segunda-feira, junho 25, 2007

A Triste Realidade do Futebol Português

Segundo os dados de um estudo apresentado pela consultora Deloitte, divulgados pela Lusa, os clubes portugueses estão sobre-endividados, porque apresentaram, na temporada em análise, capitais próprios de apenas cerca de 36 milhões de euros.
Ou seja, para cobrir 524,2 milhões de euros de dívidas, só havia 560,1 milhões de euros de activos, segundo os dados apresentados durante a divulgação do Anuário das Finanças do Futebol Profissional.
Os 18 clubes de futebol que integravam a principal liga de futebol em Portugal em 2005/2006 aumentaram o seu passivo em 18%.
No final da época passada, o seu passivo totalizava 524,2 milhões de euros, face aos anteriores 444,2 milhões da época anterior. Sete equipas demonstram não ter autonomia financeira, com os passivos a superar os activos.
Estes valores revelam, segundo a consultora, um sobre-endividamento da indústria, com níveis nulos ou quase nulos de autonomia financeira.
Sete das equipas não apresentam mesmo autonomia financeira, ou seja, os seus passivos são superiores ao valor dos seus activos líquidos contabilísticos.
Em termos acumulados, nas últimas sete épocas as 18 equipas acumularam prejuízos de 293,5 milhões de euros.
Em agregado, contudo, na época 2005/06 verificou-se um desagravamento nos resultados correntes sem transferências de jogadores, face à época anterior, de 9,1% para os 73,5 milhões de euros.
"Esta evolução ficou a dever-se, essencialmente, à melhoria dos resultados operacionais sem transferências do Benfica e do Sporting", referem os autores do estudo encomendado pelo jornal 'A Bola', em parceria com a Liga Portuguesa de Futebol Profissional.
O Benfica reduziu os prejuízos correntes, sem transferências, de 11,9 para 4 milhões de euros e o Sporting de 9,5 para 3 milhões de euros negativos.
O Futebol Clube do Porto, vencedor da Superliga, foi, à semelhança da época anterior, a equipa que apresentou os prejuízos correntes sem transferências mais elevados, com um montante de 34,3 milhões de euros.
Este valor corresponde a 47% da totalidade dos 73,5 milhões de euros de prejuízos correntes sem transferências da Superliga.
A época ficou ainda marcada, segundo a Deloitte, pela continuação da incapacidade de uma parte significativa das equipas (7 das 18) que participam na Superliga de gerar cash flows positivos.
Relativamente às receitas geradas, o total gerado em 2005/2006 foi de 238,8 milhões de euros, o que corresponde a um decréscimo de 4% face à época desportiva anterior, com os custos relacionados com o plantel a representarem 94% das receitas correntes, sem transferências (132,8 milhões de euros).
Este valor, aponta a Deloitte, é "consideravelmente acima" do nível indicativo considerado pela UEFA, que aponta para um valor máximo de 60% das despesas correntes.
A Deloitte estabeleceu um paralelo entre os custos com o plantel, principal despesa dos clubes ao longo da temporada, e as receitas correntes sem transferências.
Nesse parâmetro, o F.C. Porto surge entre as equipas com pior registo.
Os dragões apresentaram 127 por cento de custos com o plantel (incluindo custos salariais e amortizações dos direitos desportivos sobre os atletas), relativamente às receitas.
U. Leiria (142 por cento), Belenenses e V. Setúbal (127 por cento) também foram exemplos negativos, ao contrário do V. Guimarães (63 por cento).
Nesta contabilidade, conforme foi referido, não foram apresentados os lucros com transferências, mas os resultados enfatizam a necessidade dos referidos emblemas em alienar passes para garantir a estabilidade financeira.
A este propósito, acrescente-se que os emblemas lusos acumularam 180 milhões de euros com a alienação de passes nos últimos três anos, surgindo o F.C. Porto como angariador de metade desse valor.
Apesar da diminuição das receitas totais, observou-se um aumento de 5,1% das receitas correntes, para 190 milhões de euros relativamente à época 2004/05.
O Benfica foi a equipa que maior volume de receitas arrecadou, com 63,5 milhões de euros, seguido pelo FCP e pelo Sporting, com 45,9 e 40,2 milhões de euros, respectivamente.
De acordo com o analista da Deloitte e co-autor do estudo, Ricardo Magalhães, os três grandes continuam assim concentrar 62,7% do total de receitas (238,8 milhões de euros), num número muito próximo ao do reportado na época anterior.
Para o responsável, se os clubes conseguissem reduzir em 20% os custos com o plantel (com salários e espaços) a sua situação financeira ficaria equilibrada.
Pela positiva, a Deloitte destaco o aumento de 18% do número de sócios dos 18 clubes profissionais para os 533 mil (contra os 451 reportados na época anterior).
O Benfica, com 151 526 sócios é o clube com maior massa associativa em Portugal, seguida do FCP e do Sporting, com 99 082 e 85 921 sócios, respectivamente.
Na temporada 2005/06, contudo, o número de bilhetes vendidos diminuiu 5,5% para cerca de 2.992.030.
A taxa de ocupação dos estádios decaiu para 42 por cento, registando-se uma média de 9.778 bilhetes vendidos para cada jogo da Superliga 2005/06. O F.C. Porto apresenta o melhor registo neste capítulo (média de 42.026 bilhetes), seguido de Benfica (38.667) e Sporting (36.329).
Os capitais próprios de todos os clubes de futebol da Liga Bwin caíssem 61% para os 35,9 milhões de euros na época 2005/2006. Na época anterior eram de 92,3 milhões.
O Nacional da Madeira foi o clube que mais aumentou os seus capitais próprios, registando um crescimento de 332,9% (35,2 milhões de euros) face ao ano fiscal anterior. A justificação é o aumento exponencial das dívidas de terceiros.
O Benfica foi o segundo, beneficiando da construção do centro de estágio e do crescimento do valor contabilístico do plantel de futebol.
No sentido inverso, o FC Porto foi o que registou a maior queda de capitais próprios, com uma redução de 31,4 milhões de euros entre 2005 e 2006. Seguiu-se o Boavista, com uma queda de 11,4 milhões.
A Liga portuguesa está longe dos principais campeonatos europeus no capítulo das receitas. As cinco maiores ligas (Inglaterra, Itália, Alemanha, Espanha e França) contabilizam 6, 7 milhões de euros de receitas, num total de 12,6 milhões a nível europeu.
A título de exemplo, refira-se que a Ligue 1 de França, a menos produtiva do denominado «Big Five», gerou 910 milhões de euros de receitas, enquanto a Superliga portuguesa totalizou 239 milhões de euros.
Os dados apresentados pela Deloitte, no Anuário das Finanças do Futebol (Época 2005/06), colocam a SuperLiga entre as ligas de média dimensão, atrás da Holanda e com um resultado semelhante à Escócia. Como tal, em termos de receitas, Portugal queda-se pela sétima posição.
A Premier League de Inglaterra continua aumentar o seu volume de receitas, atingindo o patamar de 1,994 milhões. Segue-se a Série A de Itália (1,399 milhões), a Bundesliga da Alemanha (1, 195 milhões), a Liga de Espanha (1, 158 milhões) e a Ligue 1 de França (910 milhões).

15 comentários:

Anónimo disse...

Amigo Vermelho:
Já me tinha lembrado de te dizer para fazeres um artigo sobre este estudo a Deloite & Touch, estudo esse sobre o qual tive oportunidade de ler um artigo publicado, creio, na Bola do fim-de-semana.
Não referes, porém, a análise de alguns indicadores relativos aos três grandes que seria interessante discutir aqui.
Por exemplo, as receitas geradas com quotização, os custos da equipa de futebol, os custos gerais de cada clube, as receitas televisivas, as provenientes do "merchandising".
Tentei vasculhar na net à procura desses elementos mas a falta de tempo permitiu-me apenas descobrir os seguintes elementos:
"Quanto aos custos, são os dragões que lideram com 76,3 milhões de euros, seguidos do Benfica com 64,7 milhões e depois surge o Sporting com 39,9 milhões."
Penso que se tratam dos custos gerais do futebol e não do orçamento com a equipa propriamente dita.
Se tu ou outro condómino conseguirem esses elementos, seria interessante publicá-los.

VermelhoNunca disse...

Amigo JC, não o posso ajudar. Também li este estudo, que no entanto é referente à época de 2005/2006. Os dados alteraram-se na época que agora findou, mas certamente outro estudo surgirá, onde a época em causa será analisada.

Vermelho disse...

amigo JC:
os dados que consegui reunir foram os constantes do post.
Outros, designadamente os que sugeres não encontrei na net.
abraço.

Anónimo disse...

Um comentário me apraz fazer aos número deste estudo, na parte tocante às assistências:
O Benfica, que tem cerca de 150 mil sócios, contra 100 mil do FCP e 85 mil do SCP - e, não esqueçamos, 6 milhões de adetpso, como ainda ontem relembrava um jornalista da SIC a propósito do futuro Banco do Benfica - teve uma média de assistências os jogos inferior à do FCP e pouco superior à do SCP: 42.026 bilhetes para o FCP, seguido de Benfica com 38.667 e do SCP com 36.329.

VermelhoNunca disse...

Este Sassá Mutema é mesmo o ideal para o Benfica:
"Não foi preciso esperar muito tempo para António Mega Ferreira reagir às declarações do comendador Joe Berardo, que o criticou por falta de empenho no projecto da Fundação Colecção Berardo. Simplesmente, Mega Ferreira demitiu-se do cargo de Presidente do Conselho de Fundadores, numa carta com a data de 25 de Junho enviada ao comendador, a que o PortugalDiário teve acesso.

«Com a bem sucedida inauguração do Museu Colecção Berardo de Arte Moderna e Contemporânea, hoje, dia 25 de Junho, cessam as razões que me fizeram aceitar o convite para presidir ao Conselho de Fundadores. Assim sendo, apresento a V. Exa o meu pedido de demissão do cargo de Presidente do Conselho de Fundadores da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea ¿ Colecção Berardo», escreve.

Acaba, assim, uma ligação que começou a 31 de Maio de 2006, altura em que a ministra da Cultura convidou Mega Ferreira para o cargo. Em todo o caso, o presidente da Fundação Centro Cultural de Belém continuará a representar esta função dentro do Conselho de Fundadores da Colecção Berardo.
"

Anónimo disse...

Este "nosso" Governo que congela os aumentos, prolonga a idade da reforma, corta a direito nos benefícios fiscais - inclusivé pretende agora acabar com as deduções com despesas de saúde - acaba com os subsistemas de saúde, etc, etc., resolve oferecer ao Snr. Berardo um museu num espaço nobre para espôr a colecção de arte que aquele ilustre comendador queria rentabilizar, pagando-lhe, ainda por cima, avultada quantia pelo aluguer dos quadros (penso que várias centenas de milhões de euros).
Para além disso, nomeia um conselho de fundadores que deve estar recheado de outros tantos ilustres concidadãos a receberam principesca comissão por esse tão elevado cargo, tudo à custa do nosso dinheiro - pelo menos, do meu.
Estranhamente, nenhuma voz se levanta na imprensa contra este faustoso "negócio".
Pelo contrário, tudo apaparica o Snr. Joe Berardo, cujo nome, aliás, desconfio que nem seja o seu nome de baptismo - será João Bernardo ou outro menos sonante para quem pretende ser um empresário de sucesso?
E agora, que o seu none surge associado ao Benfica por força da estranha e misteriosa OPA lançada, é a personagem mais falada e entrevistada no nosso País, ao lado de quem todos querem aparecerer que conseguiu ofuscar o drama da pequena Maddie.
Que comece a época dos incêndios para deixarmos de ouvir falar dele!

Anónimo disse...

"Hermínio Loureiro está plenamente convencido de que todos os clubes vão participar na Taça da Liga (Carlsberg Cup) com o objectivo de conquistar a mais recente competição do futebol português, apresentada oficialmente esta terça-feira em Copenhaga, Dinamarca."

Taça da Liga apresentada em Copenhaga, Dinamarca?

Terá o local escolhido alguma coisa a ver com o nome da competição (Carlsberg Cup) donde parece resultar ser esta marca de cerveja -que penso ser dinamarquesa - a sua patrocinadora?

Alguém "expilica"?

Vermelho disse...

amigo JC:
não podia estar mais de acordo com o teu comentário sobre Joe Berardo e sua colecção.
A imprensa, inclusivamente, trata-o agora como Sr. Comendador, denominação que nunca antes surgiu associada à sua pessoa.
O Estado Português irá pagar-lhe, principescamente, o aluguer da colecção, cujo real valor é, também, muito duvidoso, por um período de 10 anos, findos os quais se não exercer a sua opção de compra, elevadíssima, retorna à posse do Sr. Comendador!
Quanto ao Hermínio, dizer que a apresentação decorreu na Dinamarca por ser aí a sede do patrocinador da Taça da Liga.
abraço.

Anónimo disse...

Como ninguém "expilica" nada, estou a ver que entrou já toda a gente de férias bloguianas.
Para não andar para aqui a falar sózinho, é o que vou fazer também.
Vou-me mantendo atento mas reservado nos comentários.
Regressarei em força quando todos voltarem também.

VermelhoNunca disse...

Sobre o Sassá Mutema e a sua colecção de arte, estamos todos de acordo. Sabem que até hoje a entrada é gratuíta, mas depois, por tempo ainda não definido, continua grátis para sócios de clubes de futebol com quotas em dia!!! Este tipo é o máximo!

Zex disse...

E para funcionários públicos, sr. Nunca, também é grátis !

JorgeMínimo disse...

Caro Vermelho:
Gostaria que comentasses a provável compra do médio brasileiro William, com papel de destaque da "suspeita" MSI, pelo Benfica.

Vermelho disse...

amigo mínimo:
se se confirmar, comentarei.

VermelhoNunca disse...

O que estes animais da Bola inventam para colocar o Benfica em 1º!!!
"FUTEBOL – Ranking até à 5.º pos. de sempre



Clube Pres. 1.º 2.º 3.º 4.º 5.º
Benfica 73 31 24 14 3 0
FC Porto 73 22 24 10 11 3
Sporting 73 18 17 24 10 4
Belenenses 69 1 3 14 9 8
Boavista 50 1 3 2 10 4
V. Setúbal 59 0 1 3 2 9
Académica 55 0 1 0 2 6
V. Guimarães 62 0 0 3 9 8
Atlético 24 0 0 2 1 1
C.U.F. 23 0 0 1 2 2
Sp. Braga 51 0 0 0 8 4
Barreirense 24 0 0 0 1 2
Estoril 20 0 0 0 1 2
Olhanense 15 0 0 0 1 2
Nacional 8 0 0 0 1 1
Carcavelinhos 5 0 0 0 1 0
Unidos FC 3 0 0 0 1 0
Marítimo 27 0 0 0 0 3
U. Leira 14 0 0 0 0 2
Desp. Chaves 13 0 0 0 0 2
Salgueiros 24 0 0 0 0 1
Farense 23 0 0 0 0 1
Leixões 22 0 0 0 0 1
Varzim 21 0 0 0 0 1
Sp. Covilhã 15 0 0 0 0 1
Lus. Évora 14 0 0 0 0 1
Gil Vicente 14 0 0 0 0 1
Rio Ave 14 0 0 0 0 1
Portimonense 13 0 0 0 0 1
Oriental 7 0 0 0 0 1 "

Não têm o mínimo de vergonha.

VermelhoNunca disse...

Porque é que não fizeram um classificação até ao 6º lugar? Será porque o Benfica teve essa classificação uma vez? Vergonhosos!