NA véspera do Benfica-Porto, Ricardo Costa, antigo defesa do Porto, deu uma interessante entrevista ao Correio da Manhã.
Serei talvez suspeito, porque me divirto sempre que as conversas de alguém ligado ao Porto são relatadas pelo Correio da Manhã, mas a entrevista era, de facto, curiosa. Entre outras revelações, o actual jogador do Wolfsburgo afirmou que, para o Porto, o clássico da Luz é mais do que um jogo de futebol.
É uma luta do Norte contra o Sul, luta essa que o Porto quer ganhar porque — e cito Ricardo Costa — o Porto detesta o Benfica.
Ricardo Costa passou sete anos no Porto, e portanto deve saber do que fala. Foi tendo tudo isto em consideração que me pus a pensar nos incidentes do túnel da Luz, no fim do clássico de 20 de Dezembro.
A equipa do Porto tinha sido derrotada por uma equipa que detesta. Tinha perdido três pontos contra um adversário muito desfalcado. E, além disso, tinha perdido mais do que um jogo.
Tinha acabado de perder uma guerra entre o Norte e o Sul. É uma guerra que só eles sabem que existe, mas ainda assim é uma guerra.
Deve ser desagradável perder guerras, mesmo que sejam imaginárias. Seria possível, por isso, que os jogadores portistas tivessem saído do campo irritados e, perto do balneário, agredissem alguém?
A resposta é: obviamente, não.
Os jogadores portistas, não sendo santos, estão muito perto da santidade.
Não passa pela cabeça de ninguém que, mesmo num momento daqueles, possam ser capazes de uma agressão. A não ser, claro, que tenham sido infamemente provocados.
Esta é, curiosamente, a única certeza que temos sobre o que se passou no túnel. As imagens ainda não são conhecidas, os testemunhos são escassos, mas uma coisa é certa: os portistas foram provocados.
E as provocações terão começado, aliás, antes do jogo: o balneário do Porto não tresandava a enxofre, o que fez com que os visitantes não tivessem de se equipar no acesso ao relvado.
Foi, talvez, a primeira provocação. Os portistas sabem que isto não é maneira de receber adversários. A segunda provocação foi o facto de o Benfica não ter dado hipóteses ao tetra-campeão, mesmo fazendo alinhar elementos que ainda não tinham jogado um minuto neste campeonato.
Não admira que os jogadores portistas tenham, ao que parece, respondido a estas ignóbeis provocações espancando um ou dois seguranças.
Ninguém é de ferro, que diabo.
Quando os jogadores do Benfica respondem a provocações em Braga ou em Olhão, são imaturos e pouco profissionais; quando os portistas respondem a hipotéticas provocações na Luz, são gente boa que perdeu justa e humanamente a cabeça.
Em Braga, não sei se o leitor está recordado, também houve problemas no túnel.
A comissão disciplinar da Liga analisou o vídeo e, tendo as imagens demonstrado que Cardozo não fez rigorosamente nada, aplicou ao melhor marcador do campeonato a correspondente suspensão de dois jogos.
Desta vez, não havia um único jogador, técnico ou dirigente do Benfica no túnel (facto que, inevitavelmente, terá de ser contabilizado como mais uma provocação). Temo, portanto, que toda a equipa do Benfica seja suspensa por dois jogos.
Quanto ao Porto, segundo consta, as imagens mostram que jogadores como um Sapunaru ou um Givanildo agrediram um segurança.
Ambos estão, aliás, preventivamente suspensos, para obedecer a uma nova lei proposta pelo próprio Porto, que foi aprovada sem o voto favorável do Benfica.
Os juristas da Liga, já se sabe, aprovam legislação proposta pelo Porto com a intenção clara de prejudicar o Porto. Bandidos.
Mas o que sucederá, então, se se confirmar a existência de imagens em que jogadores do Porto agridem uma ou mais pessoas? Em princípio, nada.
É importante não esquecer que estamos a falar do futebol português.
O arquivo que contém as escutas dos rebuçadinhos, da fruta, dos quinhentinhos e a factura da viagem de Calheiros ao Brasil terá de arranjar espaço para mais uma cassete.
Para a história ficará apenas o balanço do ano desportivo do Porto, em 2009: um fotógrafo atropelado, um futebolista agredido e um segurança espancado. Que orgulho.
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