terça-feira, junho 26, 2007

Artigo de Opinião de Miguel Sousa Tavares

Alguns já discutem quais serão os campeonatos que Benfica e Sporting dividirão entre si, depois de eles serem retirados ao FC Porto pelo CD da Liga. Outros preferem antes uma condenação para o futuro e a dúvida é saber se o FC Porto deve ir parar à Liga de Honra ou à Segunda Divisão-Zona Norte. Elegante, como sempre, o presidente do Benfica, por seu lado, já vê Pinto da Costa a «estrebuchar como um morto», certamente pendurado da forca que lhe está destinada.

A terceira acusação deduzida contra Pinto da Costa diz que ele terá comprado o árbitro do Nacional-Benfica de 2004 — jogo que, segundo o Correio da Manhã, foi decisivo para afastar de vez o Benfica do título desse ano.
Infelizmente, não vi lembrado em lado algum quando é que o jogo teve lugar, a quantos pontos estava o Benfica do FC Porto, quando é que o Benfica esteve em risco de ganhar esse campeonato e, já agora, que favores de arbitragem terá o árbitro proporcionado no dito jogo em troca do suborno. Em contrapartida, o Ministério Público refere na acusação em que terá consistido o suborno: num bilhete — um — para o jogo FC Porto-Manchester United.

Se o preço parece barato, convém não esqueçer que, também neste aspecto, está em vigor e amplamente cultivada pela imprensa, uma teoria que se espera consiga suprir as deficiências ou fraquezas da acusação.
A teoria diz que o FC Porto manteria com os árbitros uma espécie de «conta-corrente», a qual faria deles avençados permanentes ao serviço do clube.
Um bilhetinho para o futebol hoje, as atenções de uma menina amanhã. Ou, se a coisa ainda continuar a parecer barata de mais, entra o testemunho da D.ª Carolina, falando em sacos de notas de quinhentos contos, contados e entregues à sua frente, enquanto ela servia cafezinhos e desempenhava eficazmente o seu papel de agente infiltrado para mais tarde recordar.

Teorias simplificadoras há várias. Há uma, por exemplo, que se destina a contornar a objecção lógica de perguntar que necessidade tinha o FC Porto dos gloriosos anos de 2003/04 de comprar o árbitro para levar de vencida o Estrela da Amadora no Dragão ou empatar com o Beira-Mar, fora de casa.
A resposta aconselhada é: um árbitro, uma vez comprado, nem que seja com um bilhete de futebol, está comprado para todos os jogos — o Estrela da Amadora e o Beira-Mar são apenas exemplos. Presumo, é claro, que tenham tentado também encontrar vestígios de crime naqueles jogos que mais atenções movem: os FC Porto-Benfica, Boavista-FC Porto, Sporting-FC Porto. Mas Lucílio Baptista apitou tantos deles que não foi possível encontrar vestígios para incriminar os portistas. A teoria, porém, mantém-se de pé: é para isso que servem as teorias.

Há muitas teorias e informações cruzadas. O Correio da Manhã, que anda muito bem informado sobre o Apito, descobriu agora que o dito se vai ocupar também de uma conversa gravada entre Valentim Loureiro e João Bartolomeu, em que o presidente do Leiria negoceia com o major a escolha de um árbitro para um jogo.
Esta teoria está manifestamente errada.
Primeiro, porque desde que Maria José Morgado chamou a si o Apito, só tem havido investigações e acusações a Pinto da Costa. O major tem visto os seus casos serem arquivados paulatinamente e dos outros nada consta. Segundo, porque conversas a negociar árbitros não são relevantes para o Apito — como se conclui do facto daquela tão elucidativa conversa entre o major e o presidente do Benfica, escolhendo cautelosamente o nome do árbitro para um jogo com o Belenenses, nunca ter sido motivo para qualquer investigação, penal ou desportiva.

Comentando as declarações de Pinto da Costa nas comemorações dos 25 anos da Casa do FC Porto em Lisboa, A BOLA dizia que o presidente portista tinha decidido que a melhor defesa é o ataque. Infelizmente, chega tarde e em resultado de uma má análise da situação.

Desde que Maria José Morgado foi nomeada ad hoc para o Apito, Pinto da Costa entendeu que a melhor estratégia de defesa era o silêncio — deixar que ela trabalhasse em paz e no fim se veria.
Em minha opinião fez mal.
Primeiro, porque as declarações logo então proferidas pelo Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, sobre a importância que dava ao livro de Carolina Salgado, foram um sinal evidente de que, para o Ministério Público, já havia um pré-juízo sobre a culpabilidade de Pinto da Costa. A partir daí tornou-se mais ou menos claro que a tarefa de Maria José Morgado consistia em reatar os processos arquivados contra o presidente portista e, baseando-se no testemunho de Carolina Salgado (com quem pôde trabalhar livremente o tempo que quis), deduzir todas as acusações que conseguisse contra ele. O Apito Dourado ficou desde logo restringido à caça a Pinto da Costa. E o seu silêncio, ao longo de nove meses em que foi cirurgicamente cozido em lume brando, com as habituais fugas de informação e comentários de imprensa, equivaleu para a opinião pública predisposta a tal, a uma confissão de culpa.

Desde a primeira hora que Pinto da Costa deveria ter dito o que disse domingo passado: estou inocente de todas as acusações. Em vez disso, preferiu confiar em que fosse a investigação a dizê-lo, em vez dele. Enganou-se e agora parte para o contra-ataque e para a instrução do processo — a primeira altura em que, processualmente, se pode defender — em posição de inferioridade.
Também acho, e escrevi-o na altura, que ele se deveria ter então demitido — não por causa do Apito Dourado, mas por causa dos danos que consentiu que a sua vida privada causasse ao clube —, como se viu já transparentemente no campeonato que acabou e como, seguramente, se vai ver no próximo.
Demitir-se não significava uma assunção de culpa, mas o assumir da responsabilidade que advém de certos cargos que se ocupa. Pode ser um preço injusto a pagar, mas é o ónus da função: sair e provar cá fora a sua inocência.

Não percebo nada de vela, mas tentei seguir atentamente a segunda regata da Taça América, em Valência, através da Sport TV. Com dois comentadores em estúdio, que não escondiam a sua expertize na matéria, confiei em que eles me iriam elucidando ao longo da regata sobre aquilo que se ia passando, nomeadamente explicando como funcionava a tripulação, o significado de manobras a que assistíamos, as jogadas tácticas de-senvolvidas, a influência dos ventos na estratégia, a razão da opção por certas velas em alguns momentos e noutros não, etc, tudo aquilo que um leigo e espectador comum precisava de ir sabendo para poder acompanhar a regata com um mínimo de interesse. Afinal, deparei-me com dois comentadores a falarem para si próprios e sem a menor noção de como se faz um comentário desportivo em televisão — como tantas vezes sucede na Sport TV, por exemplo, com os comentários de ténis de Tânia Couto, que são autêntico ruído de imagem. Apesar de tudo, comecei a achar estranho, a certa altura, que eles só falassem, totalmente a despropósito, da situação da vela e dos velejadores portugueses, de outras provas nacionais decorridas ou a decorrer e de outros assuntos absolutamente exdrúxulos onde aproveitavam para mostrar até que ponto pertenciam ao milieu. Enfim, falavam de tudo, menos da regata a que estávamos a assistir. Finalmente, percebi a razão: eles não percebiam nada do que se estava a passar.

Como não se consegue exprimir bem em nenhuma das três línguas que fala — português, inglês e madeirense —, e como também não consegue conter a sua ânsia de protagonismo, Joe Berardo escorregou e espalhou-se ao comprido, com os insultos a Rui Costa. Agora, até ele já percebeu o preço a pagar: ou mete mesmo uns milhões, contados, no Benfica, ou pode ir pregar para outra freguesia.

1 comentário:

JorgeMínimo disse...

Notícia de última hora, do jornal "A Bola":

"Líder dos Super Dragões ilibado
Fernando Madureira, líder da principal claque afecta ao FC Porto, os Super Dragões, foi hoje ilibado pelo Tribunal de Matosinhos dos incidentes ocorridos na final do «play-off» da Liga de basquetebol.




Em causa estava o rebentamento de um petardo no sexto dos sete jogos da final do «play-off» da Liga de basquetebol, entre FC Porto e Ovarense, disputado a 24 de Maio.

O Tribunal de Matosinhos ilibou Fernando Madureira, que foi detido pelas autoridades na sequência dos incidentes, tal como um outro indivíduo, este condenado agora a seis meses de prisão, substituídos por 160 horas de trabalho comunitário."