quarta-feira, janeiro 25, 2006

A propósito do Paulo Bento

Postei, ontem, um artigo de opinião de um sportinguista sobre Paulo Bento.
Nem sempre o que publico corresponde á minha leitura, mas entendo que devo postar as mais diversas apreciações por forma não só a democratizar o blog como também a estimular a discussão.
Desde o advento Mourinho que o futebol portugues foi invadido por uma onda de técnicos de futebol com formação académica.
Os clubes num afã tresloucado procuram, a todo o custo, descobrir o "novo Mourinho", contratando treinadores, sem experiencia e sem resultados relevantes, mas com uma formação identica ao mago da bola que tudo ganha - "se não fosse para ganhar, não estaria aqui."
Treinador que não fale na verticalização, na basculação, no jogar entre linhas, não vista fato de bom corte, não aprume o visual, é excomungado do mundo do futebol luso.
São exemplos Manuel José, Manuel Cajuda, Vítor Manuel, Toni, Quinito, José Rachão, José Romão, João Alves, Vítor Oliveira, entre tantos outros.
Se será de louvar a busca por novos conhecimentos, novos métodos, novas valias, não me parece que seja de desprezar todo um capital de experiencia adquirido ao longo dos anos quer como praticante quer como treinador.
Serve isto para enaltecer a contratação do Paulo Bento.
Não é que o Paulo Bento esteja a demonstrar ser um treinador de excepção, longe disso, mas a sua entrada para técnico principal do Sporting representou uma inversão do paradigma reinante, podendo servir para restabelecer um equilibrio que julgo desejável.
Para mim, um bom treinador de futebol faz-se da reunião dos seguintes ingredientes - capacidade de liderança, capacidade de decisão, capacidade de leitura de jogo, capacidade de intervir no jogo a partir do banco, conhecimento do fenómeno nas vertentes de conhecimento do meio futebolístico em que se insere e do mercado de jogadores.
Quem melhor que um ex-praticante para fazer a síntese de tais predicados?
A base académica não é de descurar, mas a sua influencia maior reside no treino, não no jogo em si e enquanto tal.
No treino, no desenvolvimento das capacidades dos jogadores, físicas e técnicas, os conhecimentos adquiridos em estudos superiores são imprescindíveis. Mas esses mesmos conhecimentos não me parecem suficientes no que concerne aos restantes aspectos do jogo.
Exemplo vivo de tal é, desde logo, Carlos Queiroz.
Fortíssimo no planeamento e execução do treino, revela lacunas enormíssimas na capacidade de liderança, de decisão (quem não se lembra dos casos de indisciplina nos clubes e selecções por onde passou), de leitura de jogo, de capacidade de intervir no jogo a partir do banco (quem não se recorda da substituição ao intervalo de Paulo Torres por Capucho e da colocação, na sequencia, de Paulo Sousa como falso lateral esquerdo nos famosos 3-6 em Alvalade frente ao SLB, que abriu um autentica auto-estrada no corredor esquerdo, tendo sido por aí que o SLB construiu os seus 3 golos da segunda parte), de conhecimento do fenómeno nas suas vertentes de conhecimento do meio futebolístico em que insere e do mercado de jogadores (quem não se lembra das múltiplas contratações falhadas no SCP, de Ouattara a Vujacic, entre outros, as declarações ao serviço da selecção no final de um famoso Itália/Portugal de apuramento para o Mundial de 94, as declarações e contratações falhadas no Man.United).
Os grandes técnicos mundiais da actualidade, Capello, Lippi, Trappattoni, Ancelotti, Rijkaard, Mancini, Gullit, Van Basten, Klinsman, Matthaus, para não referir Cruyff, foram praticantes de excelencia. A excepção é Eriksson, mas também não há regra sem excepção.
Mourinho, para lá de ser uma personalidade única e de ainda assim ter feito parte do plantel do Rio Ave na primeira divisão, colmatou uma certa falta de formação prática, com o convívio desde pequeno com o mundo do fuebol através de seu pai, Félix Mourinho.
Por tudo isto, a chegada de Paulo Bento ao lugar de treinador principal do Sporting constitui uma saudável lufada de ar fresco, interrompendo uma certa "doutorização" do futebol portugues.
Nada me move contra os treinadores licenciados, mas penso que o seu endeusamento é manifestamente pernicioso para o futebol.
Prática e Teoria devem coabitar.
O equilíbrio entre os diversos saberes é desejável.

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