Esta foi uma semana curiosa em que gente do futebol que há muito andava desaparecida dos altos galarins reapareceu para dizer o que lhe vai na alma.
Luís Duque, por exemplo, que foi um dirigente marcante do Sporting e que saiu incompatibilizado já ninguém se lembra muito bem com quem nem porquê, foi convidado a opinar sobre o momento do seu clube e não esteve com meias palavras: “O Sporting perdeu a alma”, disse sobre a situação de um modo geral e disse ainda, de uma feição mais particular, que “Costinha devia dispensar os tiques à FC Porto”.
Também António Boronha, que foi durante alguns anos vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol e que sempre primou por um estilo desassombrado, justiça lhe seja feita, concedeu uma extensa entrevista ao jornal “A Bola” e afirmou que para mudar o futebol português têm de mudar de pessoas: “Há quem diga que no futebol não se deve funalizar as questões. Mas se não funalizarmos não se vai a lado nenhum porque o sistema reside em pessoas”, disse Boronha.
Se olharmos para as declarações de Luís Duque e de António Boronha com ligeireza podemos considerá-las iguais a tantas outras de tantos outros fulanos que por aqui andam há décadas. Mas são bem diferentes.
O problema de Duque e de Boronha é o excesso de bom senso que detém e que, perante o quadro geral de insolvência mental, os coloca no campo dos marginais da bola, dos “freaks”, enfim, no campo do sempre temível anarquismo que ameaça as sagradas instituições.
O nosso futebol compraz-se com outros fulanos e com outros discursos, tomados por “normais”. Assim sendo, o ex-dirigente do Sporting e o ex-dirigente da FPF são apenas a excepção que faz a regra.
A regra para o Sporting é a submissão total aos devaneios do FC Porto, expressa em jogadores fornecidos e em apoio tácito e silencioso em todas as situações que melindrem os ex-campeões nacionais. Ainda recentemente foi possível ver num debate televisivo o comportamento devotamente solidário do representante do Sporting quando o representante do FC Porto, ofendido com a divulgação das novas escutas do Apito Dourado, abandonou o estúdio em sinal de protesto.
A regra para o futebol português é a perenidade de um corpo de dirigentes que já deveria ter sido substituído e, em alguns casos, irradiado por ponderosas e legítimas razões.
Não querer ver isto é não querer ver nada. É preciso saber ver até os mais ínfimos pormenores. Por exemplo, alguém duvida de que um árbitro com a competência de um Carlos Calheiros não conseguiria ver, mesmo do Brasil, aquela grande penalidade que André Villas Boas exigiu tão estridentemente em Guimarães?
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