quarta-feira, dezembro 06, 2006

Análise ao Sporting/Spartak

O Sporting foi, ontem, eliminado das competições europeias, sem honra, nem glória.
Para quem havia apelidado a derrota do Benfica em Glasgow de vergonhosa, como qualificará o que ontem se passou?!
Para quem havia qualificado o Spartak de medíocre, como encarar tamanha débacle?!
A exibição do Sporting, ontem, foi má de mais para ser verdade.
Mas, o inêxito começou bem antes.
Como ontem aqui disse em antevisão à partida, a derrota começou a ser construída na conferência de imprensa.
Nessa ocasião, Paulo Bento enfatizou, por diversas vezes, que o empate chegava ao Sporting para se qualificar para a Taça UEFA.
Erro craso, que retirou ambição e concentração aos seus jogadores.
Transmitiu uma imagem de insegurança, contribuindo, decisivamente, para diminuir os níveis de confiança dos seus jogadores.
Por outro lado, quem joga com o empate, normalmente perde.
Jesualdo, perante idêntico cenário, nunca mas nunca afirmou satisfazer-se com o empate, insistindo que só a vitória lhe interessa.
O ano passado, elogiei Paulo Bento pela competência que revelou nos chamados "mind games".
Aliás, a nova dinâmica que imprimiu na equipa leonina ancorou-se muito na sua capacidade para "entrar" na cabeça dos jogadores.
Desta vez, Paulo Bento falhou rotundamente na preparação psicológica do jogo.
Depois, falhou, igualmente, na constituição da equipa.
Também, neste aspecto, Paulo Bento me surpreendeu pela negativa.
O técnico leonino notabilizou-se pela defesa intransigente dos seus jogadores, assumindo-se o caso de Liedson como o mais paradigmático.
Ontem, crucificou Custódio, Nani e Carlos Martins.
Pode-se falar de rotatividade, mas o certo é que os restantes jogadores que defrontaram o Benfica se mantiveram no onze.
Ao invés, Custódio saiu da equipa, Martins foi para a bancada e Nani para o banco, num claro apontar dos principais responsáveis pela derrota frente ao Benfica.
Para além deste assacar de culpas, com consequências sempre nefastas na "saúde" do balneário, os substitutos dos aludidos jogadores exibiram-se em plano inferior ao que aqueles haviam feito na sexta-feira passada.
Paredes não acertou um passe, nem com as marcações, Ronny demonstrou, uma vez mais, que a única qualidade que possui é o seu forte pontapé de meia e longa distância, tendo sido pelo seu flanco que o Spartak desbaratou, por completo, a defensiva leonina, e Djálo nunca conseguiu ligar o processo ofensivo, errando passes e mostrando-se incapaz de finalizar com o mínimo acerto.
O Sporting evidenciou uma ansiedade imprópria de quem joga no seu reduto e com dois resultados possíveis.
Também, neste aspecto, Bento falhou.
O treinador não se revelou capaz de recuperar psíquica e animicamente os jogadores do desaire frente ao Benfica.
Os jogadores entraram em campo com medo de falharem e quando assim é, geralmente, acontece o que se teme.
Tal como na sexta-feira, o Sporting viu-se em desvantagem muito cedo e logo por dois golos de diferença.
Mais uma vez, a equipa mostrou-se incapaz de assumir a iniciativa do jogo e de criar ocasiões de golo.
As melhores oportunidades de golo do Sporting nasceram de lances de bola parada.
Então na segunda parte, ocasiões exclusivamente na sequência de bolas paradas.
A equipa leonina desconhece o processo ofensivo assente em ataque continuado.
Mas, para além das falhas ofensivas, o Sporting, ontem, também, não acertou com a transição defensiva.
Se qualidade foi reconhecida a esta equipa do Sporting foi a da sua competência na execução das transições defensivas, revelando-se uma equipa sempre organizada, na qual os jogadores rápida e eficazmente recuperavam a sua posição defensiva.
Ontem, antes pelo contrário.
O Sporting não foi aquele bloco compacto, com as linhas curtas e posicionadas que já foi, mas sim uma equipa que deixou muito espaço entre linhas para o Spartak explorar em contra-ataque.
A defesa e o meio-campo apresentaram uma descoordenação incompreensível.
Com Moutinho em falência física, o Sporting perde os seus equilíbrios.
O pior do jogo de ontem foi a incapacidade que o Sporting sempre demonstrou em reverter o resultado.
Chegou a ser confrangedor!
O Spartak nem teve que realizar uma super exibição para vencer.
Limitou-se a aproveitar as benesses leoninas.
Ao fim de 22 jogos sem ganhar na Champions, o Spartak regressou às vitórias no mesmo palco onde o havia feito pela última vez.
Para finalizar, duas notas.
A primeira, para o número de espectadores presentes em Alvalade.
20 mil pessoas se não constitui recorde negativo em jogos da Champions, deve andar lá perto.
A segunda, para o fácies de Soares Franco, Ribeiro Teles e Rogério Alves no decorrer da partida.
O desespero que perpassava pelas suas expressões diz bem da importância financeira que a continuação nas competições europeias representava para o Sporting.
Com as mais importantes receitas de bilheteira já realizadas, por via das visitas de Porto e Benfica, para além do dinheiro proveniente da venda das Game Box´s, a Taça UEFA não deixaria de constituir um relevante fluxo de capitais para o equilíbrio das contas.

6 comentários:

Carlos disse...

Amigo Vermelho

Mais uma correcta e fundamentada análise ao jogo de ontem. Algumas notas. Realmente, Bento parece que desaprendeu o (bom) trabalho que fez na época anterior; quando à gestão do plantel é, no mínimo, incompreensível, a metodologia do treinador; em relação a aspectos técnico/tácticos do jogo destaco a colocação de Djaló na posição de um 10. Será que Paulo Bento foi o único a não aperceber-se que foi uma opção errada? Mantê-lo até ao fim do jogo, era para castigá-lo?

Por motivos profissionais, não tenho passado no blog com a assiduidade que desejaria mas há mais de dois meses que comento a prestação do Sporting como um flop adiado. E tudo se resume ao trinómio: qualidade, produção, Natal. O sintoma natalício já há muito que foi diagnosticado e é quase um fatalidade desta época. O problema reside (na pouca) qualidade do plantel o que acaba por condicionar a produtividade. Sinceramente não acredito neste Sporting. Julgo que se vive um pouco na ilusão de alguns resultados, nomeadamente na vitória ao Inter de Milão... Muitas das unidades não só estão em subrendimento como o plantel possui algumas pedras de qualidade mediana. Não direi calhaus, mas falta a esta equipa excelência: tem alguns diamantes que provaram já serem valiosos mas nenhum deles brilha! Repare que nenhum dos jogadores se distingue claramente dos demais! Nenhum jogador marca a diferença em campo... E tudo isto se reflecte na produção de jogo, nos resultados. A equipa troca a bola, faz alguma pressão, aproxima-se da baliza adversária mas quase sempre de forma inconsequente...

Vermelho disse...

amigo braguilha:
saudar o teu regresso.
já aqui disse várias vezes, que o sporting é a equipa dos 3 grandes que possui o plantel mais desequilibrado.
criaram-se vários mitos à volta desta equipa do sporting, o maior dos quais o facto de ser uma equipa muito jovem.
errado é uma equipa que tem um sector, o intermediário, onde pontuam jovens, mas só.
senão, vejamos:
onze tipo:
Ricardo - 30 anos - Caneira - 27 anos - Polga - 27 anos - Tonel - 26 anos - Tello - 27 anos - Custódio - 23 anos - Moutinho - 20 anos - Nani - 20 anos - Martins - 24 anos - Liedson - 28 anos - Bueno - 26 anos -.
A média de idades é de 25,2 anos.
abraço.

Vermelho disse...

amigo jc:
a ausência dos demais condóminos prova, precisamente, o contrário.
este blog funciona em contra-ciclo com as prestações do Benfica.
quando o benfica está na mó de baixo, sobem as participações.
quando está na mó de cima, diminuem.
a razão é simples - os mais assíduos condóminos profeçam outras religiões (eu, cavungi e sempre somos as excepções face a uma maioria verde e azul em que tu, nunca, zex, mínimo, costa e braguilha pontificam).
A fraca afluência ao blog deve-se à desgraça leonina, mas, acima de tudo, à graça benfiquista.
penso que os condóminos ausentes aguardam o desfecho do Manster/Benfica para se pronunciarem.
espero que sejam só afazeres profissionais a causa de tanto silêncio...
agora, das duas uma:
ou as coisas correm mal ao Benfica em Manster e amanhã isto anima de certeza (lagarto, lagarto) ou se as coisas correm bem ao Benfica o panorama manter-se-á.
abraço.

Carlos disse...

Caro jc

Estamos em Portugal e o apoio/estímulo que os jogadores recebem do público é simetricamente proporcional à exibição/ambição da equipa. Quem não se lembra do clube dos 160 mil que, há alguns anos atrás, levava em média 5000 espectadores ao SEU estádio? Talvez não seja assim tão inexplicável a reacção da lagartagem: exibições fracas, menos pessoas no estádio. Aliás, qual o melhor lugar para se levar com um balde de água gelada pela cabeça abaixo? No recanto do lar ou ao relento com outros tristes que passaram pelo mesmo? E ainda não tiraram os lenços brancos para se limparem...

Carlos disse...

Amigo Vermelho

A verdadeira mola, ao contrário da opinião do condómino jc, é o Benfica. Como o Benfica está em êxtase tudo o que de mal acontece ao Sporting resvala na couraça da sua indiferença. O pior que pode acontecer a este blog é o SLB a subir e o SCP a descer. Imagine o que seria se também o Porto estivesse em crise? Posso assegurar-lhe que seria a morte deste projecto...

Mestrecavungi disse...

Amigo Vermelho,
Excelente a tua profunda e fundamentada análise.
A semana à Sporting está a meio caminho de ser cumprida.falta Setúbal.
Duas questões apenas.
Sabes se há saldos das GameBoxes?
Em Janeiro depois de se venderem os prédios, haverá algum jogador com mercado para se pagaraem os salários?Qual?O Bueno?
Abraço