito com o coração.
Ainda que tenha adoptado uma postura de maior contenção, a velocidade a que se jogou demonstrou à saciedade que a participação no torneio do Dubai não acarretou prejuízos, mas sim benefícios físicos.
A superior condição física dos encarnados na parte final do jogo é sinónimo disso mesmo.
Aos 33 minutos, num livre cobrado por Dame, Quim começou por evitar o pior e, na sequência, Gyano, em posição muito privilegiada para fazer golo, atirou, incompreensivelmente, ao poste.
O Benfica conseguiu, todavia, ripostar com dois golos não sancionados.
Em ambos os casos, o último toque pertenceu a Katsouranis e, também por duas vezes, o árbitro assistente levantou a bandeirola sem hesitações.
No primeiro, o grego parece efectivamente adiantado, mas já no segundo não.
No momento do passe de Nuno Gomes, Katsouranis está atrás da linha da bola, portanto em jogo.
Golo mal invalidado compensando o primeiro que havia sido incorrectamente validado.
Até ao final do primeiro tempo assistiu-se a um jogo agradável, disputado a um ritmo elevado, com oportunidades repartidas.
Uma bola na barra da Briosa, num pontapé de Nuno Gomes e um corte de Léo em cima da linha de golo, após defesa de Quim a cabeceamento de Káká, impediram que o marcador se alterasse antes do intervalo.
Na segunda parte, os primeiros minutos, foram, ainda, uma continuação da primeira metade.
Todavia, Fernando Santos mexeu na equipa, fazendo entrar Manú para o lugar de Miccoli e o Benfica ganhou um equilíbrio que terminou com a anarquia reinante.
Um parêntesis, para dizer que este foi o momento indiano de Fernando Santos.
Demonstrou, uma vez mais, que para si as vacas são sagradas – substituir Miccoli e não Nuno Gomes, paupérrimo no primeiro tempo, só pode significar que este é intocável.
O 4x4x2 em losango foi substituído por um 4x3x3 que permitiu uma mais racional ocupação dos espaços, mormente cerceando a vantagem que a Briosa dispunha nos corredores.
Com a colocação de Simão e Manú nas alas, não mais Brum e Lino dispuseram dos espaços de outrora.
A vantagem da Académica sobre as alas desapareceu e o fulgor ofensivo da Briosa apagou-se.
Daí em diante, apenas, num canto a Académica logrou criar efectivo perigo para a baliza de Quim.
Mas, não foi esta alteração de Fernando Santos que matou o jogo.
As substituições de Manuel Machado também.
Ao tirar Paulo Sérgio substituindo-o por Nestor, fez a sua equipa perder agressividade no meio-campo e, assim, diminuir substancialmente as recuperações de bola, designadamente no meio-campo do Benfica, disso se ressentindo o processo ofensivo da Académica ao ponto de desaparecer.
Não mais a bola chegou em quantidade e qualidade aos avançados.
Nesta substituição, Machado promoveu, ainda, a deslocação de Dame para a linha intermediaria, afastando-o da zona em que exerce influência sobre o jogo.
Por outro lado, a troca de Dame por Sarmento nada trouxe de relevante ao jogo, antes pelo contrário.
Mais se diga que o decréscimo de intensidade do jogo foi perfeitamente natural, pois que difícil seria manter o ritmo frenético do primeiro tempo.
Até final, destaque para a entrada de Rui Costa, para os contra-ataques desperdiçados por Nelson fruto de um incompreensível egoísmo e para o golo de Leo, sentenciando uma partida, cuja diferença no resultado peca por excessiva.
A diferença mínima colorida por mais golos faria justiça a um belo espectáculo de futebol.
Na Briosa, Filipe Teixeira, numa exibição para a “transferência”, destacou-se dos demais, mas foi acompanhado de perto por Paulo Sérgio, um gigante no miolo, por Lino, um autêntico quebra cabeças na ala (pela primeira vez, muito equilibrado nas acções ofensivas e defensivas), e por Dame, sempre voluntarioso e codicioso.
No Benfica, Quim exibiu-se a grande altura, Rocha emergiu como o melhor da defesa e Simão como o dínamo do ataque.
Ao invés, Nuno Gomes realizou uma primeira parte para esquecer – lento, macio e desastrado, comprometeu sempre a transição ofensiva (o remate à barra não apagou o que de mau fez).
11 comentários:
amigo mínimo:
já está removido.
irei falar com o secretário de estado.
obrigado.
abraço.
amigo mínimo:
nesse lance que refere, não há qualquer penalty.
aliás, o painel do "jogo" aqui tantas vezes referido é unânime em considerar a inexistência de qualquer falta:
Jorge Coroado "A bola passou entre o tronco e o braço esquerdo de Simão. Poderá ter sido tocada ou ter tocado no referido braço. No entanto, fica a ideia de não haver motivo para grande penalidade. "
Soares Dias "Não parece haver motivo para grande penalidade. Simão não tem intenção de jogar a bola com o braço."
Rosa Santos "O lance é muito rápido, e a bola terá batido no braço, mas, como a mesma não mudou de trajectória, é difícil definir se haverá ou não grande penalidade. Dá-se, porém, o benefício da dúvida ao árbitro."
António Rola "Não. Há um cruzamento para a área do Benfica, e a bola passa entre o braço e a cintura de Simão, sem que este tenha cometido qualquer infracção."
abraço.
Foi o melhor jogo da época até ao momento!!!
"Na realidade" quer os jogadores do Benfica, quer os da Académica pareciam não estar na Liga Bwin, mas numa Premier League. Um vaivém constante de jogadores nas duas balizas, com bolas à trave e ao poste, com remates perigosos, defesas muito boas (penso que o Quim é neste momento o melhor a nível nacional e dá uma tranquilidade ao sector defensivo que há muito não se via!).
Tal como no jogo contra o Belenenses, o Benfica teve a sorte do seu lado, pois também ali o resultado podia ter sido bem diferente não fosse o Quim.
Quim e Katsouranis são, para mim, neste momento, a par do inigualável Simão, os melhores jogadores do Glorioso!!
Lá estarei às 19h15m do dia 21 para ver mais um jogo...os adeptos do Porto terão que se contentar com um treininho nas "Oliveiras"!!!
Amigo Vermelho, o que quer dizer com esta frase:
"Golo mal invalidado compensando o primeiro que havia sido incorrectamente validado."
Lei da compensação? Tem noção da barbaridade que acaba de proferir?
amigo nunca:
mas qual lei da compensação?!
não falei em qualquer lei da compensação!
disse, simplesmente, "Golo mal invalidado compensando o primeiro que havia sido incorrectamente validado."
abraço.
Eu devo estar com dificuldades de percepção. Você diz que um lance é mal invalidado compensando o outro que foi incorrectamente validado. Ora se isto não é a lei da compensação é o quê? Um erro da arbitragem não justifica outro. O Benfica marcou um golo irregular, e não há qualquer justificação para isso. Erro grave de arbitragem determinante para o desenrolar do jogo, nomeadamente na estratégia da Académica.
No Benfica destaco Quim e o cumpridor de serviço público, Anderson Silva, que jogaram muito bem. Chamo também a atenção para a portentosa exibição, fruto da confiança ganha no torneio que vale tanto como a entrada na Liga dos campeões, do jogador Manu. Para mim foi uma surpresa. Está de parabéns o administrador que tinha referenciado Manu no torneio do Dubai.
amigo nunca:
Não invoquei qualquer lei da compensação.
Invocar a lei da compensação seria dizer que o árbitro anulou o segundo golo porque tinha validado mal o primeiro.
Não foi isso que disse.
considerei, isso sim, que um erro compensou o outro.
o resultado era, precisamente, o mesmo quando se verificam os erros - 0-0.
afirmar a maior ou menor importância de qualquer um dos erros no jogo é pura especulação.
dizer, todavia, que se o primeiro erro é aceitável, pois que a jogada é rápida, com várias tabelas, existem diversos jogadores em movimento na área e o fora de jogo é prévio ao momento do remate de Rocha, já o segundo é difícil de aceitar.
trata-se de uma jogada em campo aberto, quase posicional (nuno gomes faz uma pausa antes de executar o passe para katsouranis) e acontece na linha do auxiliar que nem necessita de se movimentar para avaliar o lance.
Dizes que "O Benfica marcou um golo irregular, e não há qualquer justificação para isso."
poderia, também, dizer que o Benfica marcou um golo legal que o árbitro não sancionou e não há qualquer justificação para isso.
abraço.
amigo mínimo:
a considerar penalty nesse lance, teria que fazer idêntico juízo num lance de Brum no interior da área.
todavia, penso que nem um,nem outro lance o justificam.
em ambas as situações, trata-se de lances de bola na mão.
simão está encoberto por vários jogadores, nem sequer tendo contacto visual com a trajectória da bola.
o mesmo se verificou com Brum.
abraço.
Eu não vou insistir na questão. Acho que foi um bom jogo na 1ª parte, acho que a Académica merecia mais, acho que o Benfica foi favorecido em lance determinante( a Académica tinha 3 centrais e ao sofrer o golo aos dois minutos mudou o sistema, entrando um jovem que pouco ou nada fez). Referência também à ausência de faltas marcadas à entrada da entrada do Benfica ( recordo-me uma falta descarada`quase em cima da linha de área na 1ª parte). Enfim, como dizia Botelho Cavungi, o árbtitro não preocupa, obrigado.
Por fim, dar os parabéns às duas equipas pelo bom jogo, repito, na 1ª parte.
amigo mínimo:
mas encoberto.
em ambas as situações os jogadores não se apercebem do movimento da bola.
abraço.
Enviar um comentário