domingo, fevereiro 21, 2010

Uma Fabulosa Entrevista

Andar atrás de um matulão que mede 1,93 metros, calça 47 e gosta de fazer rir os portugueses não deixa de ser uma aventura enquanto a crise económica e política abala Portugal. Era essa a tarefa e todos os esforços foram feitos para espremer o humorista Ricardo Araújo Pereira de modo a fazer-se, finalmente, um perfil seu mais aproximado da realidade. A dificuldade em retirar o sumo – poucas vezes com sabor a limão – do humorista foi um desafio, nem que para isso se ficasse a saber que as suas filhas pretendiam chamar Brincos de Princesa a uma das cadelas, que não comenta qual a beldade da Playboy que mais apreciou na edição em que foi capa da revista e que faz questão de confessar a ausência de talento para a representação. A situação que ficou mais clara é que a etnia viva com que menos quer conviver é a classe dos jornalistas, mesmo tendo sido um deles, há 15 anos.


A primeira certeza sobre Ricardo Araújo Pereira (a partir de agora referido como R.A.P.) é que é um ser virtual. R.A.P. não existe, não está, não atende, não comenta, não revela, não aparece e é sempre não numa quantidade de situações. Por isso quando se quer marcar um encontro, R.A.P. anuncia que se teletransportou para outros universos e não revela a data de materialização: «Estou em Cabo Verde... Estou em Londres... Estou em Israel... Estou em Roma...» Ou seja, o que ele quer realmente dizer é: Não estou! E, quando está, garante que do que gosta mesmo é de se fechar em casa.


É esta a ideia que a maioria dos portugueses têm de R.A.P.? Não, ninguém acreditará quando diz que não tira prazer de festas, feiras e romarias. Também se desconfiará quando revela que é dominado pelas três mulheres lá de casa ou que desconfia do poder de influência dos Gato Fedorento. Ou seja, para descodificar R.A.P. é preciso uma grande paciência, pois a primeira nega ao escrutínio que lhe queria fazer já veio por msg há mais de dois anos. Depois de várias tentativas, houve uma brecha e iniciaram-se as negociações para a conversa. Entretanto, meteram-se a fazer o programa Gato Fedorento Esmiúça os Sufrágios e o tempo escasseou. Depois, foi a vez de cumprir um exílio sabático enquanto dava mais umas negas. Finalmente, a brecha alargou-se e houve datas marcadas. Acenou com responder por escrito a umas perguntas iniciais enviadas a meio de Dezembro e, por fim, aceitou sentar-se à mesa para almoçar devido à justificação de que era preciso a sua presença física para tirar as fotografias que ilustram a entrevista.


O prato prometido era para ser lagosta mas acabou por ser substituído por um dim-sum num restaurante chinês. A razão era estratégica, encafuar R.A.P. num espaço que não lhe permitisse a fuga. O Mandarim, no rés do chão do Casino Estoril, era o ideal pois tem umas salas reservadas onde se pode ter uma conversa à vontade e evitar que os fãs deste Gato interrompessem a audição. R.A.P. aceitou a troca da ementa mas, quando viu que tinha sido atraído a uma armadilha, suspirou como se fosse um membro de uma triade apanhado num beco e à mercê dos seus carrascos. A sala só tinha uma porta, no meio uma mesa de interrogatório e, se tentasse fugir pela janela, teria que partir cinematograficamente o vidro. A reacção foi rápida, falar ao telemóvel durante 27 minutos e olhar para o relógio repetidamente até informar que tinha de ir buscar as filhas ao colégio às 15h30.

O drama que expôs, de que as filhas quase ficariam numa rua esconsa à sua espera, deu a entender que só teríamos uma hora e 44 minutos para estar no confessionário. Em desespero de causa, usou um último estratagema, o de falar pausadamente e responder a cada pergunta como se fossem as suas últimas palavras. Foram precisas duas cervejas chinesas para o distrair, enquanto o subchefe Ferreira ia trazendo os pratos a conta-gotas, como lhe tinha sido pedido, e explicar-lhe que só iria poder salvar as miúdas de um destino trágico se dissesse algo interessante na confissão que se segue.


Uma coisa ficou esclarecida enquanto a tortura chinesa ia avançando. Que quando se apanha finalmente R.A.P. para uma entrevista, vem-nos à mente aquela frase mítica dos primeiros tempos dos Gato Fedorento: «Quando vejo que há aí palhaços, pá, que falam falam falam falam, pá, e eu não os vejo a fazer nada, com certeza que fico chateado.» R.A.P. fala fala mas diz muito com substância, mesmo que a música lounge chinesa que acompanhou o almoço o pudesse perturbar. Cada resposta é como as crónicas que escreve – com princípio, meio e fim, faz um ar de surpresa (apesar de dizer que não é actor) de quando em vez se não se revê na pergunta, sabe aproveitar as deixas e gosta de controlar a situação. Ou seja, «há por aí palhaços» mas não me incluam no grupo; se não me vêem a «fazer nada» é porque me toparam e, por fim, «fico chateado» se me obrigam a ser o que não pretendo.


R.A.P. é virtual sim, apouca as suas virtudes sempre que pode e aprecia introduzir ironia no que diz. É a resposta para estes tempos de crise, porque, sendo um humorista que fez questão de ficar no desemprego após o último programa na televisão, a sua perfeita imitação de José Sócrates sempre lhe pode garantir uns cobres ao substituir o primeiro-ministro em situações com menos graça. O único embaraço que se pode atravessar à sua frente é Pinto da Costa continuar a fazer aparições públicas onde faz questão de exibir um talento comparável ao dos Gato Fedorento (a partir de agora referidos como os Gato). Entre uns crepes e umas coisas gelatinosas e esbranquiçadas com camarões no interior, pergunta-se-lhe se isso poderá acontecer.

Pinto da Costa ameaçou-o com um processo e fez uma rábula onde imitava os Gato. Pegou num dicionário e leu o significado das palavras fedorento, fétido e pútrido?
Embora ele diga putrido, com acento no i. De facto, a pedido de Miguel Sousa Tavares, Pinto da Costa processou o Zé Diogo Quintela. Já não é a primeira vez que nos processa e, apesar de ter perdido sempre, continua a fazê-lo. É um direito que lhe assiste, mas temo que esteja a gastar dinheiro que seria mais proveitosamente aplicado na compra de um dicionário que acentuasse correctamente as palavras esdrúxulas.

Porquê a pedido de M.S.T.?
Porque M.S.T. pediu, numa crónica, que o FC Porto abandonasse a sua postura pouco litigante e processasse o Zé Diogo. E Pinto da Costa assim fez. Essa declaração pública foi curiosa, porque Pinto da Costa quis inteirar-se do que significava ser um gato fedorento. Foi pesquisar a palavra fedorento, e daí foi para fétido. Viu o significado de fétido e foi para pútrido. E disse que, quando viu que um dos significados de pútrido era corrupto, parou e não pesquisou mais. Quem acompanha o futebol português não deve admirar-se com o facto de Pinto da Costa necessitar de ajuda para saber o que quer dizer a palavra fedorento, mas não precisar de ir ao dicionário para saber o significado da palavra corrupto.

Sentiram-se lesados com a apropriação de um estilo naquele sketch?
Nunca me sinto lesado quando Pinto da Costa afirma que não gosta de mim. Faz-me lembrar aquela tira de banda desenhada da Mafalda, que detesta sopa, e por isso anseia que o Fidel Castro diga que a sopa é óptima para que as pessoas passem a dizer que a sopa é má. É isso que me acontece com Pinto da Costa: quanto mais disser que sou mau, mais o país dirá «se calhar estes gajos até têm graça».

Rapidamente a polémica Pinto da Costa sai de cena quando chega mais um prato chinês à mesa. Afinal, falar de futebol com R.A.P. só tem um sentido: Benfica. Antes de abandonar o tema, é-lhe perguntado se gosta de ouvir os comentários futebolísticos do dr. Rui Santos. R.A.P. não esperava por esta importante questão mas não se desmancha: «Sempre que vejo, divirto-me.» Ver televisão não é importante para ele, que segue o lema do actor Nicolau Breyner quando este diz: «Para fazer televisão é um preço, mas para a ver é mais caro.» Ambos os actores, refere, aplicam essa tese aos programas que fazem na televisão. Antes que o subchefe Ferreira interrompa o lote de perguntas sobre televisão com outra chinesice, tenta-se saber o porquê dos Gato circularem por vários canais.

A SIC não vos larga, mesmo cobrando cachets muito caros. Porquê?
Só pode ser pela mesma razão que a PT nos quer a fazer anúncios: por sermos muito lindos.

A RTP largou. Foi por cobrarem cachets muito caros?
Não. A RTP pagava o mesmo que a SIC. Simplesmente, na hora de escolher, a RTP não tinha director de programas, e a SIC tinha aquele com quem já tínhamos trabalhado na RTP.

A TVI ainda não vos caçou por cobrarem cachets muito caros?
Acho que a TVI nunca mostrou grande interesse em nós. O que só lhe fica bem, aliás.

Depois de uma entrada mais profissional para relaxar o entrevistado, avança-se para áreas de que menos gosta. A vida privada é uma delas, por isso apetitosa para os leitores mais curiosos mas que desagrada a R.A.P.. Garante que não gosta de dar entrevistas porque não é a sua actividade favorita e porque não tem muita coisa para dizer. Acrescenta logo: «Como, aliás, creio que se nota.» R.A.P. desmerece-se frequentemente. À primeira, passa, à segunda, o chá quente queima a língua e diminui a reacção, mas há sempre aquela vez em que não se escapa, como no caso da aversão a entrevistas: «Não faz sentido estar a responder a todos os pedidos.» Mas não é só essa a razão: «Não é muito importante que as minhas palavras apareçam vertidas nos jornais exactamente como foram proferidas, mas aborrece-me quando inventam.» E, face ao rol de queixas, o assunto fica por aqui mesmo ou para a ERC tratar.

Há muita pressão para dar entrevistas?
Não é bem pressão. As pessoas pedem e eu recuso.

Para manter um low profile?
Não, não é uma estratégia. É só uma maneira de ser.

Sabe-se onde a maior parte dos artistas moram, mas no seu caso não. Na Wikipédia ainda está que mora na Margem Sul; não se vêem fotos suas num evento público...
Eu não sou muito dado a festas, feiras e romarias.

E revela também o nome das suas cadelas.
Não sei quem é o inventor desse verbete, mas está cheio de erros. Mas também, se os jornais estão sempre a imprimir informações erradas, porque é que a Wikipédia seria diferente?

São cadelas ou cães?
Cadelas. Chamam-se Lola e Flor, a propósito. Aproveito para fornecer essa interessantíssima informação. O nome da Flor já foi posto pelas minhas filhas. Elas propuseram duas hipóteses de nome: Flor ou Brincos de Princesa. Eu achei que teria alguma dificuldade em estar na rua a chamar Brincos de Princesa a um cão e por isso, apesar de ser um nome um pouco átono, optei por chamar Flor ao bicho.

Há quem não goste de ser fotografado a passear os cães. Isso incomoda-o?
Incomoda-me sempre que vêm emboscar-se para me fotografar quando estou em privado. Ninguém tem nada que ver com o que eu faço quando não estou a trabalhar.

E o que é que faz quando não está a fazer os Gato?
Tenho duas crónicas semanais para escrever – na Visão e n'A Bola –, o programa Governo Sombra, na TSF, e leio. Inscrevi-me num mestrado em Teoria da Literatura, na Faculdade de Letras. Repare que digo «inscrevi-me» e não «frequento», porque entretanto começou o programa e, com muita pena, deixei de conseguir lá ir. Antes, já me tinha inscrito no curso de Estudos Portugueses, na Universidade Nova, e fiz duas cadeiras. Fiz Introdução aos Estudos Literários, com o prof. Gustavo Rubim, e Literatura Portuguesa I, com o professor Fernando Cabral Martins. Tive 19 nas duas, o que significa que tenho média de 19 no curso. O facto de me faltarem umas 83 cadeiras para o acabar é, evidentemente, lateral.

Estudou em vários colégios de padres. Por castigo ou para lhe darem uma educação decente?
A razão deve ter sido a última, mas foi um plano que fracassou clamorosamente mesmo sendo os educadores freiras vicentinas e padres franciscanos e jesuítas. Eu não gosto nada de padrecas, pá. Mas gosto bastante de padres. E tive a sorte de, nesses colégios, ter encontrado sempre mais padres do que padrecas. Eu nem sou baptizado, mas nenhuma dessas pessoas alguma vez disse «o rapaz tem de ser baptizado». Nunca pretenderam converter-me. Claro que há uma perspectiva mais cínica sobre isso: a razão pela qual nunca tentaram converter-me não tem que ver com tolerância, mas com o facto de terem constatado que eu não tinha salvação possível.

Muda de vida quando se torna argumentista das Produções Fícticias. É amor ou humor à primeira vista?
Foi uma sucessão de acasos e de sorte, como quase tudo o que acontece na minha vida. A meio da faculdade fiz um curso de escrita criativa com o Rui Zink, que é amigo do Nuno Artur Silva, dono das Produções Fictícias (PF). Por sugestão do Rui, comecei a escrever, nas PF, textos para o Herman. Hoje, as Produções Fictícias são os nossos agentes e fazem a gestão do orçamento dos nossos programas, que são produzidos e escritos por nós. Mas na altura quis escrever textos humorísticos porque a capacidade de provocar o riso me interessava imenso. É quase absurdo que um ser humano se ria. O único animal que sabe que vai morrer é também o único que ri. Acho, aliás, que é disso que rimos: do facto de estarmos condenados à morte. Cada gargalhada que damos é uma manifestação de superioridade nossa em relação à morte. Provocar o riso é uma tarefa muito nobre. Ah, é verdade, e os textos humorísticos são mais bem pagos que os outros. Caso contrário, mandava a nobreza às malvas.

Se há que destacar um bom resultado nesta investida à vida mais privada de R.A.P., a resposta do nome não posto à cadela – Brincos de Princesa – é a grande revelação. Mas, para quem não desiste, lá se ouvirão mais meia dúzia delas. Nem mais uma, seis apenas: está casado há 12 anos; as filhas têm 4 e 6 anos e é do signo Touro. Esta não vale muito porque era fácil de saber, mas tem dois picantes: «Não acredito em signos, e seria mau se fosse uma influência, porque Salazar nasceu no mesmo dia e Hitler anda por perto.» As três importantes revelações em falta são: o pai era piloto e a mãe hospedeira – «Na altura era muito bom ser da TAP porque as estadas no estrangeiro duravam uma semana no Rio de Janeiro ou em Nova Iorque» – mas já estão reformados. E a última: «Sou ateu.» Há, no entanto, uma novidade a dar e que não é conhecida de todos os portugueses, que em privado existem poucas diferenças entre R.A.P. e Paul Newman. Já lá chegamos, depois de se saber porque é que usou tantas vezes como desculpa estar em viagem para adiar esta entrevista. A pergunta não é directa, para evitar ferir susceptibilidades…

Gosta de viajar. Portugal é um destino ou opta pelo estrangeiro, onde pode estar mais à vontade?
Gosto de estar à vontade, mas não fico embaraçado com o público que me aborda na rua a pedir autógrafos ou para tirar fotografias. É uma situação que não me causa qualquer espécie de engulho.

Por isso prefere o estrangeiro?
Não, eu gosto de viajar, mas o que gosto mesmo é de estar em casa.

Tem feito imensas viagens. Ninguém viaja tanto se não for por prazer
Sim. Gosto.

Quem prepara as viagens?
Eu não faço nada a esse respeito. O Paul Newman dizia uma coisa engraçada: «Em minha casa, eu decido sobre as grandes questões e a minha mulher sobre as pequenas. Ela decide se vivemos na costa leste ou oeste, que tipo de casa temos, em que colégio é que os filhos andam. E eu sou responsável pelas grandes questões: como é que se resolve o conflito israelo-árabe, qual deve ser a nossa posição sobre energia nuclear…» Comigo, é a mesma coisa. Não mando nada nem tenho responsabilidades práticas.

São as suas mulheres que decidem os destinos?
Escolhem tudo. Eu só mando no destino da viagem quando vou ver o Benfica ao estrangeiro. Pensando bem, quem decide isso é a UEFA. Confirma-se, eu nunca decido nada.

Tem medo de viajar de avião?
Tenho. No princípio dos Versículos Satânicos (de Salman Rushdie) o avião dos protagonistas explode e eles vêm em queda livre a rir à gargalhada. Pelo vistos é muito giro, mas mesmo assim não gostaria de experimentar.

Receia ataques terroristas?
Quando estou em Portugal não, porque os terroristas têm a inteligência de nos ignorar. No avião, também não. O meu terror é mesmo que aquilo caia.

Não há dúvida de que é um verdadeiro actor. R.A.P. adiou esta conversa justificando que estava em Cabo Verde, duas vezes em Londres, Egipto, Israel e Roma e evita falar de qualquer um destes destinos. A única abébia que dá aos leitores é ceder uma foto de uma destas terriolas, para fazer inveja. Castiguemo-lo, então, com questões sobre a profissão, para não o deixar provar os bolinhos de sésamo.

Já representou numa peça.
Não se pode chamar àquilo representar. O Pedro Mexia pensou em pegar nos textos do John Austin do livro Como Fazer Coisas com Palavras e fazer uma peça de teatro. Então, pensámos os dois nisso e achámos que era capaz de dar um espectáculo muito interessante, o que não veio a verificar-se. Foi divertido enquanto o preparámos, mas as actuações foram penosas.

Prefere fazer televisão ou teatro?
Não tenho especial interesse em representar em qualquer desses meios.

Nem pensa em fazer como a Rita Pereira e ir estudar para Nova Iorque ou ter sucesso nos EUA como a Daniela Ruah?
Não. Elas são actrizes e fico mesmo contente que a carreira da Daniela Ruah, por exemplo, esteja a correr bem. Foi muito corajosa, a decisão dela. Mas o meu interesse não é representar, não sou um actor. Recebo muitos convites para entrar em filmes, séries e peças, mas respondo sempre com a verdade: não sou actor. Às vezes dizem: «Mas é um trabalho tão giro!» E é, mas para actores. É a mesma coisa que dizerem que querem dar-me a oportunidade de arranjar a canalização do Taj Mahal. Para um canalizador deve ser óptimo, mas eu não percebo nada de canalização.

Vai continuar a recusar convites?
Sim. Não sou actor.

Mas nos Gato tem de compor personagens e representar!
Ali ninguém é actor, faz-se o melhor que se pode. Do ponto de vista da representação não temos nenhum talento criativo. Se houver alguma coisa é talento imitativo. Quando tenho de imitar uma personalidade pública, esforço-me para ver o que é que ela faz para sair igual, quando é uma personagem qualquer, escolho um tio ao calhas e imito-o.

Mas são imitações perfeitas. Treina muito?
Faço aquilo o maior número de vezes que consigo. Se for o Marcelo, passo a semana toda a falar como ele e a aborrecer toda a gente à minha volta. É uma questão de treino, de repetição. Não é talento.

Mesmo que não queiram, os Gato sucedem a uma linha de humoristas como Vasco Santana, António Silva, Raul Solnado e Herman José.
Gosto muito dos filmes deles, mas não me sinto herdeiro do Vasco Santana ou do António Silva. Nem continuador da sua tradição. Eles são de outro campeonato.

Não é o que os portugueses pensam.
É óbvio que todos vêem que há uma diferença clara entre mim e a Maria Rueff, por exemplo. Ela será a herdeira deles, eu não. Não sinto que esteja a continuar o que fizeram porque não estamos no mesmo ofício. Estarei mais perto de quem escrevia os seus guiões do que deles.

Quando foi a eleição dos grandes portugueses, ficou em 74.º lugar e António Lobo Antunes em 82.º?
A minha coroa de glória é Jorge Sampaio ter ficado atrás de mim.

Mas Eusébio ficou muito à frente.
Se dependesse de mim, o Eusébio teria ficado em primeiro. Mas essa lista era uma palhaçada. Havia dois lugares que eram claramente absurdos: o meu e o de um gajo chamado Oliveira qualquer coisa. Salazar, parece que era.

Temos sempre a ideia de que está ligado ao PCP e que foi membro da JCP...
Na verdade, é mais uma invenção. Nunca militei na JCP. Fiz-me militante do PCP aos 24 anos, após ter acabado a faculdade. Fui um militante muito pouco empenhado – mais uma característica adorável da minha personalidade –, e a minha militância resumiu-se a pagar as quotas durante algum tempo. O Mário Castrim tem um poema em que diz: «Realizo-me quando pago as quotas do partido.» Nunca me aconteceu, devo confessar. Mas paguei-as e, além disso, cheguei a servir sandes de panado e imperiais numa Festa do Avante! – que foi, creio, o ponto mais alto da minha militância. Fiquei colocado no café concerto, um sítio muito giro onde assisti a um espectáculo fabuloso do Manuel Freire. Ele cantou aquelas canções todas – as dele, as do Zeca Afonso, as do padre Fanhais, as do Adriano… Há pessoas que se comovem com histórias de amor, ou perante fotografias de gatinhos. Eu choro quando oiço o Portugal Ressuscitado. A sério. Aquela parte do «Agora, o povo unido nunca mais será vencido» dá sempre cabo de mim. Eu ainda sou do tempo em que o povo existia, sabe? Entretanto, foi extinto. Agora já o expulsaram da Constituição e tudo. Substituíram o povo pela expressão «pessoas». «As pessoas, unidas, jamais serão vencidas» não tem o mesmo encanto. E o Manuel Freire ainda fez aquilo a que poderíamos chamar um stand-up revolucionário. A meio da actuação disse: «O que eu gosto mais na Festa do Avante! é ver estes camaradas que daqui a dois anos vão ser secretários de Estado do PS. Assim, podemos despedir-nos deles já aqui.» Foi muito engraçado. Mas só eu é que achei graça.

Por isso, abandonou a vida partidária?
Já não sou militante do PCP e, na altura em que saí, comecei a escrever uma carta para me desfiliar, mas a carta foi ficando progressivamente mais pequena porque cada vez que voltava a escrevê-la tinha menos coisas para lhes dizer. Eles também devem ter cá um interesse em ouvir-me… Até que não escrevi carta nenhuma.

Não é filiado em algum partido?
Não. Não tenho nenhum interesse na política partidária. Inscrevi-me no PCP dez anos após a queda do Muro de Berlim. O partido vinha de uma derrota autárquica muito forte, e eu achei que era importante inscrever-me porque pensava – e penso ainda – que o Partido Comunista desempenha um papel importante na sociedade. Sou eu e o Melo Antunes. Acreditei mesmo que, naquela altura, o partido já tinha repudiado o regime soviético e o dos países do Leste. Houve dois ou três sinais de que essa crítica tinha sido feita. Mas, de repente, o líder da bancada parlamentar, que é um rapaz da minha idade, disse que não sabia bem se a Coreia do Norte era ou não uma democracia. E o Carlos Brito, o Luís Sá, o João Amaral e outros foram sendo empurrados para fora. E um senhor chamado Manoel de Lencastre escreveu no Avante! um artigo a dizer que o Estaline era um doce de ser humano. E… Portanto eu achei que, se calhar, ia andando. Sou um marxista não-leninista e o PCP nunca deixou de ser um partido marxista-leninista, o que dificulta a minha integração. Se eu pudesse, seria militante do PCP do Mário de Carvalho, do Luís Sá, do João Amaral. O problema é que esse PCP não existe. É uma pena.

Hoje revê-se em algum partido?
Não exactamente, mas isso não me causa transtornos de maior. Isso de uma pessoa ter de se rever inteiramente num partido para votar nele é uma mariquice. Voto em quem tenho de votar e acabou-se. Nunca votei à direita do PC. Ou voto no Bloco ou no PC. E nunca fiz segredo disso. Volta e meia dizem-me que é muito grave eu não ser imparcial. Eu quero que a imparcialidade se foda, sabe? A última foi uma jornalista que concorre a eleições – integrada num partido, obviamente. Acha que eu devia ser imparcial. Uma jornalista, note. Com actividade partidária activa. Nada contra, mas não me venha chatear. Eu não gosto de humoristas imparciais – aliás, tenho até dificuldade de me lembrar de algum. Prefiro pessoas que tenham… como é que se chama aquilo? Opiniões, é isso. O humor parte de um ponto de vista sobre a realidade, e cada humorista tem o seu. Não tem o seu e o dos outros. Quando vou ler o Woody Allen, o que me interessa é saber o que ele pensa sobre as coisas. Não quero que diga que é ateu e depois escreva que é muito religioso porque a ERC o obriga a dar uma no cravo e outra na ferradura.

O Bloco de Esquerda também não é uma opção fácil actualmente! Até Sócrates desmascarou Louçã...
Porque ele diz que os PPR não são vantajosos e tem um, não é? O mais surpreendente nisso é um deputado subscrever um Plano Poupança Reforma. As reformas deles são tão boas…

A nível ideológico, acha que estamos um pouco perdidos em Portugal?
Os partidos que ganham eleições não têm ideologia nenhuma. É por isso, aliás, que ganham as eleições. Os chamados catch-all party captam uma fatia de eleitorado muito larga justamente porque não se comprometem com coisa nenhuma. Curiosamente, nas europeias, o PS fez o contrário: em vez de não defender ideologia nenhuma, defendeu todas – menos a socialista, claro, que tradicionalmente é pouco popular entre os socialistas.

R.A.P. publicou, no fim de 2009, o seu segundo best seller: Novas Crónicas da Boca do Inferno. O índice onomástico revela os protagonistas preferenciais dos textos: José Sócrates e Manuela Ferreira Leite. A razão é simples, um exerce o poder e o outro é «a presidente do outro partido de poder. Em Portugal só há esses dois». Há um texto, A Importância de Ser Alegre, que nos liga às próximas eleições.

O que acha do candidato Manuel Alegre?
Acho que é um candidato que, sendo um socialista, como é óbvio, pode recolher o apoio dos partidos de esquerda. Se conseguir também o apoio do PS, pode ganhar as eleições. O Alexandre O’Neill tinha uma designação divertida para um certo tipo de poeta: o «baladeiro audaz». Confesso que Alegre me parece encaixar no perfil de baladeiro audaz. Mas creio que não terei outro remédio senão votar nele.

Não vai votar em Cavaco Silva porque não aceitou participar no Esmiúça os Sufrágios?
O Alegre também não aceitou...

Quando chega a sobremesa de maçã fá-si e bolinhos de leite, R.A.P. já está à beira de uma apoplexia porque, adverte, a estas horas as filhas já foram postas na rua. É possível acreditar num pai, mas num humorista dificilmente... Mesmo assim, abre-se-lhe a porta do reservado e deixa-se vestir o sobretudo da moda. Coloca os óculos escuros e parte a falar ao telemóvel. Uma funcionária diz para outra: «É muito mais alto do que parece na televisão.» Retém-se uma resposta sua: «Aquilo era televisão, não há nada de espontâneos. Foi surpreendente que aceitassem o convite para o Esmiúça, porque não era evidente que aquelas pessoas lá fossem e quisessem ser vistos na minha companhia.»

Retrato de um Gato
«Já era um arrogantezeco armado em bom antes de ser conhecido»

Ainda se lembra de quando não era um humorista famoso?
Sim. Não foi assim há tanto tempo. Mas posso garantir que a fama não me mudou. Eu já era um arrogantezeco armado em bom antes de ser conhecido.

Tem saudades desses tempos de ignorado?
Nem por isso. Saio pouco à rua, e em casa toda a gente me ignora. Não mudou assim tanto para provocar saudades.

Diz que inventam muito sobre a sua vida privada. Pensa nisso enquanto joga golfe?
Isso. Ponha-se com brincadeiras. A partir de agora, para todos os efeitos, passo a ser jogador de golfe. A imprensa censura a pouca sofisticação dos meus gostos, e por isso entretém-se a inventar outros, mais requintados. Só posso agradecer.

No outro dia, uma amiga viu-o no transiberiano.
Também nunca estive no transiberiano. Mas esse não é o único tipo de invenção. Há outros, também giros. Um que tem estado muito na moda tem que ver com os anúncios da PT. Já vi escrito nos jornais que os anúncios são escritos por nós. Pelos vistos, quem faz o anúncio é quem o escreve. Especialistas em publicidade parecem ignorar a existência de uma entidade chamada «agência de publicidade». Mas só funciona connosco. A Bárbara Guimarães não é responsável pelos diálogos daquele jantar sobre contas bancárias. Enfim, o que interessa é andarem entretidos. Tudo o que os afaste da droga…

E um amigo descobriu-o disfarçado a um canto do estádio do Sporting a ver o jogo com o FCP. Gosta de passar despercebido?
Essa, toda a gente vê que é mentira. O estádio de Alvalade tem estado tão vazio que ninguém consegue passar despercebido.

Depois de se ter visto naquele vídeo da RTP quando era novo cortou o cabelo quase à escovinha. Essa história é verdadeira ou foi uma invenção?
Foi invenção. Já rapo o cabelo há muito tempo. Três semanas sem cortar e fico com o penteado que o Pietra tinha nos anos oitenta.

Anda quase sempre de fato porque os Hugo Boss assentam-lhe bem?
A mim tudo me assenta bem. Quando se tem este porte físico tão elegante e proporcionado, até um fato de treino parece um smoking.

Qual foi a modelo ? não vale a pena dizer que nem a leu ? com quem mais gostou de contracenar na revista Playboy?
Eu não contracenei com nenhuma, meu amigo. Fui colocado na capa da Playboy à revelia. Um dia, quando me fui deitar, era um cidadão normal, no dia seguinte, quando acordei, era a Miss Dezembro. Sou uma espécie de Gregor Samsa da pouca-vergonha.

Alguma lhe telefonou a dizer que o queria ver como ela?
Quando a Playboy saiu, fui abordado por senhoras que confessavam alguma frustração por eu não estar nu na revista. Garanti-lhes que, se eu estivesse nu, a sua frustração seria bem maior. Há um passo do Manifesto Anti-Dantas em que o Almada diz que o Dantas, nu, é horroroso. Eu coro sempre que leio essa parte.

As meninas que contracenam com os Gato são normais. Não conseguem miúdas de espantar porquê?
Tem de me mostrar o seu caixote do lixo. As nossas actrizes são sempre muito bonitas. Pois se as mulheres só entram nos nossos sketches para serem objectificadas!...

As suas cadelas devem ser as únicas que gostam de um Gato e, ainda por cima, Fedorento?
Os meus cães nutrem por mim uma admiração extraordinária. Não é por acaso que lhes chamam animais irracionais, sabe?

O Gato literato
«Nenhum farmacêutico é Tolstoi, com excepção do que escreveu a posologia do Ben-U-Ron»

É coordenador de uma colecção de livros. É verdade que gosta mesmo de um triste como Charles Dickens?
É. Uma vez, durante o período em que os Pickwick Papers estavam a ser publicados em fascículos, um padre foi consolar um moribundo e falou-lhe longamente do que o esperava na vida eterna. No fim, o moribundo suspirou e disse: «Bom, o que interessa é que amanhã já sai mais um número dos Pickwick Papers.» Um homem cujos textos são aguardados com mais expectativa do que o paraíso merece a nossa admiração.

Os livros não tinham lombada por originalidade ou porque faltou dinheiro para os encadernar completamente?
A ausência de lombada é, em si, um manifesto, um modo de transmitir a ideia de que a comédia é o género que capta mais profundamente o ser humano, que o apresenta despojado de máscaras, de adereços, de maquilhagens. Estou a gozar, claro. Os livros não têm lombada porque fica bonitinho.

Já apresentou um livro de António Lobo Antunes. Teve paciência para o ler?
Não preciso de paciência para ler o Lobo Antunes. É sempre um prazer. Mas, na apresentação, a professora Maria Alzira Seixo estava mesmo à minha frente, na plateia, claramente a olhar para mim e a pensar: «Quem será este gajo?» Por isso, para mim, aquilo acabou por não ser bem uma apresentação de um livro. Foi uma oral sobre a obra do Lobo Antunes.

Já publicou dois livros de crónicas e vendeu mais do que qualquer jovem esperança da nossa literatura. Tem explicação para esse facto?
Sim. Quando as jovens esperanças da nossa literatura aparecerem na televisão a fazer momices passamos a vender o mesmo.

Escreveu que em grande queria ser escritor e futebolista.
Escritor e futebolista do Benfica. Não tinha interesse em ser futebolista. Descobri isso quando a minha avó morreu e fomos a sua casa arrumar as coisas. Encontrei esse livro guardado, daqueles da escola onde se pergunta o que queres ser quando fores grande e eu escrevi isso. Um facto que revela o discernimento de uma criança porque, como sabe, são duas profissões que normalmente vão a par. Os futebolistas são donos de um domínio da língua muito assinalável. No entanto, falhei nos dois desejos.

Mesmo escrevendo crónicas que o próprio Saramago disse que o obrigavam a começar a ler a Visão pelo fim?
Isso é muito simpático da parte dele, mas não faz de mim um escritor. Todos lêem a bula dos medicamentos mas nenhum farmacêutico é o Tolstoi. Com excepção, talvez, do que escreveu a posologia do Ben-U-Ron. Magistral, aquilo.

Tem vontade de escrever algo com mais fôlego do que a crónica?
Não sinto necessidade nem tenho intenção.

O Gato no futebol
«Meninas, se não forem do Benfica, caem-vos os dentes e o cabelo»

Vale e Azevedo faz-lhe falta para as rábulas?
Não, não. Vale e Azevedo não me faz falta para nada. Há um livro que reúne as crónicas de uma personagem que o Miguel Góis e eu escrevíamos para A Bola e aquilo é quase tudo a fazer pouco do Vale e Azevedo. Deu-nos muito material, mas não lhe agradeço. O que acontece no Benfica é que, quando há um presidente que tem, digamos, uma má relação com a honestidade, boa parte dos benfiquistas critica-o. Quem dera a todos poderem dizer o mesmo, não é? Estive três horas numa fila para votar no Vilarinho, para ver se as rábulas acabavam. Quero lá saber das rábulas.

Escolheu o Benfica porquê?
Essa é que é a grande pergunta. Não posso reclamar os louros dessa decisão porque, apesar de gostar muito de a poder reivindicar – muito embora ela demonstre um discernimento superior às minhas capacidades –, foi o meu primo António que me deu a catequese. Eu era muito pequeno e ele ia buscar-me a casa para me levar ao estádio porque os meus pais não ligavam a futebol. Nos últimos tempos, ele moderou um pouco (coisa que não lhe perdoo, aliás), mas naquela altura o meu primo tinha uma postura admirável, porque via o jogo a fumar um cigarro atrás de outro, a tremer, e torturado por tiques muito estranhos desde o princípio ao fim – coçava a nuca no colarinho, fazia sons com a boca... E eu lembro-me de estar a ver os jogos, observar aquele farrapo humano que era o meu primo durante noventa minutos e pensar: é isto que eu quero ser quando for grande.

Leva as suas filhas ao futebol?
Sim.

Gostam?
Claro. Como são pequeninas, é evidente que não exerço sobre elas uma pressão inadequada e adapto o discurso proselitista. Não me passa pela cabeça oprimi-las com a ideia de que têm de ser benfiquistas. O que lhes digo é: «Meninas, se não forem do Benfica, caem-vos os dentes todos e o cabelo também. E podem mesmo falecer.» Sem pressões.

Vê-se que confiam no pai?
Sim. Porque faço tudo com a maior consideração pela liberdade de escolha delas. Eu só as fiz sócias desde que nasceram e comprei-lhes as camisolas do Benfica para elas vestirem. Mas o número que se estampa nas costas é escolhido por elas. Acima de tudo, a democracia.

E a sua mulher é do Benfica?
Quando nos conhecemos tinha uma simpatia pelo Belenenses. Hoje, o meu sofrimento e o das filhas fazem que deseje ardentemente que o Benfica ganhe sempre.

Esmiuçar os Gato
«Daquela vez não falaram do Mário Crespo»

Os nomes que inventam para os vossos programas são um pouco estúpidos mas pegam. Os portugueses são assim tão fáceis de enganar?
Fico um pouco magoado com a observação de que os nomes são um pouco estúpidos. Tentamos que sejam muito estúpidos. O momento em que comunicamos ao director de programas o nome que escolhemos é sempre divertido. Desta vez, havia duas ou três pessoas da estrutura da SIC (do marketing, ou assim) que diziam que esmiúça era uma escolha trágica porque ninguém sabia o que era esmiuçar. Pumba, hoje esmiúça-se por tudo e por nada. O segredo é nunca supor que o público sabe menos do que nós.

Entrevistar muitos políticos foi fácil?
Foi. Na altura, os jornais disseram que as perguntas eram combinadas com os convidados, o que não faz sentido. Para quê? Seria tempo perdido. Toda a gente sabe que uma pessoa pode perguntar o que quiser a um político, que ele arranja sempre maneira de responder o que lhe apetece.

Qual o que deu mais trabalho?
O professor Marcelo. Senti que devia ter bebido trinta cafés antes do programa para poder rivalizar com a energia do professor.

Quando foi a vez de Mário Soares não lhe conseguiu cortar o pio. Respeitinho?
Nunca cortei a palavra a ninguém. Se eu apressasse as entrevistas, o programa ficaria com menos tempo e nós teríamos de escrever mais texto.

Acha que deixou a Joana Amaral Dias nervosa?
Se há facto da vida de que tenho conhecimento há muito é que um rapaz como eu não deixa nervosa uma rapariga como Joana Amaral Dias.

Foi fácil entrevistar Sócrates no Esmiúça?
A dificuldade principal foi convencê-lo a ir lá. O programa exigiu um esforço criativo maior do que é costume, por ser um programa diário, escrito por quatro gajos entre as 9h00 da manhã e a hora de o apresentar, e que tratava dos assuntos de que se tinha falado no próprio dia. Mas também exigiu um esforço, digamos, diplomático.

Para não espantar a caça?
Isso também. Se tivéssemos sido muito acintosos com o primeiro convidado já não teríamos ninguém a seguir. Mas o esforço diplomático principal foi conseguir convencer o primeiro-ministro e a líder da oposição a irem ao programa, o que ocupou muito tempo em reuniões com assessores para lhes explicar o que não ia acontecer. Foi um processo muito demorado, até porque houve um duelo táctico exasperante entre o primeiro-ministro e a líder da oposição: um só iria se o outro fosse. Esse jogo era muito perigoso para nós porque podia prolongar-se eternamente. Só na véspera da estreia do programa é que o PM confirmou que estaria presente no dia seguinte. E, mesmo assim, não deixava de ser uma promessa do primeiro-ministro, não é? Continuei a não dormir descansado nessa noite.

Como é que o convenceram?
Estávamos os quatro a almoçar com o Nuno Santos e a discutir o que seria o programa, e nisto entram no restaurante José Sócrates, Pedro Silva Pereira e o ministro da Justiça. Era uma boa oportunidade para o abordar e o Nuno Santos tomou a iniciativa de falar com o primeiro-ministro, logo ali. Excepcionalmente, daquela vez não falaram do Mário Crespo.

Sem comentários: