VILLAS BOAS, que insondáveis propósitos transformaram em treinador maravilhoso, procura imitar o antigo chefe.
Se não na riqueza do trabalho, por total impossibilidade de avaliação em três-quatro jogos, único registo conhecido no seu currículo, pelo menos no folclore do discurso. Diz ele, sem ponta de despudor, que sofrer quatro golos à chuva, diante de um adversário em gestão de energias, que ora enfrentava a molha para mais um golito, ora se recolhia e arranjava coragem para outro, em consequência de tão desagradável noite, diz, recordo, que já viu equipas serem goleadas na Luz, mas a Académica, não. Pelo contrário, tratou-se, em seu entender, de uma derrota pedagógica, para através dela medir a qualidade da sua equipa.
Enfim, divagações de circunstância, não mais do que isso, de quem, sem nada ter provado ainda em matéria de treino e de resultados, um dia destes deparou-se-nos vestido de fada, com uma varinha mágica para acorrer a problemas ao domicílio. Sofrer quatro golos, ou perder por quatro, é vulgar num jogo de futebol? Pois é, basta olhar para os principais campeonatos europeus... Quatro golos marcaram o Dortmund, na Alemanha, o Santander, o Maiorca e o Real Madrid, em Espanha, e o Manchester United, em Inglaterra, e destes nem todos podem gabar-se de nenhum ter sofrido.
Mas Villas Boas é capaz de estar correcto, estivesse o piso em melhores condições e outro galo cantaria.
Foi ousado ao atacar o facto: não é só o relvado de Alvalade que está mau, o do Benfica, também. Presumo, por raciocínio primário, que bom esteja apenas o do FC Porto, onde conseguiu marcar por duas vezes...
A propósito, jura quem sabe, ou julga saber, que Villas Boas recusou o convite do Sporting por estar na lista do dragão, e em posição privilegiada para suceder a Jesualdo Ferreira, o treinador no mundo com mais pseudo-convencidos candidatos a ocuparem-lhe o lugar.
Tenho dúvidas acerca deste cenário, talvez até mais do que o próprio treinador maravilhoso da Académica, o qual, como medida cautelar, já começou a agradar ao eventual futuro patrão, criticando o mauzão do árbitro por ter beneficiado o Benfica ao não assinalar uma grande penalidade provocada por David Luiz. «Podia ser o 3-1», recorda. Pois podia, e depois?... As faltas são para ser marcadas, como é óbvio, mas será que admitiu a hipótese de virar o resultado? Claro que não, foi só para ter graça...
Deste Benfica-Académica extrai-se, no entanto, conclusão a suscitar inquietação e reflexão.
Tem a ver com a tendência cada vez mais forte de atribuir a David Luiz o papel de mau da fita na Liga. O brasileiro joga sempre nos limites, seja qual for o opositor, fruto da sua irreverência e da sua inexcedível vontade de ganhar. É um campeão que transborda talento.
Para ele, o máximo é o ponto de partida, não de chegada. Carrega os defeitos e os excessos de um jovem de 22 anos que trata o sucesso por tu. Precisa de ser aperfeiçoado, somente isso.
Vai no quarto cartão amarelo, e merecidos, por certo. O que se questiona são os critérios.
No ano passado, por exemplo, o central benfiquista, depois de prolongada ausência, em 19 jogos da Liga, viu os mesmos quatro amarelos, mas, comparativamente, Bruno Alves, em 30 jogos, com as características que se lhe conhecem, só por três vezes foi admoestado.
Coisas práticas, a quinze dias do Benfica-FC Porto sabe-se que David Luiz está em risco e Bruno Alves não.
O que significa que, na próxima jornada, em Olhão, aquele grupo que Jorge Costa acusou de alguma falta de qualidade, por acaso numa altura em que a maioria dos jogadores emprestados pelo dragão estava na Selecção, e que depois de ter feito a vida negra ao Sporting em Alvalade recebeu o FC Porto e... foi o que se viu, no campo e fora dele, com Pinto da Costa a falar do orgulho em estar «intrinsecamente ligado aos últimos êxitos do Olhanense», nada de bom se augura aos benfiquistas.
Aposto que tudo vai melhorar entre os algarvios, até a gripe.
Jesus que se acautele; a percentagem de David Luiz ver o quinto amarelo e ser excluído do jogo com o FC Porto é elevada.
Mesmo que sejam mil os avisos, do outro lado há sempre alguém com jeito em provocar... até à reacção fatal...
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