Sporting, 11 pontos
Javi García, 12 pontos
O empate cedido pelo Benfica em Alvalade atenuou a onda depressiva do Sporting mas incendiou Braga de optimismo e de espírito guerreiro.
O Sporting de Braga, líder isolado, fugiu do Benfica depois de ganhar à União de Leiria e, trabalhando para si e para terceiros, declarou uma vez mais guerra aos da Luz exigindo agora que o Conselho de Justiça da FPF faça aquilo que a Comissão de Disciplina da Liga não fez.
Ou seja: «sumaríssimos» a Saviola e a Javi García que punam exemplarmente o argentino e o espanhol do Benfica, de preferência com a irradiação, por terem praticado jogo violento, respectivamente, sobre Meyong e Paulo César no encontro em que os dois emblemas se encontraram e se desencontraram, ao intervalo, com tanto aparato.
Curiosamente, Saviola e Javi García foram as duas maiores vítimas benfiquistas no jogo de sábado passado, em Alvalade.
Saviola sofre, por trás, uma carga de Adrien capaz de cortar uma árvore pela raiz. E Javi García levou uma cabeçada do chileno Matías que o fez jogar de cabeça ligada e, mesmo assim, sangrar o jogo todo, o que nunca o impediu de disputar cada lance como se estivesse com a cabeça novinha em folha.
Num dos últimos lances da partida, havendo lugar à marcação de um pontapé de canto contra o Sporting, lá avançou Javi García todo entrapado até à área adversária e entre a afición benfiquista não houve quem não se lembrasse do golo do espanhol contra a Naval 1.º de Maio, já em tempo de descontos.
Do mesmo se deve ter lembrado Pedro Proença.
Mas um árbitro é, em primeiro lugar, um ser humano e em segundo lugar deve ser um humanista.
Por isso mesmo, Proença não deixou que Javi Garcia se fizesse ao cabeceamento que, por certo seria vitorioso, e mandou-o para a linha lateral receber assistência. E foi assim que o jogo acabou empatada, pudera.
O Benfica saiu de Alvalade como entrou, com mais 11 pontos do que o seu velho rival. Javi García foi o grande vencedor da noite. Saiu com mais 12 pontos do que como entrou.
Assim, não vale. Percebe-se que o Sporting de Braga o queira suspender imediatamente.
A troca de insultos pode ser uma arte.
O que é preciso é haver artistas. No futebol português não há artistas, lamentavelmente.
Um insulto é um insulto, banal, directo, sempre vulgar e sempre sem graça nenhuma.
Este ano, Manuel Machado, treinador do Nacional da Madeira, já chamou «cretino» a Jorge Jesus, treinador do Benfica, José Eduardo Bettencourt, presidente do Sporting, já chamou «anormais», «energúmenos» e outras coisas menos publicáveis, aos adeptos do Sporting com quem se incompatibilizou no pico da crise Paulo Bento, Pinto da Costa, presidente do FC Porto, chamou «paranóicos» aos jornalistas que noticiaram a sua intervenção no caso Villas Boas e Eduardo, guarda-redes do Sporting de Braga e da Selecção Nacional, chamou «abutres» aos seus críticos no momento de festa em que a Selecção Nacional se qualificou para o Mundial da África do Sul.
Convenhamos que são insultos básicos, pouco artísticos por falta de artistas, naturalmente. E o futebol também tem o seus artistas.
Eric Daniel Pierre Cantona, por exemplo, foi e é um deles.
Não que tivesse alguma coisa de artístico aquele voo de pé em riste para a bancada na já distante tarde inglesa em que, ouvindo um insulto de um espectador, se resolveu a, ali mesmo, por fim à questão.
Sem procurar atenuantes para o momento de kung-fu que o tornou tristemente célebre, é de crer que foi a baixa qualidade do insulto que fez Cantona comportar-se à altura da vulgaridade do que ouviu. E por isso até voou.
Sim, porque Cantona, o futebolista do século para os adeptos do Manchester United, foi um artista a jogar à bola e é um artista do insulto que desdenha banalidades primárias quando se trata de destratar alguém.
E, neste campo, continua em forma.
Cantona, que actualmente desempenha o cargo de seleccionador francês de futebol de praia, é um dos milhões de franceses que embirram profundamente com Raymond Domenech, o seleccionador francês de futebol a sério.
Mas enquanto uns chamam nomes feios a Domenech e outros duvidam em público da sua competência em termos corriqueiros — «É inexistente e nunca ganhou nada», disse recentemente o ex-internacional Bixente Lizarazu —, Eric Cantona escolheu um arremedo histórico e humorístico para expressar a falta de consideração pelo seleccionador seu compatriota que, muito a custo, lá conseguiu levar a França à África do Sul:
— Raymond Domenech é a maior nulidade do futebol francês desde Luís XVI! — proferiu King Eric, como ainda hoje é chamado em Manchester.
É que, não duvidem, de futebol e de reis percebe ele.
Hermínio Loureiro sucedeu a Valentim Loureiro na presidência da Liga de Clubes, o que não deve ter sido fácil.
Anunciou recentemente que abandonará a Liga de Clubes no final do seu mandato. Não tenciona recandidatar-se e tornou-o público.
Hermínio Loureiro foi um presidente bem menos presente e exuberante do que o seu antecessor, o que deve ter sido fácil.
E, tal como o seu antecessor, em tempo de mandato, deixou-se seduzir pelo poder autárquico, candidatou-se a uma câmara, venceu as eleições e desde Outubro que acumula a função de presidente da Liga com a função de presidente da câmara de Oliveira de Azeméis.
O mandato de Hermínio Loureiro a frente da Liga será julgado pelas pessoas do futebol e o seu mandato como presidente da câmara será julgado pelos cidadãos de Oliveira de Azeméis. Até aqui nada de novo.
A novidade — e boa — é a de vermos um autarca que se desliga das futebolices quando chega ao poder. Não só é boa a novidade como é uma raridade que tem mérito.
Em Olhão, o Vitória de Guimarães ganhou à equipa de Jorge Costa e provou que, enfim, não é nenhum Alcorcón.
Ainda dói um bocadinho aos benfiquistas a eliminação da Taça de Portugal mas o nosso rasteiro consolo é saber que o pessoal do Real Madrid também foi chutado fora da Copa e por um adversário sem nome nem pergaminhos.
Por isso mesmo gostámos tanto de ver o Vitória de Guimarães a impor-se no Algarve contra as nossas simpatias regionalistas e respectivas teses sobre a importância de haver mais clubes do Sul a disputar a primeira Liga.
O próximo adversário do Vitória de Guimarães é o FC Porto, uma equipa mais a Sul do que o Guimarães, o que nesta altura do campeonato não interessa nada.
1 comentário:
O Freak Show Lagarto continua.
Desta vez temos uma aberração que é somente o abono de família do circo a pedir para não actuar, que lhe dêem um tempinho para chorar, reflectir e tal: "Já disse ao treinador que não me estou a sentir bem. O melhor é dar um tempo para recuperar melhor, ficar algum tempo sem jogar para recuperar. É melhor colocar algum companheiro que esteja melhor... – (recomendaria o Caicedo ou porque não o Saleiro) – Infelizmente, não estou a ajudar a equipa com golos. O melhor é pensar direitinho... É melhor tirar-me da equipa e poupar-me nos próximos jogos, dando oportunidades aos meus companheiros".
E eu que pensava que este tipo de pensamento era exclusivo do imaginário inebriado do Apaixonado de Calvão.
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