Há umas semanas, fez-me alguma confusão ouvir Rui Oliveira e Costa no “Trio de Ataque” responder à pergunta sobre como tinha assistido à estreia de João Moutinho com a camisola do FC Porto da seguinte maneira: “Eu, nessa matéria, não tenho estados de alma”. É uma resposta política, bem sei. Mas quando os adeptos – e é nessa condição que Rui Oliveira e Costa se encontra no programa – começam a falar como os presidentes dos conselhos fiscais, sinto que se está a deixar de falar de futebol (não deixa de ser curioso, em todo o caso, que o Sporting tenha nesse programa um adepto que fala como um dirigente, e tenha na presidência um dirigente que fala como um adepto).
Eu admito que, no que diz respeito ao futebol, a única coisa que tenho são estados de alma. Quando o meu clube ganha, tenho um estado de alma. Quando perde, tenho, feito parvo, outro estado de alma. Se o Nuno Gomes se transferisse para o FC Porto, era capaz de ter uns quinze ou vinte estados de alma ao mesmo tempo. Numa duvidosa opção, guardo a frieza emocional para matérias como o preenchimento do modelo B do IRS. Se bem que até isso consegue ser, para o meu contabilista, uma montanha-russa de emoções.
Se há coisa com que nós, benfiquistas, não pactuamos no futebol é a temperança. No seguimento das últimas quatro derrotas seguidas do Benfica, comecei outra vez a dormir à noite agarrado a um urso de peluche, e sempre com uma luz de presença. A facilidade com que no Benfica um estado de profundíssima euforia dá lugar a um estado de profundíssima depressão é um dos grandes patrimónios do clube, que deve ser preservado. Por outro lado, é mais fácil manter-se a serenidade em Alvalade e nas Antas, cujos estádios costumam estar às moscas, do que na Luz. Toda a gente sabe que é mais comum instalar-se o pânico onde há multidões.
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