sexta-feira, fevereiro 17, 2006

Reflexões academistas

Esta foi uma semana pautada por notícias, francamente, desanimadoras em relação à minha Briosa.
Se, no início da semana, o choque foi enorme ao ler que o Presidente de uma instituição com a riqueza histórica da Briosa se achava indiciado num processo criminal de contornos mais ou menos obscuros, já, no final da semana, foi com um sentimento de inevitabilidade que li que o grande Zé Castro vai abandonar a Académica a custo zero no final da época, transferindo-se para o FC Porto.
Estas duas notícias, embora pareçam em nada estar relacionadas, muito dizem daquilo que tem sido a vida da Briosa nas duas últimas décadas.
Na verdade, os erros de gestão financeira e desportiva têm sido mais do que muitos.
A presidência de Campos Coroa assentou num projecto revivalista, iconoclasta, pejado de simbolismos, que teve tanto de tão bem intencionado, como de utópico.
Procuraram-se construir plantéis de vertente marcadamente académica, à imagem dos anos dourados da Briosa, sem que se tenham acautelado, devidamente, quer os encargos financeiros, quer desportivos de tal opção.
Daí ao desclabro financeiro e desportivo foi um pequeno passo.
Coroa que havia já destruído a secção de andebol na década de 90, demonstrou, uma vez mais, se tal fosse necessário, ser um péssimo gestor.
O seu amor à Briosa é inquestionável, mas a sua curta capacidade de gestão também o é.
Coroa deixou o clube num caos.
Seguiu-se-lhe João Moreno, num apelo sebastianico tão ao gosto das gentes de Coimbra.
Conseguiu endireitar o clube, colocá-lo, de novo, no rumo certo e deu-lhe perspectivas de crescimento futuro.
Todavia, a doença cerceou-lhe a capacidade de intervenção.
Os seus colaboradores mais directos degladiaram-se, então, na guerra pela sucessão.
Venceu o menos académico de todos, o actual Presidente José Eduardo Simões, por uma razão muito singela: ao tempo como agora, os problemas financeiros constituíam o maior de todos os males que apoquentavam a instituição e José Eduardo Simões surgia aos olhos dos associados como o mais capaz de os resolver.
Por uma vez, os sócios da Briosa decidiam, na aparência, com a razão em detrimento do passado institucional do candidato.
O capital de confiança de Simões junto da Banca e de investidores fizeram a diferença.
Mas, enganaram-se.
No início do Consulado Simões tudo parecia correr às mil maravilhas, sucesso desportivo à dimensão da Briosa e das circunstâncias e aparente saúde financeira.
Chegavam jogadores com cartel e os resultados surgiam.
Não obstante, cedo se percebeu que Simões, mais do que servir a instituição, pretendia servir-se dela em seu proveito pessoal.
A notícia do início da semana é disso reflexo assaz eloquente.
Sem que se façam quaisquer juízos precipitados de culpabilidade, o certo é que não deixa de constituir motivo de preocupação e de lástima profunda ver o nome da Briosa envolto em questões do foro criminal.
Não procuro crucificar ou condenar em praça pública J.E.Simões, mas tão só expressar o meu mais vivo repúdio pela sua actuação enquanto Presidente da Briosa.
O estado das finanças da Académica é paupérrimo, com um passivo gigantesco, ao passo que desportivamente a situação é, no mínimo, periclitante.
Os mecenas não surgiram, o endividamento bancário é enormissímo e a qualidade do plantel de futebol duvidosa.
O clube afunda-se financeiramente e corre o sério risco de o fazer também desportivamente.
A notícia da saída do Zé Castro entronca nesta na medida em que ambas me desgostam profundamente e constituem prova cabal da errática gestão de José Eduardo Simões.
Zé Castro é um jogador formado na Briosa, estudante universitário, com elevado potencial futebolístico.
Não curou esta direcção de tratar da renovação contratual deste atleta em tempo congruo, deixando, assim, a instituição depauperada financeira e desportivamente.
O caso Marcel é outro dos exemplos de má gestão.
José Eduardo Simões, perante o alucinante crescimento do passivo, afirmou que a Briosa tinha activos desportivos em valor suficiente para fazer face aos encargos gerados.
Parece que não.
Os dois activos que poderiam gerar mais-valias substanciais foram, ingloriamente, desbaratados.
Com Marcel emprestou-se a troco de compensação desconhecida e com Zé Castro investiu-se a troco de mais-valias desportivas evidentes, mas financeiramente inexistentes.
Deste modo, com o passivo galopante e com a saída dos jogadores mais valiosos a troco de pouca coisa ou coisa nenhuma, nem se auguram sucessos desportivos, nem, muito menos, económicos.
Aliás, a política desportiva seguida por José Eduardo Simões tem-se revelado um desastre completo.
Para além das descritas situações, encheu a equipa de brasileiros, destituindo-a de qualquer identidade.
Para cúmulo, Roberto Brum, com apenas um ano de clube, foi no sábado passado capitão de equipa. Impensável diria eu se tal hipótese me fosse colocada, ainda para mais num clube cuja singularidade assenta no seu apego à tradição.
Entristece-me ver a minha Briosa nesta situação, a Académica merece muito mais e muito melhor.
Por mim, no papel de mero associado, tudo farei para inverter este estado de coisas.

1 comentário: