A pergunta anda no ar: quem ganha com as inúmeras transferências de ativos (na linguagem do “futebol económico-industrial”) que se realizam, época após época, no chamado desporto-rei?
Os dinheiros envolvidos nessas transferências entram nas contas dos respetivos clubes e/ou SAD e, também, de acordo com as comissões contratualizadas e legais, nas contas dos “agentes FIFA”? Ou as transferências são inflacionadas para pagar a uma corte de intermediários, maior ou menor consoante a natureza das circunstâncias, e da qual não há registo nem rasto?
A pergunta anda no ar: os dirigentes negoceiam e ganham verbas decorrentes dessas transferências? E os treinadores, resumem a sua intervenção à ação de treinar ou também se envolvem nessas operações?
É importante achar resposta para estas perguntas e para outras que envolvem, alegadamente, altos quadros da FIFA. A questão das comi$õe$ não declaradas não constitui um problema exclusivo do futebol em Portugal, mas há países mais suscetíveis à criação de mecanismos de controlo e fiscalização e outros a considerar que esse é um assunto que importa aprofundar apenas quando a maioria dos países europeus não deixar espaço de manobra à subversão. Não será fácil porque está instalada a ideia de que o compromisso com a lógica das “economias paralelas” continua a dominar, e não apenas na indústria-futebol.
A questão, em Portugal, não deixa de ser particularmente premente, porque se os contribuintes devem ser chamados a pagar os seus impostos, o sistema não pode ter dois pesos e duas medidas, para aqueles que nunca paga(ra)m, para os regimes excecionais (difíceis de entender, numa perspetiva social) e para aqueles que dominam o reino dos paraísos fiscais (off-shores).
Quando as operações de transferência de jogadores são comunicadas à CMVM, a informação pública é escassa, designadamente no que diz respeito às comi$õe$ envolvidas nesses negócios. A questão coloca-se apenas no momento em que elas servem de mecanismo de fuga ao fisco – e há uma zona mais obscura em que alegadamente o futebol serve para “lavar” dinheiro (branqueamento de capitais).
Para o clima de suspeição não se adensar ainda mais – uma vez que há um conjunto alargado de aquisições cujo valor desportivo não combina com os custos económicos – é importante que os clubes, as SAD, os seus presidentes e dirigentes, treinadores, exijam maior investimento na transparência, mas infelizmente, sobre esta matéria, o silêncio tem sido dominante. Porquê?
Há quase dois anos a ANAF (Associação Nacional de Agentes do Futebol) fez chegar à FPF uma lista de agentes não licenciados. Que é feito do processo? Em que gaveta se encontra?
Consciente de que se trata de matéria sensível mas importante para a transparência do futebol, chamei a atenção para a importância da criação da Casa das Transferências. Houve um protocolo (envolvendo o Estado)... não assinado. Quem tem medo de quem ou do quê?
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