A história de Roberto no Benfica seria difícil de imaginar como ficção e é originalmente incrível como realidade. Muitos observadores, por respeito à lógica e à experiência, mantiveram durante quase dois meses uma pressão enorme no sentido de ajudar o treinador Jorge Jesus a corrigir o erro invertendo a sua opção. O efeito, todavia, foi contrário, revelando a teimosia do treinador, com prejuízos desportivos, quer na Liga Europa da época passada quer no início da presente temporada.
Procurando retificar a reputação de mau avaliador de guarda-redes, fundado no desdém por atletas abaixo dos 1,90 metros, arriscou demais com as apostas em Júlio César, cujas carências técnicas já eram conhecidas dos tempos do Belenenses, e em Roberto, um desconhecido. Curiosamente, apesar de cumprirem os requisitos atléticos, ambos sofrem do mesmo defeito penalizador de deficiente leitura tática e descoordenação coletiva, nos lances de bola parada.
Apesar da evolução tecnológica e da imagem moderna de leitura de vídeos e estatísticas como princípios norteadores do trabalho dos treinadores de última geração, sem esquecer as "entrelinhas", as "transições" e as "basculações" que lhes adornam o discurso, é da capacidade de interpretação dos dados que advêm os bons resultados. Não adianta afogar-se em números, esquemas e powerpoints catitas, quando não se tem discernimento para privilegiar a análise em detrimento do "feeling", no momento de tomar decisões.
Ora, a catástrofe que está a alagar o terreiro do campeão estava escrita nas estatísticas dos jogos do Benfica desde o início da pré-temporada. O avolumar da coluna dos erros, muitos deles primários, na ficha de Roberto e do sector defensivo, em contraste com a quase total alvura da soma dos "pontos ganhos" e da eficácia atacante, foi fazendo crescer na equipa o sentimento apavorante de dúvida que sempre acompanha a lei de Murphy, como uma caminhada imparável no sentido do abismo. Jorge Jesus não leu os sinais de que o seu guarda-redes cometia erros e acabaria inevitavelmente por repeti-los da pior maneira, no pior momento e causando o maior estrago possível: tudo o que podia correr mal, correu.
Iniciando agora a Liga com seis pontos negativos, muito dificilmente o Benfica poderá revalidar o título, não obstante possa parecer prematura tal conclusão, a 28 jornadas do fim. Os otimistas acreditam que a partir daqui o Benfica não voltará a perder, não voltará a jogar mal, não voltará a acusar a descrença numa série de erros de gestão desportiva que lhe provocaram o pior começo de época de que há memória, mas a história diz-nos que tal é impossível de acontecer.
Um comentador da praça televisiva dizia há tempos que quem analisa com base em estatísticas não percebe nada de futebol. E Jorge Jesus está a provar deste veneno inebriante, que elege génios da bola apenas pela forma como perspetivam o jogo, com base em pressentimentos e olho clínico.
O instinto de Jorge Jesus disse-lhe que Roberto era uma solução, as estatísticas afirmavam, sem margem para dúvida, que era um problema – a intuição contra a razão. Para mal do Benfica, o treinador cedeu à emoção.
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